maio 30, 2012

Victoria Grant, canadiana de 12 anos, explica aos banqueiros como estão a roubar as pessoas e os países

«Victoria Grant discursou perante altos executivos norte-americanos para mostrar "por que o sistema bancário defrauda os clientes".
A jovem canadiana entendeu como funciona o sistema bancário e foi ao Banco da América explicar o que aconteceu no Canadá e em outros países do mundo.
As questões que Victoria coloca são simples: "Alguma vez perguntaram a que se deve a dívida do Canadá? Perguntaram alguma vez porque pagam os canadianos tantos impostos? Perguntaram-se porque ficam os banqueiros mais ricos enquanto nós não?", questiona, dando desde logo uma resposta: "O que eu descobri é que os bancos e o governo se uniram para escravizar financeiramente os cidadãos do Canadá".
No discurso proferido a 27 de abril, Grant pronuncia-se contra as fraudes cometidas pela banca para justificar níveis insustentáveis de endividamento. E em apenas cinco minutos lembra a criação do Banco do Canadá, explica como o Governo pede empréstimos aos bancos e diz como se cria o endividamento do Estado.
Grant lembra ainda que quando um banco concede um empréstimo "não te estão a dar realmente o dinheiro, eles apertam um botão do computador e geram um dinheiro falso. Eles não têm realmente nada nos cofres. Hoje em dia, os bancos têm quatro mil milhões de dólares em reservas mas emprestam 1,5 biliões".»
Fonte: Dinheiro Vivo

maio 29, 2012

EXIJO QUE A ALEMANHA SAIA DO EURO!!!

(De preferência logo na fase de grupos...)

eurocépticos...

como os europeus eurocépticos vêem a crise do €uro...
how european eurosceptics view the €uro crisis...

Uma questão de (matur)idade

Dizem por aí que a idade nos torna sábios e isto maça-me.
Com que fundamento se afirma que o passar dos anos torna sensato ou sabedor o idiota?
Estou, de resto, convencida, que a idade, como o álcool, se limita a acentuar o que já cá mora: o bom e o mau.
Podemos tornar-nos mais tolerantes, menos acintosos - e isto será verdade para alguns.
Outros crescem mais prudentes, no sentido em que aprendem a resguardar-se mais - e isto valerá para muitos, mas também não para todos.

Mas o saber, ou (sobretudo) a falta dele (sobretudo por parte de quem considera já o deter por completo - o que só sente o dogmático, pobre de espírito), ergue-se como uma bandeira até ao fim.
E, como o tamanho do nariz e das orelhas, destaca-se por aumento com o passar dos anos, não havendo creme que o camufle.

um tempo pardo e manso

Parto para este alinhavo de palavras com alguma sensação de tempo desperdiçado, devo confessá-lo. Não por esmorecimento de convicções, mas pelo sentimento que nem sei como sacudir de que, entre pérolas e porcos, o português – que eu também sou – não sabe por qual decidir.

Sabemos que o povo é quem mais ordena, embora nos perturbemos logo a seguir com a definição do que é povo; acreditamos fiel e piamente na democracia, sem sequer lhe questionarmos os desvios das sombras na gruta de Platão; solidários, matamos a fome de alguns, enriquecendo ainda mais quem a provoca…

E lá chegamos ao cerne destas pequenas e miseráveis deambulações: foi lançada mais uma «campanha contra a fome» e nunca o banco alimentar recolheu tanta manifestação de solidariedade deste povo que se comove ouvindo uma fadista gritar a plenos pulmões «ó gente da minha terra, (…) esta riqueza que trago foi de vós que a recebi»…

Ponham lá a voz num qualquer dono de uma qualquer cadeia de «grandes superfícies» que despachou mais umas toneladas de artigos bem pagos para matar fomes alheias e logo apurareis a relatividade dos conceitos e outra dimensão da lágrima. Imagine-se o dueto improvável (ou talvez não) de uma Isabel Jonet e de um Belmiro de Azevedo…

Entretanto, não muito longe daqui, alguns velhos gregos suicidam-se por desespero, enquanto por cá alguns jovens se suicidam por estupidez.

As generalizações são sempre perigosas, enganosas e redundantes. Nem todos os gregos se suicidam, qualquer que seja a idade; nem todos os portugueses se suicidam, qualquer que seja a idade.

Curioso, apenas, o relevo que os «meios de comunicação» – que, aliás, nunca chegam a fins, em si mesmos – dão aos factos gregos e aos factos portugueses.

Por vezes, parece-nos que há instruções precisas para incutir em quem os lê, ouve e vê que a juventude portuguesa é constituída por uma massa amorfa de totós, que vivem das sopas caseiras e sem preocupações que vão além da aquisição do mais recente telemóvel ou do ingresso de entrada para o Rock in Rio.

Talvez a avaliação esteja errada. Talvez esta imagem generalizada e propositadamente desfocada e amorangadamente nebulosa impeça que se veja uma outra dimensão do ser humano que não pode deixar de existir sob a capa das aparências fúteis e – apenas essas – propagandeadas.

Talvez seja aí que resida a remissão destes nossos pecados velhos. Talvez seja aí que redondamente se enganam os «mercados» e os seus crentes e fieis seguidores.

maio 28, 2012

A posta na chata da fiscalização


Gostava imenso de saber que raio de poder é conferido (induzido?) a estes fulanos das secretas para se sentirem no direito de pedir a substituição de quem os fiscaliza.
Esta nova revelação acerca da chata (só sobe na nossa consideração, tendo em conta a função em causa e o transtorno que estaria a causar aos abusadores) confirma os piores pressupostos que os anteriores capítulos desta mixórdia permitiram conceber.
É uma balda, aquilo que se instalou numa área sensível do aparelho governativo. E é uma balda perigosa, considerando a leviandade da actuação dos intervenientes que vão subindo à tona do lodaçal desde que alguém remexeu o fundo da coisa.

Estamos a falar, caso não tenham reparado, nos fulanos a quem é confiada a segurança do Estado contra ameaças externas (pragas de gafanhotos, por exemplo, pois assim de repente não me ocorre outra coisa) e internas (aqui é que a porca torce o rabo pela forma como os inimigos da Pátria são seleccionados pelos espiões).
Ou seja, estamos a falar dos gajos cuja herança, cuja carga, pela natureza das funções e da autoridade conferida, é a da PIDE-DGS.
Claro que toda a gente corre a afastar esse papão, hoje em dia seria impossível, mas a verdade é que uma polícia secreta possui meios para, em teoria, exercer chantagem sobre um político, um banqueiro e, porque não?, um jornalista.
Se essa polícia secreta começa a surgir associada com frequência a escutas e vigilâncias difíceis de explicar no âmbito da segurança do Estado, temos a ameaça interna a provir precisamente de quem é pago por nós para a evitar. Nesse caso só há que desmantelar tudo aquilo e começar de novo pela raiz, sendo que essa deve beber de um terreno fértil em pessoas de bem, patriotas, e de uma legislação muito mais rigorosa na matéria.

A Democracia é uma realidade muito sensível a esta acumulação de agressões aos valores e aos mecanismos que a compõem. Com a classe política sob suspeita, a Justiça sob suspeita, a alta finança sob suspeita e a Comunicação Social no estado que se sabe, pouco resta dos sustentáculos de todo o sistema e só estupidamente exagerados a roçar o imbecil podem dormir sossegados com base na fé de que tudo se componha por si.
Não compõe. Nem por si, nem por mim, nem mesmo pelo superior interesse da Nação que a seita de crápulas e de parasitas pouco a pouco consome e certamente destruirá se a população não começar a falar mais grosso.
É a Grécia revisitada, bastando olhar para o cenário em termos de alternativas que nos espera em próximas eleições, demasiado próximas de uma fase que se adivinha complicada para o país e por isso desde já perfeitas para o desabafo expresso no voto de protesto (logo agora que se fala na saída do Louçã, olha a maçada...) que, exemplos não faltam, é a praia natural de uma fauna que se estende dos Coelhos madeirenses aos pistoleiros fanáticos pseudo-nacionalistas.
É uma lotaria.

Por isso mesmo, todos estes pequenos golpes na pele do sistema fazem-no sangrar credibilidade até a soma de feridas se tornar numa hemorragia de confiança que ninguém no actual panorama parece capaz de estancar, sobretudo quando (e não se) as coisas descambarem a sério.
Ao descrédito das instituições sucede-se a constatação da ausência de opções e somando a isso os efeitos da crise na população temos reunidos os ingredientes para uma revolta desnorteada, sem soluções, desesperadamente hostil.
É esse o resultado final mais provável para países que, no contexto de uma conjuntura terrível, se permitem o luxo da apatia perante as evidências, perante as emergências que se multiplicam e às quais não tarda (sim, a Grécia seremos nós) ninguém poderá ou quererá acudir.

maio 27, 2012

Última aula do Dr. Júlio Mota, meu professor de Economia Internacional

Recordar-me-ei sempre das aulas de Economia Internacional, em que o Dr. Júlio Mota entrava na sala só com um jornal («o Jornal», se bem me recordo) debaixo do braço, pousava-o na mesa e começava a aula escrevendo fórmulas atrás de fórmulas no quadro, explicando-nos passo a passo o que, em muitos momentos, era para nós Chinês (o que já era uma preparação, sem o sabermos, para a globalização).
O Dr. Júlio Mota e a FEUC tiveram a amabilidade de distribuir o texto da sua última aula. Esse texto é mais do que merecedor de ficar disponível para quem o quiser ler. Aqui o deixo, com minha vénia e o meu agradecimento à FEUC e ao Dr. Júlio Mota:



«De Ricardo a Marx, de Marx a Ricardo, nos caminhos da globalização - Notas de uma aula de ontem, notas para uma aula de amanhã»

Júlio Marques Mota

FEUC, 23 de Maio 2012

o banqueiro e o mordomo,,,

«Esquerdismo requentado. Mercado social» - Jaime Ramos

Fruto deste circunstancialismo, a sociedade portuguesa, que sempre foi permissiva, hipertrofia a própria lassidão. Confundem-se «chicos-espertos» com empresários. Aplaude-se o lucro, todo o lucro, sem se penalizar a agiotagem, a especulação ou a corrupção. Branqueado ou não, o dinheiro, e a importância social, parece terem o mesmo valor. Penaliza-se o político ou o agente público que cedem à corrupção, mas tolera-se o habilidoso que corrompe. Ao lado do empresário com ética e com virtude, que investe a médio ou a longo prazo, surgiram os comerciantes do imediato, os novos-ricos cujas fortunas cresceram tão rapidamente como a dos premiados pela lotaria ou euromilhões, mas com menos clareza. Socialmente, pune-se mais o pequeno roubo do que a burla financeira, a esperteza fraudulenta ou a fuga ao fisco. No caso do conto do vigário,
 o “cigano” que ludibria um idoso vai preso mas a banca continua a vender “gato por lebre”. Ao contrário do comportamento dos aristocratas ou dos empresários sérios, os novos adoradores do dinheiro apostam na ganância, pavoneiam-se no sumptuoso, vivem na ostentação da arrogância e do gasto fácil. Admito correr o risco de ser acusado de esquerdismo requentado. Incluindo-me no grupo daqueles que sempre acreditaram nas potencialidades da livre iniciativa, não sou obrigado a deixar-me ofuscar pela conjuntura. Na sociedade poderão faltar ideologias, na economia poderão não existir modelos alternativos, mas o caminhar dos movimentos sociais não se interrompe. Temos de introduzir na nossa sociedade valores éticos e morais que impeçam o arrecadar excessivo de dinheiro; o «enriquecei a qualquer preço, enriquecei depressa, enriquecei sem trabalho». Mas enquanto a sociedade não passa da lassidão a uma consciência cívica colectiva que puna esses exageros, cumpre ao Estado, não só a defesa dos mais fragilizados, mas também a criação de mecanismos que preservem a concorrência e permitam um fluir correcto do mercado – e impeçam a ilicitude, definindo com precisão a fronteira entre o lucro legítimo e o lucro sujo ou menos claro. Contra as correntes que defendem menos Estado devemos exigir mais Estado, um Estado com mais poder. Precisamos de um Estado forte, capaz de defender o interesse colectivo e intervir nos excessos do poder do dinheiro, impedindo acções fraudulentas e a fuga ao fisco. Não se confunda, porém, mais poder do Estado com «maior administração».


Jaime Ramos Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

maio 25, 2012

Dia Internacional das Crianças Desaparecidas

A posta que pelo menos metade são comprovadamente aldrabões


Cada vez mais ficam de lado os pormenores e a vista abre-se sobre o grande plano que começa a parecer uma antecipação do inferno anunciado, muito para lá das dificuldades que uma crise acarreta.
Olhamos para os acontecimentos, os que nos chegam ao conhecimento, e já pouco interessa quem são os protagonistas mas apenas qual o seu papel e quais as causas e consequências da sua intervenções desastradas, levianas, perigosas até.
Pouco interessa o que vemos e o que sabemos acerca da inevitável degradação das funções, do que elas representam para o bem comum, quando ocupadas por pessoas incapazes de lhes entenderem a relevância e que por isso lhes mancham a dignidade com as suas exibições públicas de menoridade, de ignorância.

Embora a elite corra a cobrir a retaguarda dos seus, adiando respostas, rejeitando propostas, varrendo para debaixo do tapete a sujeira que o tempo ajuda a esquecer, vemos garantida a presença de aldrabões onde menos os desejaríamos quando as alegadas verdades de uns são categoricamente desmentidas por outros.
E quando uns são Ministros da Justiça e os outros são Procuradores Gerais da República, e quando uns são a tutela da Comunicação Social e os outros são Jornalistas, e quando uns são Primeiros Ministros cessantes e os outros são Primeiros Ministros vindouros, e quando percebemos que são os próprios a atrair a suspeita da mentira quando se contradizem entre si, essa elite gangrenada, deixamos cair os nomes, os rostos, os detalhes sórdidos da porcaria que fazem e que espalham pelo país que precisa mais do que nunca de gente de bem, respeitável e respeitada, deixam de interessar.
Interessa apenas salvaguardar os cargos que ocupam e aquilo que esses cargos representam muito para lá das figurinhas e dos figurões que os ocupem em determinado momento da História.

Cada vez mais aqueles a quem confiamos nada menos do que o bom funcionamento da Democracia (pedir-lhes mais do que isso seria desumano considerando a real valia do seu desempenho, bem expressa no que se vê e no que se adivinha ou deduz) parecem ignorar a responsabilidade que isso implica.
Embriagam-se com a projecção, com o poder, com a euforia do sucesso pessoal e perdem o rasto ao que lhes compete fazer a bem da nação que os promoveu, que lhes abriu as portas para um lugar na História que acabam por utilizar para nos envergonharem com a evidência de uma péssima escolha.
Sobretudo numa altura de aperto apenas lhes exigimos uma trégua no regabofe e nem isso parecem dispostos a conceder, na cegueira do poder que não respeitam e por isso se permitem condutas que trazem o descrédito muito mais para as funções do que para as pessoas que as assumem.

A insistência nesta aposta em males menores, nesta fé em falsas esperanças, nesta apatia que nos trai porque deixamos que nos atraiçoem, é a receita infalível para o futuro imediato do país ser equivalente ao presente de um outro país que não queremos ser e a quem igualmente um passado glorioso não poderá valer. 

Quem gosta do Marinho? E quem desgosta?

Chegou-me este texto, que me apetece partilhar convosco, de A. Marinho e Pinto, actual Bastonário da Ordem dos Advogados, personagem do nosso panorama lusitano de especial relevância, digo eu, que mais não seja pela sua capacidade de desafinar no concerto certinho da «vozearia oficial».    
À vossa consideração, pois:

Uma barata tonta
Três antigos bastonários da Ordem dos Advogados ligados ao negócio das arbitragens (essa justiça privada e clandestina tão zelosamente promovida pelo actual governo) vieram atacar-me pessoalmente por eu ter criticado a ministra da justiça no programa da SIC «Conversas Improváveis», onde dissera que ela é uma barata tonta e uma pessoa traiçoeira em quem não se pode confiar.
António Pires de Lima, que já não se lembra dos insultos que dirigira a António Guterres, José Sócrates, Alberto Costa e Alberto Martins, veio dizer ao semanário Sol que eu devia «andar a puxar uma carroça em Lisboa». Ele, que há uns anos comparou o Ministério Público à Gestapo de Hitler e à PIDE de Salazar e que antes do 25 de Abril fora advogado de uma das mais ferozes forças de repressão da ditadura, defendeu a actual ministra afirmando que ela «tem feito o possível, o que não pode é fazer milagres». Confessou ainda «ter a maior consideração» por ela e desejou-lhe «boa sorte». Ámen!
Júlio Castro Caldas, sócio do chefe de gabinete da ministra, veio também a público afirmar que ela fora alvo de uma «pública injúria com intenção de ofender» - um acto para o qual nem «o histrionismo de carácter, estimulado pelo talk-show, é atenuação suficiente». Castro Caldas tem motivos para vir em socorro da ministra, pois, além de interesses comuns nas arbitragens, foi nomeado por ela para a Comissão de Revisão do Código de Processo Civil. Também tem motivos para me atacar dessa forma descabelada pois, em tempos, escrevi um artigo sobre um bastonário da OA que fora alvo de uma participação de um juiz por se ter descoberto em plena audiência de julgamento que na véspera ele tinha reunido com as testemunhas do seu cliente, suspeitando o juiz e o advogado da parte contrária que essa reunião fora para as industriar. Claro que Castro Caldas foi absolvido pelo conselho Superior da OA, quando Júdice era bastonário, pois, em regra, esse tipo de comportamento só constituía infracção disciplinar quando visava advogados mais modestos, de preferência da província.
José Miguel Júdice que, enquanto bastonário da OA, tentava, entre outros negócios, vender submarinos ao governo, veio rasgar as vestes em público, dizendo que eu ultrapassei «todos os limiares da boa educação» por ter feito as declarações que fiz «contra uma senhora que está a desempenhar o seu papel da melhor maneira que pode e sabe». Refira-se que Júdice aumentou e muito a sua fama de «bem educado» pela forma elevada como em tempos tratou o bastonário Rogério Alves, o presidente do Conselho Superior, Luís Laureano Santos e o seu vogal, Alberto Jorge Silva, por lhe terem instaurado um processo disciplinar por, em declarações públicas, exigir que o estado consultasse sempre a sua sociedade de advogados. Também contribuiu para a sua láurea de boa educação, a forma elegante como passou a referir-se a outra «senhora», a antiga ministra da justiça Celeste Cardona, depois de o então ministro da defesa, Paulo Portas, ter preterido o cliente do escritório de Júdice na compra dos tais submarinos.
Júdice, que se demitiu do PSD para ir ganhar dinheiro com José Sócrates e António Costa (de quem foi mandatário à Câmara de Lisboa) quando Luís Marques Mendes era presidente do partido, terá agora de fazer muitos mais exorcismos públicos como este para voltar a estar em condições de facturar como na altura em que Durão Barroso e Santana Lopes chefiaram o governo. Recorde-se que, nesse tempo, o escritório de Júdice recebia, só de uma empresa pública, dois milhões de euros por mês (um milhão em cada 15 dias), supostamente, por assessoria jurídica. Por outro lado, a sua boa formação está lapidarmente evidenciada numa entrevista ao JN, em que, pronunciando-se sobre a Zona Ribeirinha do Tejo, para cuja administração José Sócrates acabava de o nomear presidente, disse: «Aí sinto-me um ginecologista. Trabalho onde espero que muitos se divirtam».
Enfim, são três antigos bastonários que, por inconfessados interesses pessoais, não hesitam em atacar publicamente o bastonário da OA em exercício, unicamente para cair nas boas graças do poder político. Estranha noção de dignidade, a deles.
A.    Marinho e Pinto
Fonte: 2012-05-07,  JN

Eugene Polley...

 
morreu o inventor do controlo remoto para a TV

maio 21, 2012

A posta no diabo que os carregue


Uma das hipóteses mais terríveis que me acudiram à ideia quando pensei em alvos mais vistosos para um atentado terrorista foi, pela conjugação perfeita dos factores que tornam relevante o acto de profunda ignomínia em causa, a Eurodisney.
Acabei por concluir, tão fofo, que não, nem mesmo o mais tresloucado operacional de um qualquer grupo de cobardes seria capaz de apontar às crianças a mira do seu ódio.
Porém, a explosão que em Itália ceifou a vida de uma estudante com dezasseis anos de idade e provavelmente desfigurou ou incapacitou mais algumas jovens com o azar de frequentarem uma escola secundária que, na demência assassina de coisas parecidas com gente, foi escolhida para palco de mais um marco na descida ao inferno que cada vez mais os outros podem ser, trocou-me as voltas.

Neste caso, sejam quem forem, esses outros não se enquadram naquilo que defino como ser humano. Um acto terrorista não joga certo com a maioria dos instintos primordiais mais significativos e em nada se relaciona com a racionalidade como a conseguimos interpretar, é uma pura e simples aberração.
Mas não estamos a falar de um gato que ladra como um cão, em causa está a natureza dos vermes capazes de acharem boa ideia fazerem explodir um engenho a poucos metros de um estabelecimento de ensino à hora da entrada, algo cuja crueldade supera os limites suportáveis para os seres humanos propriamente ditos e que nenhuma causa ou justificação poderá, enquanto existir uma réstia de humanidade em alguém, atenuar enquanto exibição do Mal na sua forma mais cristalina.

Nesta altura, e depois de levantada a suspeita sobre a Máfia, ainda não se conhece o móbil da proeza tal como não foram identificados os respectivos autores, mas a baixeza do crime torna irrelevantes quaisquer outros pormenores: perante o conjunto de traições implícitas a alguns dos valores mais importantes para nos distinguirem enquanto pessoas nada mais interessa do que arreganhar o dente sem medo a estes bastardos da Criação e devolver-lhes em coragem e desprezo o ódio desumano e a cobardia mais nojenta que a sua presença no mundo só serve para representar.

maio 20, 2012

Do entendimento “normal” (90º) da liberdade do alheio à tendência para o abuso “obtuso” do poder

Sexta-feira, dia 13... Resolvi participar num concurso internacional anónimo de fotografia. No prazo estipulado, cumpridas todas as normas de ocultação de identidade, com etiquetas de códigos numéricos e tal, lá me dirigi ao local indicado para entrega do envelope. No regulamento dizia-se que mediante a entrega do concurso seria, a pedido, passado um recibo... A funcionária recolhe o envelope, e diz-me (tal e qual): "Preciso do primeiro e último nome do fotógrafo". Impaciente com a minha hesitação de boi a olhar para um palácio, acrescenta: "E é se quer levar o papel..."

Pois, então… entendi estar presente na cerimónia de entrega de prémios do dito concurso onde tive, com satisfação, oportunidade de constatar não haver qualquer indício de “corrupção” na escolha dos premiados, e portanto ter-se “somente” tratado de mera falha de organização, tendo sido, possivelmente, deixado aquele procedimento ao critério único do recepcionista, que certamente assim procede por norma no cumprimento das suas funções normais de “recepcionista”.

Para orgulho do género os três primeiros prémios foram atribuídos a três mulheres, muito embora fossem em maior número os participantes do sexo masculino (mas isto é só um aparte) e eu própria (por mero acaso) fui agraciada com uma menção honrosa de entre três atribuídas, coisa até bastante honrosa dado o número de participantes e a qualidade notória dos trabalhos em exposição.

Mas a razão de ser deste artigo não tem afinal nada que ver com nada disto, mas antes com o facto de, a dada altura, se ter abeirado de mim um senhor (que vim depois a saber ser director do não–sei-o-quê) a “pedir-me” que não fumasse ali o meu cigarro electrónico, muito embora fosse perfeitamente legal e estivesse perfeitamente no meu “direito”, com o argumento único de “solidariedade” para com alguma causa em que definitivamente não acredito. Ainda me perguntou com ar de estar completamente seguro da sua razão se compreendia, ao que eu lhe disse que “não, que não compreendia”. Apesar disso, para não causar maiores transtornos, sendo o momento pouco apropriado, lá suspendi a contragosto aquela actividade a respeito da qual, estando dentro da lei e não prejudicando ninguém, só a mim cabia decidir. Fiquei entretanto a pensar no tal argumento de “solidariedade” que me pareceu bastante mais descabido que dirigir-me eu a alguém desconhecido para lhe pedir que “por solidariedade” não usasse uma camisola de marca ou uns brincos de ouro, uma vez que poucas pessoas os podem possuir… sendo que um cigarro electrónico é coisa ao alcance de qualquer cidadão que entenda por bem esfumaça-lo (até ver) onde e quando lhe der na gana.


maio 18, 2012

P Coelho - Optimismo por Grosso, Lda.

Vão à falência 10 empresas por dia mas não devemos estigmatizá-las pois a falência é uma excelente oportunidade para a mudança de ramo.

A posta no manifesto para uma alternativa livre de inclinações


Aos poucos a Europa prepara-se para uma enorme convulsão, consolidada que está a impotência política para suster a queda das peças do dominó financeiro e estando já à vista, no colapso grego, a queda da peça que sustém o sistema de forma precária.
Neste contexto, Portugal apenas levará uns meses de atraso da Grécia pois só os ilusoriamente optimistas poderão acreditar que nos iremos safar por entre os pingos desta chuva ácida que corrói pelas finanças toda a estrutura social, ao ponto de podermos passar do choque de civilizações à derrota de uma delas por falta de comparência.

A ameaça é séria e embora até possamos acreditar-nos capazes de arregaçar as mangas e reconstruir o país depois da bronca temos sempre que ter em conta o cariz absolutamente imprevisível destes processos de degradação em bloco, como a História do Mundo o comprova com iniludível profusão.
Sendo cada vez mais óbvia a desorientação e mesmo a incapacidade dos actuais líderes europeus para lidarem com o problema, já relegando para segundo plano o silêncio desconfortável de tantas nações perante a agonia de parceiros que, pouco tempo atrás, já fantasiavam um enlace federalista.
E terá sido precisamente o falhanço na concretização dessa asneira colossal que terá deixado o euro à mercê de uma crise sem paralelo e desprovido de mecanismos que lhe pudessem valer como tábua de salvação.

O problema português não será tão diferente assim do que culminou com a fragmentação do mapa político-partidário na Grécia. Se tentarmos prever as tendências de voto por cá num enquadramento de aflição tão séria como a dos gregos e olharmos para as alternativas que a Democracia nos disponibiliza, presumo que não será necessária uma bola de cristal ou um comentador televisivo para adivinharmos um desfecho semelhante, tirando para já a extrema-direita da equação, e igualmente criador de um sarilho político que pode acabar com o que resta.
Por isso se torna urgente a entrada em cena das tais alternativas em falta, partidos políticos ou movimentos organizados de cidadãos capazes de interpretarem a vontade popular sob uma perspectiva menos idealista e mais pragmática.
De pouco nos serve o debate acerca do modelo de sociedade que queremos no futuro se antes não estiverem sobre a mesa as medidas capazes de resolverem, ou pelo menos atenuarem, os efeitos desastrosos da caldeirada no presente.

Confesso que me agradou a criação de mais um movimento de cidadãos empenhados em congregarem esforços colectivos em torno da resolução do problema. Contudo, depois de passar a vista pela informação disponível encontrei nomes, encontrei intenções, mas não encontrei nada de concreto quanto àquilo com que se compram os melões e que constitui nesta altura a maior aflição da malta. É o velho problema da esquerda livre, insistem na premissa de que se consegue suprir a falta de meios com uma dose reforçada e renovada de ideologia e acabam sempre por trocar o passo com a História e por entregarem aos oponentes o controlo do sistema quando as coisas se complicam onde mais dói a uma sociedade ocidental e capitalista, qualquer que seja a inclinação do espectro partidário.

Livres para reincidir?

Do Manifesto para a Esquerda Livre apenas retive alguma variação nos chavões tradicionais e nada que nos permita antever naquela iniciativa o brotar de algo de palpável para preencher o enorme vazio que os gregos sentem na pele e concretizam nas urnas, como arriscamos em Portugal numa conjuntura similar.
Nunca como num cenário de crise descontrolada os eleitorados se revelam mais nas tintas para as doutrinas, para as ideologias, para os binómios esquerda-direita que, na prática, pouco ou nada contribuíram para evitar o trambolhão e na hora da verdade votam ambidextros.

E se continuarem a fazer cócegas demagógicas e inconsequentes em busca da militância perdida, insistindo no finca-pé em lados opostos da trincheira que deveria ser comum nesta altura em vez de anunciarem a ruptura com as receitas fracassadas e a procura com afinco de uma corrente de acção em detrimento de uma corrente de pensamento, acabarão chocados com a alta tensão da reacção popular desesperada, desorganizada e permeável aos discursos mais extremistas mas, e é disso que o povo julga precisar, com a força dos argumentos e a aparente sensibilidade para uma causa que não precisa de mais esquerda ou de mais direita e sim de uma atitude firme e arrojada, independente de espartilhos ideológicos ou de conveniência partidária, abrangente quanto baste para aglutinar a maioria dos portugueses em torno de um projecto de mudança com pernas para andar.

A crise exige e o país implora uma alternativa vincadamente patriótica e capaz de atrair os nossos melhores para um combate onde não existem, porque se esgotam, tempo ou energia para desperdiçar em quezílias menores, em escaramuças ideológicas que desviam a atenção do que interessa.
Interessa acima de tudo salvar Portugal, quando chegar a hora do cada um por si que todos aguardam mas ninguém verbaliza.
E isso, no meu modesto entender, jamais poderá acontecer se repetirmos os erros dos outros e avançarmos para o caos repartidos entre feudos e capelinhas das elites instaladas e não com base numa união de facto entre pessoas livres, sim, mas da perpetuação de práticas e de doutrinas que já provaram não resultar em benefício seja de quem for, sobretudo quando se enfrentam os períodos menos bons que, afinal, elas próprias criaram ou permitiram.

maio 17, 2012

os Gregos tentam...




Duelo contra um funcionário público

«O milagre português» - Jaime Ramos

A euforia na primeira década após a adesão à UE e o passageiro milagre económico português, vivido após as restrições impostas pelo Governo do Bloco Central, assentaram numa «santa» trindade e numa ilusão.
A adesão à Comunidade Europeia permitiu-nos o lucro imediato da transferência de fundos estruturais e a sensação de dinheiro à farta.
A estabilidade política, assente na maioria parlamentar do PSD e nos Governos de Cavaco Silva, fizeram-nos esquecer os 16 governos que tivemos em onze anos, após o 25 de Abril.
O terceiro factor foi a confiança dos portugueses em Portugal, iniciada com a democracia, confirmada com a adesão à UE e a entrada no pelotão da frente da equipa do euro. A eficaz estabilidade governativa e a adopção de algumas medidas estruturais pelo Governo de Cavaco Silva fizeram esquecer os períodos de vacas magras, os salários em atraso, a fome em Setúbal, os juros de 44 por cento à cabeça, os anos durante os quais, para se travar o défice das contas públicas, não se actualizaram as pensões dos mais desfavorecidos e carenciados durante o Governo do Bloco central liderado pelo Dr. Mário Soares.
Os últimos anos dos governos de Cavaco Silva indiciavam o início da desaceleração. O Governo de António Guterres criou a ilusão que bastava consumir e aumentar a despesa pública e privada para o país se desenvolver. Foi a época dourada do infantilismo macroeconómico que iniciou a utopia de que a balança externa era uma questão menor.
A conjugação dos ventos de leste, a noticiar as dificuldades do antigo “império” soviético, com o sucesso do estado social de mercado conduziu a Europa (e o Mundo) a uma época de vazio ideológico. Tudo pareceu indicar não existir alternativa ao sistema de mercado e à livre iniciativa privada, com excepção de algumas ditaduras que se foram reforçando politicamente e economicamente, como as “democracias” russa e angolana e o regime de partido único na China.
Os sindicatos “desproletarizaram-se” e perderam a coragem para assumir carga ideológica. Sem fatos-macacos ou colarinhos azuis, são cada vez mais gestores sem projecto de sociedade. Reduzem a luta de classes ao dualismo inflação versus subidas salariais.
O PSD tornou-se mais um partido de eleitorado de centro-direita e menos um aparelho de militância social-democrata. Esta evolução para a direita acentuou o apagamento do CDS.
Entre este PSD e o PS da espargata passaram a circular os tecnocratas, sem ideologias nem projectos patrióticos, e a direita de interesses preocupada com os negócios e com a necessidade de fazer dinheiro, muito e rápido, antes que a “teta” se esgote.
Esta conjugação permite que os dois principais partidos sejam influenciados pelos ventos dominantes, seguidores do mercado e enfeitiçados pelo poder do capital.
É esta miscelânea de interesses, sem ideologia, que espartilha Passos Coelho, e o limita na oposição ao governo socialista. Um dia é incentivado pela doutrina liberal, no outro é criticado pela revisão constitucional. Marcelo Rebelo de Sousa acusa-o de imaturidade e Ângelo Correia garante que o líder o ouve, quer queira quer não queira.
Passos Coelho tem todas as hipóteses de ser Primeiro-ministro, desde que não se deixe aprisionar por este colete-de-forças. (Nota: como se veio a confirmar)
Pode optar por ser liberal, garantindo a continuidade da governação socialista, mantendo o empobrecimento do país, o agravamento das desigualdades, ou assumir-se como social-democrata, revolucionar o futuro, criando um país mais justo e mais competitivo.

Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

maio 15, 2012

«Sem rumo e sem gente» - Jaime Ramos

Confrontados com o quadro que vivemos e que acabamos de retratar, a primeira prioridade deve ser a nossa manutenção como nação. Estamos envelhecidos e sem capacidade de produção adequada de novas gerações.
Portugal tem falta de crianças. Vários estudos apontam para um perigoso declínio da população portuguesa.
Veja-se o caso do Alentejo ou de Trás-os-Montes. São regiões portuguesas, têm a mesma moeda, as mesmas leis, beneficiam de novas infra-estruturas, mas a população continua a envelhecer e os jovens continuam em fuga para o estrangeiro e para as cidades do litoral. O resultado é um ciclo vicioso de pobreza regional. Estas regiões ficam cada vez mais pobres.
Não é por estarmos na Europa e termos a mesma moeda que Portugal vai deixar de se “alentejenizar” no espaço europeu, tornando-se num imenso Trás-os-Montes, envelhecido, sem crianças, sem empresas, sem postos de trabalho que permitam não só manter os novos como conquistar mais gente, muitas vezes farta de viver mal nas grandes cidades.
O envelhecimento populacional, associado à incapacidade para repor efectivos, criará imensos e graves problemas sociais e económicos.
Não consigo entender como é que a baixa taxa de natalidade não constitui uma preocupação diária das nossas elites, da política à comunicação social.
O que é que podemos e devemos fazer para que a população produza crianças, garantindo a continuidade e renovação?
Este insucesso reprodutivo não se deve a nenhum problema biológico.
As pessoas continuam a gostar de ter sexo, de constituir família, e os problemas de esterilidade, embora em número crescente, têm hoje terapêuticas que não existiam há alguns anos.
Impõe-se detectar e corrigir as dificuldades de carácter socioeconómico que afastam as pessoas da mater/paternidade.
Devemos ter a noção que a incapacidade reprodutiva actual vai ter consequências enormes à distância de várias décadas.
Basta pensar que os trabalhadores actuais só poderão ter efectivo direito à pensão de reforma se no futuro houver contribuintes suficientes para suportar a segurança social.
Se o Estado investe no apoio aos empresários para criação de postos de trabalho deve, por maioria de razão, preocupar-se com o facto de as famílias não estarem a cumprir com o seu objectivo prioritário: produzir crianças.
Investir em pessoas passa em primeiro lugar pela produção de novos elementos. A valorização dos recursos humanos, educação e formação profissional, exige matéria-prima.
A segunda prioridade deve ser a preservação do nosso território numa lógica ambiental e de ocupação populacional. Não podemos continuar a alienar o nosso espaço geográfico.

Jaime Ramos
Autor do livro «Não basta mudar as moscas»

IV. “Tecnologia da Natureza pura” ou “A maldição da Criação”

No princípio não era nada o “Verbo”. No princípio não éramos nada. À vista dos tigres, com os seus enormes dentes e garras, ou dos elefantes, com a sua imensa força e tamanho, das pernas grandes das avestruzes, das guelras dos peixes, da asas das aves, não éramos nada. A Natureza deu-nos a nós a inteligência para criarmos meios que permitissem defendermo-nos das ameaças e obtermos os nossos alimentos num ambiente que nos era tremendamente hostil. A nossa inteligência principiou exactamente com a nossa extrema fragilidade e no limiar da escassez. De acordo com algumas teorias mais recentes, foi a aproveitar dos restos das carcaças dos grandes predadores que nos safamos. E só o que restava das carcaças eram os crânios e os respectivos cérebros a que os grandes predadores não conseguiam aceder. Nós lá inventamos maneira de partir aquilo (porque não havia mais nada para comer)… e foi “ouro sobre azul”… porque se por um lado precisávamos da tecnologia para sobreviver, por outro, esse tipo de alimentação fornecia-nos os nutrientes mais favoráveis ao desenvolvimento da inteligência. Parece-me uma boa teoria. É lógico. Daí em diante foi sempre a andar… inventamos o fogo, a roda, aprendemos a controlar alguma coisa da Natureza e a cultivar alguns alimentos… e depois das grandes feras vencidas, nunca o aperfeiçoamento tecnológico deixou de ser necessário, porque sempre prevaleceu a maior de todas as ameaças: o nosso semelhante. E assim foi, sempre em luta destemida com o próximo, e sempre a inventar e a aperfeiçoar novos instrumentos até à bomba atómica e aos satélites… e sempre com um imenso lastro de destruição à nossa passagem… Não fosse a Natureza um dia destes dar-nos um “basta” nisto, e pudéssemos nós saltar para outros planetas, que iam também… Somos Natureza pura! Tanto ou mais que outro animal qualquer. E estamos bem longe de ser “meiguinhos”… como os herbívoros e a generalidade dos grandes mamíferos marinhos… quer nos agrade ou não (porque pensamos… às vezes…), a nossa essência é violenta e carnívora.

É assim que ainda hoje, embora já não seja nada “desportivo”, uma boa parte de nós mantém o gosto por abater bichos grandes e perigosos… elefantes, rinocerontes, tigres, touros… reminiscências das nossas primeiras grandes ameaças… E quanto à nossa maior ameaça, está bem viva, e ao que parece jamais a esqueceremos…

… e só a nossa boa consciência a rondar a cegueira a respeito de nós próprios nos impede de ver que ainda a que a cada cem de nós haja um ou dois de uma doçura, inteligência e sensibilidade de pasmar, em maior número os há de uma bestialidade acima da média. E não é a doçura, a inteligência e a sensibilidade que nos torna mais aptos à sobrevivência nesta selva… mas antes a inteligência aliada à ferocidade.

  Resumindo: a espécie Homo sapiens sapiens vai extinguir-se para muito breve, não para tão breve como outras das muitas espécies que a cada dia se extinguem à conta da sua capacidade de destruição, mas para muito breve. Só por milagre seria de outra maneira. Porque ao contrário do que o Homo sapiens sapiens (não) pensa, o Homo sapiens sapiens só sobrevive enquanto o conjunto do equilíbrio a que ele pertence funcionar. Exacto. Aquele equilíbrio que o Homo sapiens sapiens está neste momento a alcatroar e a cimentar e a terraplenar e a emporcalhar irremediavelmente para fazer coisinhas que o Homo sapiens sapiens (não) pensa que lhe serão mais úteis: uma estrada, uma malinha nova, uma sandalinha de outro modelo, um míssil, um telemóvel, um carrinho diferente, etc., e, acima de tudo, para conseguir algo que o Homo sapiens sapiens adora: poder e dinheiro. Tem, por isso, o Homo sapiens sapiens (que de sapiens só tem mesmo a designação peneirenta) os dias contados. À vista de muitas, pode desde já adiantar-se que foi “uma espécie de muito curta duração”. Isto da “inteligência” não dá mesmo resultado nenhum, muito menos com espécies agressivas. Os meus votos são de que na próxima versão de equilíbrio não suceda outro azar nem outro desastre destes… um paraíso tão belo reduzido a uma lixeira de sacos de plástico, entulhos e tralhas inúteis e fedorentas, só porque uma espécie, apenas uma entre bilhões delas, falhou.

(… parece que adivinhava que comer do fruto daquela sacana daquela árvore ia acabar por me deixar indisposta… Agora pronto. O melhor é comer um chocolate… ou dois… e a seguir dar-lhe nuns sais-de-frutos…)

maio 14, 2012

mudar de vida...

A posta na adopção generalizada da sensatez


Uma pessoa pensa depressa e conclui que a Democracia é uma receita fabulosa para travar a tendência para os abusos por parte dos mais fortes, para impedir que se instale nas nossas vidas uma versão moderna, mais ou menos camuflada, de lei da selva.
Portanto a pessoa pressupõe que a Democracia se basta a si própria para garantir os direitos de toda uma população.
Toda? Não. Um pouco por toda a parte brotam grupos de irredutíveis diferentes da maioria cujo estatuto deixa à mercê da vontade alheia muitas decisões que até deveriam estar tomadas à partida, por inerência. E esses podem questionar a mais-valia que a Democracia representa, subordinados que ficam, na prática, ao poder dos mais numerosos mesmo quando estes se equivocam.

Esta introdução poderá induzir interpretações erradas. Não, não estou a vergar ao peso da crise ao ponto de me converter ao fascismo. Mesmo quando a Democracia parece incapaz de servir os legítimos interesses de algumas minorias eis que entra em cena a Liberdade a ela associada e que permite, a quem não possa ou não queira porque não tem que querer aceitar injustiças de que se sintam vítimas, contestar até uma maioria, nem que seja por maioria de razão.
Isto a propósito de um daqueles assuntos que a crise torna proibidos nas agendas partidárias por serem desconfortáveis e por se tornarem facilmente catalogados como supérfluos por não serem oportunos.
O problema é que alguns desses assuntos dizem respeito à felicidade de cidadãs e de cidadãos e, se virmos as coisas como elas são, à dignidade da sua condição de seres humanos e a frase não é bombástica, como de seguida deverão entender.

O assunto que me move, disparatado nesta conjuntura, blábláblá, é o da adopção por parte de todos os cidadãos e cidadãs comprovadamente capazes de criarem um filho de acordo com os critérios em vigor, independentemente da sua raça, cor ou opção sexual.
Porque me move tal assunto numa altura destas?
Boa pergunta, pois permite-me enfatizar o que o assunto tem de mais significativo, muito acima dos nojos e das renitências de uma hipotética maioria na qual se incluirão muitas pessoas incapazes de tolerarem restrições tão repugnantes como, por exemplo, ao número de filhos que podem conceber. E o factor mais relevante do assunto é o facto de estar em causa a distinção entre pessoas com base nas suas preferências sexuais, nomeadamente na sua capacidade de criarem um filho nas devidas condições.
Ou seja, a maioria(?) não aceita a felicidade de uma minoria porque os moldes diferentes dessa felicidade podem perturbar os preconceituosos mais sensíveis.

Para além de tresandar a fascista, pela segregação que impõe com base num pretexto absurdo, qualquer restrição tão radical aplicada a um ser humano apenas por fazer parte de um grupo mais fraco porque minoritário é uma violência e um atentado a princípios tão fundamentais que a própria Democracia a eles se deve subordinar. Sim, existem excepções a qualquer regra e situações cuja indignidade obriga a corrigir sem demoras, sob pena de tornarmos a Democracia num simples instrumento de poder com inspiração estatística.
O que está em causa é a interferência ilegítima na felicidade de pessoas, muitas ou poucas, sem qualquer justificação plausível ou argumento inteligente que a possa justificar.

E por isso pretendo deixar aqui a minha opinião retratada, na esperança de colaborar no lançamento de um debate que, em boa verdade, nem deveria acontecer porque ninguém tem o direito de decidir acerca dos contornos da felicidade dos outros quando estão em causa apenas as suas diferenças e quando estas não impliquem algum tipo de ameaça aos seus iguais, ponto.
Mas a vida é um permanente viveiro de absurdos e para não ficarmos um dia perdidos no meio do matagal temos que ir arrancando alguns males pela raiz.

É que mesmo a Democracia, confiada ao livre arbítrio do plebiscito e sem um pensamento crítico acerca das suas incongruências, embriagada pelas multidões, pode constituir terreno fértil para más sementeiras. E para a posterior colheita de um cesto de contra-sensos tão corrosivos, tão fomentadores do descrédito, que pode explodir um dia na cara da Democracia com o fragor de um imenso temporal.

maio 12, 2012

Estranhas formas de vida

 A nossa forma de vida está por um fio...
E sim, somos animais, que apenas quer dizer sermos seres animados de movimento próprio, o que leva a ilusão da nossa inteligência a concluir que somos autónomos de tudo, dos outros seres animados, dos inanimados e incluso o nosso meio ambiente.
E assim se constroem cenários oníricos onde as sociedades se apoiam, com as pirâmides de poder assentes nessa coisa inqualificável e nada inteligente do crescimento permanente . Como se vivesse em constante orgasmo, sem a maturação dos primeiros olhares, das primeiras palavras, dos primeiros gestos, no fundo, sem disfrutar dessa coisa intangível que é ter-se o tempo para gozar o tempo que as coisas levam a acontecer.

Esta orgia do crescimento permanente, deste colher do fruto sem sequer o semear, conduziu naturalmente à invenção dos valores: já não era a maçã que se vendia na Bolsa mas as maçãs que as sementes daquela maçã iriam dar num futuro, que em termos de valor, era agora! E se se consegue vender tão bem uma tonelada de maçãs a partir de uma maçã, porque não vender uma floresta de maçãs, já não a partir de uma maçã, mas apenas de uma ideia de maçãs que nem sequer existem?
É esta a génese da crise actual: o logro.
A dívida mundial em que todos devem a todos, está baseada num imenso logro. E os poderosos que no topo da pirâmide beneficiaram da mentira, não querem perder o seu poder. Daí que estejam a fazer o contra-ciclo. Das maçãs que eles venderam a partir de uma ideia de maçã que nem sequer existe, querem o dinheiro, não quando as maçãs estiverem crescidas, mas já!
E como sabemos que dinheiro é apenas a expressão abstracta de bens, não havendo maçãs, não pode haver dinheiro.
Tão simples como isto.
Estas coisas estão a acontecer porque eles, os poderosos, os verdadeiros donos do mundo, querem manter o seu poder. Uma vez que estava assente numa virtualidade, ao cair na realidade, o seu valor, o seu poder, ficaria reduzido. Assim, mesmo ficando no fim deste ciclo menos poderosos, o seu poder relativo continua sendo superior. Isto só é possivel se o mundo empobrecer, ou seja, se houver transferência de bens e recursos, do valor real,  para as mãos deles.
E é nesta armadilha que estão todos a cair. Gaspares, Coelhos e seus iguais, não vêem mais do que um palmo diante dos olhos, mordem e engolem o anzol e vem dizer-nos que estão a pescar aquele que os estão a pescar a eles... através das nossa bocas...
As "soluções" que a Grécia seguiu apenas tem feito piorar as condições dos Gregos, as "soluções" que Portugal seguiu tem do mesmo modo feito piorar as nossas. E logo se apressam em novas, que são as mesmas e velhas "soluções" que levam sempre a ficarmos mais pobres enquanto outros ficam mais ricos...

Vem aí mais impostos, mais reduções, mais implosão económica. E depois vem dizer-nos constantemente que não somos a Grécia!
 Não não somos a Grécia?
É como os Espanhóis dizerem que não são Portugueses, e os Italianos a dizerem que não sao Espanhóis, e os Alemães a dizerem que não são os tais escuros do sul, que não gostam de trabalhar, mas que por acaso são até os que mais horas de trabalho por ano contabilizam...Só falta dizer que quem parte  o copo na brincadeira lá de casa é sempre o  outro menino...
E eu a julgar que se tinha construído um espaço económico comum, sem fronteiras, uma Europa solidária, onde todos os países faziam parte do mesmo complexo multicultural.
Mas isso era se calhar no tempo em que os animais falavam, agora temos robôs a repetir a receita do avião sem piloto:

" ...Senhores passageiros, bem vindos ao nosso avião sem intervenção humana aos seus comandos. Este sistema não sofre dos erros habituais que advem das falhas de percepção dos pilotos, das fadigas ou doenças súbitas.
Por isso será um vôo perfeito, sem precalços de qualquer espécie, de qualquer espécie.... de qualquer espécie....de qualquer espécie....de qualquer espécie....de qualquer espécie...de qualquer espécie... de qual......piiiiiiii...."

«Os maus exemplos vêm de cima: administrador da CGD » - Jaime Ramos

O caderno de Economia do Expresso [de 5 de Maio de 2012] é dominado por uma entrevista a um administrador da Caixa Geral de Depósitos, Pedro Marcelo de Sousa.
As três afirmações salientadas em caixa pelo Expresso revelam algumas das razões por que as elites colocaram Portugal na pré-bancarrota, com perda de soberania, dependente da ajuda externa.
1. O entrevistado “afirma que está a ter mais trabalho que esperava”. Diz que só 15% do seu tempo é passado na CGD, 75% no escritório de advogado e 10% no IGCP e UIA. Queixas de muito trabalho só são aceitáveis num subalterno de última linha, a ganhar um baixo salário. Indicia que esperava receber uma renda e mordomias sem ter de trabalhar num part-time bem pago… Veja-se a diferença de Mourinho, que vence na excelência e se queixa de redução de trabalho e stress nas paragens dos campeonatos...
2. Declarou: “a defesa dos grupos nacionais é um conceito que tenho dificuldade em perceber…ou se aceita a globalização ou não se aceita”. A defesa da economia nacional, da nossa produção e das empresas que competem nos mercados externos, reduzindo as importações e aumentando as exportações é um desígnio patriótico, que estas elites não percebem. Foi por assim pensarem que destruímos a produção interna criando uma balança externa perigosamente deficitária. Vejam a diferença desta postura para os EUA, país do mercado, do liberalismo e da globalização, que defendem os interesses das suas empresas com diplomacia agressiva que, com frequência, recorre a ações militares.
3. Sentenciou: “Estado devia vender 40% da Caixa”. Na recente crise financeira que vivemos foi evidente que a solução passou pela intervenção dos Estados, pelos bancos centrais e no caso português pela CGD que regou com milhares de milhões a economia e segurou o BPN. Defender a privatização da CGD é tão inteligente como em 70 nacionalizar a banca. Só agendas ideológicas sectárias, ao serviço de interesses adversários do bem público, podem defender algumas privatizações, como seria a da CGD. O que não significa que a CGD tenha de manter todos os negócios em que está envolvida…
Há um aspeto positivo na entrevista quando critica aqueles que saíram dos Governos com muito mais património do que quando entraram para a politica.

Jaime Ramos
Autor do livro «Não basta mudar as moscas»

maio 11, 2012

Cartoonista sofre...

«Enriquecer sem trabalho» - Jaime Ramos

“O lucro é legítimo mas tem de ser conciliado com o progresso social e partilhado por todos os que contribuem para a produção da riqueza. Hoje não é o tempo de se fazerem aplicações sumptuárias, de compras de bens supérfluos ou de exibicionismos injustificados no plano moral, no plano ético e no plano social” são palavras de Cavaco Silva no Vale do Ave em 7/12/90. O autor continuou como Primeiro-ministro. Vinte anos depois é Presidente da República e as palavras continuam não só actuais como igualmente esquecidas pelas elites económicas e políticas.
Aproveitando as palavras do líder do PSD, publiquei um artigo no Expresso cujas ideias vou recordar, com algumas adaptações. Começava-se a sentir a tendência da sociedade portuguesa para esquecer uma visão reformista, social-democrática, abrindo-se a uma crescente liberalização.

O Mundo viveu a época de ouro do capitalismo. O fragor do desaire financeiro a Leste foi o afrodisíaco do livre mercado económico. A recente crise financeira alertou para as fragilidades do sistema e para a ignorância de muitos responsáveis.
No Ocidente, os comunistas reduziram-se a esclerosados aparelhos partidários. A miragem de uma chegada ao poder não só deixou de ser longínqua como passou a inacessível. De partidos com base ideológica passaram a «coisa» indefinida. Em Portugal, o Partido Comunista, depois do apogeu do PREC, foi perdendo força. À conjuntura internacional desfavorável associou-se o fim de uma gerontocracia. A divisão da representação da esquerda com o Bloco de Esquerda ainda mais o enfraqueceu.
Na segunda metade da década de 70 os socialistas portugueses apostavam no modelo jugoslavo, assente nos princípios da apropriação colectiva dos meios de produção, na utopia do sistema autogestionário.
O PS foi evoluindo. Fechou o socialismo na gaveta, por decisão de Mário Soares. Deitou as chaves fora quando prescindiu de Ferro Rodrigues e, com Sócrates, adoptou o actual modelo de partido espargata. Uma perna em total sintonia com a direita dos interesses e a outra, com perfume de “rive gauche”, ligas sexy na coxa, a condizer com os temas fracturantes, como no caso dos casamentos gay.
Os sociais-democratas europeus, receosos do peso financeiro do «welfare state», vivem a miragem da diminuição da carga fiscal e, aqui e ali, vão-se embriagando pelo sonho do «laissez faire, laissez passer».
Na Europa, que nas décadas de 60 e 70 receava maioritariamente o poder do capital e apostava no reformismo redistributivo e no estado-providência, que culturalmente trocara a Bíblia pelo marxismo e o igualitarismo cristão pela luta de classes, sucedeu o tempo do endeusamento do dinheiro.
Salvaguardando as diferenças relativas, Portugal viveu também as suas euforias. Privatizou, fez auto-estradas, aderiu ao Euro, beneficiou dos juros baixos e dos dinheiros fáceis que vieram da Europa. As elites, na política e na economia, acreditaram que não tinham de se preocupar nem com o défice do Estado, desde que não fosse exagerado, nem com o défice da balança externa.
Neste século, depois do descalabro da monarquia, da «bancarrota» da I República, do possidonismo forreta de Salazar, da delapidação do PREC revolucionário, do miserabilismo socialista, parecíamos, finalmente, uma nação de sucesso. Nem a divergência de crescimento nas últimas duas décadas arrefeceu os espíritos.

Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

maio 10, 2012

Cartoonista sofre...



cartoon solidário com Mahmoud Shokraiyeh

Do ponto da situação a uma teoria civilizacional do prazer

Nós (todos) e o planeta: Travessia Titanic sem excesso de pânico. Já toda a gente avistou o iceberg (as alterações climáticas e o esgotamento de recursos… e a água… e o ozono… e o gelo… e o ar… e as árvores… e a extinção das espécies e é uma chatice…). Já toda a gente percebeu que aquilo é muito grande, uns apostam que chocamos e afundamos, outros apostam que chocamos mas aguentamos. O que ninguém sabe é, se à velocidade a que vamos, mesmo com vontade, haverá ainda maneira de evitar a colisão… Uns apostam que sim, outros apostam que não. Seja como for, até ao momento, ainda a coisa não foi suficiente para que alguém tomasse medidas a sério de reforço do casco ou de mudança de rota.

Nós (Ocidente) e as outras civilizações: Tudo tranquilo. Estamos velhos e decadentes (dizem os especialistas todos). Uns apostam que vencemos em guerra com os mais jovens, outros apostam que não. Uns apostam que haverá sangue, outros apostam que não, e outros apostam que não haverá guerra (embora isto me pareça um pouco utópico demais, porque guerra sempre houve, mesmo em tempo de paz… os instrumentos usados é que variam…), e outros ainda apostam numa grande novidade histórica, a paz mundial definitiva.

Nós (Europa): Tudo normal. À vista da escassez o que subsiste é o individualismo e a identidade fala mais alto (não fosse, na hora da verdade, a estratégia de sobrevivência da espécie mais bem sucedida do planeta). Os grandes tratam da sua vida e alimentam-se dos pequenos, os pequenos tratam da sua vida e tentam escapar… E apesar de tudo todos tentam de tudo para se manterem unidos, contra e a favor dos ventos contrários… Uns apostam que avança, e outros que cansa (já a seguir).

Nós (Portugal) e a Europa: Tudo na mesma como a lesma. Fazem-nos a folha, mas queremos por força estar. Uns apostam que estamos, outros apostam que erramos, e outros apostam que se nos acaba o sangue somos cuspidos.

Nós (Portugal): Nada a assinalar. A afundar depressa mas tranquilamente. Uns apostam que vamos, outros que não nos ficamos… e há até quem aposte que nos safamos…

Nós e eu e tu e vós e todos os que pensamos e lemos e escrevemos e lutamos e brincamos e erramos e avançamos e retrocedemos… pelo gozo de respirar… vivemos! Isto é bom sinal! Uma civilização, do que li, morre de “depressão”, decadente, morre quando já não tem vontade de lutar nem de viver. (Não morre de pobreza ou de falta de pão… morre porque lhe falta o essencial… um sonho, um ideal… (um inimigo também serve…)). Como tudo… nem é de surpreender… tudo morre se o caminho acaba… se já não houver prazer… e se morrer… haja necessidade em ser… que outra virá…

Salve-se a paz, no meio disto, o que mais importa salvar… se é para afundar, que seja ao menos devagar… Tanta pressa, tanta pressa têm os humanos da morte… devagar!!… com mudança ou não de rota, isto é a primeira coisa a mudar… se é para vivermos mais tempo… tem que ser devagar… Temos tempo. Tempo é que mais temos… eternidades para todos os futuros possíveis… tudo só depende do dia de amanhã… devagar!! Não temos que produzir mais… temos é que produzir melhor e menos, muito menos… temos que nos mover menos, muito menos… consumir menos, muito menos (fosse possível, e comer acima da cota devia ser proibido já amanhã… ou fazer mais que cinco mil quilómetros de automóvel por ano… para todos, ricos e pobres)… respirar menos e mais devagar, se pudermos… a mais, muito mais, só sexo (prazer até o mundo acabar)… muito, muito devagar (suster a guerra…)

(Psttttt… alguém aí não quererá porventura fazer comigo sociedade numa correctora de apostas planetárias e assim? A malta saca a massa e aquilo depois nunca mais se resolve… e se se resolver, também já ninguém precisa da massa para nada… ;) )


maio 09, 2012

A posta que lhes troikaram a maiêutica


O mais recente sarilho grego, curiosamente nascido dos caprichos de uma criação sua – a democracia, parece bem encaminhado para ser o último acto do pesadelo comunitário em que a zona euro subitamente se tornou.
No momento em que escrevo estas linhas, na terra do Onassis há um líder da esquerdalha a tentar formar governo, já com aviso prévio de tomadas de posição tão vincadas como a nacionalização de toda a banca.
E de repente as respirações ficam suspensas por todo o Velho Continente, temendo-se a qualquer momento a transição menos suave do estado de choque dos mercados para o início de uma indisfarçável apoplexia.

A coisa vista deste lado do naufrágio, cada vez mais perdido por um perdido por mil, até pode parecer de pouca monta. Mas a avaliar pelo pânico mal camuflado da malta que (des)manda os cenários possíveis criam filmes de absoluto pandemónio com ondas de choque impossíveis de prever na sua dimensão, nomeadamente no que respeita àquilo com que se compram os melões.
Os gregos, como nós, não têm jeito para lidar com dinheiro em demasia e a coisa piora quando ao dinheiro a mais se acrescenta o que não se tem e alguém nos empresta.
Os milhões foram manteiga em nariz de cão, lá como cá, e depois surge a fase da casa onde falta o pão e toda a gente protesta mas ninguém tem a razão. Os gregos entenderam somar aos de rua o protesto eleitoral e podem muito bem ter enterrado o país nas urnas (há aqui muita coerência implícita), com a composição de um parlamento demasiado colorido para a necessidade de uma postura tranquila, cinzentona.

Temos mais uma vez instalado o pânico nas hostes e até de golpes militares se fala quando se esboçam futuros capítulos desta caldeirada helénica, tamanha a incapacidade de uma Europa aos tremeliques conseguir suster o eventual colapso nas suas mais temíveis repercussões.
A Grécia está provavelmente apenas a antecipar um desfecho inevitável, mas se há fio condutor nas decisões europeias é o da prioridade em adiar. Ganhar tempo parece ser a única resposta dos decisores e nesse particular os gregos, apressados, perderam.
Como Portugal perderá, pelas contas dos entendidos que nelas se enganaram, por tabela.

Mas Portugal não é a Grécia, eles é que sempre se deixaram embeiçar pela Filosofia e foi um dos melhores entre eles nessa arte quem lhes impingiu a cena de dedicarem mais empenho ao seu desenvolvimento pessoal do que à obtenção de riquezas.
E por isso, em última análise, se houve bronca com dinheiros por lá a culpa só pode ter sido do Socrátes.