janeiro 29, 2015

Um José - da grandeza das orelhas à pequenez das opiniões

José Rodrigues dos Santos achou por bem, ao comentar as eleições gregas, cair no demagógico, infantil e imbecilóide vício das generalizações ao proferir estrondosas banalidades, nomeadamente – e cito, do Sol - que «os gregos inventam mil estratagemas para não pagar impostos», ou «por exemplo, muitos dos gregos que passam a pé diante da casa do antigo ministro da Defesa - comprada com o dinheiro dos subornos do negócio dos submarinos - são paralíticos, ou melhor, subornaram um médico para obter uma certidão fraudulenta de deficiência que lhes permite receber mais um subsidiozinho».

Este exercício de tão subjectiva «objectividade» é jornalístico ou demencial?

Por si só, estas generalizações são, como já todos devíamos saber, SEMPRE injustas, bacocas e alarves. O que o JRS teria, também e por extensão, TODA a obrigação de saber enquanto jornalista encartado mas, aparentemente, faz por ignorar. Ignorância ou deliberação?

Nem TODOS os gregos são o que o JRS diz. Dimitris Christoulas, por mero exemplo que me ocorre, não o era. Aliás, teve uma dignidade que o JRS aparentemente nunca terá, pois liminarmente a «ignora». E qualquer UM, cidadão grego, que não seja o que o JRS diz dele, tem pleno direito para considerar o JRS, ele sim, como persona non grata na Grécia e enxotá-lo dali para fora, exemplarmente, por não saber comportar-se enquanto convidado de uma nação anfitriã que ele está a insultar soezmente com tais afirmações espúrias e num execrável exercício de jornalismo (se tal se lhe pode chamar...). 

Imaginemos que um qualquer jornalista grego, depois de conhecer o JRS, afirmasse, aqui em Portugal e ali a meio do Rossio, que os portugueses eram TODOS uns destemperados orelhudos e tinham o tique abstruso de piscar o olho na hora da despedida.

Lá está. Cairia o Carmo e a Trindade e com toda a razão, pois ele há, por aqui, muito boa gente que ostenta umas orelhinhas bem mais mimosas e que nem sequer pestaneja quando enfrenta um interlocutor.

Ou, sem sair da nossa Europa mas mantendo o tom imbecil da generalização, que os alemães são uns nazis, os suecos uns suicidas, os ingleses uns bêbedos, os espanhóis uns toureiros, os italianos uns mafiosos, etc., etc., etc. Será que o JRS tem andado a receber lições de diplomacia com o preclaro ministro Rui Machete?

O que subjaz, na verdade, nas vulgaridades deste repórter de meia tijela é a incapacidade para apurar uma oportunidade de esperança que o povo grego assumiu – goste-se ou não do Syriza, que nem é para aqui chamado -, pois JRS será daqueles agentes da miserável «sociedade do espectáculo» (vide Mario Vargas Llosa) para quem apenas o sangue é notícia e o foguetório é cultura.  

Entre a imbecilidade de Passos Coelho ao falar, com tanta arrogância idiota como estupidez militante, da «criancice» do programa do Syriza, até em abominável e vergonhoso desrespeito pela diplomacia que lhe competiria salvaguardar nas funções que lhe estão cometidas, até este JRS, «jornalista» de pacotilha, que nos deixa assim tão mal representados num crucial momento histórico que o povo grego atravessa, há momentos em que sinto, porventura também estupidamente, uma incomensurável vergonha por andar assim tão mal representado.  

Não se pode enxotá-los?

janeiro 28, 2015

"Há um conjunto de professores que não reúnem condições para o ensino"

O chumbo de 34,3% de professores na prova de avaliação não surpreendeu o presidente do Instituto de Avaliação Educacional (IAVE), Hélder de Sousa que, segundo a comunicação social, terá dito:

"Há um conjunto de professores que não reúnem condições para o ensino"

Eu, se fosse professor, chumbava-o! Onde está a concordância do verbo "reunir" com o sujeito "conjunto", senhor presidente da entidade que avalia os professores?!
Mais um belo exemplo que nos dá o Ministério da Deseducação!

janeiro 26, 2015

a excursão da Covilhã...

que tinha como destino a "capela" de Évora, esteve para ser cancelada.
Raim on Facebook

janeiro 24, 2015

Draghi injecta...

onde lhe faz mais "falta"...
Raim on Facebook

Gonçalo M. Tavares e os anjos

"Sempre a frase de S. Tomás de Aquino, que Maria Filomena Molder comenta num ensaio: «É preferível um anjo e uma pedra do que dois anjos».
Uma interpretação: entre a variedade e o homogéneo, a variedade.
No limite, poder-se-ia dizer que é preferível existirem no mundo um anjo e um demónio do que existirem dois anjos.
O que é estranho é que todos os fundamentalistas poderiam dizer a frase: é preferível dois anjos! Os fundamentalistas querem converter todos os seres humanos em anjos; e são eles que definem o que é um anjo. O desejo de uma sociedade uniforme, é o que devemos recear."

Gonçalo M. Tavares
Excerto do artigo «França generosa. Magnificamente resistente, Paris» na Revista «Visão» de 15 de Janeiro de 2015

janeiro 21, 2015

Paulo Macedo liga...

ao Papa Francisco
Raim on Facebook

Ah! Está explicado....


Para os mais desatentos, não sei se sabem, mas saiu agora mais um relatório da OCDE sobre a escola portuguesa e a conclusão não é animadora. Mas depois tudo se explica:
Sabem que desde 2008 até 2014 (2º governo Sócrates e governo Coelho) foram tomadas 400 medidas que alteraram supostamente coisas anteriores? Diremos: "Fantástico, Melga, as coisas estão am mudar!"
Sabem que dessas 400 medidas 360 não foram nunca avaliadas em termos de eficácia e resultados? Ou seja, 90% das medidas iluminadas foram aplicadas e nada se sabe quanto aos resultados objetivos das mesmas. Subjetivamente sabemos que não surtiram efeitos e os resultados foram piores do que os que já havia, mas isso é apenas uma intuição a partir de uma visão global do que é a escola hoje e do que era então.
Sabem que, em média, foram feitas 75 alterações por ano? 6 por mês? Honestamente, e responsavelmente, pensem se conseguiriam educar os vossos filhos para a cidadania responsável se durante o mês mudassem as regras da casa 6 vezes e em 90% dessas vezes nem sequer olhassem para trás para avaliar o bem ou o mal feito.
Alguns pilares da educação são a responsabilidade, a honestidade, a perseverança e a confiança. Ora, por mais que alunos, pais e professores queiram ser perseverantes e queiram confiar na educação de hoje, não podem, porque os sucessivos ministérios não são responsáveis nem honestos.

o preço a que está o cherne

Será este, porventura, um exercício simplório da mais sórdida inveja. Muito bem! E, já agora, um não menos bacoco exemplo de incompreensão infinita da res publica. O que só cai mal em espírito que se pretende informado q.b. e lúcido outro tanto. 

Será tudo o que quiserem, sem apelo ou negação - e já me está a ocorrer o Ary... - mas tratar assim o cherne, não! O que irão dizer (sentir?) todos os escamados que pululam os sete mares? 

E notem que este humilde cidadão que eu sou, tão escamado, aliás, como as demais espécies piscícolas que vagueiam pelos oceanos, não tem nada contra estes milhares todos de bênçãos que tombam, placidamente, no toutiço deste cherne. Nada disso! Eu só gostaria, mesmo, é que estas bençãos quando nascessem, fossem como o Sol: para todos.   


Enfim, porque ele, o cherne, merece e com a devida vénia, deixo-vos aqui um poemaço do meu amigo cápê, a este (des)propósito:

O CHERNE

OK O`NEILL
Sigamos o Cherne
de Alexandre O`Nell
serviu para alguma coisa
serviu para a Uva
dizer ao Zé
ganharás o poder
meu ex-maoísta
meu sempre em pé
podes dele abusar

e se todos nós
os portugueses
seguíssemos o Cherne
estaríamos refastelados
em Bruxelas
com brutos ordenados
mas um país deserto
país não é
portanto fico
por cá a fazê-lo

prefiro o cherne
de preferência?
É cozê-lo.

cápê in Ó Simpático Vai um Tirinho?

janeiro 20, 2015

«A parceria fatal» - Boaventura Sousa Santos

Transformar os sinais óbvios de declínio em previsões de agressão visa justificar a guerra como defesa. Ora a guerra é altamente lucrativa, devido à superioridade dos EUA na sua condução.

O que está em causa na Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) é simples de entender. Quando dois blocos económicos estão em declínio, o mais poderoso (EUA) procura estabelecer acordos com o menos poderoso (UE) no sentido de travar o seu próprio declínio. Os custos para o menos poderoso são enormes, uma vez que os termos do acordo tendem a privilegiar os interesses do mais poderoso. Se houvesse dúvidas sobre quem ganhará com a parceria em negociação bastará observar a avalancha dos lóbis das grandes empresas multinacionais norte-americanas e a sua fervilhante e intrusiva atividade em Washington, Bruxelas e Estrasburgo. O declínio do poder económico-financeiro dos EUA é cada vez mais evidente.
Depois do 11 de Setembro de 2001, a CIA financiou um projeto chamado Projeto Profecia destinado a prever possíveis novos ataques aos EUA a partir de movimentos financeiros estranhos e de grande envergadura. Sob diferentes formas, esse projeto tem continuado, e um dos seus participantes prevê o próximo crash do sistema financeiro com base nos seguintes sinais: a Rússia e a China, os maiores credores dos EUA, têm vindo a vender os títulos do tesouro e em troca têm vindo a adquirir enormes quantidades de ouro; aqueles dois países estão a usar cada vez mais as suas moedas e não os petrodólares nas transações de petróleo (todos se recordam que Saddam e Kadhafi procuraram usar o euro e o preço que pagaram pela ousadia); finalmente, o FMI (o cavalo de Tróia) prepara-se para que o dólar deixe de ser nos próximos anos a moeda de reserva e seja substituída por uma moeda global, os SDR (special drawing rights).
Segundo os autores do Projeto Profecia tudo isto indica que um ataque aos EUA está próximo e que para este se defender tem de manter os petrodólares a todo o custo, assegurando o acesso privilegiado ao petróleo e ao gás, tem de conter a China e debilitar a Rússia, idealmente provocando a sua desintegração, tipo Jugoslávia. Curiosamente, os "especialistas" que vêem na venda da dívida dos EUA uma atitude hostil por parte de potências agressoras são os mesmos que aconselham os investidores norte-americanos a procederem da igual maneira, isto é, a desfazerem-se dos títulos, a comprar moedas de ouro e a investirem em bens sem os quais os humanos não podem viver: terra, água, alimentos, recursos naturais, energia.
Transformar os sinais óbvios de declínio em previsões de agressão visa justificar a guerra como defesa. Ora a guerra é altamente lucrativa para os EUA, devido à superioridade que têm na sua condução. Acresce que, ao contrário da Europa, a guerra nunca será travada em solo norte--americano, salvo, claro, o caso de guerra nuclear. Um país hegemónico em declínio tende a tornar-se caótico e errático na sua política internacional. Wallerstein refere que os EUA transformaram-se num canhão descontrolado (a loose canon), um poder cujas ações são imprevisíveis, incontroláveis e perigosas para ele próprio e para os seus aliados. No caso vertente, esta política consiste em vincular a Europa às prioridades da TTIP, torná-la mais dependente dos EUA no que respeita à energia (a EDP acaba de fechar os contratos de importação de gás natural dos EUA), envolvê-la na nova guerra fria através do reforço da NATO onde a superioridade militar dos EUA é inequívoca, tão inequívoca quanto a superioridade económica no caso da TTIP.
Ao deixar-se envolver na nova guerra fria, a Europa atua contra os seus interesses económicos e perde a relativa autonomia que tinha construído no plano internacional depois de 1945. Põe a economia europeia ao serviço da política geoestratégica dos EUA, torna-se energeticamente mais dependente dos EUA e dos seus estados satélites e perde a oportunidade de se expandir com a entrada da Turquia na União Europeia. E o mais grave é que esta irracionalidade não é o resultado de um erro da avaliação dos interesses dos europeus. É, muito provavelmente, um ato de sabotagem por parte das elites neoconservadoras europeias no sentido de tornar a Europa mais dependente dos EUA, tanto no plano energético e económico como no plano militar. Por isso, o aprofundamento do envolvimento na NATO e a TTIP são os dois lados da mesma moeda.

Boaventura Sousa Santos

Artigo de opinião na revista «Visão» disponível aqui.

janeiro 19, 2015

O fuzilamento do brasileiro, na Indonésia.



Preferiria não ter a minha segunda estreia neste blog abordando assunto que tomou conta do noticiário nas últimas semanas, precisamente  nos dois últimos dias, com a execução por fuzilamento do brasileiro Marco Archer,  na Indonésia.

Um assunto que me custa muito formar uma opinião.  E ainda não a tenho, em definitivo. Primeiro, como mãe,  sequer cogito a mais remota condição de saber que  um filho será executado, ainda que essa sentença tenha cumprido o devido processo legal. No caso do Marco, a Lei Natural da Vida se encarregou de cumprir o objetivo: pai e mãe morreram antes de passarem por mais esta dor, mas não sem antes terem vivido, com o filho, o cumprimento doloroso dessa punição, desde a prisão, em 2004, pelo tráfico de mais de 13kg de cocaína levados no tubo de sua asa delta. Segundo, sendo Marco Archer também brasileiro (e sem me esquecer de tantos outros nessa mesma espera, de outras nacionalidades), também me angustiei com o final tão triste. Por longos dez anos, à espera de que algo aconteça, que dê uma reviravolta, que o tempo pare, que as decisões mudem, que compreendam  a vida de uma pessoa mais importante do que qualquer lei, enfim. Terceiro, como refém de uma situação, começamos a achar que para alguns crimes como estupro, latrocínio, pedofilia, tráfico de pessoas, tráfico de drogas e tantos outros crimes, considerados hediondos, a pena de morte seria bem-vinda, como forma de mitigar o que as estatísticas nos mostram, dia a dia, no Brasil, com leis tão frágeis nesse sentido, resultando em reincidências e criminosos nas ruas, enquanto cidadãos de bem estão trancados em suas casas, com medo de saírem às ruas.

Um emaranhado de conclusões inconclusivas permeiam nossos pensamentos a respeito do que se passou. A verdade de cada um. Cada qual se fundamentando nos mais exacerbados argumentos e teorias sobre pena de morte. Eu não sei qual a "minha" verdade. Talvez nem ainda a soubesse, mesmo sofrendo na pele o que condenados (?) devem sofrer, merecedores ou não dessa punição. Morreria, sem compreender a verdade dos homens.

A execução do brasileiro, no último sábado, às 15h30 – horário de oficial do Brasil -, causou  diversas reações, entre indignação, tristeza, consternação e até aprovação do cumprimento da pena.  Trouxe à baila grande polarização entre críticos e defensores da pena de morteNesta última, pessoas que certamente têm inúmeros motivos para assim se posicionarem, ou porque já viveram, em família, o drama de filhos mortos, assassinados por traficantes, ou por terem morrido de overdose, vítimas, vítimas, vítimas...ou, simplesmente, apenas por torcerem para o circo pegar.  Até onde chega a falta de razão de um ser humano!?

Não houve pedido de clemência, do Papa à Presidenta Dilma, que sensibilizasse Joko Widodo, presidente da Indonésia empossado em outubro passado. Durante a campanha pela presidência da Indonésia,  prometeu aumentar a repressão ao tráfico de drogas em seu país.  As esperanças de Marco, a partir dali, começaram a ficar duvidosas.

Joko  sentenciou ao fuzilamento, inclusive, um cidadão da indonésia,  além de outros estrangeiros (Brasil, Vietnã, Nigéria, Holanda e Malauí).

Na fila da morte, outro brasileiro, Rodrigo  Gularte, preso em 2004, quando entrou na Indonésia com 6 kg de cocaína escondidos  em pranchas de surfe,  além de uma britânica, de 58 anos, envolvidos com o tráfico de drogas. E essas próximas execuções serão para breve, noticiam.

A Anistia Internacional (AI) classificou como um "retrocesso", o fuzilamento dos 6 condenados, na Indonésia.

Morte pela fogueira, empalamento, guilhotina, garrote, roda, pisoteado por elefante, apedrejamento, desmembramento, escaldamento, funeral vivo, crucificamento, entre outros,  foram os métodos de execução aplicados ao redor do mundo, ao longo da história (alguns ainda são usados), o que reafirma a posição da AII.  Embora a maioria dos países tenha abolido a pena de morte (no Brasil, essa prática é prevista em situações de guerra, no artigo 5º,inciso XLVII da Constituição Federal),  em 78 nações  é uma prática recorrente, seja por meio de injeção letal (China e Estados Unidos), decapitação (Arábia Saudita), enforcamento (Afeganistão e Irã), fuzilamento (Indonésia, Somália e Vietnã). 

Contudo, estudos demonstram, por exemplo, que dos 36 estados americanos que adotam a pena de morte, o índice de assassinatos por 100 mil habitantes é muito maior do que nos outros 14 estados que não condenam à morte. O que demonstra a ineficácia da pena consubstanciada no desrespeito ao ser humano e vulgarização da vida. Outro exemplo, a China, é o país que mais aplica penas de morte no mundo, com cerca de 4.000 mil execuções/ano, e mais da metade desse total, pasmem, é realizado antes de serem revisadas as sentenças, pela Suprema Corte.

Isso vem provar, em contrapartida, que o remédio pedagógico, como forma de inibir a prática de crimes, nem é tão eficaz assim. E nem vou entrar no mérito de quantos inocentes devem ter morrido, sem antes terem provado a inocência, e de quantos pertenceriam às classes sociais desprivilegiadas.  

O que o chamando mundo ocidental tem feito pela “humanização” da pena de morte? Podemos afirmar que houve um avanço, se considerarmos que na Idade Média as execuções eram um espetáculo público, como forma de ferir, também, a moral do indivíduo e de sua família. Com a consolidação da Inquisição na Igreja Católica, no século XVII, as  execuções eram por decapitação, enforcamento ou mortes na fogueira. (Nesse particular, tenho minhas críticas sobre como a Igreja Católica, que deveria, desde sempre, pregar o amor e o perdão, foi capaz de tamanha crueldade).

Avanço nos  métodos empregados, somente?  Com o episódio de Marco Archer, muito se ouviu: “Poderiam condená-lo à prisão perpétua, mas não matar”. Em uma das muitas matérias veiculadas nesses dias,  Marcos teria pedido que o matassem logo, uma vez negados todos os pedidos de clemência.  Como resposta, o diretor da prisão onde se encontrava preso respondera-lhe:  “Adoraria te matar agora, Marcos, mas o homem (presidente) ainda não deu a ordem”. 

Qual é a diferença, afinal, em matar em nome da  lei, matar como faz o grupo Boko Haram, como também no mais recente episódio do Charlie Hebdo,  o açoite do blogueiro saudita, em praça pública e tantos outros?

Poderia trazer à discussão, ainda,  a questão do limite da soberania de um país; o cumprimento às leis; a desproporção da não pena de morte para crimes mais graves; a tentativa em diminuir o número de crimes com a pena de morte, sem resultados plenos;  as falhas nessa negociação do governo brasileiro com o governo da Indonésia;  o nosso vulnerável Judiciário; as cadeias superlotadas; a não ressocialização do preso; a corrupção nos sistemas prisionais; qual a classe social que mais tem sofrido a condenação por pena de morte; e a contradição do governo da Indonésia: o mesmo que condena à morte é o mesmo que pede clemência à Arábia Saudita, para uma cidadã indonésia, por assassinato e roubo de sua empregadora. 

São temas que certamente merecem discussão, e são complexos, di per si.

Porém, finalizo com a posição do ex-ministro francês, Robert Badinter: "Porque nenhum homem é inteiramente responsável, porque nenhuma justiça pode ser absolutamente infalível, a pena de morte é moralmente inaceitável”.

E, talvez, eu tenha, enfim, formado uma opinião a respeito da pena de morte.



janeiro 14, 2015

«Charlie Hebdo: uma reflexão difícil» - Boaventura Sousa Santos

Não estamos perante um choque de civilizações, até porque a cristã tem as mesmas raízes que a islâmica. Estamos perante um choque de fanatismos, mesmo que alguns deles não apareçam como tal por nos serem mais próximos.

O crime hediondo que foi cometido contra os jornalistas e cartoonistas do Charlie Hebdo torna muito difícil uma análise serena do que está envolvido neste ato bárbaro, do seu contexto e seus precedentes e do seu impacto e repercussões futuras. No entanto, esta análise é urgente, sob pena de continuarmos a atear um fogo que amanhã pode atingir as nossas consciências. Eis algumas das pistas para tal análise.

A luta contra o terrorismo, tortura e democracia. Não se podem estabelecer ligações diretas entre a tragédia do Charlie Hebdo e a luta contra o terrorismo que os EUA e seus aliados têm vindo a travar desde o 11 de setembro de 2001. Mas é sabido que a extrema agressividade do Ocidente tem causado a morte de muitos milhares de civis inocentes (quase todos muçulmanos) e tem sujeitado a níveis de tortura de uma violência inacreditável jovens muçulmanos contra os quais as suspeitas são meramente especulativas, como consta do recente relatório presente ao Congresso norte-americano. E também é sabido que muitos jovens islâmicos radicais declaram que a sua radicalização nasceu da revolta contra tanta violência impune. Perante isto, devemos refletir se o caminho para travar a espiral de violência é continuar a seguir as mesmas políticas que a têm alimentado como é agora demasiado patente. A resposta francesa ao ataque mostra que a normalidade constitucional democrática está suspensa e que um estado de sítio não declarado está em vigor, que os criminosos deste tipo, em vez de presos e julgados, devem ser abatidos, que este facto não representa aparentemente nenhuma contradição com os valores ocidentais. Entramos num clima de guerra civil de baixa intensidade. Quem ganha com ela? Certamente não o partido Podemos em Espanha ou o Syriza na Grécia.

A liberdade de expressão. É um bem precioso mas tem limites, e a verdade é que a esmagadora maioria deles são impostos por aqueles que defendem a liberdade sem limites sempre que é a "sua" liberdade a sofrê-los. Exemplos de limites são imensos: se em Inglaterra um manifestante disser que David Cameron tem sangue nas mãos, pode ser preso; em França, as mulheres islâmicas não podem usar o hijab; em 2008 o cartoonista Maurice Siné foi despedido do Charlie Hebdo por ter escrito uma crónica alegadamente antissemita. Isto significa que os limites existem, mas são diferentes para diferentes grupos de interesse. Por exemplo, na América Latina, os grandes media, controlados por famílias oligárquicas e pelo grande capital, são os que mais clamam pela liberdade de expressão sem limites para insultar os governos progressistas e ocultar tudo o que de bom estes governos têm feito pelo bem-estar dos mais pobres. Aparentemente, o Charlie Hebdo não reconhecia limites para insultar os muçulmanos, mesmo que muitos dos cartoons fossem propaganda racista e alimentassem a onda islamofóbica e anti-imigrante que avassala a França e a Europa em geral. Para além de muitos cartoons com o Profeta em poses pornográficas, um deles, bem aproveitado pela extrema-direita, mostrava um conjunto de mulheres muçulmanas grávidas, apresentadas como escravas sexuais do Boko Haram, que, apontando para a barriga, pediam que não lhes fosse retirado o apoio social à gravidez. De um golpe, estigmatizava-se o islão, as mulheres e o Estado social. Ao longo dos anos, a maior comunidade islâmica da Europa foi-se sentindo ofendida por esta linha editorial, mas igualmente foi pronta no seu repúdio deste crime bárbaro. Devemos, pois, refletir sobre as contradições e assimetrias na vida vivida dos valores que cremos serem universais.

Tolerância e "valores ocidentais". O contexto em que o crime ocorreu é dominado por duas correntes de opinião, nenhuma delas favorável à construção de uma Europa inclusiva e intercultural. A mais radical é frontalmente islamofóbica e anti-imigrante. É a linha dura da extrema-direita em toda a Europa e da direita, sempre que se vê ameaçada por eleições próximas (o caso de Antonis Samara na Grécia). Para esta corrente, os inimigos da nossa civilização estão entre nós, odeiam-nos, têm os nossos passaportes, e a situação só se resolve vendo-nos nós livres deles. A outra corrente é a da tolerância. Estas populações são muito distintas de nós, são um fardo, mas temos de as "aguentar", até porque nos são úteis; no entanto, só o devemos fazer se elas forem moderadas e assimilarem os nossos valores. Mas o que são os "valores ocidentais"? Depois de muitos séculos de atrocidades cometidas em nome deles dentro e fora da Europa – da violência colonial às duas guerras mundiais –, exige-se algum cuidado e muita reflexão sobre o que são esses valores e por que razão, consoante os contextos, ora se afirmam uns ora se afirmam outros. Por exemplo, ninguém põe hoje em causa o valor da liberdade, mas já o mesmo não se pode dizer dos valores da igualdade e da fraternidade. Ora, foram estes dois valores que fundaram o Estado social de bem-estar que dominou a Europa democrática depois de Segunda Guerra Mundial. No entanto, nos últimos anos, a proteção social, que garantia níveis mais altos de integração social, começou a ser posta em causa pelos políticos conservadores e é hoje concebida como um luxo inacessível para os partidos do chamado "arco da governabilidade". A crise social causada pela erosão da proteção social e pelo aumento do desemprego, sobretudo entre jovens, não será lenha para o fogo do radicalismo por parte dos jovens que, além do desemprego, sofrem a discriminação étnico-religiosa?

Boaventura Sousa Santos

Artigo de opinião no jornal «Público» disponível aqui.

janeiro 12, 2015

a desgraça do TGV em Portugal, a caminho de uma nova Albânia

Saiu recentemente a público o custo do TGV que afinal não se iria fazer, mas o qual já estava em centena e meia de milhões de €uro. O custo total, a ser construido,  era nessas notícias atirado para os .... 10.000 milhões de €uro, um desmando faraónico que era de algum modo, velhacamente alocado a responsabilidades de outros governos...

Ficará para a História a satisfação de Pedro Passos Coelho ao anunciar o abandono definitivo do projecto.

Para que não se compare a genialidade Einsteiniana dos três segundos de memória dos peixinhos, com a memória de minhoca que esta gente julga serem as nossas referências, e gente lembra-se disto:

No dia 5 de Fevreiro de 2013, um improvável sorridente Victor Gaspar (mas sim, ele ri) dizia no seu pouco veloz tom de voz, a alta velocidade Portuguesa ao anunciar na TVI:

Bruxelas destinou a Portugal 1,6 mil milhões de euros para a construção do TVG – integrado no Corredor Atlântico, acordado entre os estados-membros da União Europeia – que deve avançar até 2020, mas só se o Governo assegurar a restante verba necessária (de 25%).
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“Há mais de 1,6 mil milhões de euros reservados para Portugal para projetos das redes transeuropeias relacionadas com os transportes” – dos quais 500 milhões dizem respeito ao orçamento do Mecanismo Interligar a Europa e 1,1 mil milhões dizem respeito ao fundo de coesão –, garantiu, em entrevista ao Expresso, o comissário europeu dos Transportes.
“Pediram-nos para criar as condições: um mapa e dinheiro. Isso está feito. Mas nós não construímos nada. Isso cabe aos países. Se Portugal não tiver recursos [o Corredor Atlântico] será atrasado, adiado, cancelado”, alertou Siim Kallas.
“Não vi qualquer sinal de que Portugal não tencione fazer a sua parte. Fala-se em atrasos e diferentes considerações, mas até ao momento nada de oficial”, acrescentou.
De acordo com o comissário europeu, os projectos de construção na nova ponte sobre o Tejo e do novo aeroporto em Lisboa deverão ficar parados, pelo menos até 2020, ano em que termina o atual quadro financeiro europeu.
Ou seja, o projecto total agora era financiado em1600 M€, 75% (não 85%) os quais sendo 1.600 milhões de €uros perfazem o custo total (dos 100% portanto) de 2.200 M€., Bem abaixo dos tais 10.000 milhões atirados pelas TV e jornais para cima dos nossos desgraçados neurónios.

Vamos dar de barato que ficaria pelos 2.500 M€, muito dinheiro mas de que a Europa pagaria 75%
O grande problema é agora o seguinte.
Quando demagógicamente se alarvejou nas TV's  hiper-inflaccionando os valores sobre os custos do TGV e da suposta megalomania não se disse  que quando a nova linha Badajoz-Madrid estiver terminada (final de 2016), em breve, o porto de Sines não vai poder de transportar contentores, nem de, nem para a U.E. nem para Espanha, por Badajoz.
Espanha vai desactivar, em 2016, as linhas que permitiam a ligação via caminhos de ferro entre Portugal e a Europa.
A única opção passa pela construção de raiz do troço Poceirão-Caia, em bitola europeia,(TGV) 
para mercadorias e passageiros e sua ligação aos portos de Sines, Setúbal e Auto-Europa, a qual, como todas as grandes empresas, a nível mundial, não possui stocks de matéria prima para mais do que um dia, dependendo do fornecimento diário, apenas economicamente viável por via férrea.
A farsa, Kafkiana e estupidificante, consiste no argumento recorrente de que não existem meios financeiros. Ora bem, mas não falando já do eterno saco azul que magicamente acode a tudo o que é banca estoirada, vão fazer um desnecessário porto de contentores na Trafaria para o qual estão 1000 milhões de  €uros destinados.
Algo totalmente incompreensível à luz da pergunta subsequente à razão mais básica:
mais contentores a descarrager em Portugal?
Para quê?
Preveêm um brutal aumento do consumo interno?
Não é de todo previsível.
Para seguirem para a Europa?
Por Lisboa, Trafaria, estando este governo alérgico a ferrovias, só com uma nova auto estrada, a que existe nem dá para o tráfego actual, recheada que está de atrasos e filas de quilómetros todos os dias.
Não pensem também em cento e oitenta quilómetros de auto-estradas- Sines - Badajoz, /Sines- Sevilha, cheio de camiões, pois a ligação de Sines às auto-estradas foi suspensa por este governo e no estado actual, os restos mortais das obras estão mesmo mortos.
E mesmo que estivessem feitas as ligações rodoviárias, o transporte exclusivamente feito por esse meio acarreta um brutal aumento de custos e demoras  nas transferências.rodo/ferroviárias além de uma dimensão de infrasturuas e logistica que não se sabe se haverá em Espanha.
Bem podem os comentadores acéfalos vomitar argumentos, sempre a favor do governo; sem ligação ferroviária de bitola uniformizada estamos mesmo tramados, não há como viabilizar os portos e industrias com a Auto Europa vêem a sua competetividade comprometida.
Tanto para a importação de matérias a granel, de forma rápida, como com a mesma rapidez escoar mercadoria, precisamos de estar ligados à Europa.
De outra forma, talvez por tele-transporte, SMS, ou mail,  já que depois do levantamento das linhas em Espanha, e do provável esvaziamento da TAP,  passaremos a ser uma literal jangada de pedra à deriva, rasgada não pelos Pirineus, mas pelo picotado de papel higiénico que separa  por fronteira este mísero rectângulo do resto do mundo.
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janeiro 11, 2015

INTOLERANTES COM A INTOLERÂNCIA


Nem todos sabem, mas eu sou mesmo um rapaz natural das berças, de espírito fechado e bem tacanho, especialmente até aos 18 anos. Claro que muito devo à terra e aos meus, mas muito daquilo que eu hoje sou como ser pensante devo-o a uma pessoa que pouca gente conhece e quando falo do seu nome fora do meio académico todos perguntam: 'Alberto quê?'
No longínquo ano de 1984, segui de Lamego (de uma aldeia simples) para Lisboa, em cuja faculdade de letras tinha entrado. Foi um choque sem conto; senti-me por lá sozinho, perdido, sem saber o que por lá faria. Fui sobrevivendo e a meio do semestre fui obrigado a alterar uma cadeira de Literatura por uma de Cultura Portuguesa. Tinha duas opções: ou António José Saraiva (sim, o pai daquele meio jornalista que preferia dar os 100 milhões de euros ao Belmiro do que a 100 mil pobres) ou Alberto Ferreira, figura menos mediática, mas de uma humanidade sem limites.
Quem foi (é) Alberto Ferreira? Podem ver o seu papel na cultura portuguesa na wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Ferreira . Mas não é bem deste perfil que eu quero falar. Eu quero falar-vos de um homem que foi preso pela pide; um homem que caminhava todo torto; um homem que suplicava para lhe levarmos a pasta; um homem que tinha sofrido estirações na sede da PIDE e, por isso, tinha as vértebras presas com agrafos. Foi ele um homem que um dia me chamou 'diamante em bruto' (simpática maneira de dizer que eu era um saloio com potencial) e num outro dia me disse que o Homem tem de ser tolerante com tudo e com todos. Abria uma exceção: só não se podia ser tolerante com os intolerantes. E isso marcou-me muito.
Escrever, discordar, caricaturar, criticar, satirizar não é ser intolerante; ser intolerante é não permitir que o outro viva porque não tem a mesma ideia que eu tenho. Isso é ser intolerante. São esses intolerantes que algumas bestas quadradas tentam justificar. E reparem, ao chamá-las 'bestas quadradas' eu estou a ser tolerante, pois permito-lhes esse privilégio de o serem. Tolerância é isto!

janeiro 08, 2015

je suis Charlie


Depois de tantas e tão ilustres perorações sobre a infame ocorrência pela qual, ontem, em Paris, foram assassinados quatro acérrimos defensores da liberdade de expressão e do livre arbítrio – aqui entendido no seu mais assumido significado de vida em prol da comunidade –, assassinados eles a par de vários outros seres humanos cuja única e funesta circunstância terá sido o de se encontrarem naquele local e naquela hora hedionda, pouco mais há a dizer que perturbe um silêncio reflexivo.

Mas uma coisa me parece clara por entre a espessa neblina dos interesses e hipocrisias instalados: qualquer ser humano (?) que manifeste, por pensamentos e actos, o seu tão flagrante desprezo pela vida humana alheia, apenas pode e deve esperar dos demais um pagamento na mesma moeda.

Entretanto, não é despiciendo que a Humanidade no seu todo, se me for perdoada a redundante tautologia, colha mais esta sangrenta lição que aponta para a urgência de progressiva e incessante diminuição das assimetrias que, no mundo todo, geram os pântanos insalubres onde medram tão abjectas criaturas como aquelas que ontem, em Paris, dispararam infamemente contra homens desarmados, cujo único senão era o de pensarem de modo diferente.

Vítimas estas, sim, gente como eu e tu, que acreditam que a redenção do ser humano se encontra nele próprio, na sua conjugação com os demais. 

janeiro 04, 2015

anseios do preso modelo

Raim on Facebook

Não deixemos a TAP entregue aos Abutres


 




Um governo que assalta os interesses do Estado, que somos todos nós, não tem legitimidade para "vender" seja o que fôr. É um abuso de confiança, uma extrapolação de competências; foram eleitos mal ou bem para gerir o Estado e não para o desmantelar, sejam quais forem os argumentos que utilizem.
Um Estado que não tem quaisquer instrumentos de gestão, num pais pequeno e sem escala e dimensão que possa fazer peso, não tem qualquer capacidade de intervenção reguladora como demago...gicamente ventilam.
Temos todos assistido ao que aconteceu com as privatizações / ofertas das empresas anteriores. As contrapartidas da EDP, por um canudo, a CIMPOR neutralizada com todos as valias do lado do comprador e nem os impostos cá chegam. A desgraça da ANA que aumentou brutalmente os custos de operação de navegação aérea sem contrapartidas, a PT que vai de cano abaixo, sem que isso faça o PPC dormir menos descansado.
E no fim para que serviu?
PARA NADA.!
Os rendimentos das empresas superam já, apenas nesta legislatura ,o valor que as privatizações abateram (?) ao défice, o qual no seu global, subiu mais 30%.
Ou seja, quem as comprou continua a facturar e o Estado dali quase nem as migalhas vê!
E agora querem despachar a TAP dizendo que não tem uns míseros trocos?
Mas para os vigaristas da Banca apareceram logo milhares de milhões!
Não! já chega de desmandos e maus negócios.