abril 01, 2006

Ainda a pirâmide - será o agente de mudança um masoquista?

"Qual a posição de quem está abaixo (supondo a clássica pirâmide, e não a sugerida no livro «Persuacção») dos decisores?
Devo (moralmente) iniciar uma cruzada, indo contra os chefes (porque estou a ser um indesejado agente de mudança), correndo o risco de ver a minha situação profissional comprometida, sem nenhum garante de retorno que não seja a satisfação pessoal de ter agido de acordo com a minha visão do mundo?
É que a «satisfação» não paga a renda da casa...
Logo, propague-se o ónus da iniciativa pela pirâmide acima. Atribua-se responsabilidade, definam-se métricas e avaliem-se os gestores. Deles deve partir a iniciativa.
Vale a pena abordarmos a temática da avaliação dos funcionários públicos? Não me parece. Ainda alguém por aqui lê o que eu escrevo...
[Desmentido: se alguém ler, nego imediatamente a minha identidade...]
MN -
blog"

Recomendo-te que releias com atenção o que escrevi sobre o agente de mudança. Caso não seja um masoquista (que também os há), nunca deve querer impor a mudança contra os decisores: "É fundamental para o sucesso que o agente de mudança obtenha dos dirigentes um apoio visível a todo o processo, com determinação e sem falhas. A vontade de mudança deve ser caucionada pelos seus dirigentes. Sem a adesão destes, a extensão e a difusão da mudança serão limitadas ou mesmo bloqueadas" [pág. 52].
Os agentes de mudança devem ter "a capacidade de detectar necessidades, de encontrar os meios para as suprir e de «plantar as sementes» da mudança" [pág. 50]. Não contra ninguém, mas a favor da organização.
É claro que se fosse fácil todos conseguiam fazê-lo. Achas que não consegues? Pensa: há quem consiga.
Paulo Moura

"O problema, no caso a que me referi, tem mesmo a ver com uma inércia que começa no topo e se propaga para baixo, por via da imposição. Só vejo mesmo a hipótese de dividir a mudança em pequenas «alterações», por forma a passarem «despercebidas» mas a contribuirem para o fim desejado.Ou seja, aldrabar o sistema para o beneficiar. Paradoxal, não?
Já agora, «Achas que não consegues? Pensa: há quem consiga». Isto não é um argumento falacioso? :P
MN -
blog"

Não há nenhum método científico - que eu conheça - para identificar falácias. E isso é algo de bastante subjectivo, já que, em lógica informal, muito depende do contexto.
Mas não me parece que esta seja uma falácia. O que pretendo transmitir é que não é impossível. Posso inclusivamente dar o meu testemunho pessoal: na maioria dos casos em que consegui, ao longo da vida profissional, persuadir dirigentes para determinados processos de mudança, muitos dos meus colegas me diziam que seria impossível e que não valeria a pena. E, claro, para cada processo de mudança que consegui que fosse implementado, muitos outros foram «arquivados» ou ficaram «pendentes» até data a definir. Ninguém pense que isso é exclusivo dos organismos públicos...
Quanto à táctica «passo a passo» para se conseguir que haja mudanças, concordo. Como refiro no livro [pág. 45] "com frequência, são os próprios gestores os principais obstáculos à mudança". E nessa mesma página lanço uma ideia que também será decerto polémica, mas em que acredito: "por paradoxal que pareça, o gestor «ideal» deveria ser aquele que se tornasse dispensável, que desse o lugar a outro nesse cargo, quando se apercebesse que o valor acrescentado que dá à organização é reduzido, inexistente, ou mesmo negativo".

3 comentários:

  1. O problema, no caso a que me referi, tem mesmo a ver com uma inércia que começa no topo e se propaga para baixo, por via da imposição. Só vejo mesmo a hipótese de dividir a mudança em pequenas "alterações", por forma a passarem "despercebidas" mas a contribuirem para o fim desejado.

    Ou seja, aldrabar o sistema para o beneficiar. Paradoxal, não?

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  2. Já agora,

    "Achas que não consegues? Pensa: há quem consiga."

    Isto não é um argumento falacioso? :P

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  3. Em relação à última parte da resposta, permite-me levantar mais uma questão filosófica: esse gestor "ideal", ao ter a noção de que o seu valor acrescentado é reduzido (ou pior), demonstra uma clarividência que lhe permitirá autocorrigir-se, voltando assim a estar adequado ao lugar que ocupa. Ou seja, revela a existência de um sistema de controlo, de feedback. Se se consegue diagnosticar, então eventualmente consegue-se corrigir... ou não?

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