setembro 29, 2012

crash test...

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Angela Merkel desafia Portugal

A posta que Jesus saiu mais à mãe


A hipótese de Jesus (o Cristo, não o do Benfica) ter sido um homem casado, novamente ressuscitada a partir de um papiro descoberto por uma investigadora de Harvard, Karen King, continua a ser contestada pelo Vaticano.
De resto, a maioria dos entendidos parece privilegiar a hipótese de estarmos perante uma fraude, embora ainda não existam factos científicos consensuais que confirmem ou desmintam o pressuposto.
O Vaticano, tal como muitas "igrejas" empoleiradas na figura desse homem extraordinário da Nazaré (a do Médio Oriente, não a nossa), insiste em rejeitar toda e qualquer prova que possa atribuir a Jesus uma ligação íntima a fêmeas da espécie, revelação que embora não pudesse desmentir o brilhantismo da postura e da determinação desse homem único e mesmo a sua progenitura divina, poderia demolir muitos dos dogmas que baseiam a própria estrutura da Igreja Católica. 

Esta reacção urticária do Vaticano a qualquer espécie de humanização de Jesus, nomeadamente no que concerne a qualquer evidência capaz de beliscar a sua (com ésse maiúsculo, na grafia católica-apostólica-romana) imprescindível virgindade, constitui uma teimosia tão imbecil (pela motivação) quanto compreensível (pela motivação) porque uma versão mais terrena de Cristo deixaria em maus lençóis toda uma interpretação da coisa, mais puritana, menos carnal e sobretudo sem gajas no primeiro plano da hierarquia.
Para mim, falso católico porque baptizado à força antes sequer de saber falar, presumo que precisamente para evitar alguma contestação da minha parte ao ritual, um dos maiores pecados da Igreja Católica passa precisamente pelo mal que fizeram ao mundo quando decidiram afastar as mulheres do palco principal. Muito do que de mau acontece no nosso tempo e no nosso Ocidente cristão deriva da concepção nada imaculada desta construção de um Jesus à medida dos interesses de uns quantos gabirus.
Engolir uma mulher no cenário, mesmo santa, só mesmo com gravidez por obra e graça do Espírito Santo (o dos milagres, não o dos créditos à habitação) podia assumir algum tipo de protagonismo num tempo e num mundo para homens que se queriam à imagem e semelhança de um deus que toda a gente intui ter pila.

Dá-me jeito, admito, porque estou do lado certo da barricada num contexto de hierarquias entre os géneros tal como a Igreja Católica as define na essência e na dimensão prática da sua intervenção. No entanto, custa-me perceber a intrujice na génese desta forma de ver as coisas como me custa a aceitar as respectivas repercussões do ponto de vista menos religioso e mais social. Nesta religião como nas outras, que isto das gajas serem apenas figurantes numa película muito machona interessa imenso às pessoas com pila independentemente do nome pelo qual O chamam...
E por isso não estranho a reacção do Vaticano, a sua descrença veiculada por todos os crentes mais ilustres ao dispor no meio académico, ainda por cima tendo sido uma mulher a dar a cara pelo tal papiro que, sendo genuíno, desmentiria tantos pressupostos que poucas religiões conseguiriam evitar uma autêntica revolução nas suas estruturas.

Dou graças, embora sem saber a quem (com maiúscula, em havendo), por mais esta hipótese de desmistificação de uma importante fonte de bafio e até de injustiça para com o papel que as mulheres devem poder assumir na construção da Igreja que também é a sua.
E acima de tudo por imaginar este mundo livre da canga demoníaca que a relação homem/mulher e o sexo nela implícito têm merecido por parte de quem recusa entender que por detrás do sagrado papel de uma mãe existe o de uma mulher para assumir.

Singela homenagem à defunta


Foto: Shark

setembro 27, 2012

mira...

... é preciso ter lata!
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Discurso de abertura solene das aulas do reitor da Universidade de Coimbra

Discurso de João Gabriel Silva, Reitor da Universidade de Coimbra, durante a cerimónia de Abertura Solene das Aulas 2012/2013.
Por vezes saem da "torre da Universidade" boas ideias, que todos podemos entender e de aplicação concreta.
Um exemplo: "As pessoas não podem continuar a ser a referência principal dos impostos. Taxemos os robôs [que, explicou antes, fazem transacções financeiras aproveitando variações de cotações em micro-segundos], taxemos o dinheiro, libertemos as pessoas".

A ilusão da saída da crise...



Bas van der Schot - ilustração deste artigo da Presseurop

A posta que assim até a anarquia parece solução


Desde o início dos tempos, o critério de selecção dos líderes passou pelo reconhecimento de uma qualquer superioridade num indivíduo que se destacava por algum motivo de entre a multidão. O melhor guerreiro, o melhor caçador ou, em menor escala mas numa tradição que perdurou até aos nossos dias, o melhor comunicador.
Claro que tal como os nossos antepassados deverão ter aprendido às suas custas, o jeito para a comunicação de pouco valia na prática para a gestão muito terra a terra dos interesses de uma tribo ou clã em tempos hostis.
Curiosamente, foi esse o talento que se impôs até aos nossos dias e o rei leão foi substituído pelo bobo papagaio que, como sentimos agora no lombo, fala que é uma maravilha mas quando a coisa dá para o torto sente-se a falta de um rosnar a sério, capaz de espantar hienas e abutres que mesmo em tempo de crise nunca abdicam do seu quinhão.

Depois de ultrapassada a fase das mocas e das lanças e de todo esse arsenal ao dispor dos candidatos à liderança do passado, os que se impunham pela força, a coisa foi evoluindo ao ponto de os chefes deixarem de provar a sua competência no campo de batalha. A esperteza entrou em cena e os líderes começaram a mandar fazer, o que os privou de poderem exibir as suas habilidades, como a sua coragem e até, quando já começavam a soar os canhões, a sua inteligência para lidarem com os imprevistos da governação, depois de entregue a terceiros por delegação de competências a actuação física no terreno mas também boa parte das decisões difíceis a tomar.
A ideia de os líderes serem deuses, o que naturalmente os livrava da tropa, não vingou mas depressa se encontraram outras formas de legitimar a liderança sem provas dadas.
Bastava ser filho do líder anterior. E esse ser filho daquele que o antecedeu. Ficava tudo numa boa, filho de peixe sabe nadar e assim…

Mas afinal não era mesmo nada assim e às tantas os franceses decidiram virar tudo do avesso e entregaram o poder ao povo (pelo menos era essa a intenção), repescando um sistema porreiro que os gregos tinham bolado tempos atrás mas sem grande popularidade à época entre os que gostavam de mandar à chapada, uma tal de Democracia.
De repente, os líderes passaram a ter que se submeter ao sufrágio e aos candidatos deve ter-lhes logo ocorrido: sou um cobardolas, fui um cábula na escola (na altura não havia equivalências e assim…), a única coisa de jeito que sei fazer é dar a volta aos outros com o meu paleio. E agora?
Bom, rodearam-se de uma legião de gente que não possuindo a mesma visibilidade e o mesmo carisma até percebiam daquilo e como cenas tipo o brio, a honra, a dignidade e o amor à Pátria ainda existiam a coisa ia-se fazendo com maior ou menor dificuldade.
Claro que os líderes não tardaram a perceber que aquilo da Democracia não lhes garantia a preservação dos couratos quando metiam o pé na argola e o paleio, com a malta a ir à escola e a alargar os horizontes, não remediava as mentiras, as omissões, os abusos de poder aqui e além. E passaram a incluir no seu séquito uns espiões, uns polícias com mais caparro ou mesmo, nas democracias de fachada, unidades militares de elite para manterem o povo manso como dá jeito para mandar sem problemas, manifestações e outras desordens populares que ficam tão mal nos noticiários.

A república do venha a mim

Depois de acautelada a segurança e a preservação de si e dos seus, os líderes não tardaram a perceber que ao contrário de uma ditadura (que é um conceito muito rígido e que exige uma postura musculada que custa um dinheirão e só dá chatices à pessoa), uma democracia é muito mais flexível em sabendo como ultrapassar os seus melindres.
Se já nem precisavam provar os seus méritos, aos líderes bastava assegurarem a vitória eleitoral para poderem depois implantar nos sítios certos a sua corte, família, compadres, cúmplices e outras pessoas de confiança, legislar de forma ambígua para dar espaço de manobra a muitas interpretações e salvaguardar a impunidade no futuro, ficando este garantido para lá do período transitório de liderança por via de uns favores enquadráveis na zona cinzenta ética e moral (com alçapões populistas, etc.) e sem temor a uma Justiça sem meios e sem mecanismos funcionais para punir em tempo útil alguém do topo e esse topo é feito por uns poucos que controlam milhões com os seus, de caminho abafando as vozes dissonantes pelo controlo de uma Comunicação Social feita refém de coisas comezinhas como a necessidade dos salários por parte de quem a faz.
E esta versão do paraíso, este political dream moderno, acontece nos nossos dias e é tão apetecível que os mais poderosos líderes democráticos do planeta não hesitam em vergar pela força os tolos (sobretudo os de nações cheias de recursos naturais por explorar) que demoram demasiado tempo a perceberem como é que se faz e ameaçam estragarem-lhes o arranjinho.

Este mar de oportunidades para quem alcança o poleiro depois de afastados aos poucos do caminho os entraves como a decência, a lealdade e outras mariquices do género, nem sempre é de pequena vaga, como nas ruas dos países à rasca, primaveras ou quaisquer outras estações, se vê.
Alguns líderes do passado (recente) aprenderam à sua custa que existem limites para a tolerância de um povo para com os abusos de poder, qualquer que seja o regime, e essa lição parece até fácil de assimilar e de levar à prática com uma pitada de patriotismo e de bom senso e sem a desfaçatez de acharem que no tal mar de oportunidades a elite prospera e o povo… nada.
Sem alternativas sérias de poder, as populações desorientadas olham para os seus líderes tão capazes de falar como incapazes de fazer e em águas cada vez mais conturbadas, com a acumulação de temporais a indiciar uma tempestade à escala global, percebem-se entregues à bicharada porque o peixe graúdo insiste numa clássica mas comprovadamente utópica ilusão: a de que na ideia deles vai correr tudo bem.

Porque quem se lixa sempre, e apenas, é o mexilhão.

setembro 26, 2012

abraços...

policiais.
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Não é novidade: o amor existe e aprende-se a fazer-se acontecer

Amor aos primeiros minutos. Logo. Como o amor dum cão. Um cão vai logo ao primeiro que lhe faça uma festa. Vai logo atrás. E logo a seguir, aquele é “o dono” e pronto. Para sempre. Pelo cão será para sempre. Que capacidade de amar! Incrível! Ama logo à primeira. Eu também. Eu também amo logo à primeira (se quiser). Fui assim desde sempre, amo logo à primeira. E sempre amei muito. Tive um excelente mestre: a minha mãe. Especialista em amar. Aprendeu a amar em criança não sendo amada. Uma experiência terrível na origem de uma capacidade incrível de amar com qualidade. A minha mãe sabe mesmo amar. E a mim amou-me sempre muito. Só ela me amou a sério, mas sempre muito e muito bem, sempre o melhor. Ela aprendeu a amar não sendo amada, e eu prossegui com a sua experiência, aprendendo a amar sendo amada. Desde o começo sempre eu me dispus ao amor com toda a gente: pelo gosto que me é espontâneo de amar. E sofri… xi!! Como sofri entregue a este mar de egoísmo cego que por aí afora grassa…

 … sucede que “por sorte”…

O amor é tudo. É só o que importa. Jesus disse-o. Ninguém entendeu nada. Os Beatles insistiram (All you need is love). Ninguém entendeu nada. E eu, entendi agora (só agora), aos quarenta anos, porque fui catapultada por razões desconhecidas para um nível de entendimento diferente, de onde se avista de muito mais alto, mais longe e mais claro. Alcancei a metamorfose. Outra. Não fosse assim, também eu não entenderia nada apesar de tão simples.

Sucede que eu sempre pratiquei o amor muito e o melhor que podia. Não o compreendia, mas sempre o pratiquei muito e o melhor que podia. O amor é tudo. A razão de existirmos. O que nos une ao Universo e à sabedoria reunida por todos. Existimos para amar. E é assim e só assim que aprendemos e evoluímos enquanto pessoas (seres) e isso é a única coisa que conta, que importa. E também é só assim que se cria algo de realmente bem feito, belo, intenso, perfeito: arte. Com amor. Grande, intenso, profundo. Só assim. Por amor a alguém ou a algo (um animal, uma planta, uma paisagem…) A amar para fora. Dando atenção, tempo, conhecendo o outro, a sua essência, o que ele é, a sua verdadeira natureza, conhecendo-o e compreendendo-o a fundo, sendo capaz de pensar com ele, pensar como ele através de uma experiência de vida diferente… (Aprende-se muito a fazer isto.) E depois, depois de o conhecer e tentar compreender (porque compreender a sério - ser capaz de pensar como o outro - é muito trabalhoso e demorado), determinar as suas necessidades e tentar ajudá-lo a obter aquilo de que ele precisa, ou mesmo fornecer-lhe aquilo de que ele precisa, uma palavra (às vezes uma só - só uma - faz a diferença), ou seja, agir no sentido da sua máxima felicidade. Amar é isto.

Aconchegar o outro quando ele tem frio, jardinar para ele as flores de que mais gosta, cozinhar para ele saudável, saboroso, bonito, abraçá-lo se está triste, tranquilizá-lo se está nervoso, pensar nele, estar disponível, escrever-lhe, apreciá-lo, dar-lhe o ombro para chorar, partilhar com ele experiências, estar atento aos seus movimentos, aos seus pensamentos, aos seus sentimentos, aos seus sonhos, às suas palavras, às suas necessidades, conhecê-lo, compreendê-lo, respeitá-lo, perceber os seus gostos, ajudá-lo a solucionar os seus problemas, observar as suas coisas com atenção, com olhos de ver a estética e a ética, conversar com ele, comunicar com ele, rir com ele, dar-lhe prazer… proporcionar-lhe uma experiência o mais positiva possível. Isto é que é amar (para fora). Ir além do egoísmo e do puro instinto animal, do “só eu, só meu”. É assim que o amor “acontece”. É assim a inteligência: ser-se capaz de, sem esforço, ir além do puro instinto animal, egoísta, possessivo, materialista, territorial. Ter a força e a vontade e a persistência necessária para abrir a porta a um novo significado para a existência. A sua razão maior: evoluir para a felicidade.

Aprender a fazer acontecer o verdadeiro amor é algo de extraordinário.

Quando se faz isto, se intenta neste objectivo com este propósito, mesmo que seja só por cinco minutos, o amor acontece. Plint! Acontece! Em diferentes intensidades, mas acontece. Estava distraído o jovem da caixa de supermercado. Completamente ausente. Enquanto ensacava, aproveitando um momento mais favorável, fitei-o e disse-lhe com doçura: “Que grandes pestanas as suas, hein?” (foi sincero) Ele sorriu. Eu sorri. E os nossos olhos brilharam. Pronto. Aconteceu o amor (cinco segundos, mas aconteceu). Os olhos do outro brilham, os nossos também, é o amor que acontece. De parte a parte há um acréscimo de energia positiva. Em intensidades diferentes. Às vezes é muito forte, outras vezes menos. E daqui, se se quiser, se de parte a parte houver vontade, o resto se constrói com tempo e dedicação. Cada qual que decida a quem entregar a maior parte do seu escasso tempo de existência material…

Por amor fiz eu por tornar as minhas palavras mais claras e simples a respeito do mais profundo do meu ser, do mais essencial da minha experiência. E ao fazê-lo assim, por amor, de forma insistente e persistente e o melhor que podia, intentando sempre na perfeição, tentando sempre o mais essencial pelo menor número de palavras, acabei a fazê-lo melhor que nunca. Aprendi a conhecer-me a mim própria e aos outros melhor que nunca e assim, suponho, me foi dada esta graça de ver aquilo que antes, ainda que defronte aos meus olhos, nunca pude ver. Foi assim: em resultado de um insistente exercício de amor ao meu semelhante.
A partir daqui já só me apetece amar de perto qualidade humana.
 
Só (cozinho com amor para, faço as coisas o melhor que posso para, jardino ao gosto de, dedico palavras doces, mimo, penso na pessoa, penso em ajudá-la, em ser-lhe agradável, em compreendê-la, ouvi-la, nas suas necessidades, na sua saúde, em dar-lhe prazer sexual se for o caso, em dar-lhe o tempo de que necessite, fazê-la rir, apreciar o seu amor, ensinar-lhe coisas importantes para ela, partilhar com ela as melhores experiências, fazê-la sentir que para ela existe “todo o tempo do mundo” sempre, etc., etc., etc.) amo qualidade humana. Homo sapiens sapiens que tenham alcançado a proeza de sair do seu casulo de egoísmo. Que tenham ultrapassado a sua fase larvar. Que sejam capazes de ver (qualquer coisa, ao menos). De amar para fora. Quanto mais qualidade humana, mais intensamente (com mais tempo e dedicação) amarei. A partir daqui é critério único.

Só qualidade humana porque estes (atentos, de bom carácter, virados para fora, inteligentes, dedicados, simples, sinceros, generosos, sábios, entendidos em amor,…) também gostam de amar e sabem amar. Há pessoas a quem é um gosto amar. Gosto dessas. São estas a melhor e mais valiosa experiência de todas. Já fui muito mal amada. Muitas vezes. Quase todas. Sei o que é. Justamente, agora aprecio muito ser bem amada. Se não tiver qualidade humana recuso. Em mim o amor é espontâneo. Gosto de amar. Estou sempre pronta a ajudar, a compreender, a tentar agir no sentido do bem estar do outro (mesmo que o não conheça). Em mim é espontâneo. Comigo o amor acontece (com sexo ou sem sexo). E amando aprendo muito. Amar e ser amada faz-me muito feliz. É de tudo o que mais felicidade me dá. E agora, que sou capaz de reconhecer outros “malucos” como eu, a verdadeira qualidade humana, a maior parte do sofrimento está, desde já, ultrapassada. É fantástico!

Este “salto” na capacidade de ver a luz por entre as trevas foi uma dádiva divina. Dos restantes, dos “larvares”… amarei de perto um ou outro que me pareça mais promissor na aprendizagem de amar (para fora)… O que valer a pena (só). O tempo é escasso. Não se deve desperdiçar.
 
 
Disse-me alguém um dia: “o que conta é a obra (material)”. Mas discordo. O que conta é a experiência. A obra fica (ou não, ou desmorona-se), a experiência prossegue.

A experiência prossegue além da obra (material), e até, além desta existência corpórea. Quem não ama a sério (como deve ser), não aprende nada de nada que valha a pena. Não aproveita nada de relevante desta experiência de existir nesta forma. Zombies. Quase todos. Zombies cegos com a mania de que são espertos em incessante luta entre si por conta de “tralhas”. É assim que começam e é assim que na maioria dos casos acabam, infelizes e ignorantes e traídos e abandonados e atirados ao lixo pelos outros “larvares”, ao cabo de, por vezes, quase um século de existência inútil (ou por assim dizer inútil). Exércitos de mal amados e de infelizes dedicados à propagação da ignorância, do sofrimento, da imundície e da destruição da beleza. Que tragédia!

Sexo… para mim tanto faz sexo como sopa. Não gosto que me sirvam “uma merda qualquer”. Gosto de qualidade (em tudo). De amor. E qualidade é amor (de qualidade). 
 
… de resto, para quem seja capaz de alcançar daqui, “parar de amar” quem não o mereça é só ir amar para outro lado que assim se estanca o sofrimento. Depois de começar, o amor já não acaba, mas o sofrimento sim, esse é desnecessário. Por mim, acho que atingi a quota. A partir daqui, de sofrimento é só o mínimo. Farei por isso. E amar muito, muito tempo com muita dedicação, só quem valer muito a pena. Só quem tenha muita qualidade. E de resto… a todos.

O amor é assim: horas e horas e horas de sofrimento, anos e anos de esforço, de absoluta entrega, de meditação profunda, de dedicação extrema, de persistência neurótica, para desenhar esta meia dúzia de palavras de amor ao meu semelhante. Nunca desistir de amar.

A única obra que importa é a da qualidade humana. É esta a experiência que prossegue.

E eis a metamorfose, o princípio de umas novas asas, de uma nova capacidade de voar, o começo de uma nova etapa. A experiência prossegue. Ainda não sei que nome darei à nova Libélula. Talvez Salomé.
 

setembro 25, 2012

impostos e repostos

Pela minha bolinha, por aquilo que tenham de mais sagrado, pela mãezinha que nos pariu, por favorzinho e elevado obséquio, digam-me, esclareçam-me, elucidem-me, auxiliem-me:

- o Estado Português carece desesperada e irremediavelmente de dinheiro vivo, certo?

- os nossos nobilíssimos e distintíssimos e ilustríssimos e relativamente pouco votados representantes governamentais representam o Estado Português, que somos nós todos, certo?

- esses mesmos nobilíssimos e distintíssimos e ilustríssimos representantes, cheínhos de legitimidade democrática e pela força das armas, sempre que necessário, carregam o cidadão com taxas e impostos, directos e indirectos, e portagens e ameaças de mais impostos e de mais taxas e de mais aumentos nas portagens e do Diabo a sete, sonegam, pelo caminho e à mão armada (através das «forças vivas» da nação) o subsídio de férias e o décimo terceiro mês e os abonos de família que até já nem se chamam assim, só para aldrabar o povo e etc, etc., e, ainda, etc., mas tudo a bem da nação ou dos amanhãs que cantam, ainda que os hojes padeçam e chorem e se vergastem, mas porque assim tem de ser e para o eventual e precário futuro longínquo dos nossos tetaranetos, ou pelos bisnetos deles, por força das troikas e de Bruxelas e do Banco Central Europeu e da «política internacional»…, certo?

- perante a inevitabilidade de o mundo rodar num movimento de rotação, logo seguido e simultâneo do de translação, e de termos de recorrer a «instâncias internacionais» que nos cobram couro e cabelo em juros de empréstimos e que só servem para nos afundar mais no pântano da dívida, hipotecando-nos o presente, o futuro e, um destes dias, até o passado, temos, como corolário do que fica dito, de nos endividar junto dos «mercados internacionais», certo?

Ficou, deste modo, mais ou menos bem documentado o estado da crise, à portuguesa? Óptimo!

Então digam-me lá o que é que poderá estar errado neste meu decorrente elementar, simples, ingénuo, idiota – o que quiserem… –  raciocínio:

Porque é que o bom do Estado Português, embora senhor dessa prerrogativa de sacar o cacau, a narta, o pilim, el contado, o mónei, os trocados ao cidadão por todos os modos e feitios, não o faz à mesma mas devolvendo-o mais tarde – digamos cinco, dez anitos… -, pagando um juro baixito – pelo menos mais baixo do que aquele cobrado pelos senhores da troika e dos «mercados internacionais»?

Porque, vamos lá ver, um euro é um euro, qualquer que seja a sua proveniência, certo? Mas já viram o que se poupava em juros com a dívida, em soberania e em seriedade?

E em honestidade para com cada cidadão? Oh-oh… Só isso valeria o trabalho. E, mal por mal, eu e ali o meu vizinho não ficaríamos com tanta sensação de esbulho, de roubo, de sacanagem, de traição à pátria e aos nossos filhos e netos e bisnetos e tetaranetos.

Digam-me, então: há alguma contra-indicação nesta opção?

Isto, claro, é um mero «supônhamos». Mas que há uma data de lógicas da treta que eu não percebo, lá isso é uma grande verdade… E isto parece-me tão elementarmente lógico…!

cavaco...

lembra-me um ex-governador "bancário"...
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A posta sem factura

O aumento em flecha da carga fiscal vai desequilibrar a balança de tal forma para a fuga ao fisco que vamos passar a ter uma economia paralela assimétrica.

A posta que estou a falar para o boneco


Em momentos de crise existem domínios da governação que se tornam patinhos feios ou chegam a eclipsar-se das prioridades de governantes e de governados.
Claro que me dava jeito lançar a pedra seguinte apenas ao Estado e, logo de seguida, ao Governo que confiou num Francisco José Viegas para tornar ainda mais invisível a Cultura que a simples perda de um Ministério próprio não lhes bastou como sinal do que aí vinha.
E também é óbvio que acabarei por recordar os tempos felizes e abastados em que o Ambiente, essa preocupação política tão evidente (e conveniente) quando o dinheiro não falta, existia como algo de que se ouvia falar.
Mas não vou por aí, precisamente porque parte do fenómeno de abandono da Cultura quando a crise aperta e as hierarquias se relevam entre os diferentes Ministérios e Secretarias de Estado é alimentado pela própria percepção (e consequente reacção, ou respectiva ausência) transmitida pela opinião pública.

É, ou dizem que é, normal que as pessoas aceitem como natural o desinvestimento na Cultura quando o dinheiro escasseia para as coisas sem as quais não podemos viver, Saúde, Administração Interna (para não ficarmos como a Grécia, blá blá blá...), Economia (por ser o viveiro de milagres mais à mão) e por aí fora até só restarem as coisas sem as quais se passa bem.
Não tenho tanta certeza, tanta fé nesse critério grunho como seria de esperar. Até porque um ano civil das famosas gorduras atacadas onde mais se amontoam (em boa medida nos tais sectores indispensáveis), bastariam para fornecer energia ao longo de muito tempo para manter vivos projectos que funcionam, numa sociedade decente, como as escolas de formação dos clubes de futebol.

Reparem: a formação dos clubes é uma espécie de seguro de vida para os mesmos. É o único embrião de jogadores, a alternativa à contratação a peso de ouro de vedetas estrangeiras de segundo plano que estrangula as contas das SAD e afunda na decadência as colectividades que as justificam.
Por outro lado, jovens recrutados para a prática desportiva não serão os melhores candidatos aos vícios e comportamentos que o ócio e a falta de perspectivas induzem.
A Cultura cumpre um papel equivalente. São os mais pequenos, instituições e pessoas, os primeiros a perderem quando cortes estéticos (ninharias, no contexto global) se fazem sentir.
Tal como no futebol, sem actividades culturais de âmbito local ou regional devidamente apoiadas e que abram as portas aos mais jovens para um mundo que lhes pode estar vedado por muitas razões, é quase impossível ver nascerem talentos.
Tal como no futebol nenhum craque se notabilizará se jamais puder calçar um par de chuteiras, na Cultura não irão surgir os virtuosos a quem é recusado o contacto com o instrumento ou a arte por descobrir em si.

Depois há a crise, com todas as suas pressões e anseios. E aos mais novos, sem acesso a algo que todos parecemos tomar por supérfluo quando o pilim escasseia, resta o quê para expressarem de forma não violenta tudo aquilo que os revolta no futuro risonho que lhes é negado, dia após dia, neste presente sem alternativas culturais que os ajudem a canalizar tudo para uma qualquer forma de expressão artística?
Enquanto escrevo sei o quanto tudo isto poderá soar fútil, pseudo-intelectual de pacotilha, lírico, o que se queira chamar a quem chame a atenção para estes luxos em tempo de crise, precisamente porque também sei o que é viver num país sem essa fonte de pessoas positivas, esclarecidas e capazes de proporcionarem a uma população enfraquecida alguns momentos de deleite como só a Cultura pode proporcionar.

São vistas muito curtas. E se não lutarmos pela mudança que inverta o estatuto de palhaço rico (ou de parente pobre) com que pintamos quem se dedica ao que, na prática, constitui das mais fortes argamassas para a coesão social, nem podemos adivinhar que parte da nossa identidade essa miopia acabará por aniquilar.

setembro 24, 2012

«Solos: Agricultura, floresta, urbanização» - Jaime Ramos

Precisamos de uma lei de solos onde se estabeleça o bem social da propriedade. Com absoluto respeito pela livre iniciativa e pelo direito à propriedade temos de reconhecer que o solo é um bem finito.
Independentemente do seu uso, floresta, caça ou pastorícia, agricultura ou urbanização/construção, o solo é sempre um bem relativamente escasso, finito, limitado, que não se produz mais. A área do país não aumenta, o solo é o que há.
Um proprietário tem todo o direito de não utilizar nem rentabilizar a sua propriedade. Um proprietário pode ser absentista e desprezar a sua propriedade enquanto que outro a aproveita com o máximo de eficiência.
A lei deve reconhecer que a posse da terra dá ao proprietário o direito a dela usufruir e rentabilizar como bem entender, desde que não prejudique terceiros e respeite as regras de uso do solo. Este direito à propriedade, porque é um bem finito, desigualmente distribuído, deve estar sujeito a pagamento de imposto.
Um indivíduo proprietário de um solo com aptidão florestal pode decidir não o rentabilizar dentro do seu direito à propriedade.
O terreno abandonado aumenta o risco de incêndio. Risco de incêndio superior ao de um terreno bem florestado e adequadamente limpo.
Perante o eclodir de um incêndio no terreno abandonado ninguém defende que o Estado e a comunidade optem pelo deixar arder.
Seria inaceitável não tentar extinguir o incêndio, não só para proteger a propriedade do proprietário absentista, como também impedindo a propagação aos terrenos vizinhos. O proprietário despreza o terreno mas o Estado não pode deixar de pagar todas as estruturas necessárias ao combate dos incêndios.
É legítimo que a propriedade esteja sujeita a um imposto sobre o património calculado com base na rentabilidade potencial do solo. Aquele solo, se bem florestado e rentabilizado, pode ter uma determinada rentabilidade ano sobre o qual o proprietário diligente paga os seus impostos de rendimento. O proprietário absentista deve estar sujeito ao mesmo valor de imposto. A comunidade não tem culpa que obtenha prazer com o facto de dispor de uma propriedade que não usa.
Esse direito de ser dono de uma propriedade, que não usa nem rentabiliza, não o pode isentar de pagar imposto sobre esse património, tendo em consideração a sua potencial rentabilidade.
Estamos a falar de um bem finito de interesse nacional. Nós precisamos de produzir turismo de natureza, caça, floresta, agricultura para reduzir o nosso défice externo. A melhoria da balança externa tem de ser uma prioridade nacional.
Imagine-se por absurdo que todos os donos das terras em Portugal, de vocação agrícola ou florestal, optavam por nada produzir. Esta decisão condenaria o país e todos os residentes a uma dificuldade extra para enfrentar a balança externa, relação entre importações e exportações.
O mesmo se passa com o solo urbanizado. O proprietário de um terreno localizado em zona de construção tem o direito a não o rentabilizar mas não pode ficar isento de imposto.
A autarquia investiu em infra-estruturas e aprovou planos a classificar o solo como tendo aptidão para a construção. O Município constrói vias, ruas, assegura abastecimentos de água, esgotos e electricidade, para que se possa construir naquele terreno. Estas infra-estruturas são pagas pelos impostos de todos e não só pelos proprietários.
São os contribuintes, os munícipes que investem no terreno garantindo as infra-estruturas necessárias à futura construção, valorizando o terreno.
O proprietário passa a possuir, não um terreno florestal ou agrícola, com baixo valor, mas sim um solo valorizado, às vezes hipervalorizado.
Esta mudança de uso, assente em opções políticas muitas vezes tomadas sem critério, de forma perfeitamente discricionária, pode prejudicar uns e beneficiar outros proprietários.
Uma sociedade justa, com regras de equidade, deve assegurar que estas valorizações dos solos, decorrentes de investimentos públicos e não privados, estejam sujeitas a imposto.
O proprietário de um terreno urbanizado por uma autarquia tem o direito a não construir e a mantê-lo abandonado à espera de uma boa oportunidade. Mas este direito não o pode isentar de pagar contributo fiscal, tendo em consideração o valor real, actualizado, do património.
É verdade que se pode cair em exageros com tributações excessivas originadas por valorizações “especulativas” por parte das Finanças.
Nestes casos, sempre que a uma parcela de terreno (seja urbano, rústico, florestal ou agrícola) for atribuído um valor que o proprietário considera excessivo, este deve ter o direito a reclamar e a obrigar a reavaliação da contribuição.
Terminado o processo de reavaliação, se o Estado através das Finanças insistir em atribuir um valor que o dono considera excessivo, o Estado deve ser obrigado a adquirir o solo ou o imóvel pelo valor da avaliação final, se essa for a vontade do proprietário.
Se o Estado avalia um terreno para efeitos de cobrança de impostos tem de assumir que, como pessoa de bem, assegura que esse é o valor real.
A nossa floresta ocupa 38% do território. O restante é terreno de mato ou de agricultura.
Portugal possui mais de 400 mil proprietários florestais. 85% da floresta é privada, 13% são baldios e pouco mais de 2% pertence ao Estado. A maioria dos países europeus é dona de percentagens de áreas florestais muito superiores à nacional. Há zonas do país onde a propriedade média tem uma dimensão inferior a 500 metros quadrados. Não é erro, são metros e não hectares. Cerca de 61% da propriedade tem menos de cinco hectares, área insuficiente para uma gestão eficaz. As empresas produtoras de pasta de papel possuem cerca de 250 mil hectares ou seja 7,7% da área florestal.
Uma política florestal tem de apostar na melhoria produtiva dos povoamentos, com substituição e alteração de espécies, investir na gestão multifuncional com valorização ambiental da floresta e apoiar a modernização das empresas florestais.
A floresta pode ser um mundo de oportunidades desde o turismo de natureza, indústria do mobiliário, apicultura, silvopastorícia, caça, pesca, cortiça, pinhão, cogumelos, produção lenhosa, energia da biomassa, indústria de celulose e construção de habitação em madeira. A floresta contribui para o sequestro efectivo de carbono, fundamental à preservação ambiental, pelo que se deve estudar formas de remunerar os produtores.

Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

setembro 23, 2012

A posta que blasfémia é invocar o nome de qualquer deles em vão


No meu quotidiano não há espaço para Maomé e por isso tenho que confessar o meu profundo estar-me nas tintas para esse, como para outros profetas. Compreendo a importância de um profeta, vivo num país forrado a crucifixos, mas para fazer humor nem me passaria pela cabeça recorrer a tais figuras, tanto pela falta de piada que por norma esse tipo de estatuto implica nas pessoas e nos profetas como pelo respeito que me merecem as crenças dos outros. E também porque o meu conceito de bom senso não abarca os picanços a extremistas, fanáticos e afins.

Contudo, e porque o Marco do Bitaites me informou acerca de mais um sinal de insanidade por parte de um governante de um país tão aliado dos EUA como o CDS do PSD na actual coligação, quando as coisas chegam ao ponto de envolver ataques a embaixadas, assassinatos encomendados e outras formas de intimidação a pessoa sente-se algo forçada a tomar partidos. Nem que seja para não dar abébias à estratégia do medo tão necessária à imagem de força por parte dos gabirus que aproveitam qualquer pretexto para agitarem a turba.
Se o que está em causa é um choque ou mesmo uma guerra de civilizações, mesmo estando a minha a rebentar pelas costuras em variadíssimos aspectos basta-me uma vista de olhos rápida sobre a alternativa e o meu lado da barricada fica definido com enorme clareza.

Sou cristão, mas a minha proximidade ao lado mais praticante da coisa é nula (se exceptuarmos, uns casamentos, uns baptizados e até um ou outro funeral) e a minha ligação ao divino, o nosso ou o deles, jamais bastaria para alimentar o meu empenho em qualquer tipo de cruzada. Até porque não consigo mesmo distinguir as pessoas em função das suas crenças religiosas, excepto quando me deparo com as diferenças mais óbvias das suas opções de vida relativamente às minhas e num contexto de me tentarem impor regras que não aceito nem reconheço nessa condição.
É uma mania comum a muçulmanos e a cristãos, embora estes últimos já não tenham reunidas as condições para a evangelização à bruta nas masmorras e um lote significativo dos primeiros tentem precisamente reuni-las.

Mas estas caldeiradas só têm de religioso o estandarte preferido dos fundamentalistas islâmicos, o nosso Deus não é chamado para o assunto mas sim o líder deste mundo a Este do paraíso (que é para onde vão os mártires deles) mais os judeus em geral e os israelitas em particular.
Nós, ocidentais, não somos todos sunitas ou xiitas. Mas como até bebemos álcool e comemos porco à fartazana e deixamos as miúdas descascarem-se à grande, para além de permitirmos (mesmo sem achar piada) que os criativos debochem com os temas tabu para eles, os radicais aproveitam para juntar tudo no mesmo ramalhete para poderem fazer-se explodir em Madrid, em Londres ou na Pampilhosa e isso constituir uma grande vitória contra os infiéis americanos na mesma.

Afinal não são os deuses que devem estar loucos...

Aquilo é gente chanfrada, nisso acho que até os nascidos em terras muçulmanas mas tão agnósticos como eu concordam. Se os valores ocidentais, ou os excessos que eles permitem, começam a servir de pretexto para crimes (outra designação é eufemismo) praticados ou encorajados em nome de Alá no intuito de nos levarem a, por temor, aceitarmos que definam por nós os limites da liberdade de expressão ou outras temos o caldo entornado. Sejam Alá, Buda ou mesmo o nosso, não há pão para malucos mesmo que isso implique termos que passar revista diária às carruagens do metro ou aceitarmos que os nossos países permaneçam aliados militares de quem possa travar de alguma forma tal ameaça, sem olhar aos danos colaterais (como aliás é apanágio dos terroristas e seus mandantes).

É esse o erro de palmatória dos instigadores destas revoltas populares anti caricaturas ou anti filmes ou anti o raio que os parta a todos: os actos concretizados e as ameaças veladas têm um efeito na opinião pública ocidental que é contrário aos interesses dos próprios, pois reagimos mal à coação e abrimos mais a pestana aos verdadeiros propósitos dos que tentam dividir as tendências, aproveitando o pluralismo que cultivamos e a liberdade que o fomenta, para reinarem as trevas medievais.
Gostamos dos tais valores, mesmo com as suas fraquezas, quem não gosta que não consuma e que nos desampare a loja em matéria de obscurantismo, de intimidação e de censura.
Ninguém pode negar que, embora de inspiração cristã, já demos quanto baste para esse triste peditório...

setembro 21, 2012

conselho de estado

estou curioso... que cadeiras irão ocupar
Raim on Facebook

Aconteceu na Islândia

"A recusa do povo da Islândia a pagar a dívida que as elites abastadas tinham adquirido com a Grã Bretanha e a Holanda gerou muito medo no seio da União Europeia. Prova deste temor foi o absoluto silêncio nos media sobre o que aconteceu. Nesta pequena nação de 320.000 habitantes a voz da classe política burguesa tem sido substituída pela do povo indignado perante tanto abuso de poder e roubo do dinheiro da classe trabalhadora. O mais admirável é que esta guinada na política sócio-económica islandesa aconteceu de uma forma pacífica e irrevogável. Uma autêntica revolução contra o poder que conduziu tantos outros países maiores até a crise atual.
Este processo de democratização da vida política que já dura dois anos é um claro exemplo de como é possível que o povo não pague a crise gerada pelos ricos."

Alguma coisa está podre no reino dos Farilhões

Em Portugal, pelas mãos de sucessivas hordas de vândalos, suevos, alanos, visigodos, ostrogodos, americanos, chineses, abissínios, bosquímanos, trogloditas e outros especialistas em economia e finanças, enveredámos, manifestamente, pelo caminho do surrealismo sofismático, do «tromp-oeil» político, para dar assim uma de francó-culto, em pavilhão de espelhos deformantes, onde já ninguém sabe como é, como foi ou, até, se a verdade foi para o penico, como diria a minha avozinha transmontana, que a terra tem.

Se me quisesse aventurar pelo psicodrama do equilíbrio da balança externa, por exemplo, rapidamente concluiria, em termos de bom senso, que o que Passos Coelho preconiza e de que se vangloria – a diminuição drástica das importações com uma espécie de lógico desenvolvimento comparado das exportações -, mais não reflecte, afinal, do que a contracção violenta a que empresas e particulares se estão a sujeitar pela falta elementar e primordial daquela componente com que se compram os melões.

Ora, de cavadela, em cavadela, que é como quem diz de retracção em retracção, haveremos de chegar ao nirvana em que Portugal não importa nada… mas, se calhar, também já não existe e ninguém se importa com isso. Estaremos, talvez, na fase primordial de cada um plantar a sua couvita – coisa que tenho vindo a preconizar há já algum tempo, aliás – e regressaremos, todos, alegremente, ao estadio do bom selvagem, da aurea mediocritas de que falavam os antigos.

Porque a retracção do tal tecido produtivo que ocorrerá bastando-nos dois ou três anos de «não-importações», no que respeita a matérias-primas e outras minudências, deixará decerto este barco encalhado no lodo do cais, se não me levarem a mal a metáfora.

Entretanto, com a excelência de gestores a que temos direito, como poderemos estranhar a mera sugestão, lançada ontem mesmo para o etéreo azul pelo presidente da EDP, referindo-se à mal-afamada TSU? Pois, a TSU que deixa de ser paga pela empresa, mas que é garantida pelos trabalhadores, se for avante a proposta escabrosa do actual elenco governamental, e que no que à EDP respeita parece rondar os 10 milhões de euros anuais de poupança, poderá ser utilizado para atenuar o tarifário junto do consumidor!!!

Veja-se bem: no limite, menos de dois euros por consumidor, por ano. Eis aqui, seguramente, o Olimpo do neo-liberalismo, já alcandorado ao nível supremo do nonsense.   

É a aplicação do princípio preconizado por Passos Coelho junto de Belmiro de Azevedo para aproveitar os mesmos lucros potenciados pela mesma TSU para baixar o preço dos produtos alimentares na sua rede de supermercados, sugestão que eleva Passos Coelho ao nível de Soviete Supremo desta União das Repúblicas sem Segurança Social (URSS de novo tipo, claro).

Talvez a sugestão nunca veja a luz do dia, como tantos dislates que se avançam sem tento nem bola. Mas o simples e elementar facto de ela ter sido ventilada provoca-me um arrepio pelo espinhaço acima, que todo eu estremeço!   

E – vá lá saber-se porquê… – lá me ocorre aquela conclusão temível e inexorável de um velho de patriarcais barbas segundo a qual o capitalismo evoluiria, necessariamente, para o seu estadio supremo: o capitalismo monopolista de estado, que pressupõe ser o estado não uma emanação de nação e dos cidadãos que a constituem, mas antes o representante dos grandes interesses instalados.

Quanto aos Coelhos e Gaspares e Sócrates e Cavacos, dir-se-á, então, que estão todos no bom caminho para se alcançar esse patamar civilizacional. O que virá depois, eles não o verão. O que mais me chateia é que eu também não…

O desafio dos pontos de interrogação


Seria fácil aceitar qualquer uma das explicações mais ou menos rebuscadas, mais ou menos científicas, para os vários mistérios que envolvem o surgimento das pirâmides de Gizeh. De resto, as respostas em falta criaram terreno fértil para a especulação e a necrópole mais famosa deste planeta começou a surgir no firmamento de alguns ilustres pensadores como a estrela do Norte para as teorias que envolvem gente de fora.
Muito de fora.

Começo por recordar a minha referência ao agnosticismo que pauta um estilo pessoal de abordagem aos imensos mistérios e deuses e outrasparanormalidades que existem ou a malta inventou. Não contem com isenção, sinto-me no direito de pender mais para este ou aquele lado, mas igualmente não esperem certezas absolutas ou convicções firmes.
Até prova em contrário, coisas por provar não fazem nem farão parte das minhas crenças ou fés.
E neste contexto, as Pirâmides só me servem como ponto de partida para raciocínios elementares acerca de tudo quanto se vai sabendo (ou especulando) acerca daquele prodígio tão impressionante que às tantas até começaram a questionar-lhe a autoria.

Sempre que determinada teoria ou hipótese desencadeia reacções de fúria ou de pânico por parte de sumidades ou de instituições fico de imediato de pé atrás, pois a História ensina-nos que essas reacções só acontecem quando as ideias têm pernas para andar e constituem alguma espécie de ameaça para poderes vários e interesses obscuros.
No caso concreto das Pirâmides o simples facto de uma delas ter sido o edifício mais alto do mundo durante mais de quatro mil anos bastaria para, no mínimo, deixar alguém curioso por dar uma vista de olhos nos registos deixados por quem planeou e executou tão brilhante obra da engenharia e da arquitectura.
E é aqui que entra em jogo a minha primeira interrogação: alguém faz acontecer algo que não é superado por mais de quatro milénios, milhares de pessoas esgravatam ao longo do tempo as entranhas dos edifícios e o solo adjacente, encontram múmias, encontram artefactos, encontram tudo menos qualquer referência a como a coisa se fez?

Enquanto uns, mais realistas, se desdobram em cálculos que comprovam possibilidades mecânicas ao alcance dos egípcios da época (mas não possuem qualquer confirmação de corresponderem à realidade do que se passou), outros mais arrojados reparam em coincidências em catadupa que são um facto em si e por isso sustentam ainda melhor as suas teorias que para os outros não passam de fantasias.
Mas a verdade é que ninguém explica, como ninguém pode desmentir, a realidade (a coincidência) do paralelo no alinhamento das três pirâmides principais com o das estrelas no cinturão da constelação de Orion. Tal como surpreende um nadinha a sintonia perfeita das esquinas na base dos monumentos com os pontos cardeais, isto numa altura em que não existiam bússolas. E depois ainda temos a curiosidade de aparecerem estruturas similares num ponto bem distante do planeta, a América Central, quando ainda não havia net para estas coisas se propagarem nem retroescavadoras para a sua concretização.

A ausência de registos acerca daquele milagre nascido no meio do pó, com calhaus acima das duas e até às vinte toneladas trazidos de locais distantes há milhares de anos atrás, é mesmo uma motivação pertinente para tentarmos descobrir o que se passou afinal.
Bem vistas as coisas, as respostas em falta podem desmentir uma caterva de pressupostos e demolir milénios de deturpações.

setembro 20, 2012

«Oração» ajustada

«Oração» que andava a circular pelos e-mails:

"Quando Deus tira algo de seu alcance, Ele não o está punindo, mas apenas abrindo as suas mãos para receber algo melhor. Concentre-se nesta frase: «A vontade de Deus nunca irá levá-lo onde a Graça de Deus não irá protegê-lo».
Alguma coisa boa vai acontecer hoje, algo que tem esperado. Por favor, não quebre! Apenas 27 palavras.
Deus, nosso Pai, CAMINHE pela minha casa e leve embora todas as minhas preocupações e doenças, e POR FAVOR, vigia e cura a minha família em nome de Jesus... AMEM

Esta oração é muito poderosa. Passe a oração para 12 pessoas. Uma benção está vindo na forma de um novo emprego, uma casa, maior auto-estima, o amor, saúde ou financeiramente. Não quebre ou faça perguntas. Este é um teste. Será que Deus está em primeiro lugar na sua vida?
Se assim for, pare o que estiver fazendo e envie a outras pessoas."

A mesma «Oração» depois de uns ajustamentos feitos pelo Antonino:

"Quando PASSOS tira algo DO SEU VENCIMENTO, Ele não o está punindo, mas apenas abrindo A SUA CARTEIRA para receber algo melhor. Concentre-se nesta frase: «A vontade DE PASSOS nunca irá levá-lo onde A TROIKA não POSSA LIXÁ-LO» (ATÉ RIMA).
Alguma coisa MÁ vai acontecer NESTE ANO, algo que NINGUÉM TINHA esperado. Por favor, quebre AS FUÇAS A ESTES GAJOS!
PASSOS, nosso PM, CAMINHE pela minha casa e leve embora todas as minhas POUPANÇAS E CERTIFICADOS DE AFORRO e POR FAVOR, vigia O MEU IRS em nome de VICTOR GASPAR... AMEM

Esta oração é muito poderosa. Passe a oração para 12 pessoas E VAI VÊ-LOS LIXADOS CONSIGO. Uma MALDIÇÃO está vindo na forma de MAIS DESEMPREGO, uma ENTREGA DA casa AO BANCO, maior PREÇO DA GASOLINA, o AUMENTO DO IRS, DA TSU. Não quebre ou faça perguntas. Este é um teste. Será que A TROIKA está em primeiro lugar na sua vida?
Se assim for, pare o que estiver fazendo e envie a outras pessoas.
EU ENVIEI E NÃO QUERO RESPOSTAS... PORQUE JÁ NÃO TENHO PERGUNTAS"

papiros à parte...

esta é a mensagem...
Raim on Facebook

setembro 19, 2012

setembro 18, 2012

A posta noutras possibilidades


Uma das vantagens de ser agnóstico é o espaço de manobra imenso que isso deixa para a especulação. Deus existirá. Ou não. Permanece a interrogação e entretanto podemos dar-nos ao luxo de explorar outras explicações, algumas até mais plausíveis, para questões sempre giras de colocar. De onde vimos, estaremos sós no Universo, coisas assim.
Dentro das questões susceptíveis de colocarmos a nós próprios nos intervalos das aflições mais terra a terra que nos consomem a mente, uma das que mais me fascinam é a hipótese de termos sido aqui plantados por uma civilização mais avançada, extraterrestre, há uns milhares de anos.

A coisa parece não ter pernas para andar, sobretudo se olharmos o assunto na perspectiva de quem observa o comportamento de maluquinhos, de fulanos estranhos com teorias fantasiosas sem qualquer fundamento que não uma fé.
Contudo, sempre que dedico algum tempo a esta temática confronto-me com trabalhos de cientistas eminentes, de pensadores coerentes, de gente que parece equilibrada e, melhor ainda, documentada para sustentar os seus palpites.
Essa corrente, celebrizada anos atrás com um filme baseado num livro de Erich Von Daniken chamado Eram os Deuses Astronautas?, defende que andamos a acreditar em deuses porque era isso que pareciam aos nossos antepassados pré-históricos os seres de outros planetas que por aqui passaram tempos atrás.

Ou seja, embora reste um espaço de manobra para os próprios extraterrestres terem sido obra de Deus fica sempre em aberto a questão de qual o nosso papel em todo esse grande esquema do Universo.
Se me parece irrelevante o esclarecimento acerca dos direitos de autor em matéria de Criação, a hipótese de sermos em boa medida o produto do contacto com civilizações mais avançadas, algo que acontece desde sempre que começámos a povoar o planeta, abre perspectivas muito mais interessantes de explorar.

Claro que estas teorias, como a da existência de Deus, não passam para um agnóstico de hipóteses, de cenários possíveis, e é disso que se trata até prova em contrário.
Todavia, sou um agnóstico mais a tender para o ateu porque deixo-me impressionar mais pelos factos científicos do que pelos milagres da fé.
Isso leva-me a prestar maior atenção a estudos, a raciocínios e até a evidências tangíveis desses fenómenos difíceis de explicar.
E por isso vou tentar partilhar convosco ao longo dos próximos dias alguns desses contrapontos do domínio da cada vez menos Ficção cada vez mais Científica que me deslumbram mais do que o Santo Sudário ou o Santo Graal e para os quais tentarei encontrar uma abordagem ligeira o quanto baste para fornecer apenas algumas pistas para uma outra forma de explicar o macacal marado a que gostamos de chamar Humanidade.

a concertação social...

não é para todos.
Raim on Facebook

setembro 17, 2012

A posta num Estado traidor


Mais por inerência do ofício do que por vontade própria, sou daqueles profissionais a quem é retido o IRS na fonte e infelizmente sou daqueles que têm sempre algo a receber de volta.
Isto implica que o Estado utiliza dinheiro meu durante uns meses, pois é retida sempre uma quantia superior à que o meu rendimento implica tributar. Por mim, tudo bem. A coisa funciona assim há anos e nunca foi minha intenção fugir ao fisco, pela paz de espírito que isso implica mas também porque sempre considerei ser meu dever cumprir com as obrigações fiscais.
Contudo, em tempo de crise cada cêntimo conta. E este ano, pela primeira vez, percebo o que implica ficar refém do Estado quando este entende aplicar a máquina trituradora nos números de contribuinte sem ter em conta que cada um desses números equivale a uma pessoa.

Quando se entra no estranho mundo das dificuldades financeiras a primeira constatação, a primeira emoção associada, é a da vulnerabilidade. Percebemos de imediato o quanto o sistema está pensado apenas em função das pessoas bem sucedidas quando vestimos a pele das excepções que o sistema afinal pretende apenas expurgar, como a um grão de areia no mecanismo. Essa vulnerabilidade sentimo-la perante as multas, as taxas, as penalizações que são aplicadas a quem está numa aflição, agravando ainda mais a situação de quem a viva.
A segunda emoção que nos suscita, o aperto financeiro, é a de impotência. Depressa aprendemos que tudo está feito e pensado no sentido de nos arrastar para becos sem saída ainda mais esconsos do que aquele em que nos sabemos de antemão.

Essa foi uma lição que na repartição de Finanças da minha área de residência reaprendi, agora que percebi que quando o Estado quer o Estado consegue. E para meu galo o Estado quer ficar com o meu reembolso de IRS deste ano.
Não adianta protestar. É a Lei que manda e a Lei diz que o contribuinte tem que esperar, sem prazo marcado, sempre que o Estado entende adiar a devolução do que não lhe pertence de facto.
Calhou-me ser um dos apanhados pela tal máquina trituradora e agora não posso honrar compromissos porque o Estado decidiu não honrar o seu para comigo, com base num expediente legal e na dificuldade de comunicação com quem decide, os todo-poderosos a quem nem mesmo uma chefe de repartição pode colocar uma dúvida pertinente. Apenas o contribuinte, mediante requerimento que provavelmente nenhuma resposta obterá.

É assim que o Estado nos convida a sair do sistema, a preferir as soluções da economia paralela que nos livram de uma despesa cada vez mais elevada e ainda nos poupam estas pequenas traições que em tempo de crise podem implicar o fim da vida normal de uma pessoa, depois de iniciada a espiral de contenciosos e por muito que se tente contrariar a queda.

É assim que o Estado, esse papão, tantas vezes se transforma no verdadeiro problema e raramente numa solução.

setembro 16, 2012

Dupla moeda. (um)A outra Alternativa


...Bastaria quiçá ao robótico Gaspar, que deve andar extremamente confuso, acrescentar ao seu brinquedo, a folhinha Excell, umas colunas com umas quantas variáveis...


O recente e ainda quente dia de manifestação, essencialmente pacífica mas onde a violência esteve a um passo de se generalizar, que Portugal viveu contra as últimas medidas anunciadas pelo Governo e postas em palavras pelo Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho, pôs em evidência que há uma linha clara a não ultrapassar sem que seja a própria democracia a entrar em perigo.
As medidas que o primeiro ministro revelou, a par de um horizonte previsível, nas palavras dele,  de quinze a vinte anos de crescentes sacrifícios, teriam como efeito e de facto a destruição de todo um modelo de vida tal como a conhecemos e que se insere no viver médio das sociedades europeias. Apenas com uma ditadura feroz seria possível reprimir o caos social e obrigar a maior parte da população a viver em condições do Séc. XIX. A folha de salva  ou de alfazema nos sovacos fariam a vez do desorizante, mal menor se considerarmos o banhito regular relegado para o campo do luxo, o preço do petróleo para o candeeiro se ter tornado inacessível e a agravante agora de nem transportes ferroviários se ter ao dispôr.
A contínua lógica implosiva da CP e suas derivadas eufemísticas, pode nos seus efeitos práticos, exemplificar bem o que aconteceu ao País no seu todo após apenas um ano desta governação: menos linhas, menos serviços e cada vez mais dívida, tal e qual como  agora ao a que se chama de Portugal que pôs em mãos estranhas as linhas mestras da sua economia. Bastaria quiçá ao robótico Gaspar, que deve andar extremamente confuso, acrescentar ao seu brinquedo, a folhinha Excell, umas colunas com variáveis extirpadas da CP, - já não vamos mais longe -, para que as suas continhas batessem certo. As continhas, não o País. Estas dar-lhe-iam então a desgraça em que tudo isto ficou, tão diferente dos modelos perfeitos de laboratório universitário onde ele e os seus  semelhantes brincam às economias.
Mas para bater nos ceguinhos, - e eles ou são
ceguinhos ou são perversos, e prefiro chamar-lhes o primeiro-, já basta e nada resolve; há que encontrar uma solução e entre sair do €uro e as que Passos queria levar por diante, esta outra bem pode passar pela criação de nova (velha) moeda. Uma moeda interna para as transacções correntes a par do €uro como moeda de referência e comércio externo. A ideia já foi apresentada por mais de uma vez, mas posta de lado como sendo estapafúrdia. No entanto, os que estavam tão lestos em aplicar medidas  - terríveis - que nunca foram experimentadas, não tiveram uns momentos de humildade inteligente para indagar as consequências da circulação de dupla moeda em locais onde isso de facto acontece.  E na verdade, em muitos locais do mundo, a circulação de várias moedas funciona e funciona muito bem. É aliás o paradigma da lei de Gresham, quando duas moedas circulam em simultâneo, a má moeda "expulsa" a boa ficando ela a circular. Ou seja, a moeda mais forte é poupada. Esta forma de utilizar várias moedas é corrente nas Caraíbas. Dirão alguns de sorriso superior e condescendente, que isso são umas ilhas com pouca expressão e bla bla bla, mas a esses eu respondo-lhes que ilhas somos todos e Portugal no contexto mundial é - apesar da megalomania que os cépticos desta solução deixam transparecer - entre as outras ilhas, com os nossos dez milhões, apenas uma ilhota...
Não é preciso ser génio, nem ser uma eminência académica, para entender o efeito imediato de o Escudo a circular em Portugal a par do Euro, nem esta solução é nova por cá. Portugal usou desta estratégia nas suas ex-colónias. A moeda corrente local era então apenas para uso interno e estavam obrigadas a um câmbio com o Escudo para os comércios com o exterior, mas era eficaz e a economia florescia.
No caso presente, a quarenta anos de distância do último hastear da bandeira em terras ultramarinas, estamos numa situação em que a solução de então pode ser recuperada hoje e com  vantagens económicas, a começar pelo mais importante.  As importações teriam de ser pagas em Euro, logo, aí ficariam resumidas ao essencial e na mesma medida em que o Estado tivesse os Euro ou outra moeda de referência. Toda a distorção de mercado provocada pelos artificiais preços baixos face a uma moeda demasiado forte para a nossa economia, tenderia à correcção natural. Não é possível que comprar uns alhos vindos da China, com todos os custos de transporte e comercialização associados, fique mais barato do que colhê-los no meu quintal mas é isso que tem vindo a acontecer e que tem destruído todo o nosso tecido produtivo, contribuindo fortemente para o desemprego e a dívida ao promover a importação.
Esta tremenda distorção, uma vez implementada a moeda nacional, ficaria de forma natural corrigida.  A necessidade actual da compra de víveres, que é quase toda coberta com produtos importados, passaria progressivamente e de forma rápida a ser coberta pela produção local com os reflexos imediatos na criação de emprego, da circulação de moeda e de cobrança de impostos, com os quais o Estado paga as despesas internas.
A exportação beneficiaria, pela desvalorização da moeda,  de custos mais baixos de produção, sem que isso implicasse uma significativa perda de qualidade de vida dos cidadãos nacionais, presas fáceis da sofreguidão de uma máquina fiscal que, não podendo recorrer da produção e gestão de moeda própria, tem de contar com um mecanísmo de dívida constante ao precisar de importar €uros. Uma outra consequência seria ao nível das poupanças. Tal como no caso do Escudo antes do Euro, muita gente tinha poupanças em moeda forte para se precaver da perda de valor da moeda nacional.
Mas obviamente não há bela sem senão: termos que viver - pelos preços mais elevados - com menos computadores e telemóveis  Ipad's e Iphones, automóveis e plasmas não é agradável, mas leva certamente a um uso mais racional e duradouro dos mesmos, apesar da abertura de espaço para a produção nacional. A circulação de moeda própria levaria no entanto à garantia natural de um nível mínimo de dignidade de vida e isso é como ponto de partida o mais importante, o patamar a partir do qual se conseguem todas as outras coisas.