setembro 30, 2011

a cidade, presumivelmente alemã, onde todos os políticos (que conhecemos) nasceram...


Eu sei que estas generalizações não são nada politicamente correctas e, em boa verdade, há-de haver gente da política e na política que é honesta até à medula, ou mais, ainda. 

Não sei, entretanto, se será este o caso de algum político português, face ao meu conhecimento experimental adquirido ao longo dos mais de 50 anos que levo nesta minha mais recente encarnação enquanto homo (pagador de impostos pouco) sapiens - também, diga-se a propósito,  não sei se já tive outra; mas, enfim... 

Regressando ao cerne da questão e para cultura geral, mão amiga fez-me chegar a possível cidade-mãe de tantas e tantas personalidades que apenas existem para atormentar as nossas vidas, esquecidas que andam do nobre ofício que devia assistir a quem envereda pela vida política, e que aqui vos deixo para possível futuro destino de férias.

Assim a modos como quem vai ao Jardim Zoológico ou aos subterrâneos de Paris para visitar a bicharada. 

setembro 28, 2011

Vejam lá se os mercados estão nervosos

O investidor Alessio Rastani dá uma entrevista assustadoramente franca à BBC deixando os entrevistadores visivelmente abalados com a sua previsão de que os mercados vão cair e que o euro está condenado.
"Prepare-se e aja agora", é o seu grito de alerta.



Comentário do Charlie:
"Toda a entrevista ficou condensada numa frase: «Não são os governos que mandam no mundo, é a Goldman Sachs!»
Ora aí é que está o pomo da questão. É a noção de Poder de facto. Quando os governos desregulamentam os mercados, tal como os tontos do nosso governo actual estão a fazer, o lógico, o evidente, é a tomada do poder por outras entidades. Pois regulamentar o mercado é exercer o poder. Este menino de coro que deu voz ao que se está a passar do lado de lá da barricada, esqueceu-se de dizer o mais importante: pode ganhar-se muuuuuuito dinheiro com as crises, mas o muuuuito dinheiro é apenas muuuuuuiiiito dinheiro e não representa muuuuuita riqueza. Só uma economia saudável produz riqueza, riqueza de facto e não muuuuito dinheiro. Só uma economia saudável produz o mais importante para o viver em sociedade: harmonia. E a harmonia, é como se sabe o fundamental em qualquer complexo organizado. A harmonia está presente em todo o nosso viver, e mesmos as rupturas, são degraus na reorganização da harmonia. O universo rege-se pelo equilíbrio harmónico, matemático, a música é o emergir dessa verdade que nos cerca e que está presente em todos os átomos do nosso corpo. E bem a este propósito, recupero uma frase deste totó: «não se pode deixar crescer um cancro senão ele toma conta de todo o corpo e acaba com ele.»
Perfeito, sublinho e assino por baixo.
Só que ao saltar-lhe a verdade pela boca, errou no alvo: o alvo é ele mais toda a escumalha igual a ele. Eles é que são o cancro. É a eles que os Governos, se cumprissem as suas obrigações, deveriam travar quanto antes! Antes que tomassem conta de todo o corpo.
Passos Coelho e Vítor Gaspar deveriam ouvir atentamente este menino, yupi de olhos predadores brilhantes! Não sei se teriam de novo a sensação de murro no estômago, ou dum aríete a derrubar-lhes as convicções nas sagradas leis da economia desregulada. A minha sensação - e perdoem-me a falta de formação académica nesta área - é a de que nunca se deve entregar o ouro ao bandido para que este o guarde, nem a ovelha ao lobo, com o mesmo fim, nem a couve ao cabrito. Por que raio é que se deve então entregar a economia a gente que não quer saber da economia para nada a não ser na parte que eles podem devorar?
O último vestígio de soberania do Estado são estas empresas públicas que o P.C. anda a vender ao desbarato, nem que sejam, como ele disse, por um euro. O que pensa ele que os investidores espanhóis irão fazer da nossa TAP?! Que vão permitir o continuar das carreiras que concorrem com eles?! Que irão fazer mexer a economia nacional?! O mesmo para as águas ou a PT?...
Mas por que livrinho cagado é que esta gente estudou?
É preciso ser-se formado em economia para termos a noção de que, devido à nossa pequenez, a única forma de nos afirmarmos como Estado credível é sermos determinantes nos sectores estratégicos da nossa economia?
Alguém acredita na bondade dos investidores estrangeiros? Só estes totós neoliberais. O próprio Yupi disse tudo nesta entrevista. Eles não querem saber do país para coisa alguma, nem da economia, nem do bem estar nem da ecologia, nem da felicidade nem da doença, da cultura e educação. Só querem saber de dinheiro, mesmo que esse dinheiro deixe de representar coisas de facto. É realmente uma doença e cito Einstein: «só há duas coisas infinitas, o universo e a estupidez e, mesmo assim... não tenho bem a certeza quanto à primeira...»
Estamos a viver sob a égide da estupidez..."

setembro 20, 2011

acabadinho de receber por email...

Afirma o Sr Ministro das Finanças que o aumento da taxa do IVA para 23% nas facturas do gás e da electricidade é o que se pratica na maioria dos países europeus.

Então comparemos também os SALÁRIOS MÍNIMOS NA EUROPA:

Suíça -               2.916,00€
Luxemburgo -   1.757,56€
Irlanda -           1.653,00€
Bélgica -           1.415,24€
Holanda -         1.400,00€
França -           1.377,70€
Reino Unido -  1.035,00€
Espanha -           748,30€
Portugal -           485,00€


Estarão a brincar connosco???

(Eu cá, nesta mensagem, só não estou de acordo com os três pontos de interrogação. Sou gajo para propor a sua substituição por três pontos de exclamação...)

setembro 19, 2011

Onde está o Jardim?


Ao Jorge Castro... "Olhem, a mim estes fados só me dão para a desgarrada...

a Madeira é o Jardim
como ela não há igual
vive à custa do pilim
deste luso bananal

de governo tão chinfrim
que se cala e mal actua
ri-se de nós o Jardim
e a Madeira flutua

é bicha que deu na fruta
ou fruta que deu na bicha
e o Jardim, truca-truca
lá vai indo e assim nos lixa

cheio de lábia e de léria
que a malta cala e consente
acham-lhe chiste e pilhéria
e ninguém lhe ferra o dente

assim vamos - ai de nós
aos ladrões achando graça
e poucos erguem a voz
contra a desgraça que grassa..."

setembro 16, 2011

As taxas esbulhadoras

O hospital Garcia de Orta (Almada) cobra taxas moderadoras aos utentes de cada vez que um médico especialista troca impressões com um médico assistencial (ou de família) acerca da situação clínica desse utente.

Vamos lá ver se eu percebi: no exercício normal da sua nobre actividade, um especialista carece de um qualquer esclarecimento sobre, por exemplo, a situação clínica do senhor Fulano. Sei lá, qualquer coisa do género: «- Olhe, aquele alto que lhe apareceu nas costas do Fulano e que é para extrair, apareceu-lhe quando?».

Aí, os serviços administrativos do Hospital recebem informação desta questão colocada entre médicos, no exercício rotineiro da sua nobre actividade e debitam, com muita tranquilidade, uma «taxa moderadora» ao utente, que não foi perdido nem achado na conversa.  

Confrontada com a situação, a senhora directora Ana França não só acha normal, como indicia que a coisa já está instituída e é prática corrente. Argumenta que existe cobertura legal para o efeito e remete para legislação que incide sobre a chamada tele-medicina, por aí também não haver presença física do utente.

Bem, não haverá presença física do utente junto do médico, mas há-de havê-la, seguramente, em frente de um computador qualquer, onde o paciente fala com esse médico… Não me parece que se trate da mesma coisa e, se estou a raciocinar bem, a interpretação da senhora directora é falaciosa, manhosa e abusiva.

A institucionalização desta prática revela-se, assim, como uma das inúmeras gritantes barbaridades de esbulho perpetradas sobre o luso cidadão incauto que, ingénuo, julga ainda poder confiar na boa-fé das instituições, que deviam ser faróis de referência ética.

A coisa é tão espantosa que, com muita naturalidade, se admite haver já, naquela instituição hospitalar, o que poderemos chamar «sessões de trabalho» para análise e débito.

O actual senhor ministro, confrontado com a aberração diz ter dúvidas, mas confessa que há diversas instituições com tal prática há mais de uma dezena de anos.

Pois. Eu também acho que andamos todos a ser roubados há uma data de anos. Mas os votos não era suposto destinarem-se a eleger quadrilhas de assaltantes, mas sim governantes.

Espero bem que o senhor ministro esclareça as dúvidas com urgência, providenciando a cessação imediata de tal prática e a  devolução urgente deste esbulho ao cidadão… ainda para mais doente!   

Isto para já nem falar de que a «taxa moderadora», já de si, foi e é uma aberração maquiavélica destinada a combater administrativamente – que é sempre mais fácil – o abuso no recurso aos serviços médicos. Já a sua aplicação a situações de internamento é escabrosa e pornográfica, quanto mais a sua cobrança apenas porque dois médicos exercem, como acima se diz, um procedimento de rotina na sua actividade.

A estes canalhitas, tão ciosos dos proventos alheios e capazes de tais incrementos de desumanidade, não se pode exterminá-los?

setembro 15, 2011

Portugal pouparia três mil milhões por ano com "Eurobonds"...

... dizem os jornais hoje (por exemplo, este e este).
Pois... mas «os mercados» certamente não gostarão que lhes tirem essa fatia de um queijinho tão saboroso...


Vejam o que diz George Soros (investidor afamado que ganhou mil milhões de dólares a apostar na queda da libra em 1992):
"A Europa tem de se preparar para a possibilidade de a Grécia, Portugal e talvez Irlanda entrarem em incumprimento e saírem do euro. (...)
A opinião pública alemã pensa que pode escolher entre apoiar o euro ou abandoná-lo. Isso é um erro. O euro existe e os activos e passivos do sistema financeiro estão tão interligados, na base de uma moeda comum, que um desmoronamento do euro levaria a um colapso além da capacidade das autoridades para o travarem. (...)
Quanto mais tempo a opinião pública alemã demorar a perceber isto, mais pesado será o preço que os alemães e o resto do mundo terão de pagar".

Pagar a quem? A especuladores como... George Soros.

setembro 12, 2011

Estamos entregues aos bichos!

No sentido de revitalizar o mercado de trabalho, o presidente dos EUA apresentou na semana passada um plano que visa injectar 447 mil milhões de dólares (339 mil milhões de euros) na economia e reduzir em 50% os impostos sobre os salários.


Nós vamos pela medicina antiga: aplicam-nos sanguessugas.

setembro 08, 2011

O erro de Gaspar.

A propósito do post sub-apresentado, veio-me às veias o fervilhar dum comentário que segue nas linhas onde em novo post se explana.

Como se diz na minha terra, há argumentos "do caga-cornos"!

"Questionado sobre as razões que o levam a não querer criar uma taxa sobre as maiores fortunas, o primeiro-ministro explicou que isso seria contraproducente numa altura em que Portugal precisa de «atrair capitais»."

Pois... e já não é nada contraproducente criar repulsa a quem trabalha!


A jeito de paráfrase vem-me a propósito do brilhante trabalho de António Damásio- "O erro de Descartes" a citação do erro imperdoável que alguns economistas estabelecem entre "capital" e "meios financeiros", como é o caso da dupla Coelho/Gaspar.
Eles que estão lançados para se desfazer de empresas com larga história na economia do país e que representam um capital próprio, interno, considerável. A inversão em meios financeiros que o P.C. / V.G. pretendem encaixar com a alienação irresponsável destas empresas estruturantes faz lembrar a anedota do cromo que vendeu o carro para comprar uns pneus, ou do outro que vendeu o televisor para comprar um vídeo gravador. Na verdade, a falta de formação nas áreas de história e humanidades deixam a descoberto um défice na área em que se afirmam especialistas. Vítor Gaspar aplica as receitas macro a um país, cujo macro é apenas micro, e onde os conceitos de massa crítica respectivos pertencem a universos incomparáveis.
A alienação de empresas como a TAP, não irá trazer qualquer injecção de dinheiro pelo estímulo e atracção de investidores privados. Na verdade, e sendo o nosso mercado pequeno, o grosso da TAP assim como a EDP etc, é o mercado internacional onde concorre com esses irão adquirir um concorrente a preço de saldo e incorporar as empresas recém adquiridas nas suas, eliminando esse concorrente, podendo repetir-se o caso da Sorefame/Bombardier, de triste memória do período Cavaquista. Por outro lado, a entrada de recursos financeiros, entrada de divisas, por via da operação no estrangeiro irá terminar mal as empresas passem para as mãos de accionistas que não sejam nacionais. Um erro tremendo, de consequeências gravíssimas. Não se pode tratar um pequeno país de 10 milhões pela bitola dum outro de muitas dezenas de milhões. São realidades incomparáveis em todos os aspectos a começar precisamente por um dos é um dos deuses da economia moderna; a expressão numérica do sacrossanto mercado! Isto foi fácil de verificar quando da liberalização do preço do combustível. Em vez de concorrência aberta, um cartel monopolista à vista de toda a gente menos do agente regulador que nunca descobriu qualquer irregularidade no facto de quatro empresas operadoras terem preços coincidentes até à casa da milésima parte do €uro...
Regressando ao tema, e ao medo de taxar os muuuuito ricos: é inegável que estes querem continuar a ser muito ricos e para isso estão dispostos a doar a maior parte das suas fortunas e com isso fazer funcionar o que os mantém muito ricos: o binómio dos fluxos financeiro / capital de que eles, estando no topo da cadeia, beneficiam.
Pode escrever-se preto no branco: a venda dessas empresas, as últimas que nos restam, irão deixar-nos de cuecas numa das mãos e chapéu roto na outra. Figura que Passos Coelho anda já a fazer quando recusa as ofertas de dinheiro dos muito ricos enquanto anda a vender as pratas da casa pelo preço dumas latas de sardinha...

setembro 07, 2011

Uma questão de imagem

Uma questão de imagem

Às vezes, muitas vezes, passo por mulheres visualmente desaproveitadas. Desleixadas, com o penteado errado, o pior dos cortes de jeans, umas calças que nem a minha avó usaria, uma saia que lhe acrescenta dez quilos, uma maquilhagem que lhes dá mais dez anos ou uma postura de quem não gosta de si. Muito provavelmente por solidariedade feminina, se é que este não é um conceito que subsiste apenas na cabeça de tontas como eu, apetece-me aproximar-me e dizer-lhes para não terem medo de ser bonitas, já que as pessoas esteticamente interessantes são mais notadas e contribuem para o que é belo. E isso não é mau, raios, já Platão identificava o Belo com o Bom, nem sequer se trata de uma ideia nova, com os seus 25 séculos.

Este é o primeiro impulso, imediatamente refreado pela necessária racionalidade, imposta pela realidade como ela é. Elas é que a sabem toda: unidas pela mediocridade da e na aparência, fulminam quem se atreve a ir para além dela, espezinhando o intelecto de quem não chegam a conhecer.

Mal de quem, na sociedade grotesca em que vivemos, se atreva a desafiar a mediania que decidiu que ou se tem bom ar ou se brilha intelectualmente. A comunhão dos dois factores é, ao que parece, falta grave e (o mais assustador de tudo) impeditiva de ambições que estão reservadas aos que não acumulam .

Triste mundo, o nosso.

setembro 06, 2011

Como se diz na minha terra, há argumentos "do caga-cornos"!

"Questionado sobre as razões que o levam a não querer criar uma taxa sobre as maiores fortunas, o primeiro-ministro explicou que isso seria contraproducente numa altura em que Portugal precisa de «atrair capitais»."

Pois... e já não é nada contraproducente criar repulsa a quem trabalha!

setembro 05, 2011

Conspiração da teoria

Venho, de há longo tempo a esta parte, defendendo a tese, apenas sustentada em conhecimento empírico e elementar senso comum – o que reconheço sem qualquer rebuço –,  de que a perversidade maior que cruza as sociedades do «mundo ocidental» é o facto de os representantes do estado – seja ele qual for – se terem demitido das suas funções de regulador-mor dos interesses em presença de cada respectiva comunidade abrangida para passarem a actuar como pontas de lança dos interesses privados e, nestes, dos GRANDES interesses privados – os tais muito, mas muito, mesmo, globalizados e globalizantes.

Vem isto à colação pela atitude impávida e serena com que, por exemplo, os nossos lusos (?) governantes, ano após ano, ciclo político após ciclo político, encaram a definição dos preços dos combustíveis por parte de uma empresa oligárquica como é a GALP, e que, em Portugal, assume foros de avassalador e desavergonhado esbulho ao cidadão e às empresas, afinal os tais agentes do chamado tecido produtivo do qual depende a sobrevivência autónoma do País, como universalmente será aceite.

Desde logo, por que o Estado também se arvora não como o referido regulador que devia ser mas como parte interessada no negócio, pois cada aumento imposto pela GALP se traduz no aumento de receitas pelo fisco, na sua consabida destemperada e descontrolada gula.

Como dano colateral, estará por fazer, por exemplo, o estudo do «interesse» em manter uma péssima e caríssima rede de transportes públicos em redor dos grandes centros urbanos, que todos conhecemos e de que padecemos, como forma de alimentar as intermináveis filas de trânsito que mais não são do que um fluxo constante e imparável de dinheiro «barato» a entrar nos cofres do Estado, para além de mais um factor gritante da ineficiência e da ineficácia nacionais.

Depois, manter a taxa mais elevada do IVA muito mais alta que a dos «nuestros hermanos» –   que, por acaso, também são os nossos principais competidores no mercado do mundo, por razões históricas e geográficas – a que também podemos adicionar a energia eléctrica das mais caras da Europa configura, necessariamente, um destino suicidário a que o pobre cidadão e pequeno ou médio empresário não tem como se furtar, a não ser desarvorando rapidamente para outras paragens, enquanto para tal não lhe faltar engenho e arte.

A outra alternativa receio bem que seja a reformulação do varapau e, até, da moca de Rio Maior, para tentar pôr em melhor ordem cabeça e costelas dos governantes que bovinamente nós vamos elegendo, mas que não temos modo, jeito ou maneira de controlar. Mas, isso, são outros «quinhentos»…

Eu sei e quando não sei posso presumir que estas matérias tenham sempre os contornos mais iniciáticos, herméticos ou mesmo obscuros aos quais o comum cidadão não consiga aceder, seja por manifesta incapacidade neuronal ou por sonegação informativa. Mas se admitirmos que a nossa burrice não é, de todo, irremediável e olhando para dados oficiais, em que é que eu reparo?

  1. Os nossos combustíveis, com a excepção de Chipre e da Dinamarca, já têm os preços sem taxa mais elevados da Europa – por exemplo, em Espanha, este preço é de 0,728, enquanto que, em Portugal, é de 0.742;
  2. Por força dos impostos aplicados num e noutro país (Espanha: ISP de 0,346 e IVA de 18%; Portugal: ISP de 0,364 e IVA de 23%) temos um valor referencial para os espanhóis de 1,267/litro, enquanto que o nosso amarinha lá para os1,361/litro.

(Fonte: Direcção Geral de Energia e Geologia - Divisão de Planeamento e Estatística - ESTRUTURA DOS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS NA UE-27 a partir de 2008 – Valores reportados a Julho de 2011.
- http://www.dgge.pt/default.aspx?cn=6891700270037129AAAAAAAA.)    

A este nível ninguém mexe, nem quer mexer, seja em Bruxelas, na Alemanha ou ali em São Bento ou Belém.

Nesta lógica causará alguma estranheza que os iates de luxo paguem o combustível taxado ao mesmo preço que as misérrimas embarcações de pesca, ainda sobreviventes? Nenhuma!

Ou seja, não é só a Madeira que é um Jardim. Ele há Jardins espalhados por aí ao pontapé. Ao pontapé que nós não damos e que lhes e nos faz tanta falta.

NOTA FINAL – Para mim um mistério insolúvel: como é que os postos da GALP além fronteiras conseguem praticar preços idênticos aos da restante Espanha, se o seu custo de produção aparentemente é tão mais elevado? É que são 14 cêntimos de diferença, por litro! Será marquetingue?

O meu problema com as saudades

Em 2007, já lá vão quase quatro anos, escrevi, num curto parágrafo, o que penso sobre elas.
Hoje, tive de lhes voltar.
O povo português reivindica a saudade como uma coisa muito idiomaticamente sua, com peito inchado: trata-se de um conceito sem tradução imediata noutros idiomas e isso, pelos vistos, deveria encher-me, também a mim, de orgulho. Mas não enche. A encher, só de indignação e, vá, de nervoso miudinho.

Vamos por partes e recorramos ao meu caro amigo Houaiss (sempre ao meu lado, nos seus sete volumes), por forma a que saibamos de que estamos a falar ("primeiro, conceptualize-se!", digo eu sempre aos meus alunos):
saudade (s.f.) - sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado pela memória  a situações de privação da presença de alguém ou de algo, de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou à ausência de determinadas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados pela pessoa em causa como um bem desejável. (...)

Ora pronto, cá está.
Choco, desde logo, com a "melancolia", que é um estado de espírito que não se me assoma (ia escrever "que não me assiste" mas já chega de dar protagonismo ao senhor que de uma queda de skate passou a protagonista de um anúncio da Meo!) e que gosto de manter a uma saudável distância, se ele não se importar.

Depois, a incompletude. Confere: por vezes sentimo-nos incompletos, que ninguém o negue. Nem que seja de uma sandocha, ainda que ninguém, no seu perfeito juízo, e salvo se estiver a seguir uma dieta rigorosíssima, possa afirmar ter saudades de uma sandocha. Porquê? Porque é só ir ao frigorífico/bar/café/área de serviço mais próxima e tratar do assunto. Claro que há quem não tenha sequer dinheiro para comer sandochas quando lhe apetece, mas dificilmente se falaria em saudades, neste caso.
Se temos saudades de ir ao cinema, ao teatro, de jantar no restaurante X ou de ver as vistas do sítio Y, vá-se, que diabo!, de outro modo é masoquismo e vontade de estar sempre a falar no mesmo.

(Mais uma vez, exceptuo-me aqui a referir os que, por algum motivo de saúde ou de ordem financeira não podem fazer o que lhes dá na real gana, mesmo porque não é a esses que me reporto, mas tão só aos que acham que as saudades têm as costas tão largas que lá cabe tudo o que a sua inércia não quer solucionar)

E se for saudades de uma pessoa, já me fará menos urticária?!
Hmmm... de todo e muito pelo contrário. Só temos o direito de ter saudades (ou de sentir a falta, dizem os outros povos e muito bem) das pessoas que morreram (odeio o verbo "falecer", temos pena), porque essas não voltam. Aí sim, o peito que se aperte, a memória que se reavive e que as traga para junto de nós nas muitas recordações que temos delas (se não temos, não há do que sentir falta), as lágrimas que se soltem. É estúpido, porque não resolve nada, mas alivia, o que não é de somenos.
Agora... ter saudades de pessoas vivas? Com quem falamos ao telefone e no Facebook e no Skype (vivam as novas tecnologias!) e que podemos rever mal nos dispunhamos a isso? Não me lixem, que eu hoje não estou boa.
É evidente que se pode afirmar, com segurança, e que atire a primeira pedra quem nunca o fez, que todos já dissemos a outrem ter saudades suas, só como quem diz "gosto muito de ti e um dia destes vêmo-nos e vai ser giro". Mas não é de saudade strictu sensu que se trata, porque se fosse, o que se diria é "tenho saudades tuas e vou já ter contigo". Mas isso raramente se faz. Porque dá trabalho, porque temos de alterar planos ou de tirar o rabo do sofá ou de mudar a nossa rotinazinha segura e chata. Vai saí, adiamos o encontro até haver necessidade de chamar as saudades à conversa ainda outra vez, e lá se protela o reencontro (tããããão desejado, já se sabe) por mais uns dias/semanas/meses.

O que é que eu acho da saudade? Mas da saudade mesmo, daquela que aperta o peito e que nos faz sentir de facto incompletos e nos tira a fome (pelo menos aos que sofrem desse mal) e nos deixa macambúzios? Acho que só pode ser um estado transitório. Que se ultrapassa mal se queira.
O resto é encher chouriços, meus amigos. Porque a saudade do passado pede futuro, e é provavelmente porque, nos nossos brandos costumes, preferimos as palavras aos actos, que ficamos num presente que não existe (porque está constantemente a virar passado), presos a ideias e esquecendo que estas não são nada sem concretizações.

Por isso, doravante, e salvo se tiverem planos para estar comigo tão cedo quanto a vontade quiser, não me digam que têm saudades minhas. É que é justamente nestas ocasiões que eu perco a tramontana e não só rosno como chego a morder.

setembro 01, 2011

Nem tudo o que luz é oiro...


Pronto! Depois de muito batalhar a ouvir o que um Miguel Gonçalves disse no programa Prós e Contras e que circula por aí como exemplo de nova militância obreira, acabei de concluir que o rapaz, embora possa até estar imbuído das melhores intenções, não passa, objectivamente, de assumir o papel de vendedor da banha da cobra dos tempos modernos.

E por variadíssima ordem de razões. Desde logo porque parte, sem medo, de uma série de pressupostos que, por muito má sorte nossa, não existem.

Não existe isso de tentar uma solução de vida uma vez e outra e mais outra e outra ainda, sem que todos os dias, enquanto se vai tentando, haja necessidade de comer - o que, por si só, condiciona a abordagem ao «mercado».

Não existe isso de «oferecer a mais-valia que o empresário procura» na traineira que sai para a pesca, pelo menos na perspectiva modernaça que o jovem Miguel lhe quer atribuir, sob pena do jovem em início de laboração na pesca ser lançado borda fora, no máximo, ao segundo dia, pelo mestre.

Não existe isso da criatividade exacerbada e sempre à frente quando se trata de fazer uma recolha diária de lixo municipal ou providenciar a limpeza de dejectos de cão na via pública.

Não existe também essa capacidade de perseverança quando a vergonha e/ou a penúria em casa obrigam um jovem licenciado a inscrever-se como caixa do supermercado, como forma liminar de prover ao sustento do dia-a-dia.

Exemplos disto seriam intermináveis e enfadonhos. Direi, apenas, que o jovem está a falar como um empresário a tratar de um assunto com outro empresário. Um que vende e o outro que compra para revender.

Não está a falar como um dito assalariado, alinhando o jovem Miguel também na conversa fiada ou na quimera – como quiserem - de que isso foi coisa que passou à história – o que é mais banha da cobra - e daqui para a frente somos todos empresários, sendo este, porventura, o maior embuste laboral a que se recorre para escravizar os novos chegados ao mercado de trabalho.

Querem fazer passar, como parece ressaltar do entusiasmo deste «criativo» e destes pretensos iluminados a presunção de que tudo pode evoluir em «outsourcing» - leia-se recurso a empresas externas. E é verdade, mas apenas na vertente do aumento exponencial de lucros, que não no aumento de qualidade do produto vendido, seja ele qual for, desde a energia eléctrica à tal recolha de dejectos de cão. Tampouco no fino acabamento do produto produzido, por ausência de conhecimento e/ou cultura de empresa necessários para tal efeito.

E não, também seguramente, no estabelecimento de um sedimento social onde a palavra futuro possa ter algum sentido.

Porque os «outsourcings» têm de ter, para funcionarem, os tais assalariados que, de «outsourcing» em «outsourcing», a única coisa que têm de certo é nem saberem, afinal, quem é a entidade empregadora, nem com ela estabelecerem vínculos de qualquer ordem – o que é tão conveniente para o tal crescimento exponencial de lucros.

No entanto, interessa saber que este não é um circuito fechado. Nada disso. Tudo isto se passa porque a fusão dos interesses privados com os poderes públicos (ou, melhor e mais correctamente dizendo, a relação de dominação estabelecida, com a mais descarada subserviência a esses interesses por parte dos «governantes») permitiu que o mercado de trabalho se fosse inquinando; que as relações laborais, regidas por legislação e com tribunais específicos, fossem caindo na mais abjecta anarquia onde, necessariamente, manda só quem tem poder e tem esse poder porque tem o dinheiro com que compra as consciências dos seus apaniguados. É a mais descarada lei da selva a que se assiste desde o advento da chamada Revolução Industrial – ainda que seja uma selva urbana.

No fundo e resumindo, tudo isto se passa porque o(s) governo(s) – nacionais e estrangeiros, pois que este crime não tem fronteiras – permite e, até, acarinha, quando não é o próprio mentor, da mais abjecta e ilegal desregulamentação do mercado do trabalho, onde só existem exigências e regras para os empregados, mas nunca para os empregadores, pelo menos para aqueles que constituem o núcleo coeso da pandilha, já que o sistema não lida bem com os marginais, seja qual for a sua categoria ou inserção no mundo produtivo.

Por outro lado, a conversa reiterada das más ou deficientes qualificações dos assalariados portugueses que sempre serviu de argumento para os salários de vergonha por cá praticados, em comparação com os demais países da Europa, onde consta que estamos integrados, desencadeou a obsessão pelos cursos ditos superiores, tendo realizado esse grande feito de termos passado de um país com cerca de 50% de analfabetismo para a proliferação da oferta de cursos superiores – que se contavam, ainda há pouco, por larguíssimas centenas.

E para quê? Ora, em termos muito genéricos e não esquecendo, obviamente, as bolsas de excelência – que, aliás, sempre existiram – resultou tudo isto numa profusão de doutores e engenheiros que não têm onde cair mortos nem vivos, e que são a carne para canhão preferencial para os Belmiros e Amorins aos quais, afinal, sempre dá jeito terem assalariados, mas a quem não dá jeito nenhum, tendo-os, cumprir com eles a legislação laboral existente.

Claro que nesta «lógica concorrencial» da globalização vista pelo prisma dos interesses privados, para que servem as estações de correio nas santas terrinhas? E as maternidades onde só vai parir quem não viva à beira-mar? E o balcãozinho local para fazer o contratozinho de electricidade? E mais isto e mais aquilo que pode conferir alma à interioridade de um país? Não servem para nada a não ser para estorvar, tal como os pobres diabos que por lá vivem e que se esgadanham para dar uma identidade a um país.

Mas o assalariado continua a fazer falta. Só que agora estará numa qualquer sub-cave, com mais dez ou vinte ou quarenta e cinco iguais a ele, a debitarem para um telefone a conversa da treta impessoal com que somos brindados quando tropeçamos com algum engulho nas nossas relações contratuais com tudo o que é empresa de serviços e outras.

E a serem pagos ainda mais miseravelmente do que os pais deles já o foram, com o pequeníssimo e irrelevante senão de que nem protecção laboral têm. Eles que, irremediável e inquestionavelmente, são o patamar mais baixo de uma pirâmide social cada vez com menos escalões intermédios.  

Este Miguel, expedito e fura-vidas – o que nem todos somos, apesar de poder cada um revelar-se, ainda assim, excelente profissional – crê e cai nesse erro absurdo que todos podem ser moldáveis ao padrão que ele defende ou pratica, quais produtos de linha de montagem humana, de que Orwell nos fala e para onde a realidade hodierna nos quer conduzir.

Pelo caminho e quando menos todos os seguidores ingénuos destas mezinhas liberais o esperarem ficará exactamente aquilo que ele alega promover: a criatividade, a diversidade, a riqueza do confronto de ideias e até de atitudes.

Este Miguel é o produto acabado dos conceitos mais refinados da fase actual do capitalismo que tanto artista da nossa praça tenta incutir e defender a martelo com a globalização em riste e a competição contra tudo e contra todos à ilharga, de que alguns colhem benefício contra o interesse de tantos.

Será um sobrevivente, este nosso Miguel, mas apenas até que o «mercado» se sinta farto dele e, então, não será mais do que o produto descartável em que ele próprio se arvorou.

E, se tiver de tratar da próstata aos 66 anos, ou amealhou gordo pecúlio à custa da pobreza de muitos, ou vai ter de viver com a próstata que tiver, pois não haverá estado social que lha ampare.