novembro 30, 2011

novembro 29, 2011

As pontes que não sabemos construir

Não se trata já sequer de indignação, de desprezo ou de asco. Trata-se, talvez, de uma mescla de tudo isso e muito mais que configura o que, com mais propriedade, chamaria raiva.
Ultrapassei, pois, a fase de ser mais um mero indignado, para acrescentar a componente activa e passar a considerar-me enraivecido. Enfim, as palavras valem o que valem…
Mas mal ouço falar em «pontes», como elemento perturbador da produtividade nacional, não posso deixar de sentir vontade de comprar uma funda.
Mas logo que me falam em prestação de mais meia-hora de trabalho a troco de nada, como factor preponderante para a competitividade das empresas, não deixa de me ocorrer um ímpeto de me munir com uma moca.
Mas, ainda, quando tentam apaziguar-me com a informação de que «apenas» acima dos estrondosos 600 euros é que haverá pensionistas e reformados a ser taxados, avassala-me uma descontrolada necessidade de lançar mão a uma forquilha.
Nada que resolva nada, claro, mas lá que essas vontades me assolam a vontade, é uma enormíssima confidência que aqui vos deixo.
Vejamos, algumas discorrências a propósito:
- Nunca fiz «ponte» nenhuma sem que, para tal, não tivesse de sacrificar um ou mais dias de férias. Irritam-me, pois, supinamente os estúpidos que falam em que temos de acabar com as «pontes», a bem de uma qualquer economia do país.
- Também nunca desempenhei uma função contratualizada sem que alguém não me pagasse um valor definido que retribuísse o trabalho executado – exceptue-se o voluntariado que, como se poderá reparar, é voluntário... Enfim, há outra modalidade, mas essa chama-se escravatura e consta-me que Portugal a aboliu há uns anitos.
- Há vários anos que seiscentos euros (ou seja, cerca de cento e vinte contos, em dinheiro antigo) pouco ultrapassam, em Portugal, o limiar de pobreza. Escapa-me, então, o sentido de ir buscar este extraordinário «referencial» para definição de patamares sociais.
- Falando da meia-hora diária, ainda se, pela tal meia-hora anunciada alguém pagasse o valor proporcional a tal acréscimo de desempenho... Aí poderiam ganhar todos: ao alegado acréscimo de produtividade corresponderia um aumento de honorários e consequente receita fiscal. E, mesmo assim, esta medida continuaria a agravar o problema do desemprego. Mas não. Prevê-se tudo a fundo perdido, parecendo que os anseios maiores destes profetas da desgraça querem para nós – que não para eles! – a regressão a tempos feudais, eles como senhores e a maralha como servos da gleba, ou como os novos escravos. Só que as legiões romanas deixaram de contar com César, deslocalizaram-se e, agora, situam-se algures no centro da Europa e têm uma personagem andrógina, verbalmente incontinente a comandá-las, uma tal Merkozy.
Tudo, uma vez mais e sempre, em benefício de um dos lados à custa do outro.
E o empregador fica, pateticamente, à espera de que alguém fale dos custos das diversas componentes que oneram o produto final às empresas nacionais, para que possam ser verdadeiramente competitivas, como sejam combustíveis, energias, águas, transportes, taxas múltiplas e desvairadas, burocratices, etc., etc., onde invariavelmente paira a despudorada garra do Estado... Do estado a que isto chegou, como diria o Salgueiro Maia.  
Onde pára, no meio desta mixórdia, o mítico interesse nacional? A imperiosa necessidade de políticas racionais e razoáveis, de sacrifício, sim senhor, mas de sacrifício de todos os envolvidos, de contenção, sim senhor, mas de contenção de todos os envolvidos; de empenhamento, sim senhor, mas de empenhamento de todos os envolvidos? Em lado nenhum!
Continuamos todos alegremente à porra e à maça, agitando-nos freneticamente atrás de dirigentes políticos que funcionam apenas como quintas-colunas infiltradas dos interesses dos respectivos patronos sem pátria… e metade de nós nem sequer votamos.
Espantosa e extraordinária esta apetência de suicídio colectivo, à escala global e a prazo.
E da nova sociedade que se erguer dos escombros quantos de nós assistiremos ao seu advento, de coração limpo e cabeça fresca?  

Do cuidado: a comunhão entre Caetano Veloso e Aristóteles

Não sou Psicóloga nem tenho jeitinho nenhum para a área (o savoir-faire ficou todo para a R.), mas parece-me evidente que quem ama cuida e quem não ama só cuida se lhe apetecer.
Passo a explicar: quem gosta (mas daquele gostar mesmo a sério, não perco tempo a referir-me aos outros) encara o bem estar do outro como prioridade e, por tal, é-lhe inevitável, quase contra-natura, não cuidar dele/a. E, porque o sentimento é recíproco, cuidar do outro é como cuidar de si mesmo, não há ali lugar a cobranças nem a desequilíbrios.
Quem não gosta, ou gosta assim-assim, ou está a ver se gosta, ou não sabe se quer gostar, cuida antes de mais de si mesmo. Pode até parecer cuidar do outro/a, mas é a si, antes de mais, que acarinha, porque é a personagem principal do seu mundo de afectos e não há nada a fazer. E isto não tem mal algum, não me interpretem mal, quem sou eu para apreciar o modo como as pessoas relacionam...!? Cada um escolhe o cuidado que quer ter com o outro e que crê que o outro deva ter consigo; se estiverem bem, palminhas, palminhas, que o amor é lindo e cada um o vive como quer.

O problema é a mistura.
(Shhhhh, deixem-me acabar, sim? Vão acabar por perceber que sou uma xenófoba sentimental e pode ser que isso vos dê jeito, num futuro próximo, para o usarem contra mim. Depois não digam que não sou amiga.)
Um hetero-cuidador nato estará condenado à infelicidade eterna se cometer o disparate de se apaixonar por um auto-cuidador: é que, bem vistas as coisas, serão duas pessoas a cuidar de uma só, o que é menino para, mais dia, menos dia, pôr os nervos em franja ao primeiro (o outro estará deliciado com o cuidado redobrado e nem perceberá a causa do arrufo).
Nesta coisa dos amores, há raças. E este é o único mundo onde a mescla pode ser um perfeito disparate.

O que é que têm em comum Caetano Veloso e Aristóteles? Oh caramba, não salta à vista?
O silogismo, pois então,! Se não, observem:
"Quando a gente gosta é claro que a gente cuida", certo?
Que é o mesmo que dizer, muito simplesmente:
Todo aquele que ama, cuida.
Y não cuida de Z.
Y não ama Z.

Depois não me venham dizer que a vida é complicada, sim?

novembro 28, 2011

Empatia - a palavra injustiçada

empatia s.f.
1. faculdade de compreender emocionalmente um objecto (um quadro, por ex.)
2. capacidade de projectar a personalidade de alguém num objecto, de forma a que este pareça impregnar-se dela;
3. capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende, etc. (...).

(Não, não inventei nada disto, é só consultarem a 1458ª página do Tomo III do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, edição de 2003, do Círculo de Leitores)


Há palavras que se proferem em vão, por certo sem dolo, apenas porque se desconhece a profundidade do seu significado, mas ceifando-lhes a abrangência. Esta é uma delas.
Em Pensamento Crítico, dizemos que o único modo de percebermos a posição do outro, por mais diametralmente oposta que seja à nossa, é sermos empáticos com ele. Ora isto é mais ou menos equivalente a espetar facas no cérebro do ser humano: coméquié?! Mas então se eu não concordo com ele e estou certo/a da minha perspectiva, vou agora tentar pensar como ele pensa? Sentir como ele sente?! E eu lá quero o que ele quer, c'um escafandro! Quero justamente o oposto... Mas está tudo aparvoado ou é só a prof que deu o tilt de vez?!

É. A prof está ali sempre junto ao tilt, não vamos agora desmentir factos comprovados. E a professora é muito melhor a ensinar como se faz do que a fazê-lo de facto. E a professora está a falar de um assunto muito delicado, porque não se refere apenas à situação argumentativa em sala de aula mas à vida, cá fora.
Viver-feliz-com é, antes de mais, ser empático. E se não há empatia, no sentido acima descrito, é melhor viver-feliz-sem e não se fala mais nisso, porque a alternativa é viver-infeliz-com, coisa a que só os muito masoquistas se sujeitarão.
E isto é facílimo de dizer, porque se trata de uma evidência quase matemática, mas extremamente complicado de praticar.
Às vezes, a vida empurra-nos para onde não queremos, porque não nos demos ao trabalho de fazer o exercício da empatia (que, não nos iludamos, tem de ser igualmente praticado pela outra parte, sob pena de darmos uma face e a outra e uma terceira, se a tivéssemos, sem nada receber em troca). E fazer o exercício acima é quase violento, quando não vamos aos treinos. Treine-se mais, portanto. Os resultados não tardarão a aparecer.

novembro 27, 2011

Os erros(?) de Coelho & Gaspar, ou o porquê da premência de Keynes

Quando nos inteiramos pela imprensa especializada, e até a generalista, dos putativos futuros proprietários das jóias da Coroa Portuguesa - entendam-se, as grandes empresas públicas nacionais a "privatizar" -, não podemos de deixar de sentirmo-nos tomados por um enorme desconforto, mágoa e até revolta.
Não é suposto que submetidos a agendas ideológicas, os governantes tenham a liberdade e a impunidade para perpetrar acções que se podem classificar como sendo as de crimes económicos.
A primeira falha, se dermos o benefício da dúvida à genuinidade ideológica do grupo executivo, é a que diz respeito ao pressuposto de que a entrada de capitais privados nas empresas a alienar traria uma vaga de fundo de investimentos, também estes na esfera do mundo da iniciativa privada com efeitos multiplicadores no nosso território e na sua economia. Estas medidas, corajosas dizem eles, seriam o dobrar de um cabo, um corte com um determinado sentido histórico e o empreender por um novo caminho.
Sabemos agora, que as vagas de interesses manifestados pelos investidores internacionais por estas empresas se espraiam pelos areais dos média, sendo assim do conhecimento comum, que os tais "privados" super interessados em adquirir as nossas empresas públicas, são afinal blocos de interesses.... não privados, mas igualmente públicos mas pertencentes a outros países e obviamente subordinados aos seus interesses macro económicos.

E aqui temos definitivamente de parar, mas parar mesmo para pensar, melhor, para saltar fora deste comboio suicida pilotado por maquinistas, ou incompetentes ou corruptos.
Não será no mínimo elegante acusar de ânimo leve, e por isso retiro a segunda, mas quanto à primeira afirmação estou certamente no direito de suscitar as mais fundadas dúvidas quanto à competência deste executivo: não é aceitável colocar os nossos interesses estratégicos sob o mando de interesses estratégicos alheios! E neste particular não há, não existe ideologia que consiga dourar a pílula, fazer a quadratura do círculo, ou fazer-nos aceitar o inaceitável: a literal perda de soberania económica.
Se atendermos à génese da crise temos mesmo que recuar aos postulados essenciais de Keynes, quase caído em desgraça nestes tempos dominados pelo neoliberalismo selvagem que em Gaspar & Coelho tem os seus locais representantes.
E é fundamental que atendamos ao que nos está a acontecer para que saibamos discernir, saber dizer NÃO! de forma fundamentada. A "ajuda" do FMI , tão veementemente exigida pelos que anteriormente na oposição tem agora responsabilidades governativas, é na verdade um processo de tremenda agiotagem. Os juros e comissões que Portugal, ou seja cada um de nós, tem de pagar aos "salvadores" estrangeiros, são de tal forma pesados, que mais se assemelham a indemnizações de guerra. São impossíveis de pagar nos prazos exigidos e pior ainda se ficarmos impedidos da gestão efectiva da teia estratégica empresarial.

E importa aqui então recordar o que diz Keynes a propósito de juros. " A longo prazo é sensato acabar completamente com os juros de capital como fonte de receita.
Excluam-se as despesas administrativas decorrentes das operações de empréstimo pois se não devem gerar lucros, também não devem causar prejuízos.
Não é admissível que grupos económicos façam dos juros de capital uma fonte de rendimento como se de uma propriedade efectiva se tratasse: um proprietário de terras pode lucrar com a posse delas, mas os donos de capital não, pois a terra é escassa, mas não existem razões efectivas para a escassez de capital. "

Sempre que os juros foram baixos houve investimento e crescimento económico. Olhando para a crise actual que paulatinamente está a corroer toda a Europa, damo-nos conta como foi a a perversão do valor abstracto do capital que nos conduzio ao ponto onde nos encontramos agora. Eles, os soturnos detentores das grandes massas de capital, também sabem que os juros de capital por mais capital não são posse verdadeira; o capital, genericamente considerado é trabalho acumulado, do qual o dinheiro é apenas uma representação abstracta, e o que vale de verdade sao bens. Por esse motivo é de todo ilegítimo ceder aos detentores do capital, os quais através de manobras sórdidas de bastidores, estão a conduzir-nos à perda efectiva daquilo que é de facto valioso: os meios de produção, as empresas e demais tipos de propriedade. E se eu, apenas um mísero cidadão vê isto, não entendo, melhor, não admito que os que supostamente devem defender os meus interesses não o entendam. E esta revolta que me toma não se limita aos rostos nacionais. Desde Merkell a Sarkozy passando por todos os outros que tem na mão a possibilidade de curar a mordedura do cão com o pêlo do mesmo cão, todos eles tem em comum a postura de considerar o dinheiro como um bem mais valioso do que os todos os outros, quando é precisamente o contrário. Não é entendivel que não injectem literalmente a Europa com €uros, que libertem a pressão exercida sobre a moeda que outra finalidade não tem que não a do assalto à essa mesma e velha Europa.
A História será escrita no futuro, e então ninguém compreenderá como os responsáveis de agora foram de tal forma irresponsáveis...


charlie

novembro 24, 2011

O que nós também andamos a dizer


"Quando a última árvore tiver caído, 
quando o último rio tiver secado 
e o último peixe for pescado, 
vocês vão entender 
que o dinheiro não se pode comer"

Ainda há poucos dias o Charlie comentou por aqui:

"O que me espanta é a falta de visão estratégica desta maltinha sôfrega: não existem bons negócios se eles assentarem sobre a ruína da clientela. Ou muito estarei esquecido ou então o conceito de «renda» e «rendimento» perdeu o sentido. Esta gente, que manda nos vendidos que mandam palpites na TV, tem do longo prazo a noção exacta do peixinho no aquário, uns meros cinco minutos.
É ver os correctores esquizofrenicamente agarrados aos telefones em frente a uma plêiade de ecrãs a fazer o melhor negócio da vida deles, cada trinta segundos...E então, senhores... que tal plantar uma árvore e esperar que ela cresça? Que tal ter um filho e fazer de cada segundo de amor, uma eternidade que levamos connosco a toda a hora? Que tal saborear um pôr-do-sol, manso, ao fim de um dia de trabalho? Que tal mandar os filhos da puta à merda e fazer valer a única coisa valiosa que temos e que é esta vida, porque não temos outra?"

Greve Geral - Artigo de opinião


Porque é de mim que se trata, mas de ti, também. Do meu filho, como do teu. Das nossas famílias. Da nossa dignidade. Da nossa capacidade para enfrentar a adversidade e de lhe dar luta e resposta. De cantar já hoje pelos amanhãs que todos queremos que cantem. Porque devemos assumir a consciência de sermos essa montanha de espírito com gente dentro. Porque não basta a indignação e a revolta se elas não se traduzirem em mudanças de atitude.  

Faço greve, sim, porque HOJE é este o modo de manifestar o meu profundo desagrado pelo rumo que Portugal tomou.

Faço greve, sim, do mesmo modo que adquirirei os produtos da SICASAL como apoio ao empresário e aos trabalhadores que estão a dar um exemplo notável de ânimo, solidariedade e resistência contra a adversidade, mas partilhada por todos e para todos.

Faço greve, também, por aquele trabalhador que há quinze anos é subcontratado, com ordenado de miséria, a fazer trabalho desqualificado, em violação flagrante com tudo o que é legislação laboral e a que nenhum governo tem prestado atenção nenhuma.

Faço greve, ainda, por quantos se vêem caídos no desemprego e são constrangidos a estender a mão ao mais abjecto e hipócrita «apoio social», para matarem a sua fome e a dos seus.

Eu, felizmente, por enquanto estou bem, obrigado. Mas… e os outros? Muito melhor do que qualquer outro arrazoado e infindáveis razões que me poderiam ocorrer, deixo-vos com Brecht:     
  
Bertolt Brecht
A indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

novembro 21, 2011

«Reforçar a ação dos Business Angels» - por José Couto

foto «Diário as Beiras»
Durante as duas últimas semanas os meios de comunicação têm dado espaço noticioso à atividade dos Business Angels, enfatizando a capacidade destes cidadãos se assumirem como investidores em negócios que estão na fase de afirmação, na fase de transição entre a afirmação enquanto projeto de ideia e a passagem a um projeto empresarial.

As iniciativas dos Business Angels (BA) revestem-se de um valor significativo. A intervenção destes investidores e empreendedores é importante e está ligada ao seu perfil: são pessoas que possuem conhecimentos sobre áreas de negócio e sectores, com capacidade de gestão e de investimento. Portanto, pessoas que para além do capital introduzem competências de gestão na organização. Estes investidores levam recursos financeiros, experiencia de gestão e uma multiplicidade de contatos para as empresas que se encontram numa fase inicial do seu processo de crescimento, estes Business Angels tomam decisões que estão para lá de um plano de negócios, de uma tecnologia, de um saber fazer, estão a estabelecer uma relação de confiança com o empreendedor. O envolvimento dos BA nas empresas serve em muito dos casos para pilotar a evolução dos projetos empresariais e gerir o processo de afirmação do líder da empresa enquanto empresário e ajudar a ultrapassar obstáculos que estão para lá do negócio em si – uma cultura de penalização do erro.
Existe uma cultura muito penalizadora para quem teve menos êxito ou cometeu erros no processo de criação de soluções empreendedoras, de criação de empresas, de criação de riqueza. É necessário ultrapassar este anátema cultural que afasta muitos dos nossos melhores para áreas de conforto e de menor risco.
Estou convencido, e partilho da opinião de muitos, que a construção da capacidade de empreender e empreendedorismo são vitais não só para a competitividade futura do país, mas, sobretudo, para sustentar o modelo de desenvolvimento que agora procuramos.
Se olharmos para os sete anos em que no CEC-CCIC estivemos envolvidos na dinamização da “Secção de BA” percebemos que, um dos elementos fulcrais que obstaculiza a entrada dos projetos de negócio – passageway – para o contexto empresarial é a apreensão e interiorização da cultura do empreendedorismo, da avaliação do risco de investimento. Numa fase de consolidação da empresa os problemas são mais ligados ao financiamento e à gestão e, também, ao temor de enfrentar o fracasso.
É neste ambiente que se torna importante reforçar a ação dos BA, porque num quadro de escassez de recursos pode contagiar os empreendedores e motivá-los a manterem-se crentes nos seus projetos empresariais.

José Couto
_____________________________________
Texto publicado no jornal «as Beiras»
José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

novembro 15, 2011

Gerald Celente: «Acabemos com esta farsa de democracia»

"O drama da Grécia continua.
O resgate grego proposto pela Zona Euro traz a possibilidade de colocar a economia mundial de joelhos. Tem sido proposto para afastar a Grécia da Zona Euro.
Muitos dizem que esta é uma tentativa desesperada para ajudar a salvar a moeda em colapso e outros tantos acreditam que a Grécia é o bode expiatório para um problema muito maior.
Gerald Celente, editor do The Trends Journal, dá-nos a sua opinião acerca do tema."

Na "mouche" (e os patos somos nós)


«Tiro aos patos»

("Europe's economy in the firing line")
Publicidade do jornal «Financial Times»

Jorge Jesus nas Novas Oportunidades - Estado de Graça

novembro 14, 2011

O inferno não são os outros...

... somos nós mesmos e Sartre estava absolutamente errado, temos pena.
Vamos lá ver se consigo acalmar o turbilhão de ideias que me levou a esta conclusão e se me permito ser clara e pouco infernal (piada fraquinha, eu sei, mas nunca disse que dava para mais).
Hoje, numa aula de Pensamento Crítico, ao passo que expunha as diferenças (teóricas, já se sabe) entre persuasão e manipulação e o critério ético que as aparta, lembrei-me de perguntar à turma se alguma vez e de que modo se tinham auto-manipulado. E as respostas, inevitavelmente, levaram-nos para o campo das relações inter-pessoais: porque X me mentiu, manipulou-me; porque Y me iludiu, fui manipulada, porque Z me contou a estória da carochinha, fez-me o mesmo. O outro, sempre o outro.
Alto e pára já o bailarico que há aqui qualquer coisa de muito errado: muito bem, se fui mentida e não tinha como distinguir a verdade para lá da patranha, posso não ter tido culpa alguma na matéria mas, as mais das vezes, não somos iludidos, deixamo-nos iludir. Ou melhor: enredamo-nos numa teia de ilusões que pode ter sido desencadeada pelo outro mas foi (e só assim se tece) alimentada por nós, que agora nos dizemos vítimas (o que é sempre muito mais bem visto do que ser "o/a sacana").
Nunca mais me esqueço do caso de uma amiga que, há muitos anos, recebeu da afilhada uma caixa de Mon Chérie. A A. odiava aqueles bombons tanto quanto eu, mas "para não magoar" a miúda, fez uma festa e disse ter adorado. Desenvolvimento lógico? De cada vez que a afilhada a vinha visitar, lá levava ela com mais uma caixa de chocolates que lhe davam vómitos. Suponho que ainda hoje os receba. E se queixe disso, a grande palerma, quando a garota (hoje mulher feita) é que vive na ilusão de estar a agradar a uma madrinha que, no caso concreto, só desaponta.
O que é que aconteceu aqui?
Justamente o mesmo que acontece a um casal quando ele faz uma coisa de que ela não gosta (exemplo comezinho e tipicamente de gaja: não lhe mandou uma mensagem nem lhe telefonou nem lhe prantou um "like" num post do Livro das Caras durante todo o dia) e ela, "para não o magoar", ou enfrentar ou para que ele ache que ela é uma cool e não é nada melga, não lho diz. Ao fim do dia, ELA manda-lhe uma mensagem casual, a perguntar qualquer coisa de formas displicente (porque enough is enough e o silêncio já lhe está a dar cabo dos nervos) e ele responde no mesmo tom. Ela fica pior do que peste (arre porra, não falamos há quase 24h e é tudo quanto tens para me dizer???) mas continua calada, a congeminar mil e uma razões para ele estar a agir de forma atípica (ou característica e ela é que não o quer ver, sabe-se lá), mas não o confrontando; isso é que nunca porque vai dar discussão e as discussões afastam-nos.
What???
Desculpem-me lá os cools deste mundo (mesmo porque não conheço nenhum, o que conheço é gente que se está a marimbar e isso é outra conversa), mas isto é treta da mais pura. Quem é que manipulou quem, aqui? O fulano que nem se lembrou de que a gaja existia e que, por isso, foi fiel a quem era e não a contactou (porque quem é fiel a si mesmo não faz fretes) ou a menina que, para não o perder ou não arranjar confusões ou o diabo, faz de conta que é uma pessoa que não é?!
E quem é que fica na mais pura merda? Ela. Só ela. E bem feito, porque não tinha nada de ser o inferno de si mesma. Quem não é capaz de viver com o outro como ele é, não tem o direito de o iludir, dizendo-lhe que sim. Porque, convenhamos, uma relação que é ameaçada por algo tão elementar como necessidades diferentes de comunicação, não tem pernas nem qualquer outra parte do corpo para andar.
Fiz-me entender? Ora ainda bem.
Eu, pelo menos, fiquei mais esclarecida.

RENando contra a naré

Expurgada da EDP pela cavacal figura aquando da privatização desta empresa, lá pelos idos de 90, a REN (Rede Eléctrica Nacional) sempre saltitou entre o público e o privado numa lógica sem qualquer espécie de lógica que não fosse o maná que pode constituir uma empresa de tal modo estratégica, como ela é.

Lembremo-nos, por exemplo, de que naquela fúria privatizadora inicial, também ela foi privatizada, vindo pouco tempo depois a ser «recomprada» pelo Estado, em mais um negócio de milhões onde muitos ganharam mas perdeu o país, pela liminar razão de se ter assumido que uma empresa daquele calibre e interesse estratégico não poderia estar em mãos de privados.

Sem entrar em minudências, aliás sempre muito pouco claras nestas artimanhas politico-financeiras, acompanhei com alguma curiosidade a evolução deste disparate, idêntico a muitos outros que têm vindo a ser perpetrados por todos os vendilhões que se têm entretido a delapidar este país e a que a nossa falta de bom senso se acostumou a chamar de «governantes».

É assim que, por mera cautela para convencimento dos seus trabalhadores, foi mantida a estes a assistência médica – parte integrante do Acordo Colectivo de Trabalho da EDP – quando, na verdade, o seu estatuto se tinha diferenciado significativamente e o novo enquadramento legal para tal situação, no mínimo, carecia de melhor atenção.

Certo é que manda quem pode e, havendo interesse, tudo se faz, tudo se cozinha.

Entretanto, o estatuto da REN, enquanto empresa pública, sempre vogou naquele mar de insanidade de quem colhe do público o pior e do privado o vício. De ambos se colhem os benefícios todos para alguns poucos que se sentam nas cadeiras dos mais altos patamares.

É, pois, neste contexto que se apura ter a REN, tal como muitas empresas privadas, um seguro cujos beneficiários são os seus gestores e alguns funcionários ditos «de topo», seguro esse destinado a cobrir acções decorrentes do desenvolvimento da sua acção interna.

Isto é, e se bem se entende o conceito: se um gestor desenvolve, por suposição, actos de gestão danosa e, por isso, é chamado à barra dos tribunais, tem ainda assim o respaldo de um seguro que lhe permitirá esgrimir ou «defender-se» contra os interesses da própria empresa e pago principescamente, diga-se, pela empresa que terá prejudicado.
Isto sustentado com o que será, no caso, argumento falacioso, de que um arguido ainda não é um acusado…  
Ora, se isto não é, no mínimo, pornográfico, não sei o que possa ser abrangido por tal expressão.

Assim é que ouvimos, sem espanto mas com um muito mordaz sorriso, de que um gestor da REN terá accionado esse seguro, com a anuência da demais gestão da REN, e com gritante falta de pudor, para cobrir encargos decorrentes do processo em que está constituído arguido… no exercício das suas funções como gestor da REN.

Demagogicamente e para evitar algum tumulto social interno, estenderam esse seguro a mais três outros funcionários aparentemente implicados no mesmo cambalacho.

É a chamada democracia por conveniência e a martelo.

Pressurosamente,  já alguém, correndo, veio dizer que, se forem considerados culpados, terão de devolver os encargos entretanto cobertos pela seguradora.

E assim vamos neste país de iniquidades: uma empresa paga a uma seguradora um seguro para um seu gestor se poder defender contra a eventual acusação de esse mesmo gestor ter andado a prejudicar essa mesma empresa.

Num momento em que mais de metade da população activa é confrontada com a demagogia barata de que temos de entrar numa «nova era de relações laborais», em que os direitos adquiridos terão deixado de fazer sentido, assistimos, por outro lado, a esta «lógica» só para elites, mas que desmascara a hipocrisia que subjaz a todos estes ditames da moda do capitalismo selvagem e descontroladamente à solta. Elites da treta, ainda assim, mas seguramente mancomunadas com os tais «governantes».

Se isto não é mais estranho do que a Alice no País das Maravilhas, é o quê?

Mudança da hora no Porto dá nisto!

Consulta e assina a petiçãoTinha acabado de entrar o "horário de verão".
Na paragem do autocarro, estavam uma velhinha, a sua neta de dezoito anos e dois fulanos a conversar.
Um deles pergunta ao outro:
- João, que horas são?
Responde o outro:
- Três na nova e duas na velha!
E a velha, que não tinha ouvido tudo, dispara:
- E cinco na tua mãe, meu grande filho da puta!



_______________________________________________
Mais um argumento contra a mudança de hora.
A petição «Não à mudança de hora» tem 267 assinaturas.
Assina-a e divulga-a.
Quando formos 1.000, envio a petição para a Assembleia da República.

novembro 13, 2011

Somos reféns do sistema económico, ou podemos derrubar o gigante?


O que eu penso disto é que existem de facto reféns.
Acabamos por ser todos reféns de um sistema ou melhor, estamos aprisionados pelos limites de uma máquina que tem uma lógica implosiva e constrictora.
Desde há mais de dois séculos que se sabe qual o percurso natural dos sistemas económicos baseadas na concorrência: a concorrência elimina a concorrência! Ou seja, um mercado aberto acaba por ficar fechado no restrito círculo de interesses dum pequeno grupo que anulou toda a concorrência.
É-nos fácil pegarmos nos exemplos mesmo ao pé da porta, da nossa porta.
Dantes podíamos escolher entre as mercearias do bairro, depois vieram os "hipers" e passamos a escolher cada vez mais os "hipers" quer pelo preço, quer pela diversidade da escolha. Agora, que os merceeiros faliram, pela concorrência feroz dos grandes espaços, os "hipers" vendem o que querem com muito menos variedade na oferta e ao preço que mais lhes convêm; a eles, não a nós.
Por outro lado, os produtores - e uma vez que eles deixaram de ter mercado junto aos antigos merceeiros -, passaram a ficar do mesmo modo quase totalmente dependentes dos "hipers" que lhes impõem preços de miséria, limitação na variedade dos produtos e prazos abusivos, ou seja; condições de operação totalmente imorais, anti-económicos, para não ir mais longe e dizer ilegais.
Este exemplo, que pode parecer despropositado, tem tudo a ver com o que J.Couto escreve e tem o sentido de desmontar a terrível deriva antidemocrática que alguns políticos pretendem - como Manuela Ferreira Leite - adoptar como processo de implementar medidas e soluções.
A verdade, e pelo que atrás ficou dito em relação aos "hipers" versus mercearias, é que o corte da nossa capacidade de reagir contra o ataque aos nossos direitos não resolve coisa alguma. Esta falácia é-nos metida na cabeça pelos políticos incompetentes e com falta de coragem para dar o murro na mesa e apontar os verdadeiros culpados: o monopólio do sistema financeiro! Este sim a cabeça da serpente constritora que nos sufoca.
Subrepticiamente, como os ofídios, este sistema foi lançando os seus tentáculos, espalhando créditos através de uma cadeia que acabou por tornar TODOS reféns.
Fomos nós, os consumidores, que encantados pelo cante da sereia, dos "baixos preços" eliminámos todo um sector que criava empregos locais e que permitia uma saudável concorrência entre produtores que por sua vez também criavam empregos. Fomos nós, os Países, falando agora em macro, que para desenvolver as economias (que modelos de economias?), embalamos no cante do crédito fácil sempre a subir em direcção ao sol e que agora de repente vemos as asas de cera a derreter, o mar escuro lá em baixo... e já estávamos quase a chegar ao Paraíso...
E o culpado é a Democracia?!
Vimos ao longo da História que nas alturas de convulsões económicas, as franjas das sociedades aparecem como os bodes expiatórios, os culpados de tudo. Uns porque são pretos, ou porque são ciganos, ou porque são imigrantes, ou porque têm o cabelo encaracolado, ou porque são funcionários públicos, ou porque são democratas...
E ninguém aponta o dedo aos que - uma após uma - ficaram com todas as cordinhas nas mãos e que se divertem "bués" a fazer de todos nós marionetas das suas jogadas.
Pois bem, é hora de nos unirmos e em conjunto puxar pelas cordinhas que nos prendem e deitar abaixo o gigante de papel que nos tem reféns dos seus dedos.
A solução que muitos apontam - a tal suspensão da democracia - iria apenas permitir ainda mais o fecho da espiral da serpente que nos constringe, pois o único limite é o que advém da livre expressão da nossa indignação, quer seja em acções de rua ou nas urnas.
Não se pode dar crédito a políticos que apontam, como solução para a crise, a adopção de medidas que aprofundam mais a crise, mas parece que é precisamente nisso que eles estão apostados, reféns que se encontram do sistema financeiro: uma coisa tremenda mas em cujo topo assentam os interesses de apenas meia dúzia de indivíduos a quem não sei se hei-de chamar pessoas.
São antes a cabeça da serpente. Sem ela o resto do corpo perde a pressão, alivia a tensão e aí, de repente, acabamos por descobrir que a pressão não é mais do que uma cadeia em que todos nós, apertados pelo anterior, vamos sucessivamente apertando o próximo.
Não é a cabeça que tem a força mas é ela quem ordena, e a força somos nós que paradoxalmente a usamos contra nós mesmos, como muito facilmente se vê pelos políticos que em vez de servir os interesses dos seus, servem os da máquina que lhes dá ordens...

Pensamentos de José Luís Peixoto sobre a justiça...

... de que eu comungo totalmente:

"(...) estava na sala de espera de um advogado. Ia tratar de um assunto simples, contratos, mas talvez por causa do cheiro dos móveis, do produto usado para proteger a madeira, fui tomado por uma ideia: quem roube um automóvel, é considerado ladrão e vai preso; quem venda um automóvel por duas vezes o seu valor é considerado bom negociante, hábil, e pode ir de férias para um destino à sua escolha. A sociedade não reprova todas as formas de roubo, apenas reprova algumas."

"O que é a justiça?, perguntam os filósofos e, entretanto, ávida de cada um deles e a soma de todas as suas vidas é insuficiente para começar sequer a responder a essa pergunta. Qual pergunta?, diz um deles, e volta tudo ao início. Alheios a esse debate, há os cumpridores da lei e os fora-da-lei, há mesmo aqueles cuja função é garantir que as leis sejam cumpridas. Antes, quarenta anos atrás, as pessoas não queriam ter nada a ver com a política, tinham medo. Hoje, as pessoas não querem ter nada a ver com a justiça, têm exatamente o mesmo medo."

Excertos do artigo «acho que sou torto» de José Luís Peixoto na revista «Visão» de 10 de Novembro de 2011.
(podem ler o texto reproduzido na íntegra aqui, na página do Sindicato dos Magistrados Públicos)


"Violated Justice" - por track76
80cm x 120cm
Acrílico e spray sobre tela

novembro 12, 2011

«Dúvidas de um refém...» - por José Couto

foto «Diário as Beiras»
Há uns tempos, o País ficou chocado com as declarações da Dra. Manuela Ferreira Leite quando sugeriu uma suspensão temporária da democracia para garantir a estabilidade necessária durante um período de alguns meses, suficiente para a introdução de medidas que sendo necessárias, eram impopulares ao ponto de não sobreviverem ao “jogo” democrático.
Quero aqui afirmar claramente que eu fui um dos que não queriam acreditar... E se agora recordo o episódio, é porque a Europa dos nossos dias nos está a deixar reféns. Reféns da democracia dirão uns, reféns de maus políticos digo eu.
Só posso ter pena, lamentar profundamente, a falta confrangedora de estadistas entre os líderes europeus. As eleições regionais que se avizinhavam impediram que a Alemanha agisse, como e quando devia, no problema grego. Sarkosy não mobiliza recursos internos para o fundo europeu de resgate como devia temendo as eleições de 2012. O debate eleitoral em Espanha tem alimentado uma demagogia que afasta as políticas adotar da lógica de coesão e integração europeia. O tradicional egoísmo inglês faz com que a Inglaterra insista em ter uma relação de privilégio com a Europa, permitindo-se ser um dos maiores beneficiários da UE fugindo das proporcionais responsabilidades. Em Itália a arrogância e a difícil sobrevivência da maioria está a empurrar o País para o abismo. Na Grécia, as mentiras que suportaram o acesso ao poder, e as lutas pelo mesmo estão a infetar o futuro de toda a Europa. Poderíamos fazer exercícios idênticos por toda a União Europeia.
Agora que todos voltam a falar da necessidade de aprofundar a construção europeia, a dúvida que me assalta é simples: como poderemos avançar se todos olham para a sua sobrevivência política primeiro?
As empresas e as famílias, em Portugal como em muitas zonas da Europa atravessam momentos de verdadeira angústia, quer pelas consequências da crise financeira quer pela “escuridão” que se antevê para o nosso futuro. A Europa foi capturada por maus políticos, que demagogicamente se protegeram alimentando egoísmos eleitoralistas e ficámos seus reféns.
Hoje, não resisto a perguntar se não haverá por toda a Europa quem pense que o melhor caminho seja suspender a participação dos cidadãos, limitar a partilha das decisões por processos democráticos. Na verdade este pensamento começa a manifestar-se timidamente em vários espaços de opinião, constitui um perigo, um risco acrescido, quando junto com a inépcia de lidar com a “crise sistémica”. Estamos portanto a por à prova a capacidade dos líderes políticos europeus, e a sua capacidade de gerar boas respostas. Os sinais não são os melhores, veja-se a hipótese de solução proposta pela última cimeira franco-alemã: a Europa a duas velocidades… Não será isto o indicador de como estamos reféns da falta de ideias, ou das más ideias?

José Couto
_____________________________________
Texto publicado no jornal «as Beiras»
José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

novembro 11, 2011

votações na A.R.

Diz-se que as boas acções ficam com quem as pratica. E eu, que até nem tenho filiação partidária, mais não digo.

Votações:


23 de Setembro de 2011
VOTAÇÃO NA GENERALIDADE

1. Projecto de Lei n.º 44/XII/1.ª (PCP) – Determina a aplicação extraordinária de uma taxa efectiva de IRC de 25% ao sector bancário, financeiro e grandes grupos económicos (Altera o Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442-B/88, de 30 de Novembro);

Rejeitado

Favor – PCP, BE e PEV
Contra – PPD/PSD, PS e CDS-PP

2. Projecto de Lei n.º 45/XII/1.ª (PCP) – Tributação adicional sobre a aquisição e a detenção de automóveis de luxo, iates e aeronaves (13.ª alteração à Lei n.º 22-A/2007, de 29 de Junho, que aprovou o Código do Imposto sobre Veículos – ISV – e o Código do Imposto Único de Circulação – IUC);

Rejeitado

Favor – PS, PCP, BE e PEV
Contra – PPD/PSD e CDS-PP

3. Projecto de Lei n.º 46/XII/1.ª (PCP) – Tributa as mais-valias mobiliárias realizadas por Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS), Sociedades de Capital de Risco (SCR), Fundos de Investimento, Fundos de Capital de Risco, Fundos de Investimento Imobiliário em Recursos Florestais, Entidades não Residentes e Investidores de Capital de Risco (ICR) – (Altera o Estatuto dos Benefícios Fiscais, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de Julho);

Rejeitado

Favor – PCP, BE e PEV
Contra – PPD/PSD, PS e CDS-PP

4. Projecto de Lei n.º 47/XII/1.ª (PCP) – Cria uma nova taxa aplicável às transacções financeiras realizadas no mercado de valores mobiliários;

Rejeitado

Favor – PCP, BE e PEV
Contra – PPD/PSD, PS e CDS-PP

5. Projecto de Lei n.º 48/XII/1.ª (PCP) – Cria uma sobretaxa extraordinária em sede de IRC (Alteração ao Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442-B/88, de 30 de Novembro);

Rejeitado

Favor – PCP, BE e PEV
Contra – PPD/PSD e CDS-PP
Abstenção – PS

6. Projecto de Lei n.º 49/XII/1.ª (PCP) – Fixa em 21,5% a taxa aplicável em sede de IRS às mais-valias mobiliárias (Altera o Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442-A/88, de 30 de Novembro);

Rejeitado

Favor – PS, PCP, BE e PEV
Contra – PPD/PSD e CDS-PP

7. Projecto de Lei n.º 50/XII/1.ª (PCP) – Cria um novo escalão para rendimentos colectáveis acima de 175000 euros e tributa de forma extraordinária dividendos e juros de capital (Altera o Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442-A/88, de 30 de Novembro);

Rejeitado

Favor – PCP, BE e PEV
Contra – PPD/PSD, PS e CDS-PP

8. Projecto de Lei n.º 51/XII/1.ª (PCP) – Tributação adicional do património imobiliário de luxo (Alteração ao Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de Novembro, que aprovou o Código do Imposto sobre Transacções Onerosas – IMT – e o Código do Imposto Municipal sobre Imóveis – IMI);

Rejeitado

Favor – PCP, BE e PEV
Contra – PPD/PSD e CDS-PP
Abstenção – PS


novembro 10, 2011

Carta de um Alemão aos Gregos e resposta de um Grego

E-mail que circula na internet, traduzido por Sérgio Ribeiro no blog «anónimo séc. xxi»:

Há algum tempo, foi publicada na revista alemã «Stern» uma “carta aberta” de um cidadão alemão, Walter Wuelleenweber, dirigida a “caros gregos”, com um título e sub-título:

Depois da Alemanha ter tido de salvar os bancos, agora tem de salvar também a Grécia
Os gregos, que primeiros fizeram alquimias com o euro, agora, em vez de fazerem economias, fazem greves


"Caros gregos,
Desde 1981 pertencemos à mesma família.
Nós, os alemães, contribuímos como ninguém mais para um Fundo comum, com mais de 200 mil milhões de euros, enquanto a Grécia recebeu cerca de 100 mil milhões dessa verba, ou seja a maior parcela per capita de qualquer outro povo da U.E.
Nunca nenhum povo até agora ajudou tanto outro povo e durante tanto tempo.
Vocês são, sinceramente, os amigos mais caros que nós temos.
O caso é que não só se enganam a vocês mesmos, como nos enganam a nós.
No essencial, vocês nunca mostraram ser merecedores do nosso Euro. Desde a sua incorporação como moeda da Grécia, nunca conseguiram, até agora, cumprir os critérios de estabilidade. Dentro da U.E., são o povo que mais gasta em bens de consumo
Vocês descobriram a democracia, por isso devem saber que se governa através da vontade do povo, que é, no fundo, quem tem a responsabilidade. Não digam, por isso, que só os políticos têm a responsabilidade do desastre. Ninguém vos obrigou a durante anos fugir aos impostos, a opor-se a qualquer política coerente para reduzir os gastos públicos e ninguém vos obrigou a eleger os governantes que têm tido e têm.
Os gregos são quem nos mostrou o caminho da Democracia, da Filosofia e dos primeiros conhecimentos da Economia Nacional.
Mas, agora, mostram-nos um caminho errado. E chegaram onde chegaram, não vão mais adiante!
Walter Wuelleenweber"

Na semana seguinte, Stern publicou uma carta aberta de um grego, dirigida a Wuelleenweber:


"Caro Walter,
Chamo-me Georgios Psomás. Sou funcionário público e não “empregado público” como, depreciativamente, como insulto, se referem a nós os meus compatriotas e os teus compatriotas.
O meu salário é de 1.000 euros. Por mês, hem!... não vás pensar que por dia, como te querem fazer crer no teu País. Repara que ganho um número que nem sequer é inferior em 1.000 euros ao teu, que é de vários milhares.
Desde 1981, tens razão, estamos na mesma família. Só que nós vos concedemos, em exclusividade, um montão de privilégios, como serem os principais fornecedores do povo grego de tecnologia, armas, infraestruturas (duas autoestradas e dois aeroportos internacionais), telecomunicações, produtos de consumo, automóveis, etc.. Se me esqueço de alguma coisa, desculpa. Chamo-te a atenção para o facto de sermos, dentro da U.E., os maiores importadores de produtos de consumo que são fabricados nas fábricas alemãs.
A verdade é que não responsabilizamos apenas os nossos políticos pelo desastre da Grécia. Para ele contribuíram muito algumas grandes empresas alemãs, as que pagaram enormes “comissões” aos nossos políticos para terem contratos, para nos venderem de tudo, e uns quantos submarinos fora de uso, que postos no mar, continuam tombados de costas para o ar.
Sei que ainda não dás crédito ao que te escrevo. Tem paciência, espera, lê toda a carta, e se não conseguir convencer-te, autorizo-te a que me expulses da Eurozona, esse lugar de VERDADE, de PROSPERIDADE, da JUSTIÇA e do CORRECTO.
Estimado Walter,
Passou mais de meio século desde que a 2ª Guerra Mundial terminou. QUER DIZER MAIS DE 50 ANOS desde a época em que a Alemanha deveria ter saldado as suas obrigações para com a Grécia.
Estas dívidas, QUE SÓ A ALEMANHA até agora resiste a saldar com a Grécia (Bulgária e Roménia cumpriram, ao pagar as indemnizações estipuladas), e que consistem em:
1. Uma dívida de 80 milhões de marcos alemães por indemnizações, que ficou por pagar da 1ª Guerra Mundial;
2. Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que ascendem hoje a 593.873.000 dólares EUA.
3. Os empréstimos em obrigações que contraíu o III Reich em nome da Grécia, na ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares durante todo o período de ocupação.
4. As reparações que deve a Alemanha à Grécia, pelas confiscações, perseguições, execuções e destruições de povoados inteiros, estradas, pontes, linhas férreas, portos, produto do III Reich, e que, segundo o determinado pelos tribunais aliados, ascende a 7,1 mil milhões de dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota.
5. As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos (38,960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil mortos em combate, 105 mil mortos em campos de concentração na Alemanha, 600 mil mortos de fome, etc., et.).
6. A tremenda e imensurável ofensa moral provocada ao povo grego e aos ideais humanísticos da cultura grega.


Amigo Walter, sei que não te deve agradar nada o que escrevo. Lamento-o.
Mas mais me magoa o que a Alemanha quer fazer comigo e com os meus compatriotas.
Amigo Walter: na Grécia laboram 130 empresas alemãs, entre as quais se incluem todos os colossos da indústria do teu País, as que têm lucros anuais de 6,5 mil milhões de euros. Muito em breve, se as coisas continuarem assim, não poderei comprar mais produtos alemães porque cada vez tenho menos dinheiro. Eu e os meus compatriotas crescemos sempre com privações, vamos aguentar, não tenhas problema. Podemos viver sem BMW, sem Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Deixaremos de comprar produtos do Lidl, do Praktiker, da IKEA.
Mas vocês, Walter, como se vão arranjar com os desempregados que esta situação criará, que por ai os vai obrigar a baixar o seu nível de vida, Perder os seus carros de luxo, as suas férias no estrangeiro, as suas excursões sexuais à Tailândia?
Vocês (alemães, suecos, holandeses, e restantes “compatriotas” da Eurozona) pretendem que saíamos da Europa, da Eurozona e não sei mais de onde.
Creio firmemente que devemos fazê-lo, para nos salvarmos de uma União que é um bando de especuladores financeiros, uma equipa em que jogamos se consumirmos os produtos que vocês oferecem: empréstimos, bens industriais, bens de consumo, obras faraónicas, etc.
E, finalmente, Walter, devemos “acertar” um outro ponto importante, já que vocês também disso são devedores da Grécia:
EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM!
Queremos de volta à Grécia as imortais obras dos nosos antepassados, que estão guardadas nos museus de Berlim, de Munique, de Paris, de Roma e de Londres.
E EXIJO QUE SEJA AGORA! Já que posso morrer de fome, quero morrer ao lado das obras dos meus antepassados.
Cordialmente,
Georgios Psomás"

novembro 08, 2011

Deveria haver um levantamento nacional contra o esbulho dos subsídios de férias e do 13º mês

Com a devida vénia, se transcreve, na íntegra, o texto a seguir:

A ignorância e as mentiras de Miguel Relvas


Como seria de prever, o Governo já começou a preparar-nos, lentamente, para o fim definitivo dos subsídios de Férias e de Natal. Primeiro, foi Vítor Gaspar a falar, de forma inusitada, em «vários anos» de cortes, dando a entender que seriam mais de dois. Seguiu-se-lhe Miguel Relvas a preparar o terreno para Pedro Passos Coelho, como sempre a desdizer tudo o que andou a dizer nos últimos anos.
No meio disto tudo, as declarações de Miguel Relvas, para além de profundamente demagógicas, revelam um ministro que não sabe do que fala – e quem não sabe é ignorante – e que falseia a verdade em vários pontos. Ora, quem falseia a verdade mente. E quem mente é mentiroso.
Diz Miguel Relvas que
há muitos países que só têm 12 vencimentos, citando a propósito a Holanda, a Inglaterra e a Noruega. E não se percebendo como afirmação tão momentosa não mereceu mais comentários por parte da nossa Comunicação Social, só se pode considerar lamentável que, na ânsia de enganar os contribuintes, os nossos governantes não se importem de passar por ignorantes.
Como Miguel Relvas deve saber, o rendimento do trabalho em todos os países é anual – aliás, é assim que se calcula o IRS. O que existe são formas diferentes de o distribuir durante o ano. Em Portugal, por exemplo, o rendimento anual é distribuído, ou era, por 14 meses.
Quanto aos exemplos dados por Miguel Relvas, chegam a roçar o ridículo. Nem de propósito, falha em todos eles.
Em Inglaterra, o rendimento anual é dividido por 52 semanas e não por 10, 12, 14 ou 16 meses. 52 semanas, senhor ministro.
Na Holanda, os trabalhadores têm direito a Subsídio de Férias, correspondente a 8% do salário anual. Ou seja, caso se tenha trabalhado um ano inteiro, recebe-se um pouco menos de um mês de salário no mês de Junho, para além do mês de férias pagas.
Na Noruega, o rendimento anual é realmente pago em 12 meses. No entanto, o valor do IRS é dividido por 11 meses, sendo que os trabalhadores por conta de outrém recebem, no mês de férias, o ordenado isento de impostos. Ora, não é isto um subsídio de férias?
Para além das mentiras e da ignorância confessa, nota-se no meio disto tudo uma demagogia profunda. Como é possível querer comparar os salários dos portugueses (salário médio anual de 11 689 euros) com os salários de países como a Holanda (23 022 euros), a Noruega (22 263 euros) ou o Reino Unido (22 185 euros)? E ainda por cima querer cortar definitivamente uma parte significativa desse rendimento anual?
O Governo até pode ter legitimidade, o que duvido, para impor este tipo de medidas. Que não faziam parte do Programa de Governo ou do acordo com a Troika. O que não pode é mentir descaradamente aos portugueses e continuar a fazê-lo constantemente como se nada fosse. É que ainda não passaram 5 meses e
já estamos fartos destas mentiras. E que tal mentiras novas?

As crescentes dívidas mundiais, e o verdadeiro valor dos Dinh€iro$

Sobre um post publicado há poucos dias o qual punha em destaque a enorme dívida oculta da Alemanha cumpriu-me fazer uma reflexão expressa num comentário que agora sobe a post:

"É mais um dado a corroborar a tese de que a dívida é algo mais psicológico de que outra coisa. Pois se todos devem uns aos outros, seria fácil um encontro de contas para se tirar a limpo quem deve a quem e quanto, e se calhar ficaríamos todos estupefactos ao constatar a implosão efectiva das dívidas. Como escrevi há pouco tempo neste blogue, os tais "mercados" somos todos nós que queremos bons juros dos dinheiros a prazo, que queremos boas pensões de reforma, que queremos saúde e ensino com boas performances etc, e que não pensamos que tudo isso é pago com o dinheiro que depositamos nas contas destinadas a esse efeito nas mãos de agentes financeiros que depois aplicam em especulações a nível mundial de forma a rentabilizar essas verbas e assim agradar aos clientes e, com esse agrado, conseguir mais dinheiro em depósitos.
Esta aldrabice funciona durante algum tempo até que um dos agentes da roda querer, não títulos, mas dinheiro vivo, real money, e aí se descobre que apenas se tem papéis a prometer o céu mas só para o dia depois de amanhã.
O que corre mal?
Seria lícito esperar que este sistema, se funcionou durante x tempo, poderia funcionar - duas vezes ou mesmo três, quem sabe quatro ou mais vezes, quem sabe até ao infinito - bem.
Afinal, o dinheiro é ou não é uma aldrabice? Uma coisa fiduciária, algo baseado no acreditar do valor absoluto de um ícone?
É de facto! Mas derrubar um Deus é tão fácil com dizer que o Rei vai nu e mesmo que não vá: da nudez ninguém o safa.
A Alemanha deve um infinito. Pergunto se não terá outro infinito a receber. E os que devem à Alemanha, de quem serão eles credores?
Não será tempo de dar-se uma pausa para pensar e reflectir?
Acho que os donos do mundo sabem disso e que todos sabem. No entanto, persegue-os o terror. O terror dos homens descobrirem o tamanho real do Deus para o qual deram todo o seu esforço, a sua força vital. Descobrir que o dinheiro, neste caso o €uro, não vale nem metade, é um drama. Quiçá não para nós que poucos €uros temos, mas sim para os que os tendo em muita quantidade vêem o seu poder pessoal reduzido à expressão real da moeda.
Damo-nos sempre bem com um mercado em expansão, mas mal com um em recessão, no entanto as regras são exactamente as mesmas. Só que os donos do dinheiro apenas as querem quando elas lhes são a favor e nunca ao contrário.
A valorização constante das acções nas bolsas é uma falácia, pois transacciona-se por dia inúmeras vezes o PIB de todo o mundo. A panaceia da valorização assente na constante expectativa de consumo futuro, do crescimento constante, é utópica, uma quimera: o mundo tem recursos finitos assim como finitas são as nossas capacidades de consumir bens, mas isto funciona até ao momento em que movidos por uma invisível mola que se parte por excesso de tensão, a máquina encrava e lá vem ela destravada da ladeira abaixo em marcha atrás arrasando tudo. E de repente já não é preciso consumir mais, já nem é preciso quase nada de que supostamente não poderíamos prescindir, há que salvar é o dinheiro....
Isto faz sentido?!
No entanto... falam-nos sempre dos mercados, sempre dos mercados, sempre dos mercados....

Charlie

novembro 06, 2011

«Nova ordem económica já!» - por Cápê

Dom Pedro Marmelo
chegou e ameaçou
os da foice da serra
da vassoura do martelo

comigo insultos
e tumultos não
persigo-os que
nem um cão

e desandou
qual donzela
pudibunda
dando à bunda
mortinha por entregar
a sua honra
que porra
lá vai ele gritando
ao encontro do FMI
estou aqui estou aqui
estou aqui estou aqui

eu por mim
de costumes brandos
que até me espanta
ateava e já fogo à Banca

05/11/2011
Casp

Como conseguir uma hora extra de sono

As gralhas são uns pássaros que aterram em qualquer lado. Neste caso, foi no News Herald de Cleveland, quando alertavam para a mudança de hora:

novembro 05, 2011

Cientistas debatem nova definição da hora

Notícia do jornal «Sol» de 3/11/2011, que demonstra que nada é imutável (tal como a Hora de Verão):

Consulta e assina a petição50 cientistas de todo o mundo reúnem-se hoje e sexta-feira numa zona campestre a nordeste de Londres, sob a égide da prestigiada Royal Society, para debater uma nova definição do tempo, que votará a hora TMG ao esquecimento.
O assunto tem despertado paixões na imprensa britânica. Segundo o Sunday Times, está em causa nada mais do que «a perda» do Tempo do Meridiano de Greenwich (TMG), «símbolo há mais de 120 anos do estatuto de super potência da Grã-Bretanha vitoriana».
O tempo principal de Greenwich, baseado no primeiro meridiano de Greenwich, em Londres, tornou-se referência mundial após uma conferência em 1884, em Washington.
A nova definição propõe superar o tempo totalmente «solar», baseado na rotação da terra e medido pelos astrónomos há mais de 200 anos a partir do meridiano de Greenwich.
Na realidade, há já 40 anos que o mundo não é mais regido pela hora TMG, que permanece no entanto a hora legal no Reino Unido e é largamente utilizada como referência.
Uma conferência internacional em 1972 adoptou o Tempo Universal Coordenado, ou UTC, na sigla em inglês, calculado em 70 laboratórios do mundo por 400 relógios ditos «atómicos» (o segundo é definido pelo ritmo de oscilação de um átomo cesium).
O tempo atómico, com a vantagem de ser mais preciso, difere em algumas fracções de segundo do tempo definido pela rotação da terra.
Hoje, para salvaguardar a correlação com a rotação terrestre, «um segundo intercalar» é acrescentado quase todos os anos.
É este segundo que os cientistas propõem suprimir, abandonando ao mesmo tempo a correlação com a hora TMG.
A mudança é considerada indispensável para o funcionamento das redes, tanto das telecomunicações como de navegação por satélite, como o GPS norte-americano, o Glonass russo, o europeu Galileu ou o chinês BeiDou.
Estas redes precisam de uma sincronização ao nível do nano segundo.
Certos sistemas praticam o «salto» de um segundo, outros não, pelo que a sua interoperacionalidade está comprometida, segundo a agência France Press.
Uma recomendação a propor a supressão do segundo intercalar será submetida em Janeiro a votação da União Internacional das Telecomunicações, em Genebra.
Se for adoptada, o tempo atómico vai incorporar-se progressivamente no tempo solar, à razão de um minuto ao longo de 60 a 90 anos e de uma hora em 600 anos.

novembro 04, 2011

«Viva o pensamento único e viva os hereges!» - leitura recomendada

Uma pérola do jornal austríaco «Die Presse», traduzida para português na página PressEurop:


O anúncio de um referendo na Grécia sobre o plano europeu de resgate surpreendeu toda a gente e os comentários que suscitou permitem compreender melhor o quotidiano dos fazedores de opinião da União Europeia. As suas práticas são muito parecidas com as das seitas religiosas.
A Comunidade dos Europeus de Profissão (são criticados por serem um Leviatã do funcionariado, mas é injusto porque não são tantos como isso), gente razoável que vive em Bruxelas e se considera “a Europa”, celebra uma espécie de liturgia da palavra. Os participantes recitam mutuamente preces registadas pelos jornalistas presentes para a posteridade.
As fórmulas mais importantes do rito europeu atualmente em vigor são as seguintes: o primeiro-ministro grego terá tentado um “golpe de póquer irresponsável”, um “não dos gregos teria consequências imprevisíveis”, as questões em debate são simplesmente demasiado complexas para serem submetidas a decisão popular – mesmo antes de as medidas serem postas em prática! – , mas, sobretudo, a variante nacional contemporânea da democracia parlamentar não será apropriada para gerir corretamente os problemas globais.

Um sistema normativo sofisticado

À semelhança do Santo Ofício romano, os profissionais da Europa criaram um sofisticado sistema normativo para impor o respeito pela ortodoxia. De acordo com a complexidade do mundo pósmoderno, desta feita europeu, nada define claramente a apostasia. Mas só quando, por exemplo, uma pessoa se agarra obstinadamente à ideia de que os interesses nacionais são um elemento legítimo e também talvez mesmo decisivo da política europeia é que se pode esperar que seja excomungada. Tudo o resto é negociável, como é típico da UE.
Para os crentes, a existência de uma tal instância superior nos assuntos dogmáticos é vital. Imaginamos que cada europeu tenha uma ideia própria sobre a questão de saber se é preferível resolver a desintegração dos estados da zona euro com uma redução do número de participantes na moeda única ou com a criação de um governo central que, com a imposição das mãos, sara a fratura entre a economia da Holanda e a da Grécia. É quase como esperar que cada fiel presente numa missa católica tenha a sua própria interpretação da transubstanciação. Impossível, para não dizer intolerável.

Quando todos pensam o mesmo, ninguém pensa

Os grandes capelães europeus são assim um beneplácito e nós devíamos pensar inclusivamente em organizar pequenas perseguições aos hereges que se atrevem a desafiar a santa fé do estado central europeu unido, o que seria apenas um sinal de respeito. Em todos os tempos, foi a colocar questões que apareceram os hereges. Quem diz questões, diz dúvidas e a dúvida é o fim do dogma.
Assim sendo, que será que nos querem dizer os comentadores da Europa unida quando afirmam, com a voz a tremer de indignação, que uma rejeição do plano de Bruxelas pelos gregos terá “consequências imprevisíveis”? Será que estão com isso a insinuar que as consequências das “medidas” decididas até hoje eram previsíveis? Será que os acontecimentos do ano passado são disso prova?
Por que motivo não hão de os cidadãos ter direito a pronunciar-se sobre um projeto que reduz consideravelmente a soberania do seu país? Será culpa sua não perceberem o que se passa, ou culpa dos que nada lhes explicam? E não é verdade que estes não lhes explicam nada porque nem eles percebem o que se passa? Por conseguinte, que direito têm eles de tomar decisões sobre coisas que entendem tão mal como as pessoas a quem escondem o que andam a fazer?
Que os guardiões da fé entrem no debate é bom. Sem dogmas não há heresias e sem hereges a Europa não se salva. Quando toda a gente pensa o mesmo, já não se pensa muito. Quem se bate contra o atual Diktat está realmente a defender a Europa.

«O tema não deixa de ser grego» - por José Couto

foto «Diário as Beiras»
Se os gregos decidirem virar costas ao euro e à UE implode nesse momento uma cratera de 200 mil milhões que correspondem ao esforço de sustentação do país. Toda a Europa sofrerá com esta decisão, porque mais de metade daquele valor está em papel no BCE, para não falar dos efeitos negativos diretos para as economias mais envolvidas com a divida soberana, como será o caso da Alemanha e da França, ficando ainda para saber se a Senhora Merkel e o Senhor Sarkozy resistem a tal catástrofe. O que se pede ao povo grego é de facto assustador, pede-se recessão, desemprego e diminuição de rendimento, ao mesmo tempo há que capitalizar os Bancos com 30.000 milhões. Portanto, é de grande preocupação a resposta grega às propostas saídas da Cimeira de 26 de outubro porque dependemos todos dessa resposta, em especial o nosso País.
Esta conjuntura já não nos é favorável se lhe adicionarmos a informação que a produção industrial na zona euro, segundo os números no final de outubro, sofreu uma contração pelo terceiro mês consecutivo, passa para um nível de preocupação negro. De acordo com indicadores que medem o índice de produção, as compras dos 17 da área euro caíram para 47,1%, menos do que o esperado pelos analistas e abaixo dos 48,5% de setembro, que também se apreçam a referir que quando este índice se situa abaixo de 50 pontos num trimestre o significado é contração da economia.
Mas a recessão está a espreita, não duvidemos, porque, sem se anunciar, o desemprego na Alemanha aumentou (para 7%), o que não acontecia vai para mais de dois anos, e a produção industrial também caiu. Trata-se de uma desaceleração da economia germânica que está a baixar stocks ou é mais do que um problema de acelerador? É que para nós faz toda a diferença se a economia da locomotiva europeia cresce 1,8% ou 1%.
Na origem de tudo isto não está apenas o 5º programa de austeridade grego, está sobretudo uma quebra de confiança da sociedade e até uma ameaça de golpe militar. Neste momento, o problema já não é grego, é europeu. A incapacidade das instituições europeias darem uma resposta cabal ao problema está a permitir um alastramento perigosíssimo da “infeção”. Uma semana após a, afinal infrutífera, Cimeira Europeia, depois de mais reuniões do eixo franco-alemão e destes com o governo grego, de mudanças na liderança do Banco Central Europeu e até mais uma reunião do G20, continua pesada a atmosfera europeia e, ou muito me engano, continuarão ainda o impasse e angústia...

José Couto
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Texto publicado no jornal «as Beiras»
José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

novembro 03, 2011

serviço público - o (des)acordo ortográfico é ilegal?

Soube agorinha mesmo desta curiosidade que considero da maior utilidade partilhar convosco, mas o atropelo é tanto e tão desvairado que damos por nós sem saber lá muito bem com que linhas é que nos cozemos, como diriam as avozinhas.

Ora, o certo é que existe um Decreto, datado de 08 de Dezembro de 1945, mas muito em vigor, dado não ter sido revogado, que regulamenta o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. É ele o Decreto 35228 que, salvo melhor opinião, está vivinho da costa.

Acontece que, estando ele em vigor, e se ainda estamos num estado de direito, ele retira toda a legitimidade ao mais recente «Acordo Ortográfico» que, apesar de novo, é já de tão má memória e que tanta celeuma tem causado. 

E (mais) esta, hem?

- Claro que, se houver quem saiba mais e melhor o que se está a passar, muito se agradece conveniente esclarecimento.

novembro 02, 2011

Paulo Portas quer que sejamos "lindos meninos"...


Notícia aqui.

Minha gente, um voto!!

Das últimas quarenta e oito horas, poderia salientar muita coisa: um acolhimento maravilhoso onde não sabia como seria acolhida ou de outras boas-vindas, onde saberia que elas aconteceriam. Ambos me preenchem e só tenho pena de não os poder descrever como eles mereceriam. A seu tempo, se tudo correr bem, fá.lo-ei.
Para já, retenho o cuidado e o carinho, no sábado, e as eternas gargalhadas, disparates (oh Migas, obrigada por me teres encontrado o telefone maravilha, carais!), um Tintim que saiu melhor do que a encomenda e os amigos de sempre, misturados com o que se quer para sempre (que nunca é muito tempo), hoje.

Mas o que aqui me traz é outra conversa.
Lembram-se deste post, publicado lá no meu outro cantinho, o Câimbras Mentais? Pois bem, a coisa resolveu-se e fomos a concurso.
O texto seleccionado, A Menina que Não Podia Acreditar em Sereias foi o seleccionado e encontra-se à espera dos vossos votos aqui.
E agora vale tudo, minha gente: partilhem, façam correr a notícia, dêem a ler aos amigos, whatever.
Gosto deste texto, nunca submeti nada do que escrevo a concurso e sempre quero ver no que a coisa dá.
Vamos lá?
Bem hajam pela ajuda!