agosto 16, 2016

Ainda e sempre o processo "Casa Pia".

E se alguém de repente vem dizer para um qualquer pasquim que o nosso Presidente da República também foi indiciado e acusado por "testemunhas" fazer parte da "Rede de Pedofilia"? 
Porque devemos verdade à nossa memória, e porque este processo é uma vergonha, segue o texto de 2011 de autoria de  Carlos Tomás.

-O Ministério Público nunca explicou os critérios usados para acusar uns denunciados e ilibar ou nem sequer investigar outros!-

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*São mais de 200 os nomes que foram referenciados como alegados abusadores de menores na fase de inquérito (investigação) do processo da alegada rede de pedofilia que operava na Casa Pia de Lisboa. Jorge Sampaio, Marcelo Rebelo de Sousa, Jaime Gama, Ferro Rodrigues, Narana Coissoró, Paulo Portas, Francisco Louça, Chalana, Carlos Manuel, Joaquim Monchique, Medina Carreira, Carlos Monjardino, Vítor de Sousa, Adelino Salvado, Bagão Félix e Valente de Oliveira são apenas algumas das figuras públicas que viram os seus nomes referenciados no processo por várias pessoas interrogadas pelos investigadores da PJ ao serviço do Ministério Público.

Marcelo surpreendido
O professor e comentador televisivo Marcelo Rebelo de Sousa está, por exemplo, referenciado como tendo abusado de um menor e presenciado actos de pedofilia numa casa em Lisboa. Foi acusado, a 8 de Abril de 2003, por uma professora, residente na Margem Sul do Tejo. Segundo a denúncia da docente, ela foi levada à referida casa pelo pai, e lá estaria o professor que assistiu, nas palavras desta mulher, a abusos de menores, tendo ele próprio abusado de um. A procuradora Paula Soares, uma das titulares do inquérito (juntamente com o procurador João Guerra e a procuradora Cristina Faleiro), foi quem recolheu este depoimento, que, mais tarde, mandou simplesmente apensar ao inquérito principal. A mesma mulher acusou ainda o ex-ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, de ter abusado de menores (de ambos os sexos) numa casa localizada no Estoril e confessou que ela própria agrediu, com um ferro, uma jovem, na mesma casa, estando convencida ainda hoje que a matou.
A procuradora Paula Soares considerou que os factos denunciados eram muito antigos e não estavam relacionados com nenhum dos arguidos, suspeitos ou ofendidos do inquérito da rede de pedofilia, pelo que não ordenou qualquer diligência investigatória, nomeadamente que se procedesse ao interrogatório do pai da suposta vítima a fim de se apurar que casa era aquela e quem era o seu proprietário. 
Confrontado com esta acusação, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se surpreendido: “Nunca fui interrogado sobre essa matéria. Nem sabia que tinha sido referenciado. Tinha conhecimento que a minha fotografia aparecia num álbum que foi mostrado às vítimas e até achei isso muito bem. De qualquer forma, essa acusação não faz o mínimo sentido. Não conheço essa pessoa de lado nenhum.”

Testemunhos desvalorizados
Muitos dos testemunhos e denúncias recolhidos pela equipa de investigadores que trabalharam na fase de inquérito do processo foram desvalorizados, apesar de alguns deles terem testemunhado em tribunal contra alguns dos arguidos que foram a julgamento, nomeadamente contra Ferreira Diniz, Jorge Ritto e Carlos Cruz.


Uma das testemunhas que acusou estes três arguidos (baptizado por alguma Comunicação Social como João A., tratando-se na realidade de Ricardo Oliveira, actualmente com cerca de 30 anos, julgado em 2007 por assaltos a várias residências na região de Sintra e referenciado pelas autoridades como estando ligado ao narcotráfico) denunciou à PJ outros alegados abusadores, nomeadamente Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues, Jaime Gama, Fernando Chalana e Carlos Manuel, tendo mesmo indicado uma casa em Cascais, no Bairro do Rosário, onde terá sido abusado e filmado em práticas sexuais por Ferro Rodrigues, Jaime Gama e Jorge Ritto.
Uma outra testemunha/vítima, que acusa todos os arguidos de abusos na casa de Elvas, onde agora, de acordo com a sentença, apenas Carlos Cruz terá praticado abusos, denunciou à PJ Carlos Mota, antigo “assessor” de Carlos Cruz. As testemunhas que terão sido abusadas em Elvas referiram também à PJ abusos praticados por outras pessoas, nomeadamente por outros funcionários da Casa Pia, por colegas mais velhos e pelo antigo provedor Luís Rebelo, que foi demitido do cargo na sequência do escândalo. Curiosamente, apesar de ser referenciado nos autos como abusador e de ter estado mais de duas décadas à frente da Casa Pia, nomeadamente na altura em que terão ocorrido os abusos que foram agora julgados, o ex-provedor nunca foi interrogado pelas autoridades na fase de inquérito.
Outros jovens foram claros, quando interrogados pela equipa que investigava a pedofilia na Casa Pia de Lisboa, em denunciar como alegados abusadores de menores Joaquim Monchique, Francisco Louça, Medina Carreira, Narana Coissoró, Paulo Portas, Vítor de Sousa e Carlos Monjardino, entre outros. Todos foram acusados pelas testemunhas/vítimas como frequentadores assíduos do Parque Eduardo VII, onde “arranjariam” os menores de quem abusavam. 


Felícia Cabrita deu vários nomes
Quem também contribui para engrossar a lista de nomes de suspeitos de pedofilia foi a jornalista Felícia Cabrita, autora da notícia que esteve na origem do escândalo. Ouvida pelas autoridades a 16 de Janeiro de 2003, duas semanas antes da detenção de Carlos Cruz, Hugo Marçal e Ferreira Diniz, a jornalista revelou que tinha denúncias contra dois cozinheiros da Casa Pia, Jorge Ritto, Carlos Cruz e Fernando Pessa. Felícia entregou ainda à PJ um papel que lhe terá sido dado pela antiga secretária de Estado Teresa Costa Macedo, onde aquela denunciava o advogado Lawdes Marques, os doutores Eduardo Matias e André Gonçalves Pereira, os embaixadores António Monteiro e Brito e Cunha, bem como Carlos Cruz e João Quintela.
Isabel Raposo, a meia-irmã de Carlos Silvino, também escreveu uma carta à procuradora Paula Soares, que consta do processo, onde denuncia Pedro Roseta e o irmão, Valente de Oliveira, Martins da Cruz, Narana Coissoró, Paulo Portas, Bagão Félix e Adelino Salvado, entre outros.


O Ministério Público nunca explicou os critérios usados para acusar uns denunciados e ilibar ou nem sequer investigar outros!




publicado por Charlie

14 comentários:

  1. Sempre foi um tema que me arrepiou. Li na altura vários livros sobre o assunto e o processo Casa Pia foi "construído" de uma forma que me meteu - e mete - nojo.

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  2. Como costumo dizer, não sei se é inocente. Isso só ele é que saberá com toda a certeza. Agora o que sei, é que com um processo destes, da forma como foi armado e armadilhado, ninguém em lado algum, a não ser Estados-fantoche, pode ver matéria para condenação.

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  3. Caramba! Acusações falsas ou não, o assunto é sempre um terror. Aqui no Brasil os casos são aterrorizantes, nojentos...envolvendo pessoas comuns. Crianças mal nascidas já servindo aos desvios "bestiais" (no caso, o não humano é quem pratica o ato).
    Mas, muito mais causa asco quando praticados por "autoridades", como por aqui, onde um ex-prefeito (preso desde então) comete o ato.
    Uma vergonha!

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    1. Pois, Mamã, que há bruxas, há. O problema é quando se caçam bruxas... que não se demonstra que o são.

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  4. O que eu acho, ou melhor, o que me indigna profundamente é a enorme ligeireza com que se espalham boatos, se criam e propagam calúnias, se emporcalha a imagem pública seja de quem for. É uma outra forma de violação, terrível que não raras vezes tem desfechos dramáticos.
    A vertente mais indigna é a postura da Justiça perante a calúnia. Tal como nos incêndios que destroem património natural, habitações e riqueza, condenando na prática os que sofrem os efeitos do drama, enquanto os incendiários saem por "serem maluquinhos e a justiça não tem meios", também aqui os caluniados ficam com todo o prejuizo, a vida destruída, a sua imagem denegrida enquanto os caluniadores se safam quase sempre sem que ao menos uma reprimenda experimentem. É uma justiça que envergonha, que parece estar ao serviço de causas, que transmite uma imagem anquilosada e parcial.
    Neste caso em particular, NUNCA se fez prova de nada, antes pelo contrário, o processo é uma amálgama de incoerências às quais o Ministério Público se juntou tomando a inacreditável resolução de alterar datas já que as outras estavam todas cobertas por sólidos alibis e abundante documentação.
    Depois das alterações nas acusações, NÃO FOI PERMITIDO à defesa apresentar documentos que pudessem suportar o desmentido factual da impossibilidade dos crimes terem sido cometidos. Assim, foi uma caricatura torpe de justiça, o acusado tinha de ser condenado fosse de que forma fosse, e isto é uma indecência e uma vergonha para toda a gente que tenha uma réstea que seja de sentido de verticalidade e honra.

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    1. Sim. E a calúnia ganha espaços grandiosos nas mídias. Porém, o mesmo não acontece quando provada a inocência.

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  5. Em vários momentos referi que Carlos Cruz assinou a sua sentença de «morte política» no momento em que se afastou da liderança do processo dos super-estádios de futebol, acusando tudo e todos (fundadamente) de megalomania e ruína do país. Muitíssimo pouco tempo depois, eis que aparece a envolvê-lo o processo da «pedofilia» que se tem desenvolvido da forma escabrosa ou vergonhosa que todos vamos sabendo... Pelo caminho - e em simultâneo, com oportuna noção das oportunidades - trucidou-se, recorrendo a meras suspeitas, a governação de Ferro Rodrigues - porventura das mais sérias e promissoras governações com que Portugal contou nas últimas dezenas de anos. E o que restou de tudo isto? Umas anedotas manhosas sobre o Bibi, a nossa consciência nada aligeirada por se ter destruído, com aparentes leviandade e ligeireza, alguém cuja actividade profissional sempre promoveu em nós um povo mais culto, e muitos rios de dinheiro gastos pelo erário público a troco de nada, acrescido de coisa nenhuma.
    Receio, entretanto, que aquilo que acontecia nas Casas Pias do nosso descontentamento continue a acontecer, pois nem se divulga alguma profilaxia social para ilustração e pedagogia do portuga curioso.
    Em qualquer caso, uma outra questão me ocorre: e temos estado a punir (?) quem? Os consumidores? Nunca é boa política, pois, pelo meio da confusão, os mentores, organizadores, angariadores, etc., etc., lá vão passando incólumes.
    E trata-se do bom nome de uma escola criada para o seguinte: «A Casa Pia de Lisboa é um instituto público que tem como missão a promoção dos direitos e a proteção das crianças e jovens, sobretudo dos que se encontram em perigo e em risco de exclusão e com necessidades educativas especiais, de forma a assegurar o seu desenvolvimento integral, através do acolhimento, educação, formação e inserção social e profissional». Como sempre, se não fosse trágico, seria uma anedota.

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  6. Ainda a propósito: tanta, tanta coisa que pode ainda ser lida...

    - http://desporto.sapo.pt/futebol/seleccao/portugal/clube-portugal/artigo/2016/03/22/carlos-cruz-revela-compra-de-votos-para-o-euro2004

    - http://www.zerozero.pt/text.php?id=11371

    - http://sol.sapo.pt/artigo/501536/den-ncia-de-carlos-cruz-de-corrupcao-no-euro2004-ja-prescreveu

    http://www.processocarloscruz.com/index.php?pag=perguntas&id=260

    http://citadino.blogspot.pt/2008/02/o-scrates-os-estdios-os-aeroportos-os.html

    ... só para citar algumas notícias com maior ou menor curiosidade sobre o assunto. Só não aparecem notícias - pelo menos não as encontrei... - sobre a denúncia e demissão de funções ANTERIORES ao próprio 2004 feita por Carlos Cruz. Mas lembro-me perfeitamente de ter assistido, com assombro, a essa demissão.

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    1. E que tal fazeres um post com estes conteúdos, bom Jorge? Aqui, são mal empregadinhos...

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    2. Concordo em absoluto.
      E mais; é tempo de as pessoas deixarem ter medo, receio ou temor :D de assumirem posições. Falo com muita gente sobre este e outros temas e o que sobressai é uma vontade de estar sossegado, uma espécie de estado de "cansado de guerra". Está condenado e bem condenado e se foi condenado é porque a justiça achou que sim, que havia matéria e provas de que era culpado.
      Esta vaca sagrada num estado laico, esta justiça muito convenientemente de mãos dadas com uma certa imprensa, é a última estátua dos outros tempos, a ser derrubada. Sei, por falar com pessoas da área, que há muita vontade, muito rebento novo a querer mudar, arejar e ser de facto independente. Mas o peso que a máquina arrasta é tremendo e trucida tudo e todos. ´
      É realmente um poder acima do Poder, mas tal com o Adamastor, depois de dobrado, é apenas uma rocha no meio do oceano que a História deixa para trás.

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    3. E dá o badagaio aos velhos do Restelo... mas os novos do Restelo, passados alguns anos, repõem o stock...

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    4. Tens razão São Rosas, mas isso acontece apenas porque mais do que mudar os Velhos, o que é preciso fazer e com urgência, é mudar o Restelo. O outro a quem chamaram de 44 tentou fazê-lo mas mal beliscou as lapas nas paredes e eis que o Restelo e os Velhos lhe caíram todos em cima.

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    5. O que tens tu contra o estádio do Belenenses?!

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