Por ser um tema que tenho desde há muito estudado e este pequeno documentário me parecer muito interessante, transcrevo aqui o que a RTP 2 publicou na sua página sobre este programa:
Hora legal
É ao Real Observatório Astronómico de Lisboa, 17 anos após a sua criação, que compete "fazer a transmissão telegráfica da hora oficial às estações semafóricas e outros pontos do país".
Em 1912, a Hora em Portugal passou a reger-se pelos Fusos Horários da Convenção de Washington, e a hora continental passou a ser a do Fuso das 0 horas, pelo meridiano de Greenwich.
Um decreto de 1915 regulamenta o Serviço da Hora Legal em relação ao novo relógio público construído em finais de 1913 e colocado na Praça Duque de Terceira (Cais do Sodré), ao lado do edifício do então escritório da Exploração do Porto de Lisboa.
Ilustração Portuguesa nº 410 - Hemeroteca de Lisboa
Era por esta hora que os navios no porto de Lisboa acertavam relógios.
Fotografias cedidas pela Biblioteca Nacional de Portugal
Já vinha de 1784 dos Estados Unidos da América a ideia do daylight saving time, ou horário de Verão: mudar a hora para ganhar uma hora de sol e poupar energia.
Mas foi só em 1916, e perante a cada vez maior falta de carvão, que a Alemanha em guerra resolveu mudar a hora. Os aliados seguiram-se, e Portugal não foi excepção. Do dia 17 para 18 de Junho a hora mudou. Os relógios foram adiantados uma hora. Houve polémica, houve humor e, claro está, censura. A verdade é que - com algumas interrupções - o hábito se manteve durante estes 100 anos.
A propósito, a próxima mudança de hora é no dia 30 de Outubro…
O Século Edição da Noite - Biblioteca Nacional de Portugal
O Século - Biblioteca Nacional de Portugal
Enquanto um decreto entrava em vigor mandando mudar a hora para se poupar carvão – a pedido dos empresários dos teatros, concedia-se tolerância para os teatros abrirem mais tarde, isto para lhes evitar prejuízos. Se os aliados tinham teatro pelas oito da noite, Portugal subia ao palco às 22 horas. Com um problema: os espectáculos acabariam pela uma ou duas da manhã, altura em que as carreiras de carros eléctricos já teriam terminado.
Nota: que o horário dos eléctricos foi alterado e o último passou a sair do Rossio pela 1.50 da manhã. Portugal era afinal um país moderníssimo.
Os Ridículos - Biblioteca Nacional de Portugal
Em Espanha, o presidente da câmara dos deputados propôs que fossem acrescentadas duas horas às sessões. Uma hipótese que mereceu reacções hilariantes por cá.
E a nova hora serve para qualquer chalaça n'O Século Cómico:
Século Cómico - Biblioteca Nacional de Portugal
Se uns eram a favor, outros eram contra a mudança da hora – outros mantinham-se neutrais em tempo de guerra. “Do mal o menos, quando constatar que é meio-dia, concluo que é meia-noite e meto-me logo na cama”.
Ilustração Portuguesa - Hemeroteca Nacional de Lisboa
O Século edição da Noite - Biblioteca Nacional de Portugal
A Capital - Hemeroteca Municipal de Lisboa
A verdade é que a confusão estava instalada, com os comerciantes a quererem manter a mesma hora de abertura das lojas, sem entenderem que claro que iriam manter o mesmo horário, o horário solar é que não seria o mesmo.
Lá fora houve quem nos chamasse estúpidos.
Ilustração Portuguesa/Imagem Stuart Carvalhais - Biblioteca Nacional de Portugal
Por cá, os jornais gozavam e diziam que toda a gente tinha percebido e que fingíamos não entender apenas para ter graça.
A Capital - Hemeroteca Municipal de Lisboa
Os funcionários públicos passariam a entrar às 9 da manhã, praticamente de madrugada, e teriam duas horas para almoçar, saindo às 18 horas para suprir a falta dos funcionários mobilizados.
Fonte: RTP2
O que é, para mim, extraordinário e cai no âmbito dos mistérios insondáveis será esta actual teimosia em deixar tudo como está... Será por inércia? Será pelo proverbial deixa-andar? Será para não se dar algum braço a torcer?
ResponderEliminarNão percebo... Como não percebo a quase unanimidade contra o «Acordo Ortográfico» e a incapacidade aparente de reanalisar (pelo menos) o fenómeno.
Talvez por estas e outras se dizia (e pode continuar a dizer-se) que Portugal é um país eternamente adiado.
O que algum dia se instalou e está instalado não se move nem com as maiores forças do universo. Teimosia, estupidez, acomodação? Venha de lá o Diabo e escolha...
E depois chamam-nos teimosos a nós...
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