maio 26, 2007

PT que os... (2)

Chamada anónima.
Normalmente não atendo, mas hoje foi uma excepção:
- Bom dia, daqui é a PT Comunicações, fala Xxxxxx Yyyyyy. Posso falar com o senhor João Paulo Calheiros Proença de Moura?
- Qual é o assunto?
- Posso falar com o senhor João Paulo Calheiros Proença de Moura?
- É esse o assunto?!
- É para lhe falar sobre Planos de Preços.
- Sim? Não precisa. Eu conheço... e já tenho um Plano de Preços.
- E que Plano de Preços tem?
- A senhora está-me a ligar da PT e não sabe que Plano de Preços eu tenho?!
- Não.
- Então vá estudar a lição e depois telefone!
E desliguei.

Razão tem um amigo meu, que quando atende estas chamadas pede para aguardar porque vai chamar o senhor Aaaaaaa Bbbbbbbbbbbb (ele próprio) e deixa o telefone em cima da mesa durante uns bons minutos, até do lado de lá se cansarem e desligarem a chamada.

Outro amigo meu prefere pedir a quem lhe liga: «Olhe, agora não posso atender, mas dê-me o seu número de telefone de casa e eu ligo-lhe logo que possa».

TV Cabo e telefone por internet

Já aderiram à campanha da TV Cabo para um telefone por internet? "Por apenas 9,99€/mês e sem qualquer custo adicional, pode realizar chamadas ilimitadas para a rede fixa nacional."
Achei uma maravilha, mas estranhei esta concorrência à PT, sendo ambas as empresas do mesmo grupo.
Pois é... mas as chamadas para as redes móveis são a € 0,25 por minuto, muito mais que na PT, em que custam € 0,1331 no primeiro minuto e até € 0,2240 nos seguintes.
Ou seja, façam bem as contas, já que hoje em dia um peso significativo das chamadas é para telemóveis e esta oferta, que parece à primeira vista uma excelente opção, pode não compensar. No meu caso, não compensa.

PT que os...

Como decerto toda a gente que subscrevia o Plano de Preços PT Noites 21h-9h, com a última factura recebi um folheto em que a PT informava que esse plano passava a ser gratuito. Finalmente via algo de concreto dos anúncios dos Gato Fedorento!
Óptimo? Não, porque na factura (eu e a minha mania de verificar tudo) estava de facto esse Plano com preço 0 €... mas um outro Plano PT Noites 19h-21h activado... e debitado. Reclamei para a PT. Ficaram de cancelar esse serviço que não requisitei e recebi uma carta a informar-me que me creditariam o valor entretanto debitado "por motivos meramente comerciais". Eis a minha resposta, que espero seja útil para quem tem uma situação idêntica:

"Estimado(a) fornecedor(a),

Agradeço a vossa carta 4605PP239443570/NEG25455809/DSPV/GRN de 5/5/2007 em que me informam que irão creditar o valor indevidamente facturado do Plano PT Noites 19h-21h.

Eu poderia ficar razoavelmente satisfeito, depois da surpresa agradável que tive em saber que o Plano PT Noites 21h-9h, que eu subscrevo há já algum tempo, passava a ser gratuito... e da surpresa desagradável e revoltante de verificar na factura que a PT me passou a debitar o Plano PT Noites 19h-21h, por sua iniciativa e sem qualquer autorização da minha parte.

Mas a PT borrou a pintura toda quando me escreveu que faz este crédito "por motivos meramente comerciais".
Motivos meramente comerciais?! Então a PT acha-se no direito de me inscrever num plano de preços sem minha autorização e ainda acha que isso é uma atitude comercial?! Nem sequer me informa desse facto e ainda acha que isso é uma atitude comercial?! Não se preocupa em saber se está a fazer algo que se adequa aos interesses do cliente e ainda acha que isso é uma atitude comercial?! Ninguém na PT pensou que entre as 19h e as 21h o cliente pode nem sequer estar em casa ou ser hora de jantar, pelo que nem haveria oportunidade de fazer chamadas grátis... pagando este Plano, e ainda acha que isso é uma atitude comercial?!

Em nome de todos os clientes que poderão não ter estado atentos a este vosso abuso, peço-vos que comuniquem esta situação a todos os clientes a quem fizeram o mesmo que me fizeram a mim. Sob risco de a PT ficar completamente descredibilizada com esta atitude. O mal já está feito. No meu caso pessoal, irão corrigi-lo com um crédito na próxima factura, como dizem e espero. Mas revolta-me pensar que tenham feito isto a outros clientes que não tenham reparado e, por isso, não reclamaram.

Cumprimentos,
Paulo Moura"

Responderam com um pedido de desculpas pelo teor da primeira carta. É muito pouco, tendo em conta que deveriam, depois da asneira feita, corrigi-la para toda a gente.

maio 12, 2007

Trutas regionalistas

Imagem: Trutalcoa

Foi uma surpresa muito agradável ver a minha segunda «carta de trás da serra» publicada no blog «Regionalização», cujo mote é «Descentralização - um imperativo nacional». As trutas do Côa e o pessoal de Caria agradecem. Ah! E eu também... mesmo não pescando nada...

maio 05, 2007

A minha segunda carta de trás da Serra na revista Perspectiva


Olá,

Não me respondeste à minha primeira carta, mas eu compreendo: os afazeres aí pela capital não deixam muito tempo livre para as coisas boas da vida.
A propósito, no domingo fui à pesca da truta no rio Côa, com a rapaziada do costume. Que pena não poderes ir! Como te deves recordar, para as nossas mulheres é um alívio, que ficam livres de nós durante o dia todo. Elas são as primeiras a querer que a gente vá: "Ide! Ide dar banho às minhocas". E riem umas para as outras, vá-se lá perceber porquê...
Lá fomos, bem de madrugada, para chegarmos ao Côa antes de começar a clarear. Ainda te lembras da delícia que é ver a natureza a acordar? E que pena não ter estado um calor abafado de trovoada ou não ter nevado, que seria ainda melhor. Sabes que nessas alturas as trutas ficam doidas e saem dos buracos nas pedras e raízes do fundo do rio?
Mas não nos estás a ver a contar com a pescaria para almoçarmos, pois não? Nem nós! Os petiscos vêm de casa. À hora em que nos deu fome, só tivemos que apanhar lenha para pôr a carne no grelhador. E o Pintainho, que continua um mestre da culinária, deu-lhe um toque de todas as estrelas do céu. A vinhaça, então, era de estalo. Enquanto o Regador nos relatava "a truta de meio metro" que picou mas conseguiu fugir, o Careca lembrou-se de ti e de como gostarias de estar ali connosco, "mas quis ir para a capital, para junto dos que mandam". O Pintainho, enquanto virava o entrecosto e o pincelava com o seu molho especial, disse o que todos pensávamos: "Isso de mandar é um saco cheio de nada. Quem busca o poder devia vê-lo como deve ser – responsabilidade perante os outros – e não, como é costume, um meio para obter benefícios pessoais". "É mesmo", respondemos em coro. "E ainda há quem defenda a regionalização e que se faça de novo um referendo", admirou-se o Manchinha, enquanto nos desafiava para jogar bolim. O Regador interrompeu a sua saga da truta de setenta centímetros – que fugiu quando já estava a um palmo da margem – para revelar o seu receio que, sem a regionalização, as trutas fossem todas para Lisboa. Imaginas a risada geral?
O Careca voltou a pôr o tema nos carris dos assuntos sérios: "Quem manda não quer perder poder. As regiões provavelmente não serviriam de nada, porque o poder central iria sempre alimentar-se de forma a não perder o seu peso". Mas o Quatro Papos-secos, que até aí tinha estado com a boca cheia, apresentou uma ideia brilhante. Anota aí e apresenta-a aos teus amigos da capital: "Criem regiões administrativas, mas não retalhem o país como estão a pensar. Olhem para Portugal (continente e ilhas) e imaginem uma pizza. Como o Terreiro do Paço é o centro emblemático do poder central, dividam o país em fatias, sendo o centro a pata direita do cavalo da estátua de D. José I, que como sabem é a esquerda, já que a outra está dobrada. Desta forma, cada região terá a sua fatiazinha de poder central... e ninguém se chateia".
Esta teoria do Quatro Papos-secos é tão interessante que até foi com algum pesar que lhe roubámos as trutas que tinha pescado, enquanto dormia a sesta.
Ao fim da tarde, como a faina não deu grande coisa, fizemos o que tínhamos a fazer, para não ouvirmos comentários cínicos sobre os nossos dotes de pescadores: subimos o rio e fomos ao viveiro entre Quadrazais e Vale de Espinho. Aí, foi só pescar o que quisemos, pesar e pagar, já que difícil ali é lançar a cana e não trazer nenhum peixe agarrado.
No carro, de regresso a nossas casas já com o sol posto, o Betes mostrou o seu receio: "Ainda nos descobrem a careca, porque no Côa há a truta arco-íris e estas do viveiro são trutas fário..."
O Quatro Papos-secos desdramatizou: "Informação é poder. Na nossa região, as nossas mulheres nunca poderão saber esses detalhes". E fizemos um voto de silêncio, na qualidade de pescadores.
Bem hajas pelo tempo que dedicaste a esta carta.
E recebe um abraço forte deste que não pesca nada,

Paulo Proença de Moura

Este artigo na revista
Página on-line da revista «Perspectiva»

Nota - na foto que enviei para a revista eu aparecia por trás da serra. Mas devem ter achado que eu sou mais fotogénico que a Serra da Estrela e que eu não poderia ficar em ponto pequenino. Quem adivinhar que zona da serra é esta recebe grátis a «Perspectiva» quando comprar o Público deste sábado: