"Lamentavelmente, estou em crer que para este «mal» não há, em Portugal, empresas públicas ou privadas.
Trata-se de uma questão cultural, se quisermos, que define uma atitude.
Numa empresa pública, como numa privada, atribui-se um computador topo de gama a um director, por exemplo, não porque seja necessário ou, sequer, porque esse director domine as técnicas, mas sim porque é um director, logo, «merece» mais do que os seus subordinados.
É esta «lógica» que subverte as relações laborais, nas perspectivas de competências e de eficácias, torcendo-as para o espúrio lado do status... que não levam as empresas a lado nenhum que não seja o da falência.
A diferença, aqui, entre público e privado, é apenas esta: no privado, a fonte seca e a empresa fecha, depois de atribuídos os Ferraris aos respectivos donos; nas empresas públicas, a fonte não seca, não se atribuem Ferraris, mas os Mercedes e os Jaguares e os BMW têm a sua quota de venda permanentemente assegurada.
E, assim, Portugal terá a melhor frota automóvel da Europa em circulação nas piores estradas da Europa.
Como se vê, nem tudo é mau!
Concluindo raciocínios, já de si intermináveis:
- As estradas serão, em média, as piores da Europa, mas a gasolina é das mais caras... e as portagens, também... e a electricidade, também... e o gás também... e a água também... e a saúde também... e a internet também... e valerá a pena continuar?...
Apenas porque uma escassa minoria de umas centenas de milhar (que parecem muitos, mas não são!) se permite estabelecer padrões de vida, sem rei nem roque, dos quais são os únicos beneficiários, numa lógica autista que determina, afinal, as vivências de muitos milhões.
Não é assim? Bem, por estas razões, a que se aliam convenientes e cúmplices fechar-de-olhos a elementares regras de concorrência e, até, de legalidade democrática, é que um IKEA - privadíssimo - quando aparece em Portugal apresenta os preços mais elevados de toda a sua cadeia europeia, num país com a média de salários (per capita) mais baixa da Europa.
Estratégia estúpida? Claro que não. Em Roma, sê romano. À falta de controlo generalizado, é um fartar vilanagem. E a malta lá vai pagando.
Nos intervalos, vai quase tudo aos jogos de futebol e compra os jornais «desportivos» para se manter informado acerca da arte de se tornar num imbecil sem dor, mas com muita anestesia.
Jorge Castro"
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