junho 29, 2013

Prostituição - a minha história (X)

(Des)Articulada

Tudo isto são poemas que eu não consegui rimar
e quando as palavras se conseguem revoltar
puxam-me e atam-me e matam-me e levam-me,
marioneta esticada por cada ponta,
como um brinquedo que se desmonta.

De expressão pintada, não pode fechar
os olhos e assim a boneca dorme
quando se deita e quando se levanta
sem nunca perceber quando está a sonhar.
Tudo isto são poemas que eu não consegui rimar.

Verão de 1997... (...) Mais uns dias e cheguei àquela fase do mês. Aquela fase na qual me foi explicado que deveria comprar uma esponja na farmácia. Ri-me para dentro, entre o divertida e o desconcertada com a ideia, não estava preparada para isso mas também não queria que me julgassem - ainda mais - tonta. Nesse dia, nem fui nem disse nada, quase nem me mexi, vagueei, quase incrédula, pelo que estava a acontecer, o dinheiro estava ali, portanto não estive a sonhar, toquei no meu corpo para sentir que me pertencia, juntar espectadora e personagem principal, foi um "tique" que mantenho até hoje quando me sinto perder-me fora de mim e me apetece voltar, quando me apetece voltar, o conforto desta divisão em duas é sedutor e torna quem o possui mais inconsequente, menos sujeito a si próprio, menos à deriva das emoções. Só telefonei passados três dias, aleguei problemas ginecológicos, cada dia estava mais próxima de mim e mais longe daquilo, já não sabia se queria voltar mas também não queria fechar a porta. Passaram-se cerca de três semanas, todos os dias pensava naquilo mas o rumo do pensamento foi mudando conforme o dinheiro foi diminuindo, quando fazia contas ao que se tinha passado, tive alguns momentos mais pesados mas outros em que nenhuma dificuldade tive, quando fazia contas ao dinheiro a balança tocava no chão, e eis-me à porta, com a mesma estranheza inicial, como se fosse a primeira vez mas soubesse o que se passa ali porque li num livro, a minha vontade refém daquele Mundo do fantástico e do dinheiro, eu prisioneira de mim. (Continua)

junho 28, 2013

Minha mensagem enviada hoje para a Autoridade Tributária (vulgo Finanças)

Para
AT - Autoridade Tributária e Aduaneira
cc. Sr. Ministro das Finanças | Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais


Exmos. Senhores

Sou Paulo Moura, assessor da administração da empresa Pavigrés Cerâmicas SA e venho por esta forma transmitir a minha indignação pessoal sobre o que se tem passado com o novo Regime de Bens em Circulação, com o péssimo serviço que V. Exas estão a fazer ao País e com a destruição que estão a provocar no tecido empresarial nacional, com este "sistema" mal preparado e pessimamente implementado!
Como referem V. Exas. na Nota de Imprensa que emitiram hoje, os novos procedimentos relativos ao Regime de Bens em Circulação têm a "preocupação de diminuição dos custos de operação das empresas, contribuindo para a sua eficiência" . Para escreverem isto, demonstram, em meu entender, ignorância em relação ao que é uma empresa; e/ou falta de visão sobre o sistema que criaram; e/ou um enorme desplante.

Hoje, dia útil anterior à entrada em vigor do novo regime, continuo a receber "esclarecimentos" da AT que não respondem às perguntas concretas, limitando-se a "copiar e colar" o que está na legislação e nas FAQ da página da AT!

Hoje, dia útil anterior à entrada em vigor do novo regime, ainda a Autoridade Tributária não sabe qual é o número de telefone a usar pelos remetentes de bens! Como se a organização interna de uma empresa, bem como as suas relações com clientes e fornecedores, pudessem funcionar "em cima do joelho" e com mudanças impostas de um dia para o outro!

Hoje, dia útil anterior à entrada em vigor do novo regime, o servidor da AT continua a dar problemas de inoperacionalidade, deixando-nos antever o que se vai passar a partir da próxima 2ª feira!

Hoje, dia útil anterior à entrada em vigor do novo regime, a Autoridade Tributária concedeu que "até ao próximo dia 15 de outubro não serão aplicadas quaisquer sanções (coimas ou apreensão) nos casos de ausência de comunicação electrónica prévia dos documentos de transporte por parte das empresas, desde que essa comunicação seja efetuada até àquela data". Ou seja, a não comunicação continua a ser assumida como infracção! Como se as empresas, não tendo hipótese de comunicar previamente à AT por falha Vossa (indisponibilidade do Vosso servidor e/ou número de telefone que ainda não existe!), pudessem ser acusadas de infringir a lei. Se eu usasse a mesma (falta de) lógica, poderia também dizer que a Autoridade Tributária está a cometer um crime de lesa pátria.

Tanto mais haveria para desabafar... mas este assunto tem-me desgastado demasiado e não tenho tempo!

Cumprimentos,
Paulo Moura

junho 27, 2013

greve geral

Perante o estado a que os nossos desgovernantes conduziram ou deixaram conduzir Portugal e como modo de manifestar o meu repúdio pelas reiteradas decisões e práticas contra os interesses da nação que somos, este colaborador de PersuAcção encontra-se em greve.

As Falácias sobre os Swaps. Eram assim tão más?

Por ser um campo fácil para demagogias e interpretações abusivas tendentes a tirar dividendos políticos, transcrevo na íntegra o corpo do artigo de António Costa.
------------------------
Os ‘swaps' do Governo exigem mais explicações.
A ideia de que um conjunto de gestores provocou ‘buracos' de três mil milhões de euros tem tudo para pegar fogo, mais ainda na situação económica e social em que os portugueses vivem. E é por isso que o Governo já deveria ter vindo a público, e não com comunicados lacónicos, explicar o que levou à demissão de Juvenal Peneda e Braga Lino. Por eles e pelo Governo, porque, do que se sabe, uma secretária de Estado central nas Finanças, Maria Luís Albuquerque, terá também feito operações de cobertura de risco através do recurso a operações ‘swap' quando passou na Refer.
Vamos por partes: a decisão de realizar contratos que são, na prática, seguros para evitar os impactos negativos dos financiamentos com base na taxa variável da Euribor, era, em 2006 e anos seguintes, não só aconselhável como necessária. Não era ilegal, menos ainda crime. E foram feitos contratos deste tipo por empresas públicas e privadas. Portanto, é fácil hoje, com a informação disponível, afirmar que a Euribor acabou por descer para valores inferiores a 1% quando entre 2005 e 2009 aumentou de 2% para mais de 5%.
É, depois, necessário esclarecer que não há um ‘buraco' de três mil milhões de euros, há uma perda potencial deste montante por parte das 14 empresas que realizaram contratos deste tipo, precisamente porque os juros acabaram por evoluir em baixa desde 2009. Dito isto, ainda assim, o Estado corre o risco de ter de assumir prejuízos, desde logo nas empresas que estão dentro das contas das Administrações Públicas, isto é, no perímetro do Estado, como são os casos do Metro do Porto, do Metropolitano de Lisboa ou da própria Refer.
Ora, se o primeiro-ministro decidiu manter Maria Luís Albuquerque e demitir os outros dois secretários de Estado, é porque realizaram operações que vão muito mais além de ‘simples' contratos ‘swap'. Só pode ter uma explicação aceitável: os dois ex-governantes não fizeram apenas cobertura de risco, pelo contrário, arriscaram o que não deviam. Mas, então, porque é que só agora são demitidos? E como ficam nomes como Rui Rio ou Marco António Costa que também passaram pela administração do Metro do Porto?
Enquanto o Governo não prestar os esclarecimentos totais, revelando o detalhe das operações realizadas, a sua natureza e o que o poderá ter de assumir de prejuízos e porquê, a credibilidade do Governo fica em causa, internamente, mas também externamente, junto de dezenas de bancos internacionais que assinaram aqueles contratos e que são, também, os futuros investidores de dívida pública portuguesa.

PS: Durão Barroso foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado e João Gomes Cravinho também. Ontem, tomou posse Francisco Almeida Leite. O problema não é do próprio. É de quem o escolhe

junho 25, 2013

S.João...

...só faltou um balão...
Raim on Facebook

Portugueses trabalham, em média, mais 400 horas por ano que os alemães

Para que conste:

«Os portugueses trabalham em média 1700 horas por ano, mais 400 que os alemães. "Trabalham muito mas, infelizmente, produzem pouco com esse trabalho. Geralmente isso significa falta de uma estratégia clara que nos ajude a definir o que vamos fazer e, ainda mais importante, o que não vamos fazer", afirmou Nadim Habib, diretor da Nova Executive Education, na conferência "As empresas e o futuro - Competitividade e Empreendedorismo", organizada esta semana pela revista Exame e pelo Banco Popular» Fonte: Expresso

E, mesmo assim, ainda não é claro para mim que os portugueses "produzem pouco" com o seu trabalho. Os indicadores são o que os analistas assumirem que contêm... e o que "esquecem"...

junho 24, 2013

O exemplo dos relógios

Apanhei, algures na net, esta adivinha/problema que vem muito a propósito do tema da fusão necessária entre Literatura e Matemática:

Qual é o relógio que melhor regista o tempo, aquele que se atrasa um minuto por dia ou aquele que está parado?

Solução:

O relógio que se atrasa um minuto por dia dá a hora exacta de dois em dois anos, pois como se atrasa um minuto por dia só voltará a estar certo depois de se atrasar doze horas, o que só acontece ao fim de 720 dias.
O relógio que está parado está certo duas vezes em cada vinte e quatro horas.
Por isso o relógio que melhor regista o tempo é o que está parado.

Muito bem. Porém, a questão está colocada com margem de manobra para a falácia. Porque, afinal, a questão útil a colocar deveria ser, por exemplo, a seguinte:
- Dos dois relógios propostos - e atendendo à função que se espera de um relógio – qual dos dois cumpre melhor essa função de indicar as horas – correspondendo assim às expectativas e sendo útil?
E, então, todo o nosso raciocínio terá de ser diferente… bem como diversas serão as respectivas equações a desenvolver.
Tudo depende, afinal, de sabermos o que e como perguntar e/ou equacionar.
Talvez este simples exercício nos ajude a ficar de sobreaviso quanto a alguns exemplos de retórica falaciosa que por aí pululam…  
Pela mesma ordem de razões, uma caduca sebenta da Faculdade de Direito de Lisboa do antigamente referia exemplarmente, a dado passo, que se cem soldados são capazes de erguer um obelisco na Praça da Concórdia, em Paris, no espaço de uma hora, um soldado seria capaz de erguer o mesmo obelisco em 100 horas…
Daí que qualquer ciência se aproxime tanto mais da exactidão quanto mais pluridisciplinaridade ela for capaz de absorver – claro, claro, também se fala aqui das Humanidades. Sendo que o oposto também é verdadeiro e é do que se tem visto mais. Há quem lhe chame incompetência, outros desgoverno, etc., etc.

junho 22, 2013

o Brasil está nas ruas...

e não é samba não!
Raim on Facebook

Prostituição - a minha história (IX)

Verão de 1997... (...) Ganhava dinheiro à velocidade da luz e gastava-o a igual velocidade. Aliás, tudo ali era à velocidade da luz e aquele dinheiro todo causava-me uma espécie de estado de "embriaguez fascinada", uma espécie de liberdade do Mundo, liberdade de mim porque mantinha aquele estado de espectadora do meu filme com o suficiente na carteira para pagar o bilhete de qualquer sessão por mim protagonizada, alterei o "horário de trabalho" por um ainda mais rentável, desde depois de almoço até ao fecho da casa, atendi homens embriagados, um deles deu-me tanto prazer como eu nunca tinha imaginado apesar de me encher de nojo porque cambaleava e escorria ranho do nariz quando virava a cabeça para baixo, atendi um casal com a descontracção de quem sempre tinha feito aquilo, queria rapidamente trocar-me por outra, por um eu mais igual ao daquelas mulheres, todas mais espertas, mais bem vestidas e maquilhadas, todas mais livres que eu, todas com uma dramática história que justificava o que faziam ali, uma história que fazia da minha um conto de fadas. Tinham passado cerca de duas semanas, apresentaçãããão, dizia alguém e eu marchava para a sala, nos meus bonitos vestidos novos, era um homem com cara de parvo que me apalpou o peito assim que entrei para o cumprimentar. Sorri-lhe e disse-lhe o meu nome, ainda ninguém me tinha explicado que não era suposto apalparem-me na sala, o homem percebeu-me tolinha e escolheu-me. Saí de mala e chave, cheguei ao apartamento e abri a porta quando ele bateu. Despiu-se imediatamente e, já de pénis erecto, verificou-me os dentes e meteu o pénis debaixo da minha saia porque achava que eu ficaria muito linda com um pénis. Era um homem muito forte, agarrou na minha cabeça e na garrafa do Vat69 e insistiu que eu tinha de beber com ele. Mais, mais, mais, dizia, isto faz bem, estás muito tensa. Tinha ligado o aquecedor do wc no máximo e posto a banheira a encher com água fria. A minha inexperiência e a distância de mim não me permitiram uma avaliação correcta do que estava a acontecer, aquilo até podia ser normal, ele agia como se assim fosse e era um cliente habitual da casa. Levou-me para o wc depois de me despir, sentou-se na sanita e mandou-me entrar na água. Continuou a dar-me o Vat69 pela garrafa enquanto fazia as suas necessidades. Quando saí da água estava entorpecida pelo frio e embriagada. Sem me enxugar, levou-me para a cama e tentou penetrar-me sem preservativo, eu estava demasiado entorpecida para me mexer mas estava tão contraída que não conseguiu penetrar-me, tentou várias vezes mas, quanto mais forçava, mais contraída eu ficava. Foi-se embora, furioso, eu consegui vestir-me e arrastar-me até ao escritório. Dormi até à hora de fecho. A bebedeira parecia intermitente, tão depressa estava bem como completamente embriagada, vomitei, já em casa, a noite toda. No dia seguinte, levei uma repreensão pelo estado do quarto, por ter permitido aquilo, para ter cuidado com os clientes que nos querem fazer beber. (Continua)

junho 20, 2013

Nuno Crato, parágrafo menor, por Baptista Bastos

Uma vez mais e sempre, com a devida vénia, desta feita a Baptista Bastos, o seu parecer avisado - e que eu tanto subscrevo! - acerca da «deriva» governamental de Nuno Crato ( até tu, Crato!). Aqui vai:

19 Junho 2013

Nunca deixei de me espantar com a desfilada insana de certos homens para o abismo da sua perdição moral e intelectual. Nuno Crato é um deles. Li o admirável "O Eduquês", que definia uma maneira de pensar e reduzia a subnitrato os mitos propostos à nossa preguiça mental. Se o estilo é o homem, ali estava um estilo e um homem que nos diziam ser toda a espécie de carneirismo a negação da inteligência crítica. Assisti, depois, com o alvoroço de todas as curiosidades, ao programa de Mário Crespo, na SIC Notícias, Plano Inclinado, e no qual o nomeado e o prof. Medina Carreira discreteavam sobre os embustes incutidos por esse nada abissal da hipocrisia política. Um aparte: ainda não percebi o que provocou o desaparecimento abrupto do programa e, também, o eclipse de Alfredo Barroso da antena, cuja lucidez era idêntica à informação que nos fornecia, mantendo-se na conversa a senhora que emparceirava com ele. Teias que o império tece.

Voltando ao Crato, a vontade de ser ministro de um desprezível Governo como este parece tê-lo obnubilado. Ou, então, a dubiedade já estava instalada e a falta de carácter era congénita. Como pode o autor de "O Eduquês" e de tantas intervenções televisivas marcadas pelas prevenções contra as evasivas e os ardis ser o cúmplice de um projecto ideológico que visa mandar para o desemprego muitos milhares de pessoas, e desmantelar pelo esvaziamento a escola pública; como pode?

Diz-me pouco, mas talvez diga alguma coisa a circunstância de Crato ser proveniente da extrema-esquerda, aquela contra o "revisionismo" e os "sociais-fascistas." O combate, afinal, era outro, e a "convicção" constituía um investimento futuro.

O braço-de-ferro do ministro e dos professores nunca foi por aquele decentemente esclarecido. A verdade é que os professores, ameaçados, aos milhares, de ser "dispensados", apenas lutam pelos seus lugares e pelo trabalho a que têm direito. E a utilização dos estudantes como estratagema político é sórdida. Crato desonrou-se ainda mais do que o previsível. Ao aceitar ser vassalo de uma doutrina doentia, arrastadora de uma das maiores crises da nossa história, ele não só volta a perjurar os ideais da juventude, como o que escreveu e disse.

É preciso acentuar que esta situação não se trata de uma birra do ministro. O despejo de milhares e milhares de pessoas faz parte de um programa mais vasto. Crato é um pequeno parágrafo num acidente histórico preparado ao pormenor por estrategos ligados à alta finança. Outra face do totalitarismo que, sob o eufemismo de "globalização", tende a uma hegemonia, a qual está a liquidar os nossos valores morais e os nossos padrões de vida. A emancipação das identidades, que formou a tradição universalista e a democratização social, está seriamente intimidada por gente ignóbil como Nuno Crato.

Aqui e assim se conclui o artigo de Baptista Bastos.  Vê lá tu, Crato, «gente ignóbil»... Tu, ainda há dias, uma referência para tantos dos que não estávamos dispostos a aparar  os pornográficos golpes dos políticos de pacotilha.

É bem verdade que o poder corrompe. E, também, que o poder absoluto corrompe absolutamente.

A penas sem perdão

Tenho pena de pessoas inteligentes que em algum ponto do caminho optaram ou foram forçadas a render a consciência perante uma circunstância qualquer.
Lamento acima de tudo a condição dessas pessoas se essa inteligência é aplicada à memória e, pior ainda, sob a bitola da lucidez. Percebo-lhes o desconforto, a permanente inquietação, na forma como partilham sentimentos de admiração (por outras pessoas inteligentes que jamais se permitiram reféns) com um impulso instintivo para a inveja ou mesmo para o desdém.

A inteligência permite analisar os actos ou decisões e respectivas consequências sobre os outros e sobre nós próprios. É inevitável, porquanto cruel, que uma pessoa inteligente se veja forçada a contornar a consciência da sua cedência mais ou menos indigna a propósitos e objectivos cuja obtenção depende da violação de princípios universais. A honra, a dignidade, coisas assim. Perdidas para sempre no contexto de uma escolha com a qual terão sempre que viver.
Terão acima de tudo que maquilhar essas vergonhas, essa inevitabilidade de pisar o risco como precisam de a acreditar, com pretextos inventados ou apenas enfatizados que a inteligência se esforça por processar mas sem conseguir que se desmintam os factos na origem. Terão que mentir, ou pelo menos omitir, aos outros como a si mesmos, a parte da realidade que a memória sempre guarda e a lucidez se encarrega de despir diante do que reste de integridade na pessoa inteligente que abdicou de uma parte importante de si.

O mundo caminha num sentido mais favorável para estas pessoas de que vos falo, vivemos um primado da futilidade, da estupidificação, do renegar de valores que nos foram incutidos pelas gerações anteriores mas que agora atrapalham o caminho dos que nos vendem como bem sucedidos, como ganhadores.
Contudo, milionários, famosos ou qualquer outro tipo de gente inteligente capaz de se destacar da multidão precisam da felicidade e essa depende sobremaneira da paz interior que, temos pena, não existe quando a inteligência se evade da sua redoma de sorrisos artificiais e a pessoa recorda outros tempos em que se sonhava capaz de chegar lá com base no mérito, no talento, na capacidade que todos precisamos reconhecer nos feitos alcançados e essa não se compadece das subidas a pulso com a ajuda batoteira de um esquema ou de uma jogada oportunista, da corrupção da verdade dos factos com a anestesia de uma bebedeira de poder. Coisas assim.

A vaidade parece nunca bastar a essas pessoas inteligentes que simulam a felicidade com uma máscara arrogante de cidadão superior. A vitória da esperteza, da habilidade para a manipulação, da vontade indómita de chegar mais longe sem olhar onde (quem) pisam os pés, nada disso parece lograr, excepto nos mais pobres de espírito, uma substituição lucrativa dos princípios por meios indecentes para se atingir um qualquer fim.
A inteligência, nem que seja a dos outros mais a sua coragem para a denúncia de embustes, de farsas, de desonestidade intelectual, possuem-na também os que se vêem obrigados a defender o impossível, a encobrir num invólucro de fantasia a história de vida cujo julgamento todos fazemos no balanço do que uma existência já se fez. E é nesse esforço que se perdem aquilo a que chamamos de almas, a essência do que somos e a ilusão do que gostaríamos de ser enquanto pessoas.

A cedência a tentações ligadas à influência sobre as coisas e sobre os outros, aos jogos de poder egoísta, faz parte do a qualquer preço de que todos ouvimos falar e sabemos de que se trata. Faz parte de uma troca em que muito se ganha mas sempre contrapõe algo a perder e a balança não é imutável, o tal balanço depende muito de como a consciência desperta em função de diversos factores e dos dramas eventualmente associados às acções, as más, que se praticam.
E quando esse momento não ocorre, denunciando uma natureza intrínseca desprovida de escrúpulos, de mecanismos de defesa contra a cegueira na ambição temos pena, mas é imperioso manter essas pessoas, mesmo que inteligentes, tão longe quanto possível dos centros decisores mais determinantes.

Acima de tudo de qualquer proximidade com a governação de um país.

junho 16, 2013

A falácia sobre a transcendência dos exames, a mentira como arma desconsolada do actual governo e o reiterado combate contra a nossa identidade nacional

No momento em que tantos papões se agitam contra a justíssima greve dos professores que vai abranger a realização de exames nacionais, algumas questões devem ser colocadas e respondidas, a bem da nossa sanidade mental e no sentido de recolocar as coisas nos seus eixos:

- São os exames importantes? Muito relativamente. Na verdade e restringindo-nos ao seu peso técnico, a nota do exame representa apenas 25% do «aproveitamento» de cada aluno durante todo o ano lectivo.

- Qual é a missão nobre da Escola? Isso mesmo, com maiúscula. Ensinar, transmitir conhecimentos, desenvolver em cada aluno a capacidade criativa e crítica, em suma, habilitar o cidadão com uma panóplia de conhecimentos e atitudes mentais que lhe permitam desenvolver cada vez mais qualificadamente a sua cidadania, integrado, pois, numa comunidade. Os exames são, neste contexto, sempre um elemento acessório muito longe desta missão nobre da Escola.

Desta sucinta instrospecção facilmente concluo que a guerra inominável que os actuais governantes – até tu, Crato?! – andam a mover aos professores com o argumento apalhaçado do «superior interesse dos alunos» é tão hipócrita que até as Associações de Pais já o entenderam e, rapidamente, dele se distanciaram.

Para cúmulo, os dirigentes da FENPROF anunciaram que vão divulgar, a bem da verdade dos factos, as gravações das reuniões com o Ministério… Eu, por cá, aplaudo. Mas fico-me constrangido pelo nível tão baixo a que vamos tendo de chegar por força desta maneira pulha e chunga de se governar um país.

Não será, entretanto, de estranhar se quisermos assumir que tudo isto se integra numa perspectiva mais vasta, pois já lá diz o outro que isto anda tudo ligado…

Na verdade, se se aniquila a agricultura, as pescas, a indústria, mananciais profícuos e constantes também do enriquecimento e inovação de uma língua, para além das outras características que tais actividades incorporam; se a isto se adiciona o primado absoluto da gramática, nas bases programáticas do ensino do Português que, vai para duas dezenas de anos, emanam dos sucessivos Ministérios da Educação – orientadas para a tal falácia dos exames versus saber e conhecimento – em detrimento quase total do ensino da nossa tão rica Literatura e da capacidade de cada aluno entender criticamente um texto, o que se está, afinal, a fazer que não seja a destruição completa e assumida da identidade de um povo ou de uma nação?

É que, hoje, a parcela de conhecimento que é transmitida oralmente de pais para filhos, de oficiais para aprendizes, está muito longe de ter os paradigmas que existiam, digamos, há cem anos atrás. Ninguém (ou quase) acompanha o seu progenitor na jorna, apreendendo os saberes da vida pelo modo mais directo e difícil. Ninguém (ou quase) calcorreia, hoje, o penoso labor da oficina ou da traineira, aprendendo com o oficial ou o mestre como se entalha o lenho, como se dobra o aço ou como se lança um aparelho de pesca.       

Hoje é a escola o sítio por excelência onde o conhecimento deve e tem de ser transmitido. Consta, até, que é para isso que uma nação se organiza e os seus concidadãos pagam impostos. E saber construir uma boa rede, como o é a gramática, está muito longe de ser sinónimo de se dominar as artes da pesca, como o é a Literatura.

Acrescentem ao que fica dito, a criação de condições para o desrespeito, por parte de encarregados de educação e de alunos, sobre os professores; de seguida, fragilizem, pelo medo e por incontáveis e sucessivas desregulamentações do trabalho, os mesmos professores; achincalhem-nos em termos de pagamentos e condições de trabalho cada vez mais indignos; violem as regras do jogo a que, durante dezenas de anos, os mesmos professores estiveram sujeitos e a tal foram constrangidos… e teremos um caldo de cultura que, pessoalmente, só não compreendo como não resultou, ainda, em explosão, mas que me deixa deveras preocupado quanto à qualidade humana de que esse futuro venha a revestir-se.    

Dir-me-ão que exagero. Talvez. Ainda que esta seja uma matéria que sempre acompanhei de muito perto e na pele e que continuo a acompanhar, já em segunda geração. E, repito, uma coisa só eu não compreendo: de que é que se estava à espera para interromper sine die tudo quanto é avaliações e exames, até que todo o País acorde para essa insanidade «oficial» que recai, a cada governo, sobre os professores, mormente os do Ensino Público.

E uma vez mais quer o governo lançar encarregados de educação e alunos contra uma classe que é o garante da continuação de Portugal em direcção ao futuro, fazendo caso omisso e tábua rasa de toda a sua profunda e incontornável responsabilidade no processo e ignorando criminosa e ignominiosamente todo o sacerdócio, todo o labor altruísta, todo o espírito de missão que, afinal, contra tudo e contra todos, anima tanto e tanto professor nas escolas deste País…

Não! Cá para mim, esta aparente incomensurável estupidez teimosa (o que já de si é redundância) por parte do actual governo, configura já – e não tenhamos medo das grandes palavras! – uma atitude reiterada, consciente e deliberada de traição à nação e ao povo que somos. E, pela parte que me toca, anseio pela hora em que tenhamos artes de nos libertarmos de tal praga. 

junho 15, 2013

Prostituição - a minha história (VIII)

Verão de 1997... (...) Atendi o telefone novamente, disse que o cliente já tinha saído e que estava a arrumar. Tratei de mudar a cama, nervosa, apressada, bati com a perna numa esquina e... sangue no lençol, toca de mudar novamente, vesti-me e corri dali para fora. Entrei no escritório, uma confusão, um cliente em cada sala, à espera e um escondido no wc! Expliquei o que tinha acontecido e disseram-me que, quando assim fosse, para responder que era o porteiro cá em baixo que contava o tempo desde que alguém subia. Mais tarde percebi que enganavam um pouco no tempo se estavam clientes à espera de quarto. Não me lembro do resto do dia, somente que me doía a perna, que toda a gente parecia mais inteligente que eu e que estar sozinha naqueles quartos podia ser arriscado se um cliente se tornasse violento. No dia seguinte, quando cheguei, perguntaram-me se estava a atender menstruada porque um dos lençóis tinha sangue, expliquei que era sangue da minha perna. Aproveitaram para me explicar que, se estivesse menstruada, devia comprar umas esponjas especiais na farmácia que estancariam o sangue durante a relação. Aquilo não me convenceu muito e, para mais, uma das raparigas já estava, ao mesmo tempo, a explicar que era preciso cuidado, que, um dia, ficou com um pouco da esponja lá dentro sem perceber, e, só quando foi ao ginecologista porque não identificava o motivo do péssimo cheiro vaginal é que soube que aquilo lá estava. Outra das raparigas contou que lhe tinha aparecido o período a meio de um atendimento e que não reparou porque o quarto estava quase às escuras, quando acendeu a luz e viu sangue por todo o lado, ficou em pânico mas o cliente riu-se muito e disse que já tinha percebido e que adorava sangue menstrual. Nestas conversas dos entretantos é que fui descobrindo o "manual" da "acompanhante". Aprendi a expressão "fazer cabritos", descobri que era suposto gemer e fingir prazer durante o acto, sim, é verdade, tal não me tinha ocorrido numa relação em que o cliente sabe que não é por prazer mas sim porque pagou, descobri as mais diversas taras alheias e, sim, é verdade, descobri o prazer como ainda não o conhecia, os namorados da minha idade eram bonitos e apetecíveis mas os homens experientes sabiam muito bem o que faziam com o corpo de uma mulher. Ganhava dinheiro à velocidade da luz e gastava-o a igual velocidade. (Continua)

«Carta aberta ao Professor Nuno Crato» - de João A. Moreira

Eu poderia ter escrito isto!
Por isso criei, já há uma meia dúzia de anos (que esta situação dos professores não é só do actual desGoverno) o Movimento dos Esposos Revoltados de Docentes Abusados. Sim, sim, a sigla é - como a vida dos professores e das suas famílias - mesmo isso!

"Caro Professor Nuno Crato,

Acredite que é com imenso desgosto que lhe escrevo esta carta aberta.
Habituei-me, durante anos, a ler e a concordar com o muito que foi escrevendo sobre o estado do ensino em Portugal. Dos manuais desadequados à falta de exames capazes de avaliar o real grau de aprendizagem dos alunos; do laxismo instituído à falta de autoridade dos professores; do absoluto desconhecimento do que se passava nas escolas, por parte do Ministério da Educação à permanente falta de materiais e condições nas escolas. Durante anos, também eu me revoltei com a transformação da escola pública em laboratório de experiências por parte de políticos, pedagogos e supostos especialistas em educação. Foi por isso com esperança que me congratulei com a sua nomeação para Ministro da Educação do actual governo.
Por isso, Professor Nuno Crato, me surpreende que, à semelhança dos seu antecessores, não tenha sido capaz de resistir à tentação de transformar os seus colegas de profissão nos maus da fita, mandriões, calaceiros, incapazes de trabalhar míseras 40 horas por semana. Surpreende-me e entristece-me.
Sabe, Professor Nuno Crato, sou filho de professores e durante a minha infância e adolescência habituei-me a compartilhar o meu tempo, os meus livros, os meus cadernos e muitas vezes o meu almoço e o meu lanche, com os milhares de crianças que, ao longo de anos de esforço e dedicação, eles ajudaram a educar pelas aldeias mais recônditas do nosso país. Habituei-me a aguardar pacientemente a sua chegada tardia, os trabalhos para corrigir, as aulas para preparar, para que restasse um pedaço de tempo para uma história, uma conversa, um mimo. Nunca lhes pressenti na expressão uma nota de arrependimento, antes de felicidade, por um trabalho que adoravam fazer e que eu adorava que fizessem. E, não imagina o orgulho que sentia quando nos cruzávamos com muitos dos seus ex-alunos e lhes via no rosto uma expressão doce de eterna gratidão - Se não tivesse sido o Senhor Professor ...não sei o que teria sido de mim!
Depois, casei-me com uma professora e voltei a ter de me habituar a compartilhar o meu dia-a-dia, o meu computador, os meus tinteiros, os meus dossiers, o meu papel, as minhas canetas, com milhares de outras crianças e adolescentes. Voltei a ter de me habituar a aguardar a sua chegada tardia, os trabalhos para corrigir, as aulas para preparar. Com a diferença de agora, a tudo isso, se somarem milhares de páginas de legislação para ler, a grande maioria escrita num português que envergonharia os meus pais e grande parte dos seus ex-alunos; dezenas de relatórios para redigir; novas metodologias de ensino para estudar; manuais diferentes de ano para ano para analisar; telefonemas para pais de alunos problemáticos a efectuar; acompanhamento de alunos com dificuldades, reuniões de pais, reuniões de avaliação, reuniões de preparação, reuniões de grupo, assembleias de escola, visitas de estudo, estudo acompanhado, aulas de substituição, vigilância de exames. Confesso que ao longo dos anos, fui conseguindo roubar à escola, um pouco de tempo para mim. Mas, mesmo desse tempo roubado a custo, muito era passado a falar da desmotivação generalizada causada pelo desleixo, pela falta de objectivos, pela ausência de meios, pela violência, pela falta de autoridade, enfim, por tudo aquilo que o Professor Nuno Crato tão bem descrevia nas suas análises.
Durante estes muitos anos a viver com professores, nunca me passou pela cabeça perguntar-lhes quantas horas trabalhavam. Mas, fazendo um esforço de memória, sou capaz de contabilizar os milhares de horas que o seu trabalho para a escola roubou à minha família. Os milhares de refeições em conjunto que não se realizaram, os milhares de conversas que não pudemos ter, os milhares de madrugadas passadas em claro, os milhares de filmes que não vimos juntos, os milhares de musicas que não ouvimos, os milhares de livros que não lemos, os milhares de passeios que não demos.
Não sei se esses milhares e milhares de horas perfazem as tão badaladas 40 horas de trabalho por semana que agora se discutem, mas sei que se fosse professor estaria a favor dessas 40 horas de trabalho semanais, desde que realizadas integralmente na escola, sem nunca mais, ter de trazer trabalho para casa, de gastar uma gota de tinta do tinteiro da minha impressora, de ocupar um byte de memória do meu computador, de usar uma folha da minha resma de papel, de ocupar a minha sala com trabalhos de alunos, de perder as minhas noites, os meus fins-de-semana, os meus dias de descanso com a preparação de aulas, reuniões ou relatórios. Se assim for, pelo menos, numa coisa os professores passarão a ser efectivamente iguais a todos os outros funcionários públicos, que deixam o seu trabalho e os seus problemas laborais na porta de saída da repartição.
Infelizmente não acredito que assim seja e o que acontecerá é que os milhares de professores, mal pagos, mal amados, maltratados, continuarão a acumular às 40h que agora se pretendem instituir, milhares e milhares de horas de trabalho gratuito roubadas às suas famílias, ao seu descanso, ao seu lazer, pelo simples motivo de se orgulharem de ensinar e não permitirem que os mesmos políticos, pedagogos e supostos especialistas em educação instalados no Ministério há anos, destruam a essência da sua profissão.
Caro Professor Nuno Crato, é por isto que os seus colegas de profissão estão em greve e não entender isto é não entender nada sobre educação. Por isso, não se admire se um destes dias forem eles a fazer aquilo que o professor tanto prometeu, mas não teve coragem de cumprir: implodir o Ministério da Educação em defesa da educação em Portugal."
João A. Moreira

junho 14, 2013

«Eu não fui ensinada por mágicos ou feiticeiros» - Inês Gonçalves

"Estudo no 12º ano, tenho 18 anos. Sou uma entre os 75 mil que têm o seu futuro a ser discutido na praça pública.
Dizem que sou refém! Dizem que me estão a prejudicar a vida! Todos falam do meu futuro, preocupam-se com ele, dizem que interessa, que mo estão a prejudicar…
Ando há 12 anos na escola, na escola pública.
Durante estes 12 anos aprendi. Aprendi a ler e a escrever, aprendi as banalidades e necessidades que alguém que não conheci considerou que me seriam úteis no futuro. Já naquela altura se preocupavam com o meu futuro. Essas directivas eram-me passadas por pessoas, pessoas que escolheram como profissão o ensino, que gostavam do que faziam.
As pessoas que me ensinaram isso foram também aquelas que me ensinaram a importância do que está para além desses domínios e me alertaram para a outra dimensão que uma escola “a sério” deve ter: a dimensão cívica.
Eu não fui ensinada por mágicos ou feiticeiros, fui ensinada por professores! Esses professores ensinaram-me a mim e a milhares de outros alunos a sermos também nós pessoas, seres pensantes e activos, não apenas bonecos recitadores!
Talvez resida ai a minha incapacidade para perceber aqueles que se dizem tão preocupados com o meu futuro. Talvez resida no facto de não perceber como é que alguém pode pôr em causa a legitimidade da resistência de outrem à destruição do futuro e presente de um país inteiro!
Onde mora a preocupação com o futuro dos meus filhos? Dos meus netos? Quem a tem?
Onde morava essa preocupação quando cortaram os horários lectivos para metade e mantiveram os programas?
Onde morava essa preocupação quando criaram os mega-agrupamentos?
Onde morava essa preocupação quando cortaram a acção social ou o passe escolar?
Onde mora essa preocupação quando parte dos alunos que vão a exame não podem sequer pensar em usá-lo para prosseguir estudos pois não têm posses para isso?
Não somos reféns nessa altura?
E a preocupação com o futuro dos meus professores? Onde morava essa preocupação quando milhares de professores foram conduzidos ao desemprego e o número de alunos por turma foi aumentado?
Todas as atrocidades que têm sido cometidas contra nós, alunos, e contra a qualidade do ensino que nos é leccionado não pode ser esquecida nunca mas especialmente em momentos como este!
Os professores não fazem greve apenas por eles, fazem greve também por nós, alunos, e por uma escola pública que hoje pouco mais conserva do que o nome. Fazem greve pela garantia de um futuro!
De facto, Crato tem razão quando diz que somos reféns, engana-se é na escolha do sequestrador!
E em relação aos reféns: não são só os alunos; são os alunos, os professores, os encarregados de educação, os pais, os avós, os desempregados, os precários, os emigrantes forçados... Os reféns são todos aqueles que, em Portugal, hipotecam presentes e futuros para satisfazer a "porra" de uma entidade que parece não saber que nós não somos números mas sim pessoas!
Se há momentos para ser solidária, este é um deles! Estou convosco."
Inês Gonçalves

junho 13, 2013

Horas de trabalho dos professores - tanta falácia junta!...

Texto do Amigo Mestre Professor Antonino Silva que devia ser lido por todos os responsáveis do desGoverno e do Ministério da Educação, não só os actuais mas os que vão alternando:

"Nesta disputa de opinião, há muita trave que nos cega
1. As 40 horas não existem no privado. Um quadro médio ou superior (caso dos professores) trabalha 35 horas. 40 horas são para os técnicos operacionais.
2. Um professor que dá 22 horas de aula, ao passar a ter as 40 horas de permanência obrigatória na escola terá de ter, concomitantemente, um espaço para o seu trabalho não letivo .Ou queremos que lecione as 40 horas? Também se arranja!
3. O ministério terá de, por legislação adequada, informar quanto tempo de preparação pressupõe cada hora de aula; quanto tempo máximo poderá demorar uma reunião (não as 8 horas que algumas levam); quanto tempo deve contabilizar a correção de um teste, etc. A partir daí, vai ser uma coisa fantástica. vamos ver os professores a encerrarem 'a sua cadeira' (o dito gabinete) da sala de professores cumpridas as 8 horas do dia e as 40 semanais e os nossos filhos à espera dos resultados dos testes que tardam porque as sua correção estaria para lá do horário semanal.
Todos sabem que os professores trabalham mais que as 40 horas? Parece que nem todos.
Os professores marcam o ponto cada 45 ou 90 minutos. Marcam os livros de atendimento, de reunião de apoio, de ateliês, etc.
Um professor com 7 turmas de 30 alunos terá ao todo 210. Se fizer 2 testes no período terá 420 para corrigir. Em média cada teste demora 30 minutos a corrigir, o que dará 210 horas. Se o período tem 12 semanas (como é o 1º) teremos 17.5 horas por semana para corrigir testes. Some as 22 horas de aula e terá 39.5 horas. Na meia hora que resta pretende-se que faça direção de turmas, que coordene, que prepare as aulas, que vá às reuniões, que dê apoio, que prepare os testes, que... ???!!!
Mesquinho é o povo que quando vê o vizinho com manteiga no pão fica feliz se tirarem manteiga ao vizinho e não se lembra de a exigir para si."

junho 08, 2013

«Os Canalhíadas» - texto de Luiz Vais Sem Tostões

Texto do meu amigo João Marcelino Cortesão:

"Se Camões hoje fosse vivo escreveria assim
«Os Canalhíadas»

I

As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo o que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se do quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!

II

E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!

III

Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.

IV

E vós, ninfas do Mondego onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!

Luiz Vais Sem Tostões"

A posta no nacionalismo induzido

Num país em queda livre os paradoxos multiplicam-se e as piruetas nos destinos de quem fica mais à mercê dos humores económicos criam lógicas de raciocínio tão distorcidas ao ponto de se criarem cenários de aparente esquizofrenia colectiva.
Em causa está um ponto de viragem que parece ter apanhado toda a gente com as calças na mão. A crise, como a chamamos, que parece ter-se instalado confortavelmente no ponto mais flat da onda sinusoidal dos ciclos económicos que dantes funcionavam como as montanhas-russas ou como os interruptores, escaqueirou isto tudo e parece eternizar-se em boa medida pelo desacerto dos decisores.

É impossível olhar este país no estado em que se encontra e reconhecê-lo nas proezas impensáveis que nos ensinavam nas escolas antes de acontecer Abril. Afonso Henriques demolidor, um condestável que até era santo, uma padeira de Aljubarrota indómita, caravelas de partida para um mundo enorme por descobrir.
Éramos nós, sim. Os garbosos herdeiros do sangue lusitano, a Metrópole de um império colonial, um país pequeno sobrelotado de heróis, de patriotas, de conquistadores. Até tínhamos o Camões, para dar o toque intelectual a uma nação de campónios como a quiseram e fizeram ao longo de 48 anos, mais o orgulho pela Pátria capaz de impressionar-se a si própria na falta de reconhecimento dos que nos olhavam com indisfarçável desdém.

Veio Abril e veio a Europa a seguir, na ressaca do lado menos bom de uma liberdade que também serve para desgovernar. Foi uma reviravolta de sonho e de repente já sonhávamos olhar para países como a França ou a Alemanha de igual para igual.
E depois alguém meteu água e começaram a surgir à tona maroscas, disparates, alarvidades inconscientes daqueles a quem entregámos o poder e, pior ainda, daqueles a quem eles o renderam depois.
De repente, o sonho esboroou-se como uma miragem para uma generosa fatia da população.

Leve já, a gente empresta, tudo aquilo que pagará bem caro depois

É assim que se destrói uma ilusão. Com ela abate-se sobre muitos uma realidade tão crua como a passagem súbita para uma outra dimensão. Avós reformados a sustentarem os netos e os filhos desempregados sem saberem como liquidarem uma catrefada de prestações. Era inimaginável poucos anos atrás, enquanto os mais poderosos desbaratavam milhões em seu benefício num equilibrismo sem rede para as camadas mais desfavorecidas da população, esta inversão dos papéis.
E depois o anúncio mil vezes repetido da iminência de uma catástrofe tão imensa como a falência cujo espectro se instalou sobre todo um país.

É complicado lidar com estas quedas abruptas depois de crescermos a ouvir contar as histórias dos nossos avós emigrados ou mesmo dos que por cá ficaram a construir as lendas familiares de self made men. Parecemos tartarugas tombadas de costas, incapazes de reagir à pressão deste fracasso em câmara lenta que vai arrastando aos poucos cada vez mais de nós, pelo efeito dominó de uma conjuntura aziaga amplificada pela ganância de uns poucos e pela inépcia dos líderes que elegemos para a enfrentar.
Parecemos baratas tontas no cimo de um icebergue em pleno hemisfério sul para o qual, surpresa, a Europa antes generosa anfitriã do nosso pequeno mercado nos quer empurrar.

Uma soma de traições muito acima das nossas possibilidades

Somos nós como o país. Acusados de preguiça, de desleixo, de incapacidade para gerirmos os nossos destinos, de desgoverno, de falta de tudo aquilo que enchia de orgulho patriota a geração que sabia o que a deixavam de um passado sem mácula, historicamente expurgado de tudo quanto o pudesse questionar. Um fracasso, como nos querem pintar, enquanto povo no seio de uma Europa dos ricos e dos louros e dos sempre melhores que todos os outros burros e calões.
É difícil de engolir um rótulo assim, depois de tantos de nós terem investido umas décadas em carreiras ou em negócios que acabaram hipotecados por malabarismos na alta finança que lhes competia também, a esses europeus bem sucedidos à nossa custa, os europeus de segunda com salários de gente inferior, controlar.

Assistimos assim ao desfalecimento colectivo de um país com séculos de História, impotente para travar uma decadência provocada a meias por factores tão externos como uma bolha imobiliária e tão internos como o pontapé eleitoral em falso que a maioria deu nuns alegados arrogantes e incompetentes para confiar o poder a uns comprovados incapazes e imbecis.

Arriscamos assim o nome gravado nos anais como fazendo parte de um grupo de portugueses de merda que algures num ponto do tempo permitiram que uma conjuntura marada mais a soma resultante de uma caótica conjugação de factores, nomeadamente as motivações interesseiras aquém e além fronteiras, nos arrasasse o que de mais nos pode valer nesta fase para darmos a volta à situação, os meios de produção indispensáveis para a recuperação, quase a partir do zero em caso de desagregação do projecto europeu, da soberania, do controlo efectivo do nosso país.

Neste contexto que acima desabafo, sinto-me preparado para enfrentar a saída da moeda única mais o diabo que carregue quem nos deixou atolar assim.

Prostituição - a minha história (VII)

Dos elefantes no peito

Que tudo me doa assim, intensamente. Antes
a dor que o cinzento em todas as coisas;
que mordam o ódio, a dor, a verdade, entredentes
e que possam sair na fúria cega das palavras.
Serena-me mas nunca me acalmes. Por mais que tentes
eu agarro a violência, a chama, a paixão e as lágrimas;
na selva do peito hão-de ecoar como centenas de elefantes
em corrida, o forte estrondo da liberdade pelas florestas.


Verão de 1997... (...) Ele olhava-me, deitado na cama, depois de me despir da cintura para cima e de me deitar sobre o próprio corpo. Olhava-me nos olhos, directamente, quase magoava. Estava nos seus trintas e tinha lindos olhos azuis, vou chamar-lhe o "Arquitecto". Falava: "entravam na sala e cumprimentavam-me, eram jovens, simpáticas e bonitas. Mas a tua suavidade, Joana, deslumbrou-me. Nunca tinha experimentado uma situação destas mas em boa hora o fiz, estava em casa, o tempo passava, eu trabalhava, mais uma tarde como as outras e algo aqui dentro me dizia que procurasse algo diferente e encontrei. O que fazes aqui, num sítio destes? Não tens medo?". E o tempo passou, beijou-me e começou a percorrer-me com as mãos. O telefone do quarto começou a tocar, balbuciei que devia ter terminado o tempo, ele olhou para o relógio e disse que ainda faltavam quinze minutos, que estava atento. Tentou penetrar-me mas o telefone, insistente, insistente e eu a ficar nervosa... Tive que atender, levantei-me e a recepcionista reclamava por eu nunca mais atender, reclamava que o tempo já tinha passado, disse-lhe que me ia arranjar. Ele voltou a beijar-me e voltámos à cama, continua a percorrer-me com as mãos, tiro o preservativo da bolsa e meto-lho, começa a penetrar e o telefone volta a tocar furiosamente, fico nervosa e levanto-me novamente para atender, a recepcionista a reclamar. Ele levanta-se, furioso, eu cada vez mais nervosa, agarra-me num braço e tenta levar-me para a cama, aflita expliquei-lhe que tinha mesmo de ir embora, ele responde muito zangado que tinha visto o tempo e que o estavam a enganar, que tinha pago muito dinheiro, que eu não julgasse que ele ganhava aquilo numa hora, parou, olhou-me, disse-me que não estava zangado comigo mas com quem me obrigava a proceder assim, o telefone novamente a tocar, vestiu-se, dirigiu-se à porta, nem a fechou ao sair, nem um adeus... (Continua)

junho 03, 2013

"Enquanto ganharam, era mérito deles, mas quando o ciclo passou, os seus prejuízos passaram a ser culpa nossa"

Sampaio da Nóvoa - foto da revista Visão
Uma das respostas de António Sampaio da Nóvoa numa entrevista à revista «Visão» de 23 de Maio de 2013 ("A política já não cabe nos partidos que temos"):

Há quem ganhe com a crise?
"E quem enriqueça com o empobrecimento dos outros. A minha geração tinha 30 anos quando começou a loucura da Europa. Vi fazer fortunas. Vivia bem com isso, porque não gosto de dinheiro. Mas ouvia o discurso do «somos excepcionais, capazes de assumir o risco» e quando perguntava se não seria melhor contenção, respondiam-me que eu, funcionário público, não arrisquei. Enquanto ganharam, era mérito deles, mas quando o ciclo passou, os seus prejuízos passaram a ser culpa nossa."

junho 02, 2013

cidadã belga...

 ...acusa policia de discriminação... a queixa surge após as autoridades belgas
terem mandado retirar uma burra (Lola) que era mantida
 na varanda de um apartamento em Bruxelas
Raim on Facebook

Noutra cela

Invejam-te, pássaro, pelas asas que te permitem voar. Talvez percebas de vez em quando no seu olhar uma expressão desagradável, um ar desconfortável perante aquilo que, por não terem, entendem de imediato como uma limitação.
Nunca lhes basta a imaginação, constroem equipamentos, procuram argumentos para te poderem imitar.
Como tu, querem voar. E cobiçam-te as asas, inventam anjos que são arquétipos da perfeição que se acreditam capazes de alcançar por mérito próprio, pecadores arrependidos, quando se juntarem a ti no céu de um paraíso de conveniência.

Invejam-te, pássaro, pelas asas que simbolizam liberdade e independência. Mas desenham uma realidade opressora, esculpida nos detalhes que são como o avesso das grades de uma prisão interior. Não querem asas sequer no amor que definem e compartimentam em regras desorientadas que entendem como pontos de referência para um modelo universal e obrigatório.
Nunca lhes basta o essencial, concentram-se no acessório, procuram saídas de emergência para o espaço de segurança que precisam acreditar, promessas de pessoas que julgam ser possível moldar personalidades com base nas realidades que impõem aos outros por norma, por regra, por costume e por tradição. E ainda lhe juntam a canga de uma religião castradora, seguem pela vida fora em espasmos de arrependimento ou em convulsões de desentendimento que os perturbam porque os tornam reféns de uma tristeza desnecessária, encarcerados na penitenciária que uma vida de mentira tão bem sabe construir.

Invejam-te, pássaro, pelas asas que te garantem poderes partir em qualquer direcção sem barreiras ou limitações, sem amarras nem prisões, para o céu que tanto se esforçam por merecer mesmo que seja para acontecer apenas depois do seu fim.
Como tu, querem voar.
Mas preferem invejar a felicidade que simulas quando cantas, assustado pelo que vês sempre que espreitas para o lado de fora desse cárcere que vês espelhado na expressão vazia, abandonada, dos seus olhares.
Sempre que espreitas para o lado de dentro desses pássaros sem asas, enfiados eles próprios em gaiolas às quais soldam aos poucos as portinholas até não lhes restar qualquer esperança de que alguém um dia as possa abrir.

junho 01, 2013

Ainda a propósito de Raquel Varela, do jovem Martim, do empreendedorismo de trazer por casa e outros bancos alimentares contra a fome e a favor da vontade de comer

No seguimento das minhas pobres reflexões sobre o episódio caricato que correu iutubes e quejandos – conforme aliás ouvi dizer, com o alto patrocínio do BCP, porque isto anda tudo ligado… – e em troca amena de galhardetes com amigo preocupado com o bom nome e a reputação da investigadora Raquel Varela, gostaria de acrescentar um ponto ao que deixei dito, para mais clara interpretação dos meus improváveis leitores:

Eu disse e volto a dizê-lo que Raquel Varela foi burra. Não digo que o seja, que já o tenha sido ou que venha voltar a sê-lo. Utilizei uma expressão coloquial que nos ocorre quando alguém comete uma episódica burrice.

Raquel Varela escorregou numa parada-resposta frente a essa coisa mortífica que é uma câmara de televisão e a sua interrupção intempestiva do discurso do jovem Martim teve mau resultado. Porventura que Raquel Varela não merece, pois abonam a seu favor outros e muitos créditos.

Mas o facto é que daquela escorregadela não se livra e o mais certo é ter de carregar a cruz dos entendimentos apressados por muitos e penosos anos.

Fica o aviso à navegação. Que a ela lhe há-de servir para enriquecer a experiência.

De resto vale o que fica por mim dito na entrada do dia 27 de Maio.

E porventura pelo que poderá parecer estranho efeito de carambola, a ideologia que quer sustentar este «empreendedorismo» é a mesma que subjaz à filosofia dos bancos alimentares.

Desta matéria delicada, em que cada um deve mexer só com pinças e de luvas cirúrgicas calçadas, duas ideias fulcrais me assaltam, a saber:

1 – se é inegável que graças aos bancos alimentares contra a fome se tem dado forte contributo para estancar a vergonha nacional que é, no Portugal do século XXI, haver quem passe fome, não é menos verdade que o modus faciendi, através das grandes superfícies, traz às mesmas um acréscimo de vendas absolutamente fabuloso que sai, uma vez mais e como sempre, do bolso do portuga abnegado.

2 – graças também a esta beatífica e aparentemente solidária atividade está a contribuir-se com fortíssima machadada na dignidade pessoal de quem precisa de esmola para comer, sem se promover qualquer outra espécie de saída social, com o argumento, pesado como pedras, de que a fome não se compadece com demoras.

Pelo caminho ficam os empregos perdidos, os empregos que não existem, a desregulamentação brutal do mercado do trabalho e tudo sob o olhar complacente, quando não cúmplice e, tanta vez, actuante, do próprio governo.

Com papas e bolos se enganam os tolos, já lá diziam os nossos avós. A almofada social e o tampão da revolta que representa esta «solidariedade a martelo» é, talvez, não mais do que a outra face da moeda da destruição da nação e do país em que alguns parecem tão apostados…


Porque a um povo pode faltar quase tudo, que ele há-de encontrar no fundo de si mesmo as sementes e reservas do seu renascimento. Mas se lhe faltar a dignidade… já nem povo é. E, então, a nação deixa de ter razão de ser.  

Prostituição - a minha história (VI)

Verão de 1997... (...) Porta do prédio, elevador, porta do apartamento, entro, não sei quem lá vem porque foram várias apresentações seguidas e não fixei nenhum dos homens, aliás, nem sequer os vi, tinha o olhar desligado. Batem à porta, espreito pelo óculo e... e... só vi que lá estava um homem! A dada altura, a parte do cérebro que avalia o que está a ver deve ter-se desligado e, na minha cabeça, só um pensamento: abrir a porta e sorrir. Novamente, sei lá se tomámos banho ou como fomos parar à cama, sei que dou por mim a chupar desalmadamente no pénis do homem, sem preservativo apesar do cheiro não ser nada bom, se calhar esqueci-me mesmo do banho, o homem vira-me a começa a fazer-me sexo oral. Só me tinham feito sexo oral duas ou três vezes na vida e nada como aquilo. Lembro-me de olhar para a cara do homem e perceber, de repente, o quanto ele era feio e de aspecto sujo, estava enojada e excitada ao mesmo tempo. Sim, é verdade, tive um imenso orgasmo cheia de nojo, nunca pensei que tal fosse possível! O homem, bastante contente, terminou montado em cima de mim (lembrei-me do preservativo desta vez) e começou a contar-me que era vendedor nas barraquinhas da Praça de Espanha, que gostou muito de mim e, se eu precisasse de alguma coisa, que fosse lá ter com ele. Eu estava aérea, novamente, algo fora de mim, entre o enojada, estarrecida com o homem e com a conversa e orgasmada, o telefone tocou a avisar do fim do tempo, dar toalha ao homem, homem no banho, homem vestido, levar homem à porta, banho, arrumar quarto, sair, chegar ao escritório, fazer contas, sair dali com dinheiro na carteira que me parecia uma fortuna, nada no cérebro e muito cansaço. Não me lembro de ter estado mais alguma vez na minha vida tão fora e tão distante de mim, tive muitas vezes aquela sensação de estar a vez um filme mas nunca tão acentuada, nem ansiedade, nem tristeza, nada do que seria de esperar e que ouço em tantos relatos, estava em modo "espectadora da minha própria vida". À noite, depois do jantar, quando saí de casa, no balcão do bar do costume, percebi que cheirava ao gel de banho dos apartamentos e detestei aquele cheiro, incomodava-me mais do que seria normal um gel de banho incomodar-me, e isto foi o único detalhe verdadeiramente marcante daquele dia, o resto estava adormecido pela fortuna, aos meus olhos, que trazia na carteira. Aliás, mantive esta reacção durante todo o tempo em que fui acompanhante, frequentemente tinha que mudar de gel de banho e tinha que ter sempre um diferente do de trabalho em casa. (Continua)