novembro 21, 2007

Cientistas fazem luz sobre os efeitos da mudança de hora

Alguns excertos do artigo de Tom Paulson "Scientists shed light on effects of clock change" em SeattlePI.com:

"Cientistas defendem que a manipulação do tempo duas vezes por ano tem claramente alguns inconvenientes. Isto é devido em larga medida aos múltiplos relógios biológicos do nosso organismo, que evoluiram de modo a operar de acordo com o comportamento do sol.
«A luz da manhã é a luz mais importante para sincronizarmos os nossos ritmos circadianos», defendeu o Dr. David Avery, psiquiatra na Universidade de Washington especializado em estudar a ligação entre luz, sono e depressão. O ritmo circadiano diz respeito ao ciclo de 24 horas da vida na Terra.
Quando a mudança de hora é efectuada e reduz a luz matinal, diz Avery, o risco de depressão sazonal aumenta em algumas pessoas. Disse que se pode ainda esperar por aumento do número de acidentes de tráfego, à medida que as pessoas que se deslocam para os seus empregos lutam contra a biologia.
«De um ponto de vista biológico, realmente a mudança de hora não faz qualquer sentido», concordou Horacio de la Iglesia, um neurobiólogo da Universidade de Washington que estuda a forma como o cérebro governa alguns dos outros relógios biológicos do corpo.
A maioria das pessoas sabe que o cérebro funciona de acordo com um relógio biológico neste ciclo solar de 24 horas. De la Iglesia mostrou que o corpo humano depende de facto de muitos desses relógios biológicos, uma rede coordenada que precisa de funcionar em sincronia.
«Há relógios biológicos no fígado, pulmões e também em outros órgãos», disse. «Temos estes ritmos circadianos porque eles permitem ao corpo antecipar eventos cíclicos».
Por exemplo, disse ele, as glândulas supra-renais libertam a hormona de stress cortisona antes de você se levantar em cada manhã, para mover o açúcar, glucose acumulada, das células para a circulação sanguínea. «Isso ajuda-o», disse de la Iglesia. Alguns destes relógios biológicos podem ajustar-se razoavelmente rápido ao ciclo dia-noite (recuperando do jet lag, por exemplo) mas outros parecem necessitar de mais tempo, disse.
De um ponto de vista científico, a mudança de hora, tal como os mapas mostrando os fusos horários e o conceito de Tempo Universal Coordenado (anteriormente chamado Tempo Médio de Greenwich) não são em conceito menos arbitrários que a decisão de algumas comunidades de não aceitar estas regras."

Recomendo a leitura do artigo completo (em inglês).

Mudança de hora - estúpido desperdício de esforços

Adenda do OrCa em tempo (só não sei se pela hora antiga):

"Pois, meu caro, agradecendo o destaque, cá vou reiterando o que fica dito. Já lá vai um mês e o meu relógio biológico não me larga, nem condescende!
Uma hora antes de ser preciso, lá vem a hora da mija - e nem tenho problemas prostáticos, felizmente... -, lá me vem o chamamento das torradas e do leitinho, como prenúncio de mais um mergulho na fila de trânsito.
E, depois, tentar dormir para quê? Uma meia-horita? Só faz dores de cabeça. Ir para o trânsito mais cedo? Não vale a pena, pois chego ao emprego mais cedo mas não posso sair mais cedo... É só contrariedades e arrelias!
Quando, daqui a cinco meses, já tiver convencido o meu biorritmo da inevitabilidade legal, mudam-me a hora outra vez! E reinicia-se a saga, agora com a agravante de desconvencer quem tinha acabado de ser convencido.
Se isto não é um estúpido desperdício de esforços, é o quê?

Um grande abraço.
OrCa"

novembro 14, 2007

A mudança de hora é "a modos que uma passagem de escudos para euros semestral"

O OrCa é um lutador de causas. E esta é uma pela qual vale a pena lutar:

"Tu sabes que eu estou por ti neste combate. Já nem sei que mais argumento esgrimir para confirmar a grandiosidade do disparate...
A verdade é que, à medida que a idade vai entrando por nós adentro, pelas partes anatómicas mais conspícuas, tudo se nos torna de mais difícil adaptação e aconchego. É assim, que continuo com os sonos trocados e mais de dois terços dos relógios cá de casa continuam carentes de acerto.
Tem vantagens. Por exemplo, aos fins de semana nunca sei a quantas ando. Mas quando há compromissos é chato.
Os relógios é que já são tantos, por força das modernices, que os meus velhos dedos têm bem mais que fazer do que andar a acertá-los a todos, ainda para mais se daqui a seis meses volta tudo ao mesmo. É uma perda de tempo!
Depois, durante para aí um mês, um mês e meio, anda tudo aflito com as horas, não sendo raro ouvirmos alguém completar uma frase temporal com a funesta expressão 'pela hora antiga'. É assim a modos que uma passagem de escudos para euros semestral que nos destrambelha os neurónios e outras partes mais atreitas a rotinas biológicas.
Eu, se mandasse, mandava-os à fava... mas sempre pela hora antiga que era para chegarem mais cedo!

Um abraço.
OrCa"

novembro 03, 2007

A minha sexta carta de trás da Serra na revista Perspectiva

Olá,

Desculpa eu estar a escrever-te com o meu ânimo em baixo, mas só de pensar que no dia 28 de Outubro vai passar a ser a hora de Inverno, perco toda a vontade quer de pão, quer de circo. Aliás, é tanta a raiva de ter que me adaptar à força às mudanças de hora que, se estivesse a usar uma máquina de escrever das antigas, pelo menos os pontos finais aparecer-te-iam nesta carta como buracos na folha.
Talvez por isso me apeteça hoje falar-te de algo que nos preocupa muito desde há já alguns anos: a situação difícil em que está o sector dos têxteis e confecções, que emprega tantas pessoas aqui na nossa terra. E, ao contrário de regiões onde há mais indústrias e de diversas actividades, aqui por perto não há praticamente nenhumas alternativas à única fábrica de confecções que existe.
Lembras-te da minha carta quando, há uns quinze anos atrás, regressei de uma viagem de trabalho à Alemanha? Contei-te que, na região que visitei, dezenas de fábricas cerâmicas tinham encerrado há pouco tempo, devido à invasão do mercado por produtos mais baratos da Europa de Leste e da Ásia. Foi claro para mim, se te recordas, que a globalização, se não seria um bicho-de-sete-cabeças, teria pelo menos seis, como num desenho que o Lourencinho do Professor Rogério fez um dia sobre uma cadeira do curso de engenharia: grande pincel!
Mas temos o que merecemos, não achas? Como trabalhadores, queixamo-nos da concorrência desleal. Só que, como consumidores, compramos o que e onde é mais barato, «esquecendo-nos» da nossa revolta. Alguém deixa de comprar produtos numa «loja dos chineses», por exemplo, por não conseguir saber como é possível vender com aqueles preços e ter lucro? Ou alguém, antes de pagar, faz cálculos ao que poderá ser o salário de quem fabrica aquilo? Pois é, como trabalhadores queremos que as nossas empresas tenham sucesso, mas como consumidores a prática é outra.
Como sabes, durante vários anos aceitei desafios para tentar recuperar empresas em situação difícil, inclusivamente no sector têxtil. E sempre houve algumas coisas que me fizeram muita confusão. Os trabalhadores admiram-se sempre de haver encomendas e a empresa deixar de pagar salários, mas será que ninguém pensa que o problema está nos preços de mercado esmagados pela concorrência, muitas vezes também desesperada, e que não permitem cobrir os custos? Porque há sempre quem ache que o Estado deve apoiar empresas em situação difícil, sabendo que isso se torna uma forma de concorrência desleal para com outras empresas? Por que motivo os sindicatos acham que a melhor «forma de luta» numa empresa em situação difícil é a greve? Não conseguem antever o impacto negativo que quaisquer paragens têm em termos de prazos de entrega, agravamento de custos e deterioração da imagem da empresa perante os clientes, fornecedores e bancos? O que leva algumas pessoas a queixarem-se das condições de trabalho e da situação das suas empresas quando, entretanto, não cumprem parcial ou completamente as suas obrigações laborais, prejudicando os seus colegas e a empresa como um todo? É que, como sempre me ouviste dizer, uma empresa não pode ser a Santa Casa da Misericórdia!
Voltemos à nossa terra, que é onde se está bem. Sei que concordas comigo quando digo que esta gente tem uma capacidade de resistência fora de série, à imagem das giestas que crescem entre os penhascos de granito e resistem ao frio cortante da serra. É a nossa riqueza (do) interior. Despeço-me com votos de que nos consigamos sempre adaptar ao que o futuro nos trouxer.

Paulo Proença de Moura
Página on-line da revista «Perspectiva». Na secção das Crónicas estão disponíveis todos os meus textos anteriores.

ps - tenho que agradecer ao meu amigo Pedro Laranjeira a sugestão que ele me deu com o anúncio que colocou na página da minha carta na revista Perspectiva. É bom andar prevenido e isto não é de granito dente de cavalo, como o monumento fálico do Ferro.