Por João de Sousa, jornalista
Será a amnésia, a falta de vergonha ou o desespero a gerar esta agitação estival de chicana política dos radicais que controlam a direcção dos partidos da direita parlamentar e seus prosélitos nos órgãos de comunicação social que tutelam?
A clique ultra dos neo-liberais que se apoderou da direcção dos partidos representantes da direita no parlamento perdeu o contacto com a realidade. E, ou sofre de uma crise de amnésia aguda, o que seria grave, ou de uma falta de vergonha grave, o que seria agudo! Demagogia, mentiras, desinformação e terrorismo mediático parecem sobejar-lhes!
Nem sei por onde começar: estou dividido entre a probabilidade de me afundar num dos yellow submarines de Portas, como coisa real por fora, e a sensação de me perder no espaço com um dos mil cursos de técnicos aeroportuários ministrados pela empresa, ad hoc, Tecnoforma, como coisa real por dentro.
Das “privatizações” da EDP e da REN a favor do Estado Chinês (que, aparentemente, é uma entidade de direito privado), às brejeirices com a ANA. Das férias de Durão Barroso às viagens de Portas para “vender” a Mota-Engil – pagas pelo erário público – em Angola, na Venezuela e por aí adiante. Aos pequenos computadores da JP Sá Couto que eram má ideia quando Sócrates os divulgava fora de portas mas, num passe de magia, se tornaram um dos motores do crescimento das exportações quando vendidos por Portas… Do esquecimento de pagar a Segurança Social, do Passos, aos swaps assinados pela Maria Luís…
Quando me recordo que a secretaria de estado das Finanças, nas mãos do CDS, implementou um regime de protecção especial para os próprios inspectores acederem aos elementos contributivos de uma pequena lista de eleitos… quando me lembro, enfim, do Ministro Relvas e da sua Licenciatura circense por equivalências… das ausências inexplicáveis do ministro da Defesa às Sextas-Feiras… quando me assaltam a memória os “piegas”, os conselhos para emigrar, os assessores da treta – amigos dos partidos -, as mentiras diárias, os falhanços de metas trimestrais e as nefastas consequências que as medidas de austeridade resultantes do programa baseado em “ir além da troika”, a miséria, a devastação, as falências de empresas e famílias e as mortes que custaram… o retrocesso civilizacional, a destruição dos direitos dos trabalhadores e a desvalorização do factor de produção trabalho, a subserviência repulsiva em relação aos ditames da Sra. Merkel e da Comissão Europeia, sacrificando o próprio povo… não posso deixar de me perguntar: mas de que falam estes senhores quando falam dos três lugares num avião fretado pela GALP?
Que não haja confusões: eu considero a situação condenável. Mas é uma suprema hipocrisia a ênfase com que tais partidos, com hectares de telhados de vidro, atiram assim pedras ao telhadito do vizinho. E a sanha persecutória com que a líder do CDS, o presidente do grupo parlamentar deste partido e o franco-atirador do PSD, Fernando Negrão, atiram às feras os seus adversários políticos? Onde estava Fernando Negrão quando se tornou evidente que o Ministro Dr. Relvas era afinal o Ministro Sr. Relvas? Quando Durão Barroso viajou de férias para uma ilha exótica a convite de um magnata? E quando foi trabalhar para a Goldman Sachs?
Onde estavam #Cristas e Nuno quando o ex-líder do #CDS foi trabalhar para a companhia que mais vendeu enquanto vice-primeiro ministro?
E que dizer dos esforços patéticos para quebrar a coligação governamental através do assédio constante ao PCP e ao BE, confrontando-os com um “passado” e obrigações imaginários?
A hipocrisia da Imprensa do regime
Deixo de lado o lixo mediático. Concentro-me no órgão oficioso do #PSD – a #SIC e a #SIC_notícias – onde ainda ontem um “jornalista”, cujo nome desconheço, moralizava, prodigiosamente sem se rir, afirmando que jornalistas daquela casa tinham recusado convites do patrocinador por razões éticas… para quem sabe a verdade tal afirmação só pode provocar repulsa ou uma enorme risota.
Eu sou jornalista. Por razões associadas ao tamanho do mercado aceito regularmente convites de empresas para eventos jornalísticos internacionais. No meu sector quase sempre as comitivas integram elementos do Grupo a que pertence este canal de televisão. Convidados, como eu. Isso nunca influenciou o meu trabalho sobre essas companhias. Como acredito que não tenha influenciado, não muito pelo menos, o trabalho dos camaradas de outros meios com quem viajei.
A convite da Vodafone já estive num camarote do estádio do SLB com um jornalista da SIC N. Então e os almocinhos em restaurantes de luxo da rapaziada da Economia, pagos pelos bancos e pelas grandes companhias? Tiveram agora um ataque de Ética? Quem julga iludir o jornalista da “estação 760”, da cobertura paga de festivais comerciais disfarçada de informação, da publicidade encapotada nas telenovelas?
Grande lata!"
JOÃO DE SOUSA · 5 AGOSTO, 2016
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Grande e abrangente lata!
ResponderEliminarO que realmente me surpreende (ou talvez não) é o gato a bofe com que se atiram a este episódio. Nem sei se no contexto pode ser considerado de vantagem patrimonial uma vez que não se tratou de um convite individual per si, mas uma acção colectiva de apoio à equipa nacional. Coisa semelhante ao que acontece por diversas vezes quando chefes de Estado e governantes viajam com empresários a convites destes e vice-versa. Também aqui quem viaja tira vantagem pessoal pois viaja com despesas pagas, mas vai em embaixada e em representação de interesses em que o Estado tem interesse. Aqui também se pôs algo semelhante e é de uma hipocrisia enorme aquela gente fazer de virgens púdicas quando têm um historial cheio de episódios iguais a este mas outros ainda mais lamentáveis.
ResponderEliminarSó levo a mal uma coisa. O secretário de estado não tinha nada que devolver o dinheiro da viagem e deveria dizer muito simplesmente que fez o que todos eles já fizeram, que foram representar o país de forma oficial na qualidade de figura do Estado e por gentileza do patrocinador. Não há cá MontesNegros ou Cristas a rasgar as vestes que possam valer!
Ainda hão-de construir um santuário com todas estas alimárias.
EliminarAinda hão-de construir um santuário com todas estas alimárias.
EliminarUm santuário com as figurinhas todas feitas de bosta para que as moscas em enxames façam a densa romagem que merecem.
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