julho 29, 2012

A posta em vias de extinção


As lições da História em matéria de (maus) comportamentos humanos impede-me de fazer finca-pé na noção de que não existem alegados ecologistas que aproveitaram a onda do ambiente para surfarem o sucesso financeiro. Concedo esse benefício da dúvida aos que tentam a todo o custo desacreditar os avisos e os números (que são factos) que comprovam não apenas as alterações climáticas que vamos sentindo na pele mas igualmente a sua ligação com um dos preços mais altos do nosso progresso movido a combustíveis fósseis.
Porém, a concessão que faço à possibilidade de infiltração de oportunistas em qualquer causa humana estende-se à que aplico à hipótese de existirem alguns indivíduos inteligentes mas tragicamente equivocados entre a falange de imbecis que tentam desmentir sem sucesso uma verdade tão inconveniente quanto insofismável.

Aquilo que os números provam, o disparar da carga de dióxido de carbono na atmosfera ao longo das últimas décadas e a relação directa entre essa subida a pique com as das temperaturas no mundo inteiro, as mesmas que derretem glaciares e transformam o mar numa fábrica de temporais como a Humanidade nunca enfrentou, é algo de tão temível como a queda de um calhau semelhante ao que aterrou no Iucatão, México, em termos de possibilidade de extinção global da vida no planeta.
Nem os apoiantes da indústria petrolífera, a mais interessada em chutar o assunto para canto enquanto ainda duram as reserva de crude e que se lixe o resto, conseguem desmentir a verdade dos instrumentos de medição. Apenas refutam a explicação óbvia para esses números assustadores, empurrando a culpa para a própria Natureza e para os seus ciclos que já impuseram meia dúzia de períodos bem gelados ao longo do último meio milhão de anos, na sequência de aquecimentos globais espontâneos.

É essa a principal teoria daqueles que tentam, por ordem, desacreditar e ridicularizar cientistas ou políticos de topo que tenham a desdita de abraçar o combate pelo planeta, dos que denunciam os sinais de alarme que a cadeia de poder político-financeira predominante tenta abafar a todo o custo para salvar o que resta de um modo de vida que sustenta as suas fortunas pessoais e garante muitos postos de trabalho, é certo. Mas em causa estão consequências dramáticas num futuro tão próximo que já começaram a fazer-se sentir, nomeadamente na perda irreversível de vidas em calamidades naturais, de espécies entretanto extintas pelos efeitos da poluição e nos danos cada vez mais irreparáveis no equilíbrio já de si instável dos humores da mãe-terra.
Fecha-se a ritmo acelerado a pequena janela de oportunidade que permite uma existência normal, ou apenas a própria existência, a seres tão frágeis como os que habitam este planeta entre os intervalos de eventos, cataclismos, que redesenham e repovoam a superfície da Terra que estamos agora a envenenar.

A minha maior irritação, para além de começar a perceber o lugar que ocupará na História, em havendo uma, o grupo de gerações que integra a minha, é perceber que não existe um esforço real de argumentação por parte dos advogados do diabo que se concentram em alijar responsabilidades ao ponto de criarem um espaço de manobra reduzido, reasonable doubt, de apostarem no descrédito de mensagens importantes a que urge prestar mais do que a devida atenção, que clamam por uma urgente intervenção à escala mundial no sentido de inverter a actual tendência ou, no mínimo, de preparar a Humanidade para a colheita de tempestades que a apatia generalizada continua a semear.

«Descentralizar de Faro a Bragança, capital em Coimbra» - Jaime Ramos

Tal como o Brasil, Holanda, Nova Zelândia, Austrália e EUA, devemos separar o poder político do poder económico, instalar a capital política numa cidade que não seja a capital económica.
Sou suspeito mas o ideal seria mudar a capital política para Coimbra.
É evidente que o objectivo de transferir a capital de Lisboa para Coimbra é de difícil concretização.
Todo o poder político e económico instalado nos arredores do Terreiro do Paço se oporá.
O Mundo está cheio de boas ideias impraticáveis tal como o inferno se encontra repleto de boas intenções.
Não duvido que Lisboa é demasiado grande e excessivamente cara para o país que somos. O mundo dos negócios está cheio de casos de empresários que se arruinaram devido a amantes excessivamente exigentes e possessivas.
Não podemos continuar a desertificar o País e a empobrecer os portugueses para sustentar a megalomania da grande Lisboa.
Todos sabemos que muitas das maiores conquistas civilizacionais não se fizeram sem combate. A necessidade de combater a voracidade lisboeta, para permitir o desenvolvimento de Portugal e o bem-estar dos portugueses, é um objectivo que exige solidariedade entre os distritos abandonados, de Faro a Bragança.
Urge que políticos instalados fora de Lisboa sejam capazes de colaborar entre si para liderar um processo que questione o absurdo de concentrar todo o poder e toda a riqueza em Lisboa.
Impõe-se criar solidariedades nas diferentes cidades de Portugal, do Porto a Lagos, de Bragança a Vila Real de Santo António.
Está ultrapassada a ideia de Coimbra, ou outra capital regional, poder crescer e desenvolver-se à custa dos municípios vizinhos ou eternizando a fragilidade das outras cidades, sedes de Distrito, na Região Centro. O mesmo absurdo deve ser transposto para a Grande Lisboa, um conjunto de municípios que não podem ambicionar crescer à custa do resto do território.
Contra a governação socialista de encerrar serviços nos pequenos municípios, desde escolas a centros de saúde, esvaziar as capitais de distrito e tudo concentrar em Lisboa, o País tem de definir um modelo de desenvolvimento diferente, mais equilibrado e melhor.
No Governo liderado por Santana Lopes foi ensaiada uma tímida reforma de desconcentração que passou pela instalação de algumas Secretarias de Estado fora de Lisboa. Foi uma excelente iniciativa que deve ser melhorada, alargada e reforçada.
Existem tecnologias de telecomunicações que permitem o funcionamento de equipas à distância. É graças a estas tecnologias que as grandes empresas têm dominado o Mundo e criado organizações supranacionais.
Nada hoje justifica a ideia obsoleta de que todo um Governo ou toda a superestrutura tecno-burocrática de um Estado tenha de estar numa mesma cidade, ou num mesmo Terreiro do Paço dos tempos da monarquia absolutista.
O Ministério das Finanças pode estar no Porto, a Saúde ou Educação em Coimbra, o do Mar em Aveiro, a Indústria em Leiria, o Ambiente na Guarda, a Administração Interna em Viseu, Obras Públicas em Castelo Branco… A Presidência da República, Assembleia, Tribunal de Contas, Tribunal Constitucional, bem como muitos outros órgãos do Estado, só continuam todos em Lisboa por inércia retrógrada.
Nas últimas décadas, as grandes empresas criadas por iniciativa do Estado localizaram-se todas em Lisboa. Este movimento de concentração das empresas públicas exigiu a destruição e esvaziamento de estruturas regionais, originando pior emprego e menos riqueza fora da Capital.
Um modelo de desenvolvimento sustentável, que assente na coesão social do nosso país, impõe transferir muitas das sedes destas empresas controladas pelo Estado para outras capitais do Distrito.
Lisboa continuará demasiado grande mesmo que muitos dos serviços públicos sejam transferidos para outras cidades, equilibrando mais o nosso País. Nova York nunca precisou do aparelho de Estado instalado em Washington.
O interesse nacional impõe que de Faro a Bragança se combata o domínio excessivo de Lisboa.
Portugal tem de voltar a pensar a Política. Revela indigência intelectual concluir que não há alternativas ao modelo de desenvolvimento que temos vindo a implementar. É por falta de discussão e de espírito aberto que Portugal tem vindo a divergir e a deixar-se ultrapassar por outros países, no âmbito da União Europeia.
Deixámos de discutir política para ficarmos pelos costumes. Falamos de aborto, casamento de homossexuais, adopção gay, as cotas entre sexos, a tolerância entre diferentes. São assuntos interessantes mas a Política, que faz povos felizes ou infelizes, tem de voltar às tertúlias e aos partidos.
Urge politizar a economia que não é uma ciência asséptica. Não é como a água, inodora, insípida, incolor. As decisões na economia diminuem os pobres ou aumentam os ricos. Na gestão das empresas as escolhas criam sucessos ou falências. As opções políticas definem as nações que progridem e as que empobrecem.
O Governo socialista anunciou, antes da crise financeira, prever investimentos até 2017, no valor de mais de 40 mil milhões de euros em infra-estruturas, 9 mil milhões em projectos no turismo e 3,5 milhões para reabilitação urbana, tudo para contrariar a crise da construção civil e obras públicas.
A maioria deste dinheiro irá ser consumida em projectos não sustentáveis. As opções do Governo interessam às clientelas ávidas de lucro e negócios sem risco, à custa do Estado.

Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

«Avô (anti)céptico» - António Dias (Tonito)

Tonito - "A luz é minha, vou desligar
para poupar. O Fundo é do Jornal I"
"Companheiro,
Uma coisa muito simples do meu avô paterno.
No tempo do 25 de Abril este Senhor era o mais velho na freguesia.
O presidente da junta arranjou uma sessão de esclarecimento na altura das primeiras eleições pós 25.
Usou o meu avô para a dita sessão, para falar.
O meu avô apenas disse «Os cus são diferentes mas a merda é a mesma».
Acabou logo com tudo.
Passados estes anos todos, acho que ainda tem razão no que disse, em quase tudo o que se passou desde esses tempos.
Um Abraço.
Tonito.

jogos olímpicos


«Pai do contra» - Antonino Silva

"Este texto e a sua história fazem-me lembrar o meu pai. Agricultor simples com a 4ª classe que, quando o 25 de Abril aconteceu, não alterou uma vírgula ao seu modo de vida, a não ser criticar o aumento do preço da gasolina normal (que a sua Taunus 17M consumia de goela aberta), do bacalhau e do açúcar. Mas, durante o PREC, ele assumiu uma postura extraordinária. Ele nunca me confessou o seu partido (desconfio hoje que ele era do PPD, pois no dia 4 de dezembro de 1980 fez luto por Sá Carneiro), mas a verdade é que se havia comício na escola primária do CDS ou PPD ou PDC ele aparecia com um autocolante do MDP-CDE na lapela do casaco; se o comício era do PS, do PCP e outros mais à esquerda, era certo que lá estava ele com o emblema do CDS a espreitar. Isso hoje faz-me sorrir e admirar a sua personalidade; no entanto, num domingo de eleições, de 1976, lembro-me também de o ver a fugir de um grupo de mulheres vizinhas, todas do CDS, que o queriam despir, porque ele trazia uma camisola na qual tinha desenhado o emblema do MDP-CDE, num dia em que, era certo e sabido, o PPD teria 80% e os restantes votos seriam do CDS, nenhum para o MDP-CDE. Valeu-lhe o abrigo do padre na sacristia, que estava a terminar a missa e lhe abriu a porta.
Isto pode parecer picaresco, mas a verdade é que sinto inveja desta 'frontalidade' esquisita que ele tinha perante o 'status quo', que tinha coisas dadas como certas e adquiridas."

Antonino Silva

julho 28, 2012

«Discutir ideias, afrontar poderes, mudar o regime, salvar a democracia» - Movimento Ideais do Centro

"Portugal alienou soberania para ter acesso a empréstimos internacionais…
As desigualdades sociais agravam-se com crescente injustiça e risco de pobreza…
O capital assegura lucros e os trabalhadores perdem poder de compra…
As elites revelam-se moralmente indigentes adquirindo, sem esforço, rápidas formações académicas, ou traficando influencias para enriquecimento acelerado…
O sistema de ensino garante a estratificação social, impedindo a mobilidade e a ascensão dos desfavorecidos…
Somos crescentemente um país de velhos, incapaz de apoiar as famílias e gerar crianças …
A Justiça assemelha-se a jogo de roleta onde os donos do casino ganham sempre…
O território nacional desertifica-se, com a população concentrada numa pequena faixa de litoral circundante de algumas cidades…
Cresce a insegurança e o medo perante uma criminalidade mais frequente e violenta…
A comunicação social garante um pensamento único, assente em poderes económicos que controlam a liberdade de informação…
A democracia está capturada por aparelhos partidários, do poder e da oposição, feitores dos interesses financeiros…

Coimbra, capital do Centro, berço da Lusofonia, deve usar o seu prestigio e massa critica para gerar um Movimento Cívico de mudança do regime.
Não serão os extremos, de direita ou esquerda, que poderão salvar e melhorar a democracia.
As ideologias coladas aos partidos estão gastas por promessas incumpridas, e cedências desonrosas, que contrariam sucessivos compromissos eleitorais.
O futuro de Portugal exige o respeito por valores e princípios que se assumam acima das táticas e estratégias de grupos económicos ou partidários.

Na segunda-feira, dia 23/7, pelas 21h no Hotel D. Luis, Coimbra teve lugar a primeira reunião, com a presença de mais de setenta pessoas, para se analisar a possibilidade de criar um Movimento Cívico que assuma um conjunto de Ideais do Centro.
Discutir ideias, para que não se fique pelo pensamento único, que recusa alternativas…
Afrontar poderes para que não seja meia dúzia a impor o nosso futuro…
Mudar o regime para que se restabeleça a dignidade nacional e se restitua a soberania ao povo
Salvar a democracia porque as crises económicas e morais podem fabricar ditaduras.

Ideias básicas do Movimento

1. Para unir o grupo (e não dividir) é fundamental que as pessoas pensem no coletivo. Podemos não gostar de alguém … mas todos são necessários. Não estamos um jantar íntimo de amigos. Somos um movimento com pessoas muito diferentes… Não temos de gostar de todos os participantes. Temos de trabalhar em conjunto. Todos temos passado e não somos perfeitos.
2. Temos de encontrar e reforçar o que nos une e não o que nos divide. Não devemos focar pormenores mas só grandes ideias. Não somos Governo. Propomos ideais, ideias, causas. Não projetos de lei. Não temos o poder…. Sentimos o dever de mudar o regime
3. Temos de ter causas, importantes, fundamentais. Verdadeiras prioridades nacionais. Por elas lutaremos. Não somos um grupo de estudos. Somos um Movimento que, com noção das dificuldades, quer propor a mudança do regime, para melhor.
4. Não somos oposição. Somos construção. A crítica não é o nosso objetivo. Não somos um grupo de má-língua ou de ressabiados. Somos um Movimento para criação de uma sociedade melhor.
5. Temos a noção da fragilidade e insuficiências dos partidos… Mas não desejamos lutar contra eles. Queremos que melhorem, se democratizem e que trabalhem por Portugal. Que sirvam e não que se sirvam. Que não tenham como objetivo instalar clientelas no aparelho administrativo do estado. O estado não pode ser coutada dos partidos. Estamos fartos de alternância entre estados laranjas ou rosas…
6. Sabemos que se continuarmos quietos os extremos irão tomar conta de Portugal. A história está cheia de maus exemplos a começar pelo nazismo e a terminar no comunismo.

Quatro Ideais

1. Mais liberdade
Queremos prevenir derivas totalitárias e garantir mais liberdade.
O papel da comunicação social, o 4º poder, deve ser regulamentado impedindo que seja dominado por uma minoria.
A propriedade e o controlo do 4º poder não pode cair na mão de meia dúzia de nacionais ou de grupos estrangeiros, como está acontecer.
A soberania popular exige que a comunicação social garanta o pluralismo ideológico e esteja ao serviço do interesse nacional.
Não pode estar toda concentrada em Lisboa contribuindo para o apagão do território. Exige-se que a comunicação social instalada em Lisboa dê cobertura noticiosa a todo o país, não só quando há calamidades ou desastres.
A privatização da RTP , a manter-se a atual legislação, é perigosa para o interesse publico nacional.
O Estado deve possuir órgãos de comunicação social, radio e televisão, que compensem a deriva populista e mercantilista do sector privado.
As empresas publicas, na comunicação social e não só, devem ser administradas segundo regras de boa gestão, em principio com lucro, não sendo tolerável que administradores ou trabalhadores ganhem mais que o primeiro-ministro.

2. Melhor democracia
Queremos mais Politica, mais discussão, uma população mais interventiva, como maior capacidade de decisão.
Queremos mais pessoas interessadas na política e muito menos políticos profissionais.
O numero de políticos remunerados deve ser reduzido em mais de 50%.
As autarquias devem ser espaço de liberdade politica, exemplos de transparência, e escolas de serviço público onde os políticos remunerados devem ser uma minoria.
Todos os votos , incluindo os votos brancos e nulos, devem contar tal como as abstenções.
Todas as pessoas devem ter iguais em direitos consagrando o princípio, esquecido e não cumprido, de uma pessoa/um voto.
Entre a alternativa entre o poder legitimado pela nomeação e o emanado de eleições, somos claramente pela escolha popular.

3. Menor desigualdade
Somos um país com desigualdade crescente. Cresce a pobreza e a concentração da riqueza numa minoria. A classe média está em risco.
O estado deve dar o exemplo reduzindo as desigualdades. Os ordenados ,no âmbito do Estado, e as pensões pagas pela segurança social têm de ter um teto máximo, não sendo toleradas acumulações milionárias.
A economia não pode apostar na competitividade pelos baixos ordenados.
Os rendimentos mais baixos devem ser aumentados tal como o salario mínimo.
O problema não é só a falta de produção mas também a inexistência de clientes, compradores, que sustenham a economia
A criação de emprego é prioridade devendo Portugal assumir o ideal do pleno emprego. Um país pobre não pode prescindir do trabalho de centenas de milhares de pessoas.
Não se pode apostar na desregulação das relações de trabalho, fragilizando os trabalhadores. O respeito pelas empresas empregadoras não obriga a trabalho escravo.
Vivemos numa sociedade estratificada.
A educação deve garantir a mobilidade social apostando na descoberta dos talentos individuais.
A segurança social não pode continuar a ser sustentada unicamente pelos trabalhadores mas por todas as formas de criação de riqueza incluindo os rendimentos de capital. Os rendimentos de capital terão de ajudar a subsidiar o estado social tal como os salários.

4. Dignificar a justiça
Sucessivos escândalos, fugas de informação, decisões judicias questionáveis, e demoras injustificáveis nos processos criaram uma péssima imagem para a Justiça.
A demora na aplicação da Justiça beneficia os criminosos e incentiva a ilegalidade.
Queremos uma Justiça célere que não permita que se consolide a ideia que há quem esteja acima da lei.
A insegurança provocada pelo aumento da criminalidade é fonte de medo.
Temos de garantir um sistema policial/prisional/judicial que garanta a segurança dos cidadãos e permita uma economia competitiva, onde os crimes económicos sejam punidos em tempo útil.
O enriquecimento ilícito tem de ser efetivamente punido. A impunidade por parte de políticos , que fizeram (fazem?) fortunas graças á politica, não pode continuar.
Não é legítimo pedir sacrifícios á classe média e permitir que a corrupção seja atividade de sucesso.
A economia paralela, e todo o submundo criminal incluindo a corrupção e o trafico de influencias, têm de ser combatidos sem hesitações. Não se aceita que se continue a sobrecarregar a classe media sem um combate sem tréguas à economia que assenta no crime e na fuga fiscal.

Quatro Causas

A. Aumentar a natalidade, apoiar as famílias, evitar o envelhecimento populacional.
Portugal enfrenta a maior redução de natalidade de sempre. Somos um dos países mais envelhecidos do mundo.
Esta demografia vai originar pobreza e a falência do estado Social.
Urge apoiar as famílias e incentivar a natalidade.

B. Evitar o despovoamento do território e as assimetrias cidades do litoral/interior.
Na ultima década Portugal enfrentou uma politica centralista que tem desertificado e empobrecido o interior. A crise atual é em larga medida resultado deste centralismo.
Urge desconcentrar e descentralizar a administração pública, sempre que possível através de órgãos eleitos. A esta democratização do aparelho do Estado designamos como regionalização, acabando com os feitores nomeados pelo terreiro do paço. Esta democratização terá de ser feita com redução do pessoal político e com diminuição da despesa.
A capital política terá de sair de lisboa desconcentrado os órgãos do poder do estado por várias cidades.

C. Criar riqueza, melhorar a divida externa, resgatar a independência nacional. Precisamos de uma estratégia nacional de aumento da produção nacional em todos os sectores: turismo, agricultura, floresta , industria, serviços, comercio… Nas ultimas décadas seguimos uma politica económica prejudicial aos interesses nacionais.

D. Temos de garantir um estado forte, promotor de riqueza e com visão de longo prazo. Não podemos continuar a permitir que obriguem o estado ao estatuto de inquilino, pelintra e caloteiro; recusamos um estado falido dependente dos senhores do dinheiro. As privatizações em massa, a preço de saldo, num período de crise, transferindo o poder e os rendimentos para o estrangeiro, é um crime contra os interesses nacionais. Defendemos um estado promotor que defenda e desenvolva a economia nacional, bem diferente de vender os anéis e os dedos a potências estrangeiras.

Contexto internacional

Portugal não é um caso isolado. A irresponsabilidade por parte das elites políticas não foi nem é um exclusivo nacional. Basta pensar em Itália, Espanha ou França…
Desde a queda do Muro de Berlim a Europa (e a América do norte) entrou numa euforia insensata´, com perda de valores e cedências perante o sistema financeiro. Deixou-se endeusar o dinheiro ao ponto de se sobrepor ao poder político e á soberania dos povos.
Portugal não tem poder para resolver as causas da crise financeira, que atinge o ocidente, e alastra para as potências emergentes.
Portugal tem o dever de contribuir para por os senhores do dinheiro na ordem.
A ganância instalada é eticamente condenável.
O descontrolo do sistema financeiro destrói valores civilizacionais. Os culpados pela crise arrogam-se no direito de impor aos países soluções antidemocráticas, ideologicamente radicais.
A sentida impunidade dos culpados tem de ser contrariada. Não podem viver uma imunidade que lhes permite continuar a destruir os valores da cristandade.
Urge acabar com esta imunidade e a política, legitimada pela soberania popular, não pode depender do poder imposto pela ditadura dos mercados.
A política tem de ser responsável, defender estados fortes, e não ceder as chantagens.
Há necessidade que a UE (tal como os EUA , o Japão) e as Nações Unidas apostem nas soberanias dos países em detrimento da tirania imposta pelo absolutismo financeiro."

Jaime Ramos
Movimento «Ideais do Centro»

Foi o Martin Luther King quem disse, não fui eu

E haveria tanto a dizer sobre o assunto... mas não temos tempo.



«75» - a opinião da Didas

Hoje [26/7/2012] que foi anunciada para breve uma lista negra dos perigosos malvados que devem mais de 75 euros em gás, água ou luz e dão banho aos putos de manhã num alguidar, o staff da padaria não queria deixar de contribuir com algumas ideias que certamente trariam um colorido novo ao mundo das listas negras:
- Lista das pessoas que já desviaram mais de 75 euros de dinheiros públicos
- Lista das pessoas que já deixaram derrapar obras públicas em mais de 75 euros
- Lista das pessoas que já gastaram mais de 75 euros do erário público em viagens inúteis ao estrangeiro
- Lista das pessoas que têm mais de 75 euros em offshores
- Lista das pessoas que já se auto-aumentaram em mais de 75 euros por mês
- Lista das pessoas que já se auto-ofertaram automóveis de serviço que custam mais do que 75 euros/quilo com dinheiro público
- Lista das pessoas que já arranjaram empregos de assessores, com dinheiro público, a mais de 75 amigos e familiares
- Lista de pessoas que já fizeram negócios lesivos para o estado em mais de 75 euros
- Lista das pessoas que desbarataram mais de 75 euros do dinheiro público em almoços e jantares para si e/ou para os amigos
e finalmente
- Lista das pessoas a quem os perigosos malvados que devem mais de 75 euros em gás, água ou luz gostariam de dar 75 chibatadas naquelas nalgas indolentes mas não podem.
Didas
Blog Farinha Amparo

julho 27, 2012

Eu inspiro, tu inspiras, somos todos uns inspirados

A utilização em massa do verbo inspirar começa a bulir-me com os nervos.
E nesta saga do quem-é-que-é-mais-inspirador, vale tudo: roubar ideias (sim, sim, mudar as palavras não implica ausência de plágio - chama-se-lhe ideográfico), parafrasear sem nomear, fazer suas as palavras de outrém e, sobretudo, para além de contar com a ignorância alheia (boa aposta, ao que parece...), cuspir umas balelas para o ar, que não se discutem e de que provavelmente poucos conhecem o real significado, pelo que "são inspiradoras".
Ora o verbo inspirar tem uma significação, seja na sua versão transitiva ou pronominal, pelo que não deve ser usado quando não se sabe o que dizer - mas as mesmas pessoas que o fazem são as que, quando interpelados e na ausência de argumentos, atiram com um "é isso mesmo!" ou "muito bem, gostei de ver!", a ver se mandam o interlocutor inspirar-se para outro lado.
Os inspiradores denominam-se, normalmente, por "treinadores de vida" (mas em inglês que é bem mais técnico: só na tradução, ganha-se credibilidade) e pretendem, portanto, sem formação que convença quem quer que seja (há sempre excepções nestas regras mas não é delas que aqui falo, porque são uma ínfima minoria) inspirar as pessoas. Vão mais longe, de resto: pretendem formá-las (suponho que na arte de bem inspirar ou no engenho de bem se sentir inspirado) a eleger o sentir em detrimento do pensar, numa dicotomia reaccionária que recupera Descartes e faz tábua rasa de todos os avanços da ciência e epistemologia contemporâneas.
E o portuguesinho, que não sabe que não é life coacher quem quer mas quem tem formação para isso e que, em troca dos muitos euros que pagam em formações de tanga para se sentirem inspirados, devia exigir modelos de resolução de problemas e técnicas de pensamento crítico em vez de frases roubadas aqui e além, fica feliz porque se sente parte de uma comunidade (o que também não sabe bem o que significa mas sempre aconchega) de gente inspirada.

Abençoados os pobres de espírito, que sempre movimentam a economia e dão dinheiro a ganhar a muita gente que, de outro modo, não passaria de profissionais pouco qualificados de uma chafarica qualquer. Aproveitem bem, estes últimos, porque no dia em que esta for a sociedade de conhecimento que um dia terá de ser (sob pena de se auto-aniquilar), vão andar a inspirar calhaus.
Mais ou menos como agora, mas sem a parte do dinheirão.

julho 25, 2012

Em canal aberto


O líder dos socialistas e potencial Primeiro-Ministro mostrou-se chocado perante as imagens ao vivo da destruição provocada pelo fogo no Algarve e desabafou: “isto não é como ver na televisão”. Ou algo do género.
Até admito que tenha sido uma tirada espontânea, quiçá sincera, de um português confrontado com o resultado de uma política qualquer de terra queimada que ateia pirómanos ao serviço de interesses obscuros e lhes facilita a combustão com a falta de limpeza do mato que apanha tanto de surpresa os autarcas no meio de um incêndio rural no Verão como as sarjetas entupidas constituem um desafio renovado a cada inundação urbana em cada Inverno que passa.

Uma das maiores aflições que a falta de traquejo dos políticos destes dias me provoca é o notório alheamento dos mesmos da realidade tal como ela está a acontecer em Portugal. Não vale a pena invocar os concertos esgotados, os estádios lotados e as vendas em crescendo de Ferraris, a crise está a instalar-se de armas e bagagens de forma progressiva, galopante, e os discursos permanecem colados à questiúncula político-partidária, ao remoque, à gestão do imediato com a vista posta numa ambição qualquer.
A crise, que na boca da maioria dos políticos soa apenas como uma palavra forte, tão forte como maremoto mas igualmente dependente da percepção que pessoas afastadas de uma realidade conseguem formar a partir do que lhes chega no meio da confusão, no meio da pressão que inevitavelmente a gestão da crise, esse palavrão, lhes acarreta enquanto transtorno incontornável, enquanto conjuntura desfavorável para quase todas as recompensas que um cargo de poder, não viremos a cara à verdade, lhes proporciona, é um mal menor, um problema dos outros, para quem nunca a experimentou.

Lembrei-me do tal desabafo de António José Seguro e liguei-o de alguma forma neste texto à postura competitiva dos nossos líderes perante o monstro que nos atormenta porque, haja quem me desminta, se calhar tanto a multiplicação de incêndios como o alastrar da crise estão ligados ao alheamento à realidade de quem a vê pelos olhos de terceiros que, num contexto de exercício do poder com tudo o que isso implica, dificilmente a transmitirão com maior nitidez do que a televisão conseguiria. E porque a crise, não a palavra forte mas a debilidade humana à sua mercê, insiste em entrar pelas portas do cidadão comum que, para um político de topo, ficam quase nos antípodas das que governantes, aspirantes (chamam-lhes candidatos), deputados (um terço deles a partilharem funções com outras exercidas em nítido risco de sobreposição de interesses) e toda a corte financeira associada estão habituados a transpor.

No fundo é assim

A crise entrou hoje pela minha porta numa versão diferente da que venho experimentando ao longo do meu processo de decadência social, não sob a forma de mais uma ameaça relacionada com uma conta ainda por pagar mas com uma aparência muito humana.
Sim, a crise é uma palavra mas as suas consequências têm pernas.
A crise, a que hoje deu à costa para se exibir em toda a sua pujança, não entrou sem se certificar de que toda a gente ficava com a certeza de que não pretendia assaltar alguém. Repetiu três vezes o aviso que pudesse contrabalançar a aparência, que a de uma crise é sempre assustadora.
Entrou e explicou a custo, desdentado e com alguns copos a mais, que está desempregado e precisava de ajuda. E depois aprofundou.

A crise de hoje é um desconhecido, meu antigo colega de ofício, dezoito anos no tempo de vacas tão gordas que é fácil para mim entender que aquela pessoa, a crise, vem do mesmo mundo que cada vez menos é o meu, a classe média que a crise rasteirou.
Emprego e família perdeu-as no turbilhão. A casa foi algum tempo depois.
E ele, a crise, a explicar, a custo na pronúncia mas com desconcertante lucidez e com a desenvoltura no discurso de quem obteve bastante formação escolar, que se sabia embriagado mas precisava mesmo de se anestesiar depois da enésima entrevista de emprego marcada pelo organismo do Estado a quem isso compete, apenas para ouvir repetido o mesmo não acrescentado ao argumento da idade, 53 anos, que faz de um homem um trapo no que respeita ao mercado de trabalho.
A crise, aquela tão próxima que lhe sentia o hálito carregado de anestesia, verteu lágrimas aqui e além durante o tempo que lhe concedi para se apresentar, até porque não estava ali para assaltar mas apenas porque era a terra da sua infância, para onde fugia quando se sentia desesperado, e porque ele precisa de ajuda todos os dias para mais uma realidade impossível de transmitir pela televisão que é a da luta pela sobrevivência em sentido restrito. Passa longe de quem manda, a crise verdadeira, mas cola-se à vida de quem a sente na pele, pegajosa, a suar frio perante os apertos crescentes que aproximam uma pessoa, qualquer pessoa, de um ponto perigosamente próximo do declive para onde resvalou aquele meu antigo colega, um dos fatos com gravata que se cruzavam comigo em corredores prósperos onde todos acreditavam que em fazendo bem iriam fazer aquilo para a vida inteira.

Números que caminham

A crise que hoje me entrou pela porta, indumentária de recurso com marcas visíveis de um quotidiano menos limpo do que o dos políticos que gemem as suas impressões marcantes, os números terríveis, a estatística do desemprego, os números constrangedores, sem o amparo de uma condição financeira sólida, de uma multidão de conselheiros, de poderosos, de gente que sempre viu a crise pela televisão e até calhou estar distraída a conversar na altura ou a tomar decisões importantes para a vida da Nação, essa crise com duas pernas teve emprego, teve família, teve casa, teve carro, teve uma vida que entretanto se perdeu.

Perturbado, fiquei a ver a crise caminhar sobre duas pernas, um número da pessoa, rumo ao espaço para pernoitar por si encontrado na Gare do Oriente e que, um luxo, quase lhe garantia que alguém lhe ofereceria uma refeição, enquanto numa reacção instintiva mesquinha e egoísta pensei de imediato no cenário em que estou mergulhado e que tanto me aproxima do nível de crise daquele cidadão educado de classe média e ampla experiência profissional numa área medonha do meu ofício, os sinistros de acidentes de trabalho, e que ninguém emprega por já ter 53 anos e são apenas mais seis do que os meus e o futuro que a crise ao vivo e a cores me acenou surge como um borrão escuro desfocado no horizonte do pensamento, esboçado de forma grosseira no equilíbrio precário da minha condição.

E agora que falo nisso, nunca tinha visto a crise por esse prisma a partir das imagens na televisão.

julho 24, 2012

Cursos, recursos e percursos...


Sempre conheci, ao longo da vida, uns tipos que conseguiram uma pretensa «formação superior» à conta de fintas de corpo e/ou dos dinheiros dos papás. Coisa de longa data, já do tempo da «longa noite»…

Sempre tive conhecimento daqueles outros que obtinham cursos que, como se dizia, «saíam na Farinha Amparo», sem esforço nem mérito para além do tráfico de influências por apadrinhamentos vários.

Felizmente e tanto quanto me é dado saber, não conto com nenhum destes espécimes na minha carteira de amizades.

E desde cedo aprendi, também, que «uma mosca pequenina / poisa com a mesma alegria / na careca de um doutor / como em qualquer porcaria», como nos ensinava o sábio Aleixo.

Por circunstâncias da vida que não vêm ao caso, frequentei a universidade, mas nunca concluí um curso. Primeiro porque essas referidas circunstâncias foram impeditivas, depois porque impedimentos vários me suscitaram outras circunstâncias impeditivas.

No entanto, consigo, hoje, apurar uma carreira profissional que tem singrado bem e satisfatoriamente, ainda que sem deter uma licenciatura oficialmente reconhecida. E sem ter tido, nunca, a necessidade de vergar a cerviz. Também quando os tempos se tornavam profissionalmente insustentáveis, sempre fui capaz de alterar o meu rumo, sem necessitar de empurrões.  

Desenvolvo, também, inúmeras acções, sempre não remuneradas, em prol da cidadania e da participação de e com os meus semelhantes, que me proporcionam gozos imensos.

E devo confessar que, para além de uma certa e vaga nostalgia por um futuro na área da investigação, não senti nem sinto qualquer necessidade de pendurar nenhum canudo à lapela, para além da minha licenciatura, com mestrado e pós-graduação que a chamada Escola da Vida sempre dá a quem a queira viver de olhos, ouvidos e coração bem abertos.

Se calhar, tive sorte. Ou, se calhar, fiz boas e atempadas opções. Nada disso, entretanto, interessará ao girar do mundo, mas apenas a mim e, creio bem, àqueles que me estão mais próximos.

Claro que no País que tivemos as malas-artes de construir, já me aconteceu ver «chumbado» um pedido de patrocínio mínimo para uma obra literária minha com o argumento de que eu não era licenciado e a instituição em causa – em prol de quem, aliás, desenvolvo inúmeras actividades a título gracioso – apenas patrocina, estatutariamente, obra a licenciados (…?!...).

Claro que o trabalho produzido em favor da citada instituição pelo não licenciado que eu sou não lhe suscita pruridos, mas a aquisição proposta de escassa trintena de volumes da referida obra – o que orçaria na inaudita importância de cerca de € 300 – já é incompatível com a alta dignidade que uma licenciatura confere e de que eu não sou, hélas!, portador.

Entenda-se, entretanto, que não há nada que mais suscite a minha reverencial admiração do que aceder ao saber e ao conhecimento através de alguém que, tendo uma formação superior e uma vida dedicada ao aprofundamento desse saber e conhecimento, me dá a sublime honra de os partilhar comigo, mero passeante de saberes e conhecimentos diversos e desvairados.

Vem todo este arrazoado a propósito dos nossos mais recentes e paradigmáticos casos em volta destas questões, a saber, mestre Sócrates, José, e não menos mestre Relvas, Miguel.

Não! Estes estão nos antípodas de quanto admiro acima. Parolos, burgessos, arrivistas e sentados no poder, desunham-se pelo verniz quebradiço de uma licenciatura, apenas para que a senhora dona do cafezinho do bairro onde sorvem a bica matinal ou o chófer do carrinho do Estado que lhes foi atribuído, os mimoseiem com um sonoro «bom dia, dótor», o que se pode presumir que os deixa numa situação pré-orgástica, que lhes animará decerto o dia, sem sequer se aperceberem o quanto desse cumprimento carrega, tanta vez, uma dose de sarcasmo perturbadora de qualquer boa consciência… que, de resto, não têm.

A mim, em boa verdade e até pelo que fica dito, nada me repugna que um político de topo, ou até um gestor de topo, ou qualquer outra posição de topo não esteja assente no tal canudo, preconceito misérrimo e acabrunhante dos tempos salazarentos (e não só…), que estas alimárias vêm transportando ao lombo até aos dias de hoje.

A mim, o que na verdade me incomoda, é a aldrabice destes pulhas e a imoralidade e ausência de ética que lhe está subjacente, mesmo se hipocritamente sedimentada em legislação que eles tiveram artes de cozinhar para lhes atribuir créditos a martelo, em proveito próprio e exclusivo.

E não teria contemplações: se, porventura, mandasse no que quer que fosse, para além de mim próprio, correria com esta cáfila à pedrada, por indecente e má figura, vacinando-me também, contra eventuais contágios infecciosos que a sua baba peganhenta pudesse ocasionar.

Perturbadora é, neste contexto, a seguinte reflexão: - como esse distanciamento e punição não ocorrem, por força das estuporadas lógicas dos partidos do «arco do poder», tenho para mim que quem se junta a eles é como eles.

Diz isso a nossa dita sabedoria popular, que foi tendo graduações sucessivas na tal licenciatura da Vida, comprovadas com sangue, suor e lágrimas, que estes tratantes aparentemente nunca souberam o que fosse.

Assim sendo, aqui se declara que nem ao Sócrates, José, nem ao Relvas, Miguel, nem a qualquer outro quejando que, através das suas vis práticas, eles sim denigrem e apoucam o saber e o conhecimento, eu serei jamais capaz de confiar 1 cêntimo meu, certo que estou de que nunca mais o veria.  

Não vale de nada o desabafo? Ora, vale o que vale… e de desabafo em desabafo, quem sabe não irão, um destes dias, atribuir-me alguma licenciatura em Comunicação aos Ventos?      

Carta de trás da Serra com Ideais ao Centro

Olá, meu Pai

Já há tantos anos que eu não lhe escrevia... e sabe bem as saudades que tenho de si.
Desde os meus tempos de escola primária, em Caria, tentei sempre evitar envolver-me em assuntos de política, recordando-me da frase que tantas vezes me repetiu:
"Se te perguntarem qual é o teu partido, responde: «a minha política é a política do trabalho»."
E isto foi antes do 25 de Abril, quando por vezes o via sair de casa para ir avisar pessoas de Caria, que eram da oposição (eu sabia lá o que isso queria dizer), para se esconderem, pois a PIDE andava à procura delas.
Lembro-me também de uma vez me mostrar uma tampa de água de Vidago, que tinha a sigla "VMPS" (Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas) e dizer-me em surdina, com muitas recomendações para eu não dizer a ninguém, o que significava aquela sigla: "Vamos mandar prender Salazar".
Quando foi o 25 de Abril, lembro-me tão bem do meu Pai, que foi durante anos presidente da Junta de Freguesia, ter tido problemas graves com pessoas que o rotularam de fascista. A sua úlcera apareceu nessa altura...
Lembra-se de eu lhe ter contado a minha primeira experiência pessoal de democracia? Foi no liceu da Covilhã, em 1975, num dia em que o professor de Educação Física faltou. Como estávamos equipados, decidimos ir jogar futebol. Um dos meus colegas, gordinho, ofereceu-se para uma baliza... mas não havia nenhum voluntário para a outra. Um dos meus colegas teve uma ideia genial: "Fazemos uma votação". Todos concordaram e ele perguntou de imediato: "Quem vota no Paulo Moura para a baliza?" e todos puseram o braço no ar... eu incluído, que lhes fiz um manguito e fui para o balneário mudar de roupa.
Desde então, "a minha política tem sido a política do trabalho".
Mas ontem, meu Pai, participei numa reunião preparatória de um movimento político (notícia aqui e aqui). Fui convidado a estar presente pelo Dr. Jaime Ramos, pessoa que eu admiro e que lidera este projecto.
Não fiz qualquer intervenção - muita gente o fez, uns com muito conteúdo, outros com dotes de oratória mas pouco sumo e uns poucos que nem uma coisa nem outra - pois em primeiro lugar quero compreender do que se trata. Anotei os tópicos do que lá foi dito e, mesmo relendo-os, confesso que não compreendi algumas coisas:
Trata-se de um movimento regional (da região Centro)?
Espero que seja apenas pela sua origem e não pelo seu destino.
Pretende-se criar um partido político?
Se for o caso, pernas para que vos quero...
Quer-se (como defendeu o Professor Amadeu Carvalho Homem) "a salvação da Pátria"?
Esta visão sempre foi, para mim, extremamente redutora. Gosto de me ver como cidadão do Mundo e não consigo defender o que é Nacional quando vejo algo que não é Nacional e é melhor.
Entretanto, meu Pai, este movimento pugna por valores e defende causas que me dizem muito, como o Humanismo, a integridade na gestão da Coisa Pública, voltar a confiar na Justiça, a defesa da agricultura, da pesca e da indústria...
Como disse o Professor Carlos Sá Furtado, o movimento precisa de definir meios, métodos e formas. Mas também é preciso, como alertou João Paulo Pinto Mendes, que o movimento defina a sua matriz ideológica. E isso irá criar divergências, é mais que certo.
O Dr. Jaime Ramos irá organizar um plenário, dentro de 2 a 3 meses. O objectivo será concretizar algumas propostas. E propôs, como primeira causa a defender e assunto a debater, a natalidade, "assunto em que os políticos estão a zero".
Entretanto, meu Pai, esteja descansado. A minha política continuará a ser a política do trabalho.
Um abraço que a morte não rompe, do seu filho
Paulo

Relvas é despedido e...

no caso de Marques Mendes o ir (eventualmente) substituir no governo... não estou a ver qual a posição que irá ocupar...

julho 23, 2012

Paraísos fiscais?! A sério?! E a malta que pensava que o dinheiro se tinha evaporado!...

«Super-ricos “escondem” mais de 17 biliões* de euros em paraísos fiscais»
Notícia aqui.
Fiquem com alguns excertos:

"(...) O estudo foi feito pelo norte-americano James Henry, para a Tax Justice Network, organização com sede em Londres que tem por objectivo combater os paraísos fiscais. (...) Os dados coligidos dizem apenas respeito a património financeiro depositado em contas bancárias e de investimento, até ao final de 2010, deixando de fora activos como propriedades móveis e imóveis.
(...) Ainda assim, o cálculo mais “conservador” presente no estudo “The Price of Offshore Revisited”, como o classifica James Henry, resulta num valor equivalente ao tamanho das economias dos Estados Unidos e do Japão juntas.
(...) O antigo economista-chefe da McKinsey, empresa norte-americana de consultadoria financeira, sublinha no entanto que “este estudo são muito boas notícias”. “O mundo acaba de localizar uma grande quantidade de riqueza financeira que pode ser convocada para contribuir para a solução dos problemas globais mais prementes”, sugere James Henry.
(...) O UBS, o Credit Suisse e o Goldman Sachs são os três bancos privados que gerem mais activos em offshores, em todo o mundo, ainda de acordo com o mesmo estudo."

* Um bilião são mil vezes mil milhões (os anglo-saxónicos, que saltam a designação “mil milhões”, chamam trilião ao que os portugueses contam como bilião).

O Raim bem tinha razões para andar desconfiado!


julho 22, 2012

pincho...

acham necessário recomendar que a sua utilização seja de uso obrigatório...

julho 21, 2012

Hermano...

passou à história... dizem que se escondeu atrás dela.

José Hermano Saraiva passou à História

A notícia do dia é a do falecimento de José Hermano Saraiva, um rosto sobejamente conhecido de todos os portugueses, sejam eles mais ou menos interessados na História de Portugal. Tinha raízes aqui pela Gardunha já que o seu pai era natural das Donas, concelho do Fundão, tendo por isso uma ligação especial a esta região, bem expressa nos vários programas televisivos que a ela dedicou.

O que nem toda a gente sabe (mas que por estes dias ficarão sem dúvida a saber) é que ele ficou indelevelmente associado à nefasta repressão aos estudantes de Coimbra durante a crise de 1969. Estranhamente, pelas palavras recentes do próprio JHS, fica a ideia de que para ele tudo não passou de um arrufo que se resolveu com um raspanete dado por si na televisão.

Ora, esta crise estudantil foi de tal ordem que levou até à alteração da lei da incorporação militar, que passou a excluir do exercício militar apenas os estudantes que tivessem "bom comportamento". Assim, muitos trocaram as capas negras pelos camuflados e os livros pelas armas e partiram para o Ultramar, em nome do ideal caduco de defesa um império que só a teimosia, insensível ao sangue dos que iam tombando longe de casa, continuava a sustentar. 

(Indispensável ler este artigo e este também)

Acérrimo defensor do Salazarismo, alimentou sempre que pôde e até ao fim da vida a ideia de que Salazar fora um "justo como ditador" (curioso anacronismo!) e até anti-fascista! Transcrevendo uma entrevista prestada em 2006 declarou inclusive que, ao chegar ao poder, Salazar acabou com a ditadura, embora depois admitisse que só as eleições para Presidente da República lhe pareciam democráticas. Seria interessante saber a opinião de Humberto Delgado sobre este ponto específico. Digo eu.

Seja como for, JHS tornou-se mais conhecido nas gerações pós-25 de Abril pela sua constante aparição em programas televisivos, com que procurou dar a conhecer a História de Portugal, e nos quais fez valer os seus dotes de enormíssimo comunicador para fazer passar a sua mensagem.

Eu próprio confesso que fui em tempos um grande fã destes seus programas mas, com o passar do tempo, talvez ao mesmo tempo que me ia embrenhando no conhecimento da História, fui-me desinteressando. Isso aconteceu quando percebi que, muito do que contava nos seus programas não obedecia ao rigor factual que seria de esperar na prestação de serviço público, perdendo-se muitas vezes em evocações tão gloriosas quanto fantasistas. Ao fim e ao cabo, misturava o irreal com o real, servindo depois o resultado ao público com o rótulo de História de Portugal.

No entanto, e aí há que lhe reconhecer o devido valor, teve o condão de fazer com que muitos portugueses se interessassem pela História e pelo património do seu país e da sua região. Ironicamente, talvez até eu tenha sido um deles. A ser verdade, ele foi tão bem sucedido que deixou de me cativar.

Em suma, hoje uma figura pública passou tecnicamente à História. Irá de facto deixar um certo vazio na televisão pública mas, meus amigos, não exageremos! Já ouvi ou li algures pessoas a afirmar que o seu lugar de repouso deveria ser o Panteão. Mereceria menos essa honra o Carlos Pinto Coelho do que o José Hermano Saraiva? 

Um simultâneo Persuacção / Blog do Katano

Foto: Crise Académica - Slideshare

julho 19, 2012

A posta na proposta certa com a maioria errada (2)


A iniciativa do Bloco de Esquerda a que faço alusão na posta abaixo é um passo importante na correcção de um problema que só a ignorância alimenta e tem o meu inteiro apoio, só pecando por tardia e por acontecer quando a actual maioria no Parlamento não permite qualquer esperança de aprovação da medida proposta.
Contudo, isso não mudará a verdade dos factos: impõe-se o debate acerca do assunto, cada vez com maior emergência numa altura de crise que só ganharia com o fim da circulação ilícita de dinheiro que a proposta do BE preconiza.

Quem quiser dar a volta ao texto e fugir ao óbvio só precisará refugiar-se na argumentação consolidada ao longo de décadas de proibições das quais apenas resultaram benefícios para os traficantes de canábis e para os consumidores que gostam de acrescentar a pica da ilegalidade às suas experiências de vida. Para os cidadãos comuns que consomem a substância sobra o estigma associado pela ignorância que nem permite a distinção entre drogas duras e leves (as que estão em causa) e para o país acrescentam-se mais custos desnecessários para a Justiça e mais viveiros de economia paralela em larga escala.
Só com uma grande dose de hipocrisia, de preconceito ou de interesse financeiro directo alguém poderá defender que a situação actual tem algo de bom seja para quem for para além dos que citei.

A informação acerca da canábis abunda na internet e só não percebe o que está verdadeiramente em causa quem não quiser. As opiniões, como é natural em todos os assuntos polémicos ou melindrosos, dividem-se entre os papões de alegados estudos científicos que de concreto têm provado quase nada em matéria de malefícios para a saúde do consumidor moderado e os argumentos lógicos dos que, mesmo não consumindo, enfatizam a questão de princípio implícita nesta estranha teimosia de muitos Estados no investimento em “combates ao flagelo” sem distinguir os alhos de substâncias como a heroína, a cocaína e outras drogas químicas mais recentes e os bugalhos da canábis. A influência social destas duas realidades é absolutamente incomparável, tal como o comportamento dos consumidores se distingue à vista desarmada.
Neste aspecto o argumento de que muitos começam pelas leves e partem daí para uma existência medonha associada ao vício adquirido é o mais batido e se não peca pela verdade fá-lo pela transparência da estatística que remete esses casos para uma irrelevância inevitável.

Na verdade só estão em causa más vontades despoletadas pelo desconhecimento dos factos, pelo preconceito associado a décadas de proibição e de propaganda alarmista e apenas porque sim.
O formato proposto pelo Bloco salvaguarda os interesses de quem consome e os de quem não o faz, oferecendo ao país uma solução bastante consensual, devidamente fiscalizada e que constituiria um golpe de misericórdia nas receitas chorudas de intermediários que fogem ao controlo do Estado e só servem para desviar a concentração das autoridades e dispersar forças no combate aos verdadeiros flagelos associados à venda e ao consumo de substâncias comprovadamente perigosas para a saúde e para o funcionamento da sociedade.
Resta-me referir que não se trata de uma iniciativa inédita, já estando a provar-se eficaz em diversos países.

O provável chumbo parlamentar da proposta do BE, neste contexto, não passará de um adiamento de algo que só quem não queira enfrentar o tema com seriedade pode considerar um malefício.

A posta na proposta certa com a maioria errada

O Bloco de Esquerda finalmente vai honrar os seus pergaminhos (e o seu discurso) com uma proposta digna de uma alternativa séria de poder.

julho 17, 2012

convite
próxima sessão das noites com poemas
- os poetas da Apenas

- Cartaz de Alexandre Castro -


Como vem sendo hábito, a nossa sessão de Julho das Noites com Poemas é dedicada aos Poetas da Apenas, manancial fecundo que conta já com umas muito largas dezenas de autores onde o cultivo da diversidade está muito para além da mera expressão de circunstância.

Desta vez, temos um programa ambicioso na sua extensão, mas que iremos cumprir com o melhor espírito:

1. Em primeiro lugar, teremos o lançamento do livro Vamos Andando, Poesia!, de Maria Ramil - mais conhecida no seu círculo de amigos como Maria José Figueiredo - lançamento este que contará com a presença, para além da autora e da editora, ainda com Mário Piçarra, Orlando Luís e eu próprio, discorrendo sobre Maria Ramil ou sobre os seus poemas. No final desta apresentação, Mário Piçarra trará três temas cantados, que integram um seu projecto musical, que vai caminhando a bom ritmo e do qual, pelo que já me foi dado ouvir, é de conclusão urgente.   

2. José Luis Campal, poeta asturiano, contará, de seguida, com a nossa companhia em sentida homenagem  à sua querida e malograda Aurora, musa e companheira, também ela autora na Apenas Livros. De José Luis Campal são estas palavras: El 14 de junio, a las cinco y cuarto de la tarde, falleció entre mis brazos, en el Hospital General de Asturias, mi adorada e insustituible esposa, Aurora Sánchez Fernández (1964-2012), un ángel de dulzura y convicciones profundas que alegró hasta el paroxismo mis días y me hizo mucho mejor persona de lo que jamás fui ni posiblemente seré. 
3. Apresentação da editora brasileira Arte-Livros, com o lançamento da obra Cavalos sem Memória, da autoria de Ana Maria Haddad Baptista.  

Por fim, tentaremos inventar ainda as réstias de tempo necessárias e suficientes para a participação de quantos sempre pontuam este nosso espaço com a sua criação poética, dando o seu passo em frente em forma de poema.

A sessão terá lugar no próximo dia 20 de Julho, com início pelas 21h30, na Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana. Mas, para quem queira ou possa estar mais cedo, informo de que contaremos com o agradável bar da Biblioteca aberto, local onde os interessados poderão conviver e ir tendo contacto com as obras a apresentar. Por mim, lá estarei a partir das 20 horas.

Contando sempre convosco, cá fica um forte abraço!

Jorge Castro

Dinâmica(s) de Grupo(s)

Um grupo não é um grupo só porque alguém decidiu constituí-lo.
Um grupo não é um grupo sequer porque os próprios membros decidiram formá-lo.
Um grupo (seja um casal, um conjunto de amigos, de fãs de qualquer coisa, de malta que se junta para jogar canasta ou para tricotar ou discutir livros) só o é verdadeiramente quando percebe que aquilo que constitui é sobejamente maior do que a soma das partes, cujos egos esperneiam com a hipótese de se verem anulados (e se não superam essa primeira reacção, mais vale ficarem com os egos e irem às vidinhas deles, deixando de brincar aos conjuntos).

Todos gostamos da sensação de pertença e temos, desde miúdos, a tendência de formar "clubes", do tipo menina-não-entra ou gosto-de-punk-e-o-pop-é-p'rós-parolos. É cool, aconchega, situa-nos num universo de dispersão, dá-nos identidade e consistência.
O problema é quando não percebemos que isso a que se chama "dinâmica de grupos" (adoro estas designações a armar ao científico) não é coisa que se aplique universalmente. E que há grupos (a maioria) assentes em alicerces de algodão doce.
Estamos a lidar com indivíduos que têm de acordar, mesmo que tacitamente, abdicar da sua soberania em prol de um colectivo (mais ou menos como é suposto que o povo faça com o Estado).
E isso não é para todos.
E muito menos para todos os grupos, grande parte dos quais não são mais do que aglomerados de indivíduos, juntos devido a uma qualquer conveniência com duração efémera. Como a do grupo.

«Prevenir os incêndios não é fácil, tal como apagar os incêndios» - Jaime Ramos

Manter aceiros limpos, para provocar cortes na continuidade da floresta, e faixas limpas, junto às rodovias, ferrovias e povoações, melhora as hipóteses de combate mas não é solução eficaz isoladamente. Os incêndios propagam-se com grande facilidade quando as condições climatéricas são propícias, com altas temperaturas, ventos e baixa humidade, nas doses favoráveis a estes desastres ambientais. Os incêndios podem propagar-se à distância, pelo que a existência de aceiros ou estradas não é suficiente, como se comprova nas auto-estradas, onde o fogo consegue saltar de um lado para o outro.
As faixas limpas de manto vegetal são soluções com custos elevados que alguns especialistas contabilizam em mais de cem euros por hectare ou 25€ se fossem unicamente limpas de 4 em 4 anos. Limpar um hectare de floresta pode custar de 500 a 1.000 euros, segundo números divulgados pela Associação Nacional de Empresas Florestais. Os incêndios originam cortes de 300 milhões de euros anuais no valor da floresta.
Os proprietários só poderão cuidar da floresta se ela for lucrativa, se compensar a despesa realizada com a sua exploração. Com a actual dimensão da propriedade é um objectivo impossível para a maioria dos donos.
A indústria do pinheiro e do eucalipto tem de remunerar melhor os produtores. Portugal importa 30% da matéria-prima necessária a alimentar a indústria da fileira do pinheiro. Os últimos levantamentos ainda indicam que a área de pinheiro bravo e manso, embora em queda, é a maior área na mancha florestal nacional, seguida do eucalipto e sobro. Na área florestal o sobreiro aumentou a sua área desde os anos oitenta. O eucalipto teve um ligeiro recuo tal como a azinheira e o carvalho, a quarta e quinta espécies em termos de área. O pinheiro tem sofrido uma quebra brutal. Nos últimos dez anos a área reduziu-se 266 mil hectares pondo em causa a fileira industrial que lhe está associada. Esta queda deve-se ao facto de ser uma árvore com menor capacidade de regenerar o povoamento após os incêndios, ao contrário do eucalipto.
Vivemos numa sociedade de mercado e os produtores precisam de ser pagos com valores adequados, sob pena de se desinteressarem e não cuidarem da mata.
Uma boa gestão da floresta exige escala e dimensão. O mesmo se passa com os solos de vocação agrícola, também de reduzida dimensão em muitas regiões de Portugal, impedindo um aproveitamento adequado para uma agricultura sustentável e lucrativa.
Ao aplicar imposto, com base na rentabilidade média expectável, sobre os detentores da terra, estes, ou a rentabilizam adequadamente, de acordo com a sua aptidão, ou sentirão que estão a ter prejuízo. Neste caso sentirão maior disponibilidade para ceder em aluguer ou vender, permitindo o emparcelamento, que possibilitará criar propriedades com dimensão adequada à exploração agrícola ou florestal, sempre numa lógica de uso múltiplo.
O Estado, ao avaliar as propriedades pelo seu valor potencial, deverá assumir que adquire as terras pelo valor que atribui. Se os proprietários desejarem desfazer-se da posse devem poder vender a privados mas o Estado deve garantir um preço mínimo, justo. Esta é uma posição séria, de um Estado bem-intencionado, que respeita a propriedade e a vontade dos donos.
Não é vocação do Estado, nem do Ministério da Agricultura e Florestas, gerir estas propriedades. Depois de promover o emparcelamento deve abrir concursos públicos para entrega da terra à gestão privada por períodos longos, que permitam o uso adequado, tendo em conta a duração necessária à rentabilização das explorações.
Nestes concursos deve-se privilegiar as pequenas e médias entidades, de proximidade, com maior efeito na criação da riqueza local. O terceiro sector, tal como as autarquias locais, podem ter um papel importante na gestão da propriedade florestal, sempre numa lógica de uso múltiplo: turismo de natureza, apicultura, silvopastorícia, caça, pesca, cortiça, pinhão, cogumelos, produção de biomassa e madeira.
No final da década de oitenta tive a possibilidade de sensibilizar o Secretário de Estado do Ambiente, Macário Correia, para se criar um modelo de desenvolvimento integrado para espaços de montanha. Com esse objectivo criou-se um GAT (Gabinete de Apoio Técnico) verde, por semelhança com os GAT’s tradicionais de apoio técnico às autarquias, numa época em que estas tinham poucos recursos humanos.
Deixem-me recordar que quando fui eleito presidente de câmara em 1979 não existia na autarquia nenhum funcionário com curso universitário ou de nível superior. Os GAT’s desempenharam um importante papel na consolidação do poder local.
Este GAT verde foi instalado em Miranda do Corvo com o objectivo de estudar e elaborar um plano integrado de valorização e desenvolvimento da Serra da Lousã, numa base intermunicipal, e numa lógica de uso múltiplo do espaço florestal, mato e agrícola, incluindo o aproveitamento turístico das aldeias de xisto e granito existentes na zona.
No que respeita ao aproveitamento das aldeias felicito o trabalho importante da Rede das Aldeias de Xisto no âmbito alargado da região centro.
A Fundação ADFP criou recentemente o Parque Biológico da Serra da Lousã, um investimento âncora para outros projectos turísticos.
Associa a biofilia e a protecção da natureza à promoção da coesão social. Trata-se de um projecto de intervenção social visando criar postos de trabalho e terapias ocupacionais para pessoas vítimas de deficiência ou doença mental.
Este parque possui alguns serviços culturais e um zoo representativo da vida selvagem nacional.
Vinte anos depois deste GAT Verde, algo se está a fazer na Serra da Lousã por iniciativa autárquica e de alguns privados, numa lógica mais local e municipal, devido à reduzida intervenção da administração central e regional.
Tenho a ideia que a administração regional, a nível das Comissões de Coordenação Regional, têm vindo a perder intervenção, devido ao facto de actuarem como “caseiros” do Terreiro do Paço, com pouca iniciativa regional e nenhuma capacidade crítica relativamente ao centralismo lisboeta. O conhecimento que tenho da CCR Centro é de enorme indigência no que respeita a incentivar o desenvolvimento regional e grave perda de eficácia, quando comparado com o papel importante que chegou a desempenhar nos anos oitenta e início de noventa.
Há estudos que apontam para que a floresta tenha um valor estimado em 7.750 milhões de euros. A fileira renderá 5 mil milhões de euros por ano. As exportações associadas à floresta representam 15% do total das exportações. Este valor provém fundamentalmente dos produtos transformados como pasta de papel e derivados da cortiça.
Como Presidente de Câmara acompanhei algumas destas questões com intensidade. No final da década de oitenta colaborei com o Governo e com o Secretário de Estado Ribeiro da Silva na criação do CBE, Centro da Biomassa para a Energia. Este centro, importante para concentrar e desenvolver investigação científica e tecnológica ligada à biomassa, e não só à floresta, está localizado em Miranda do Corvo. Infelizmente políticos de vistas curtas têm vindo a desaproveitá-lo o que mostra o pouco investimento que os últimos governos têm dedicado à matéria, estratégica para o país.
O aproveitamento do solo com aptidão agrícola também deve ser valorizado com medidas eficazes de emparcelamento ou aquisição da propriedade pelo Estado. É evidente que o governo não deve gerir directamente a floresta, devendo entregar a terra, por concurso, a empresas lucrativas ou mesmo ao terceiro sector.
É interessante perceber o desprezo a que se votou o cooperativismo por razões políticas, relacionadas com a reforma agrária no Alentejo. Uma coisa foi a loucura das nacionalizações durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso) após o 25/4 e outra perceber que se deve estimular o cooperativismo para desenvolver o mundo rural.
Os proprietários têm todo o direito de voluntariamente promover o associativismo ou outras formas de gestão, incluindo as ZIF, Zonas de Intervenção Florestal, que até ao momento quase não saíram do papel.
O desenvolvimento do país e a necessidade de produzir de forma eficaz, aproveitando os solos florestais ou agrícolas, não pode ficar dependente de boas intenções ou voluntarismos avulsos.
John Stuart Mill, talvez o maior pensador liberal de todos os tempos, escreveu: “A sociedade tem o pleno direito de revogar ou alterar qualquer particular direito de propriedade, que com base numa adequada reflexão considere obstar ao bem público.” Sou um defensor intransigente da propriedade privada, sem a qual não pode haver liberdade, nem democracia. Não sou um fundamentalista que ponha o direito à propriedade acima do interesse público. Urge criar mecanismos capazes de colocar a propriedade privada a funcionar de maneira mas profícua, que sirva o seu dono, mas que não prejudique o interesse colectivo.
Um país tem um património limitado de terras aráveis, agricultáveis ou destinados a floresta. Não podemos aceitar que, por absurdo, todos os proprietários se juntassem para desprezar a terra, impedindo o povo de a trabalhar e colocando o país na obrigação de adquirir todos os bens ao exterior.
Todos os bens finitos de um país têm de ser devidamente rentabilizados.
É necessário que, num curto espaço de tempo, “para amanhã”, os serviços de Finanças, do Ministério da Agricultura e as autarquias, elaborem cadastro dos terrenos, atribuindo aos proprietários taxas adequadas à potencial rentabilidade dos solos.
Este é um processo que não pode continuar adiado. É inaceitável que não se saiba quem são os proprietários dos terrenos tal como seria impensável permitir que as viaturas automóveis circulassem sem matrícula. Até os cães já foram obrigados a ter chips.
Num assunto tão importante para o ambiente e para a economia nacional não se percebe como se continua sem proceder ao cadastro da propriedade. Errado será tentar elaborar este serviço através de um concurso nacional em vez de aproveitar os discursos locais.
Aos proprietários, com absoluto respeito pela propriedade, cabe optar: agricultar ou florestar o solo, rentabilizar, mantê-lo abandonado para seu deleite, ceder a exploração a terceiros, juntar-se a outros proprietários, vender a privados ou ao Estado. Optando por manter a posse terá de pagar imposto de acordo com o potencial rendimento da propriedade.
Em 1989, na qualidade de Presidente de Câmara, dinamizei uma experiência que assentava na criação de uma sociedade anónima, em que as acções seriam subscritas por investidores institucionais como a Câmara Municipal, uma empresa pública do sector da pasta de papel, entidades do terceiro sector e proprietários interessados em manter a posse da propriedade mas que não tinham condições para a gestão directa.
As acções desta sociedade anónima seriam subscritas por capital e pelos direitos de cedência das propriedades bem como a valorização das alfaias e instalações. Os direitos de gestão destas propriedades transferidos para a sociedade anónima seriam avaliados e convertidos em acções.
Infelizmente a ideia acabou por não ser concretizada. Ao sair da Câmara para assumir as funções de Governador Civil, os meus sucessores na autarquia não acreditaram no projecto ou não quiseram incomodar-se a dinamizar a criação da sociedade.
Há muitos países, aparentemente com piores condições que o nosso, que são exemplo de sucesso no que respeita a rentabilização dos seus solos. É o caso da Nova Zelândia, que desenvolveu uma enorme capacidade de produção de pequenos ruminantes, invadindo o mundo inteiro com carne, leite e derivados.
Embora ultraperiféricos e longínquos, têm a capacidade de invadir a Europa com os seus produtos, mantendo uma agricultura extremamente desenvolvida e competitiva.
Não podemos olhar para o nosso território, para o nosso interior, como um peso morto na nossa economia. O futuro exige que se encare como um mundo de oportunidades que temos de descobrir e valorizar.
Nos últimos anos o Governo decidiu desprezar as potencialidades turísticas do território para concentrar os apoios nos grandes projectos, na maioria no litoral. São os celebres PIN,s, criados algumas vezes com violação das regras ambientais e para os quais se abriram auto-estradas de facilidades, eliminando as habituais burocracias.
Precisamos de grandes projectos, de mais “auto-europas”, mas o país não pode deixar de criar pequenos empreendimentos, na indústria ou no turismo, na agricultura ou no comércio, nas florestas, pescas ou serviços, que criem emprego e evitem o despovoamento de Portugal.
Recordo-me de ao visitar a Noruega circular pelo seu interior e ser confrontado com vigilantes que cobravam bilhete para percorrer essas zonas mais naturais, de montanha, no interior. Estas portagens geram empregos e dissuadem atitudes criminosas como incendiários. No meio das áreas florestais e de montanha aparecem aldeias turísticas, pequenos hotéis e parques de campismo, que permitem que as pessoas gozem e desfrutem da natureza.
Esta capacidade de atrair pessoas para o meio da natureza garante empregos e permite associar todo um amplo aproveitamento económico, com rentabilização do seu uso múltiplo.
Portugal não pode limitar-se a apostar nas praias e no litoral. Bons projectos turísticos não se confinam ao golfe. Possuímos uma gastronomia privilegiada, verdadeiramente única a nível mundial e um território que não podemos continuar a desperdiçar.
Estas iniciativas criarão postos de trabalho que permitirão travar o actual êxodo e facilitar o retorno de pessoas das cidades para o campo.

Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

julho 16, 2012

Mudança de hora - respostas do Serviço de Informação ao Cidadão do Parlamento Europeu

Em 27 de Junho enviei umas perguntas ao Serviço de Informação ao Cidadão do Parlamento Europeu.
Recebi as (não) respostas:

"Exmo. Senhor Moura,
A Unidade «Serviço de Informação aos Cidadãos» do Parlamento Europeu (PE) vem por este modo acusar a recepção do seu correio electrónico relativo à mudança de hora.
Esta Unidade é um serviço administrativo do PE destinado a proporcionar informação sobre a organização, actividades e competências desta instituição da União Europeia (UE).
Neste sentido, indico-lhe que os documentos das instituições da UE que se referem à Directiva 2000/84/CE respeitante às disposições relativas à hora de Verão podem ser consultados através da seguinte ficha de procedimento do Observatório Legislativo do PE:
http://www.europarl.europa.eu/oeil/popups/ficheprocedure.do?reference=2000/0140(COD)&l=en
Na secção "Documentation gateway - European Commission", encontrará a Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu e ao Comité Económico e Social Europeu sobre esta Directiva (referência: COM(2007)0739). Também pode aceder directamente a este documento através da seguinte direcção electrónica:
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2007:0739:FIN:PT:PDF
Por outro lado, informo-lhe que a Comissão Europeia dispõe de um guia de contactos por actividades das suas Direcções Gerais, assim como outras informações de contacto. Acederá a este guia através da seguinte direcção electrónica:
http://ec.europa.eu/contact/index_pt.htm
Pode também visitar o portal do serviço "Europe Direct" da Comissão Europeia mediante o seguinte link:
http://europa.eu/europedirect/index_pt.htm
Com os meus melhores cumprimentos,
Carlos Lázaro Mazorriaga
Serviço de Informação dos Cidadãos
Parlamento Europeu"

Bem... lá vou ter que ir estudar...
Há tanto tempo que ando nisto que já mereço umas 5 licenciaturas honoris causa...