julho 24, 2017

Porque é que BEJA MERECE + ?




Poderíamos analisar vários temas que são basilares para o Movimento de Cidadãos #bejamerece+.
As acções que levamos a cabo centram-se, sobretudo, na temática da necessidade urgente de investimento no Baixo Alentejo, e na sua capital de distrito, Beja. Ao longo das últimas décadas, nomeadamente desde o 25 de Abril de 74, que assistimos a um esvaziar dos centros de decisão e de investimento nas infra-estruturas essenciais ao desenvolvimento do Baixo Alentejo.
Poderíamos falar do Aeroporto Internacional de Beja, por exemplo. Está praticamente parado porque Governo e ANA não têm interesse que seja uma aposta para o desenvolvimento da região, e do País. Custou 33 milhões, 85% dos quais financiados por fundos europeus, o que equivale a dizer que o Estado Português apenas pagou cerca de 8 milhões por uma infra-estrutura nova, moderna, com uma das maiores pistas de aterragem da Europa, com excelente visibilidade, sem obstáculos, numa zona sem nevoeiros, tudo isto ao invés dos mais de 400 milhões – somando outros 130 para deslocalizar a Força Aérea do local e exceptuando os custos com acessibilidades – que custará a infra-estrutura do Montijo, localizada numa zona de nevoeiros, dentro de um estuário, com o Cristo Rei, a torre da Igreja de Nossa Senhora da Atalaia, no Montijo, e os pilares da Ponte Vasco da Gama como obstáculos, bem como com a perigosa presença de milhares de aves de grande porte. Foi preciso o programa da RTP Sexta às Nove fazer uma reportagem sobre o tema para que o Conselho de Ministros aprovasse o estatuo de interesse público de operação industrial para a infra-estrutura – o que prova o manifesto desinteresse do governo relativamente à região –para aí, finalmente, uma importante multinacional conseguir, finalmente autorização para um investimento de vários milhões.
Poderíamos falar da ligação ferroviária que a CP coloca ao serviço das populações do Baixo Alentejo. Feita através de uma velha, poluente e permanentemente avariada automotora com 50 anos. Em rigor existem atrasos diários e prolongados da automotora que faz o percurso Casa Branca-Beja, nos dois sentidos. Esse apeadeiro não dispõe de uma cobertura que proteja os passageiros do calor, frio ou chuva, e nem uma máquina de bebidas disponibiliza. As condições a bordo são inteiramente desconfortáveis: ruídos permanentes; luzes intermitentes; mau cheiro; falta de climatização, que provoca temperaturas elevadíssimas ou insuportavelmente baixas, consoante se esteja no Verão ou no Inverno. Para além da ausência completa das características básicas a que se destina, a automotora apresenta um aspecto profundamente degradado não podendo, sequer, os passageiros, olhar para fora das janelas por estarem os vidros inteiramente grafitados.


Automotora Beja


Tenho um sério receio de que este seja o início de uma estratégia por parte do ministro do planeamento e infra-estruturas, Pedro Marques, para acabar com o comboio em Beja: forçar, através do cansaço, a desistência dos passageiros neste meio de transporte. Mas mesmo assim, com estas condições depauperadas, os passageiros de Beja insistem em não perder este que é um meio de transporte não poluente, seguro, moderno e de futuro, e aumentaram em 18% as suas viagens. Mesmo depois da antiga linha férrea Sul/Sueste ter passado a ligação principal para Évora, e a linha de Beja ter sido despromovida a ramal, tornando a estação de Beja um mero apeadeiro. De acordo com o caderno de encargos do governo para o programa Portugal 2020, estão estimados 2.700 milhões para a modernização dos caminhos-de-ferro portugueses. Bastariam 23 milhões para haver uma ligação directa e electrificada de Beja a Lisboa. O que potenciaria negócios e investimentos, deslocação da comunidade estudantil do Politécnico de Beja, a melhoria das condições de vida das pessoas e a sustentabilidade do Aeroporto de Beja.

  Poderíamos falar na questão da Saúde, que preocupa toda uma região com uma população cada vez mais idosa e desprotegida, que ao SNS tem de recorrer com frequência, e do Hospital Distrital José Joaquim Fernandes, em Beja, que ano após ano se vê amputado de novas e importantíssimas valências para os cuidados de saúde da população de todo o Distrito de Beja, o maior em área geográfica, de todo o País. Isto, quando estão já estão destinados mais de 100 milhões para a construção de um hospital central em Évora, para servir todo o Alentejo. Sem estudos que provem essa necessidade e contra o parecer da Ordem dos Médicos. 
Relembro que concelhos como o de Odemira, por exemplo, no Distrito de Beja, ficam a 170 km de distância de Évora. 


Esse hospital central estaria comprometedoramente demasiado longe. Mas demasiado perto de Lisboa para duplicar o investimento em saúde, a uma hora de tantos hospitais. Essa verba descomunal deveria ser distribuída pelos hospitais dos 4 distritos alentejanos (Alto, Baixo, Central e Alentejo Litoral). Não podem concentrar-se recursos desta enormidade e com este impacto, mesmo a nível nacional, apenas num único distrito, ou cidade, como é Évora. Que já é servida por Auto-estrada, que goza de ferrovia decente, que possui indústria pesada e de ponta, e obtém cada vez mais serviços centrais alentejanos e até nacionais. Os recursos devem ser distribuídos de forma justa, democrática, transparente e equitativa pelos vários distritos alentejanos de forma ao Alentejo ganhar com isso, ao invés de fazer definhar tudo o que se afasta de Évora, como cada vez mais se verifica.




Poderíamos falar das vias rodoviárias de Beja e do Baixo Alentejo. Sobretudo de um IP8, que liga Beja à A2, e que depois leva a Lisboa e ao Algarve. E sim, ironicamente IP quer dizer Itinerário Principal. Queria aqui falar de dados concretos. Por isso fiz a viagem através desses pouco mais de 50 km, invariavelmente em muito mau estado, quer de piso, bermas, ou de saídas para outros acessos, e contei perto de uma centena de sinais de perigo; obras; limitação de velocidade; vias estreitas; passagem de animais selvagens ou sem condutor; semáforos; rotundas; lombas deformadas; passagens de peões; obstáculos na via; atravessamento de várias localidades, uma ponte de apenas uma via, e centenas de pesados em ambos os sentidos. Feitas as contas a essas 5 dezenas de km e, na ligação mais rápida entre Beja, uma capital de distrito, e Lisboa, existe um sinal de perigo, proibição ou informação de anomalias na estrada a cada 500 metros.



Barragem de Alqueva




O concelho de Beja, que há 10 anos exportava 875 mil euros e que depois de apostar fortemente nos sectores agrícola, agro-industrial e agro-alimentar, potenciando o investimento de Alqueva, exporta hoje mais de 113 milhões, concorrendo de sobremaneira para a competitividade do Alentejo e do todo nacional. Mas… onde está a retribuição do Estado para com este concelho? Estas condições rodoviárias conferem competitividade à economia regional? E à Nacional? São seguras? Quantas pessoas ali perderam a vida? Quantos ficaram feridos? São cómodas e confortáveis? Que prejuízos provocam nos veículos? Quanto tempo faz perder no transporte de mercadorias? E para as necessidades das pessoas? Como podemos pensar no Aeroporto de Beja sem uma estrada, sequer, digna desse nome?

Em 2013 a Estradas de Portugal anunciou que a A26, Sines-Beja, era um “equívoco técnico”, e que os 35 milhões gastos até então, não eram significativos, e que parando as obras ainda se conseguiam poupar 60 milhões. Há que referir que o Porto de águas profundas de Sines é o maior de toda a Europa, sendo a porta de entrada marítima do velho continente através do Atlântico. E que existe um Aeroporto que permite levar e trazer, de e para todos os destinos, as mercadorias que chegam por Sines. Tal como o escoamento das que são produzidas na região com recurso a Alqueva. Pelas contas do governo ficamos a saber que esta importante Auto-estrada A26 custaria 95 milhões de euros – metade já gastos – entre outros, com expropriações (com validade de 15 anos, faltando 5 para expirarem e regressem aos seus antigos proprietários sem estes terem de indemnizar o Estado); com o abate de montado e de espécies protegidas; com material que apodrece nas bermas do IP8.

Por todas estas razões, Beja Merece Mais. Merece que as suas populações, que pagam os mesmos impostos (para não dizer mais, devido ao desamparo que são sujeitas) do que o resto do País, tenham os mesmos direitos. Merece que os seus habitantes sejam informados com argumentos e de forma construtiva, optimista e sustentada. Essa é uma das nossas missões: informar as populações do Baixo Alentejo dos seus direitos, de que podem, e devem, ter voz, e apelar a que a façam ouvir. Porque a informação é poder. Até mesmo cantando, como fizeram largas centenas de bejenses no mês de Julho nas escadarias do Museu Regional de Beja, entoando o hino Beja Merece; ou enviando as suas próprias fotos com cartazes Beja Merece+, como fizeram já muitas centenas, e como solicitamos agora a que o façam os emigrantes de Beja e do Baixo Alentejo espalhados pelo mundo. Porque temos de estar todos do mesmo lado, criando envolvimento, sendo este um movimento suprapartidário que congrega todas as cores, as áreas, credos, os sectores de actividade, o público e o privado, os jovens e os mais velhos. Todos juntos. Porque Beja Merece Mais! E se Beja tiver o mais que merece, todo o Alentejo será mais forte e o País ganhará com isso.

Bruno Ferreira, Movimento Beja Merece Mais






Bruno Ferreira nasceu em Beja a 15 de Maio de 1974. Mudou-se para lisboa em 1993 para se licenciar em Relações Públicas e Publicidade. Em 2002 lançou o livro de contos Bocas de Mentol, pela Editorial Minerva. Foi colaborador da Revista Vidas do Correio da Manhã, e da Mais Alentejo. Actualmente colabora com o jornal Diário do Alentejo. Também é autor de guiões de programas de televisão e rádio. Contudo a voz é a sua principal ferramenta de trabalho. Com ela tem dado vida a diversas personagens em televisão, rádio, cinema de animação (Frozen, Carros, Toy Story, entre muitos outros), espectáculos ao vivo e na publicidade, onde é voz de companhia de diversas marcas (Peugeot, Ponto Verde, Nintendo, Dodot ou AXN Black). Na televisão fez parte de vários elencos: Contra-Informação (RTP), 5 Para a Meia Noite (RTP), Edição Extra (SIC Radical), Memória de Elefante (RR) Treze (RTP) são alguns dos exemplos do seu trabalho, que podem ser vistos em brunoferreiraonline.com. Em 2013 foi distinguido com a Medalha de Mérito Artístico e Cultural da Câmara Municipal de Beja. Em 2014 lançou o livro de crónicas “A Vida é um Cogumelo Verde”. Em 2017 iniciou-se como professor de aulas de Colocação de Voz em Rádio na Universidade Católica.

 republicado por Charlie

julho 04, 2017

O ASSALTO A TANCOS É UMA HISTÓRIA MUITO MAL CONTADA


O  caso do assalto a Tancos, que teve de imediato 
implicações e dividendos políticos, é uma história muito 
 mas mesmo muito mal contada.
 A versão "oficial", largamente repercutida pelos Media, é
 a de que quantidade apreciável de material bélico teria 
sido furtado em  dois paióis do Exército há alguns dias, 
aproveitando falhas do sistema de segurança e que todo
 o pesado material teria saído do recinto através de um 
buraco feito pelos assaltantes na cerca de arame.

 Mas esta versão não é de todo credível. Os paióis situam-se a meio quilómetro do buraco na vedação. Os assaltantes teriam portanto cortado o arame farpado, percorrendo a pé uma longa distância, arrombando depois os portões que decerto não estariam no trinco, mas tratando-se de um quartel, estranhamente ninguém deu por qualquer ruido ou movimento suspeito.
Após isto, escolheram calmamente o material que procuravam, coisa que no fim pesava várias toneladas.
 Nestas operações teriam de ter gastado forçosamente um lapso de  tempo apreciável; e depois, sem outros meios do que as mãos, teriam de ter transportado todo o material, percorrendo o caminho inverso para carregar um camião que teria de estar estacionado nas proximidades, sem que esse facto pudesse espoletar qualquer suspeita...
Ora esta narrativa é totalmente impossível de aceitar. 
A ter efectivamente desaparecido o material este só poderia ter sido feito por um veículo a entrar pela porta de armas, obviamente através de informação interior, orquestrada por responsáveis, sendo o buraco na vedação uma falsa e pueril manobra de camuflagem e despiste. Quem estivesse de serviço à porta de armas, ou seria conivente ou apenas alguém a cumprir ordens superiores. Não é líquido que um camião entre e saia fora de horas de um quartel sem ordens expressas, sem autorizações, sem revista, sem documentação mormente tratando-se de uma instalação militar de características tão especiais como o são os que guardam paióis desta envergadura no seu interior.
Outra hipótese é a que melhor casa com tantos episódios “dejá vue” deste tipo. Desde o gerente comercial ou bancário, até à empregada doméstica, prestes a serem apanhados em desfalque e que no limite ensaiam um assalto para esconder apropriações e esquemas ilegítimos.
É possível que este “assalto” mais não seja do que uma tentativa de fazer encaixar na existência do material do exército, equipamento que nunca existiu. Não é nada de novo e toda a gente ainda se lembra dos últimos escândalos envolvendo altas patentes militares em torno dos negócios de fornecimentos.  Esta hipótese destaparia desde logo esquemas de corrupção ao mais alto nível.
Seja como for caberá à Policia Judiciária, se não for alvo de ordens esconsas, descobrir o que parece, aparentemente, ser simples de deduzir. O mesmo assunto entregue à equivalente militar não conduzirá a nada. Estamos todos lembrados dos recrutas mortos em exercícios de comandos, acontecimento que a Judiciária rapidamente deslindou. Tivesse o caso sido entregue como tradicionalmente aos serviços do exército e ainda estariam nas nebulosidades que continuam a envolver os falecidos de anos anteriores e em iguais cursos e circunstâncias.
Acresce-se a isto tudo os desenvolvimentos laterais, o aproveitamento político, as notícias oportunamente divulgadas na imprensa Espanhola, curiosamente no mesmo órgão informativo onde um tal apócrifo Sebastião Pereira alimenta a sua sanha e ódio à actual solução governativa.
Como é que uma lista pertencente a um universo de conhecedores relativamente fechada aparece num jornal Espanhol é mais uma razão para que se interroguem alguns dignitários de altos cargos e se investigue os seus entornos.
Seja como for, a lista agora tornada pública retorna-nos ao princípio. Repare-se como parece uma lista de compras de supermercado. Nada que se pareça com o atabalhoamento derivado da adrenalina de um assalto onde qualquer assaltante luta contra o tempo. Não! É antes de mais o resultado do diferencial entre o deve e o haver de um inventário. Coisas que supostamente se teriam comprado mas que aparecem em falta. Onde estão? Em lado algum? Vamos ser apanhados?  Faça-se um assalto. Já provou dar resultado.
 Há dois anos foi nos Comandos e até agora não se descobriu quem teriam sido os assaltantes…..