janeiro 31, 2012

A idade mental

A partir de determinada altura (creio que a maioridade legal seria um bom critério) e sempre que a idade de cada um viesse à baila, deveríamos estar obrigados a falar não da nossa idade biológica (que ficaria reservada para contextos médicos e pouco mais) mas sim da idade mental.
Parece-me evidente que teremos várias idades mentais: a emocional, a sentimental, a estética, a intelectual (subdividível em incontáveis outras, porque o intelecto não tem a mesma gradação em todas as áreas),a profissional, a familiar (há gente que, tenha a idade que tiver, nunca deixará de ter 16, neste contexto), sei lá bem... temos infinitas idades e a tal idade mental com que deveríamos responder quanto alguém no-la perguntasse seria uma espécia de média aritmética entre todas essas idades ou, vá, de média ponderada, se o contexto fosse determinante.
Complicado?!
Não acho.
Complicado é perguntarem-nos a idade de A (ou a nossa!), termos de dizer que tem X anos e, posteriormente, de explicar que a idade real (ou mental) é de X menos dez, em determinados campos, mas de X mais vinte, noutros. É que a pessoa sempre fica baralhada.

janeiro 30, 2012

Ajustes de contas

Há por aí gente daquela que até temos medo de encontrar, tamanha é a vontade de lhes espetar umas galhetas bem aviadas.
Mas, depois, se e quando inadvertidamente nos cruzamos (porque o Porto é uma bolota e Portugal um ovo) e lhes vemos os olhos e os ombros curvados sob um peso incomensurável, percebemos que não há maior estalada do que terem de viver consigo próprios todos os momentos da sua triste existência.
E percebemos que os ajustes de contas fá-los a vida.

janeiro 29, 2012

Get real...


Isto já só lá vai com uma ditadura.

O bom funcionamento de uma ditadura depende da eficácia dos seus mecanismos de repressão.
O bom funcionamento de uma democracia depende da eficácia dos seus mecanismos de fiscalização.

Com qual desses mecanismos preferes lidar, cidadão desencantado?

Dissertação sobre a corrupção, ou o paradoxo de Bul Hakeim





Corrupção II

Sempre que nos deparamos com um ou outro fenómeno pontual e pessoalizado de corrupção, ampliado e agigantado pelos média, sobe-nos ao nó de Adão a indignação própria dos justos perante a infame injustiça. Apressamo-nos a condenar, a atirar as primeiras pedras, livres que estamos de pecados tais e até lesados e sofredores que nos sentimos em consequência de tais indignidades.

Recuperamos de forma colectiva o rito judaico do bode expiatório, animal atirado ao deserto pela força dos objectos inertes de diferentes tamanhos que a fragmentação das rochas produziu ao longo dos milhões de anos à superfície do planeta, e que -indiferentes às motivações e paixões humanas - passam do seu estado passivo à condição transitória de mísseis da consciência. Saem das mãos levando consigo toda a raiva e toda a culpa e ao atingir o bode fazem deste o veículo desta última rumo à morte e ao desaparecimento e com isso da própria redenção dos envolvidos....

Esta forma complexa de lidar com um dos pilares da cultura Judaico-Cristã, a culpa, é -além das óbvias especulações no campo da psicologia- a chave para aquilo que está na base da corrupção: a Verdade. A corrupção desta acarreta o sentimento de culpa, que é expiada  usando o novamente artifício da fuga à verdade, corrompendo-a ao atribuir culpas colectivas a um único agente e que eventualmente pode até nem as ter.

A corrupção é assim, e de algum modo, sempre uma fuga à verdade. Mais, a corrupção é em si a expressão máxima da mentira. Sempre que alguém usa uma informação privilegiada na bolsa, pervertendo assim a verdade desse jogo, é um corrupto. Sempre que alguém trai uma amizade, trocando um trato com um amigo pela vantagem transitória de umas moedas, é um corrupto: troca uma entidade virtual mas poderosa e tendencialmente perene – a amizade- pela posse volátil de objectos que não conhecem dono, mas que se apropriam deles, os corruptos.

Honoré de Balzac, aclarou de forma substantiva no seu conto “ A Estalagem Vermelha” o conceito que deveremos ter sempre presente quando de corrupção falamos: “ na origem de toda a grande fortuna existe sempre um crime”. 

Atrevo-me a ir mais longe e alargar este conceito a toda uma sociedade pois as grandes fortunas não se constroem por si mesmo mas sim pelo trabalho de uma sociedade cujo esforço escorre para o lado do tabuleiro que o corrupto, ao corromper, inclinou a seu favor. São os cidadãos que trocam hábitos e modelos de convivência – e que se deixam corromper portanto-, pelos “preços baixos” não se importando que esses preços sejam a desgraça de muitos até ao dia em que na sua empresa se vê confrontado com a mesma desgraça, que era uma graça quando a desgraça era só a alheia. Sabemos pelos inúmeros processos judiciais de que a comunicação social pontualmente dá conta, como a quebra de compromissos e truculências com todos os operadores, tanto a montante com a jusante, a compra de favores e situações de privilégio, no fundo a corrupção e por isso a mentira, são os pilares de muitas fortunas que abrilhantam os Forbes da nossa praça. Mas são apenas eles os corruptos? Ou seremos todos nós, muitos até que os vêem como exemplos a seguir. Quando se troca o bem individual em desfavor do bem colectivo, de todos portanto, o que se faz? Não é previsível a derrocada de um edifício se corroermos as suas estruturas de suporte? Então como podemos exigir que um edifício social nos suporte individualmente, se todos contribuem pelo seu egoísmo, para  a corrupção da sua coerência?

Mas a corrupção será sempre má? A resposta é sim, mas pode ter uma nuança: depende de que lado se esteja no que se refere aos seus efeitos, o que não a desculpabiliza nem atenua a sua essência criminosa.
D. João II, um dos mais sábios e enérgicos monarcas, soube punir de forma exemplar e sem concessões o séquito de corruptos que a vizinha Espanha tinha conseguido granjear entre a cintura de nobres e membros do alto clero. Usou mão de ferro, e nem sequer hesitou em tirar por mão própria a vida do seu cunhado. Mas, se foi implacável com a corrupção interna, usou, talvez como ninguém mais soube fazer na nossa História, a ferramenta da corrupção nas relações complexas entre Estados, com destaque para o Espanhol, tirando daí as vantagens que culminaram no sucesso absoluto das nossas Descobertas e Diáspora Lusa pelo mundo. Foi portanto um rei sábio, muito sábio, e que pôs sempre o interesse nacional acima de qualquer outro interesse, não trocando os projectos Portugueses por fossem quais fossem as contrapartidas, e não hesitou em punir os corruptos enquanto corrompia os interesses concorrentes com os da Monarquia Portuguesa.
Usou para com os inimigos, sim,  essa ferramenta terrível, a corrupção....



Bul Hakeim

Bul Hakeim, é uma expressão Árabe cujo significado deve ser explicado de forma sucinta. A língua Árabe reflecte um traço fundamental das suas culturas (há muitas ramificações do árabe) e esse traço é o seu profundo sentido poético e metafórico quase desconhecido entre as culturas chamadas de ocidentais, nas quais pouco mais que as histórias das mil e uma noites transpiram.

A palavra Bul, ou Burr, Bayrl etc (consoante as regiões) significa “Poço”. A outra, Hakeim, deve ser entendida no contexto de estar junto a Bul, como adjectivo desta. Hakeim, ou Hakim, ou Hakeem, que significa  “proprietário-administrador” significa também “Sábio”. Algumas traduções apressadas traduzem Bul Hakeim por “poço do proprietário”; um perfeito disparate. A tradução de Bul Hakeim é a “do poço da sabedoria”, ou seja, a sabedoria é uma propriedade do poço. É de resto uma expressão árabe muito bela e que passou para o nossa cultura quando nos queremos referir a alguém muito sábio ao qual chamamos simplesmente “fulano é um poço de sabedoria”. A pessoa a que nos referimos, teria bebido de “Bul Hakeim”, incorporando assim as propriedades deste no que ao conhecimento se refere. Existe ainda um entrosamento significativo nesta expressão, pois atribui-se a um governante, ou administrador de uma região ou propriedade, a qualidade de sábio e daí a corrente confusão ao traduzir “Bul Hakeim” para “poço do proprietário”. Quanto muito poderia ser, poço "propriedade"do sábio, ou como se disse  "com propriedades de sabedoria", no fundo uma fusão de conceitos e metáforas, poesia, portanto...
***
A expressão “Bul Hakeim”, do tempo da ocupação Árabe , passou muito simplesmente para o nosso Boliqueime Português sendo assim “ Poço de Boliqueime” uma redundância: Poço do Poço da Sabedoria.

Bastaria a alguém natural dali, saber, ou seja ser sabedor ou sábio, sobre as origens do nome da sua terra para jamais querer trocar esta expressão de grande beleza e significado poético e filosófico por outra. Trocar o nome redundante de "Poço de Boliqueime"  por "Fonte de Boliqueime" ( Fonte do Poço da Sabedoria), mostra que não faz qualquer ideia da noção do disparate, pois se o que o minorava e incomodava como estadista e pessoa importante era a expressão “reles” de "poço", e por isso a trocou por “fonte”, deixou felizmente para a História e infelizmente para ele, a essência: Poço da Sabedoria, Boliqueime, ficando a primeira, a Fonte, perfeitamente adequada ao jorrar de pérolas de que o autor da mudança do nome tem sido pródigo



Este traço de comportamento, em que se troca um bem comum - A VERDADE de uma sociedade-, por uma satisfação individual quer esta seja monetária, doutrinária ou mesmo de simples e bacoca vaidade, é a centelha da corrupção.

Não se é corrupto apenas por receber vantagens patrimoniais pessoais em detrimento dos interesses de todos.

Quando um governante põe por questões doutrinárias, ou de vaidade pessoal, soluções administrativas à partida perversas, à frente do evidente do interesse comum, é um corrupto. E quando alguém rasga os pressupostos de alternância democrática que o fizeram chegar ao poder,  que nome se lhe pode dar? A quem corrompe um compromisso? E sempre que se privatiza um bem que é de todos, privilegiando uma faixa de cidadãos em desfavor da grande maioria?
Mas também de forma lata, por toda a sociedade: quando um cidadão se deixa comprar por algo que lhe cheira a impossível mas que sabe bem por pagar pouco, deixa ou não se deixa corromper?
Recupero e acrescento a frase inicial deste parágrafo: quando um estadista, entrega por dinheiro, uma actividade de interesse colectivo e determinante a todas as outras actividades a um Estado estrangeiro, fazendo passar a ingenuidade mais desconcertante de que os interesses nacionais ficam salvaguardados, é não só corrupto, mas pior do que isso. Dá todos os sinais de nunca ter bebido do poço da sabedoria. Não sabe coisa alguma outra que não seja a  satisfação pessoal subordinada à envolvente de conforto da sua formação técnica e doutrinária.

Nunca como agora faria falta alguém que não hesitasse em ficar só se fosse preciso para que o bem de todos sobrevivesse. Um D. João II que jamais entregasse os interesses da nação às mãos de interesses alheios. Mas isso seria ficar à espera do Messias e sabemos pela História, esse poço da sabedoria, como nessas alturas aparecem os que nunca beberam de tais afloramentos da terra mãe e se assumem eles próprios como a Fonte de todas as soluções...

janeiro 28, 2012

«A defesa do Estado social» - Jaime Ramos

Com o escasso tempo que a televisão permite, o Dr. Jaime Ramos apresentou na RTP Informação algumas das suas propostas para a sustentabilidade da Segurança Social e que constam do seu livro «Não basta mudar as moscas».
Esta é uma obra de fundo, com cerca de 500 páginas onde, como se lê na capa, o autor apresenta “propostas para restaurar a república”, “ideias para o sucesso de Portugal e felicidade dos portugueses” e onde resume numa frase o que eu penso sobre a megalomania da capital:  “Lisboa [é uma] amante cara de um país pobre”.
Neste livro o Dr. Jaime Ramos aborda, com o pragmatismo de quem vive as situações e como ele mesmo resume, temas como “o poder e a democracia, educação, saúde, segurança social, combate à pobreza, criação de emprego, apoio à família e aumento da natalidade, economia e estratégias de desenvolvimento com separação de áreas económicas entre o público e o privado (terceiro sector, não lucrativo e o lucrativo, vocacionado para os bens transaccionáveis) e sobre o endividamento publico e o défice da balança externa”.
Comungo da maioria das ideias que o Dr. Jaime Ramos propõe e, mesmo nos casos em que não concordo, têm sempre o mérito de nos ensinar a ver com outros olhos o nosso país e a política.
O Dr. Jaime Ramos defende que o futuro depende das decisões que se tomarem hoje, as quais determinarão se, daqui a 25 anos, seremos um dos povos mais pobres da UE ou se, pelo contrário, “se fizermos as escolhas correctas”, sejamos “um dos mais prósperos, em riqueza, e o melhor quanto ao bem estar”.
Fontes: o próprio livro (que recomendo) e este artigo de «o Despertar».

janeiro 27, 2012

O desconcerto da «concertação» II
– o benefício da dúvida perante o malefício da dívida

Não me parece que João Proença pudesse fazer outra coisa a não ser assinar aquele «acordo de concertação». E apoio esta afirmação após a apreciação de uma sequência de lógicas, porventura daquelas que o bom senso comum repudia – e ainda bem -, mas que existem e estão aí, como punhos, em que a UGT assume, de algum modo, o actual estado de refém da «troika», que lhe chega pela proximidade, identificação e miscegenização com o PS.

Isto não fará sentido nenhum, se quisermos cultivar ingenuidades estapafúrdias. Mas, numa tomada de posição mais pragmática – senhores, quanto me chateia este termo… -  e com maior noção das realidades em que nos atolamos, faz todo o sentido.

Dizer que eu, no lugar de João Proença, não assinaria este nonsense não servirá para nada pela elementar razão de que eu sou eu e o João Proença é ele, por muito lapaliciano que surja este meu arrazoado.

Por outro lado e se quisermos, optimisticamente, imaginar que ainda há quem tenha artes de saber transformar uma coisa má numa coisa boa, sempre me parece que, havendo para tal o golpe de asa, necessário e conveniente e urgente, poderá esta atitude da UGT marcar um ponto zero mas sempre a subir, a partir de hoje, em tudo o que toca às negociações que são do seu foro específico, enquanto parceiro social.

Daqui poderá, então, utilizar a rampa de lançamento de legitimidade institucional que esta malfadada assinatura de «concertação» possa ter trazido para se assumir com uma muito mais dura e intransigente postura nos combates sindicais que estão a chegar, por parte de cada um dos sindicatos nela associados.

Se assim for, não apenas a posição de João Proença assumirá foros de notável visão política, como a sua relevância nos combates inevitáveis que já aí vêm guindará esta central sindical a cumes nunca atingidos no país.

Mas se assim não for e esta assinatura foi tão-só o claudicar perante o poderio dos grandes interesses e o eco do descalabro socretino, receio bem que, a médio prazo (ou muito curto, mesmo) a UGT desapareça do mapa.

E eu gosto de ser optimista. Até porque a questão primordial no mercado do trabalho, em Portugal, no que toca a acordos, convénios, contratos, etc., é o mais elementar desrespeito por tudo quanto sejam regras por parte das entidades patronais, das quais sobressai o próprio Estado, não como entidade eminentemente reguladora das tensões sociais que é suposto ser o seu papel, mas como principal empregador, violador das leis que ele próprio engendra e de que deveria ser garante e, ainda para mais, mau pagador.

Claro que, com um tal Estado, manhoso e vilão, representado sequencialmente pelo centrão político que conhecemos, até os «patrões» mais retrógrados se permitem dar arzinhos de «esquerda» e de «progressistas». E a mistificação continua.

Enfim, cá estaremos para ver, esperando também que a CGTP, tudo bons rapazes, claro, tenha outro acordar para a vida real e acompanhe de forma mais consequente – o que não tem acontecido, veja-se o lamentável caso da mobilização dos professores, entre tantos outros – assumindo que é algo mais do que mera correia de transmissão da acção política do PCP e dê de si sintomas de saudável e criativa autonomia.  

Entretanto, os profetas da desgraça, desses que dizem cobras e lagartos, paus e pedras do movimento sindical que apurem que a sua fraqueza ou força se radicam, essencialmente, na qualidade humana da massa que os integra. Nem mais, nem menos. Somos nós, cada um de nós, que lhe confere a qualidade ou a falta dela. O resto é conversa fiada, numa altura em que estamos mal parados para créditos aleatórios.

janeiro 25, 2012

Esta malta é genial!

FMI avisa governos de que não devem recorrer a mais austeridade caso a economia derrape mais
E a economia vai derrapar mais, prevê o FMI. O Fundo receia o efeito que o excesso de austeridade terá na avaliação dos mercados de dívida.

Notícia completa no Jornal «i»

janeiro 24, 2012

Jane Fonda - «o terceiro acto da vida»

Nesta geração, 30 anos extras foram adicionados à nossa expectativa de vida -- e esses anos não são apenas uma nota de rodapé ou uma patologia. Jane Fonda questiona como podemos considerar esta nova fase de nossas vidas.

janeiro 21, 2012

A senhora não pode receber subsídio de férias nem de Natal? Recebe abono suplementar!


E-mail que enviei esta manhã para

"Exmo. Sr. Ministro da Educação e da Ciência [gabinete.ministro@mec.gov.pt]
cc. Exmo. Sr. Primeiro-Ministro [gabinete.pm@pm.gov.pt]

Na página 1890 do Diário da República, 2.ª série — N.º 14 — 19 de janeiro de 2012 está publicado o Despacho (extrato) n.º 774/2012 dos Gabinetes do Secretário de Estado do Ensino Superior e da Secretária de Estado da Ciência, com a nomeação de Helena Isabel Roque Mendes para um cargo em que, de acordo com o ponto 3 desse despacho

"3. Nos meses de junho e novembro, para além da mensalidade referida no número anterior, será paga outra mensalidade de € 1.575,00 (mil quinhentos e setenta e cinco euros), a título de abono suplementar"

Agradeço que apliquem esta solução genial a todos aqueles que se verão privados, de uma forma que me recuso a aceitar como legítima, dos seus subsídios de férias e de Natal.

Cumprimentos,
João Paulo Calheiros Proença de Moura"

E-mail que enviei esta tarde para os mesmos destinatários:

"Exmo. Sr. Ministro da Educação e da Ciência
cc. Exmo. Sr. Primeiro-Ministro

Na sequência do meu e-mail desta manhã, um amigo meu mostrou-me que, no mesmo Diário da República, 2.ª série — N.º 14 — 19 de janeiro de 2012 em que foi publicado o Despacho (extrato) n.º 774/2012 dos Gabinetes do Secretário de Estado do Ensino Superior e da Secretária de Estado da Ciência, com a nomeação de Helena Isabel Roque Mendes para um cargo, foi publicado um aditamento a esse despacho num suplemento:

"«6 — A aplicação do disposto no n.º 3 do presente despacho encontra -se suspensa durante a vigência do Programa de Assistência Económica e Financeira, nos termos do artigo 25.º da Lei n.º 64 -B/2011, de 30 de dezembro.»"

Não sendo um aditamento que perdoe a esperteza saloia de quem inventou o conceito de “abono suplementar” para disfarçar os subsídios de férias e de Natal, tem pelo menos o mérito de corrigir o que seria uma injustiça gravíssima.

Cumprimentos,
João Paulo Calheiros Proença de Moura"

janeiro 20, 2012

A Posta sem cinzeiro


Falar da acumulação de uma reforma choruda com um salário milionário por parte de Eduardo Catroga poderia ser enquadrado, na sua perspectiva amoral, no debater daquilo que o próprio apelida de pintelhos.
Esta conclusão deriva do desplante com que o cromo veste a capa da legalidade para encobrir o manto de imoralidade subjacente a uma decisão sem respeito para com os melindres próprios de uma conjuntura aziaga ao ponto de enfatizar valores importantes mas ignorados no tempo das vacas falsas gordas.
E prova que nem sempre a lei joga certo com a moral que (também) lhe compete defender.

Relegando então a figura púbica acima referida para o domínio a que pertence, parece-me oportuno somar o desacerto das leis que protegem os medíocres ao desnorte dos legisladores que, em pleno crescendo de uma crise que ainda vai no adro, apontam os holofotes para o endurecimento das regras aplicáveis aos fumadores.
O tema é recorrente precisamente pela insistência dos paladinos numa cruzada que acabará por equiparar fumadores a consumidores de drogas duras na moldura penal, estando ainda por saber qual dos dois grupos marginais acabará por ser alvo da punição mais severa no futuro desenhado pelos proibicionistas bacocos.

A lei em vigor, porquanto polémica, acabou aceite e respeitada pela generalidade de uma população que parece capaz de aceitar tudo o que lhe é imposto sem qualquer tipo de contestação.
É no fundo apenas mais um sintoma que distingue a primavera de gente capaz de morrer nas ruas para reclamar democracia do outono de quem permite a perda da sua enquanto deixa apodrecer a consciência aos poucos na confortável apatia do sofá.
Enquanto o país definha à mercê de uma crise que deveria concentrar todo o esforço colectivo, os decisores investem o seu tempo e energia numa alteração legislativa cujo impacto económico é devastador para sectores já abalados pelo efeito da lei em vigor somado a outras medidas que já semearam inúmeras falências.

A boa intenção dos paladinos resume-se ao politicamente correcto da defesa da saúde pública, como se à progressiva marginalização dos fumadores não pudesse corresponder o mesmo efeito de outras proibições: empurrar os consumidores de tabaco, esses maus, para uma clandestinidade absurda.
Porém, nem é esse o fulcro da minha questão nesta prosa.

O que está em causa para mim, acima de tudo, é a passividade com que aceitamos todo o tipo de prejuízos, quer resultem da inépcia ou, no caso concreto, de uma espécie de excesso de zelo pervertido no timing e mesmo na motivação.
Apesar da injustiça implícita em impor aos empresários da restauração investimentos de monta para poderem albergar os mesmos fumadores que agora querem proibidos nos mesmos espaços e do visível exagero do que se prepara, os portugueses cruzam os braços, deixam andar, e até acredito que apesar do disparate óbvio a maioria irá acatar a coisa sem um balido e abster-se de fumar.

Eu vou votar contra.

Da (in)felicidade

Vi hoje uma reportagem na TVI que indicava o português como um dos povos mais infelizes da Europa. Pousei o garfo e ainda me espantei: o quê? Com este sol? Mas está tudo parvo?
Depois percebi.
A única forma de se aferir uma coisa destas é ir para a rua perguntar a uma amostra fidedigna sobre a felicidade. E estou a imaginar as respostas:
Ahhh, cá se vai andando ou Uns dias melhor, outros pior ou ainda Não se está mal mas tenho aqui uma dor nas cruzes... ou mesmo Podia estar melhor mas sou infeliz no casamento (oh, porra e o divórcio/separação/raio que os parta a todos?) ou O meu chefe não gosta de mim ou Estou triste porque o amor não me assiste ou a sempiterna (desde 1143 - disse o RAP um destes dias e a mãezinha desde sempre) crise, que é pau para toda a obra, ou o diabo a quatro.

Errado, errado, neste país de Calimeros, é dizer-se Estou bem e recomendo-me ou Sou feliz, sim senhores, gosto do que faço e da vida que tenho. Isso é crime de lesa uma Majestade que nem sequer existe por cá.
Quem se diga feliz é porque não tem problemas (ainda que só os possa ter) e isso é imperdoável! A mentalidade do ai-que-infeliz-que-eu-sou-tenho uma verruga-na-virilha-e-a-troika-mais-a-crise-que-é-que-eu-faço-à-minha-vida-e-onde-é-que-isto-vai-parar? (não pára, ó burros, "isto" não pára nunca, habituem-se!!) não perdoa quem não se queixa. Se o apedrejamento em praça pública fosse possível, os que se dizem felizes eram todos fechados no Campo Pequeno e aqui vai disto, que é para aprenderem a não rir quando os outros (coitadinhos) têm tanto de que se queixar. Nunca são gente que se fez à vida, apesar dos problemas que a todos assolam, qual quê?! São inconscientes, tontos, narcísicos - e o que mais se lembrarem aqueles que, em vez de se focarem na resolução de problemas que em grande parte dependem de si (o sentido de voto, a coragem para mudar aquilo de que não gostam, os tomates para dar um salto em frente e mudar de vida... whatever!), estão sim preocupadíssimos em tornar quem ousa ser feliz (tenha os problemas que tiver) em seres amorfos, iguais a si.

Afinal, para quê pensar que Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, se nos podemos queixar ad aeternum da dor no joelho, ou no antebraço ou na parte interna de uma perna?

(Bardamerda, sim? Pronto.)

janeiro 19, 2012

O desconcerto da «concertação»

Milito num sindicato integrado na UGT. E servirá tão só esta declaração de voto pública como mero desabafo de repúdio por aquilo que considero um triste e fraco gesto de João Proença ao assinar, em representação da central sindical que integro, esta misérrima e hipócrita «concertação social».
Por esta altura, já quase todas as cabeças mais ou menos pensantes cá do burgo se pronunciaram sobre este acto – meramente simbólico, para uns, dramaticamente concreto, para outros. Assim, não terei muito a acrescentar, como digo, para além de algum desabafo, por um lado, e, por outro, persistindo numa prática diária de vida que não se quer constrangida por estas mancomunações dos ditos «poderosos».
Ouço e deslumbro-me com coisas tão espantosas como as pretensas novas regulações das «pontes» junto a feriados; como aos danos provocados em equipamentos como justificativos de despedimentos; como à definição de desadequações a um posto de trabalho que justificam cessação de contrato…
Mas, afinal, em que mundo tenho vivido? Num mirífico Portugal em universo paralelo, de ficção científica? Nos quase quarenta anos que levo de actividade profissional as agora anunciadas novidades sempre foram prerrogativas da entidade patronal. Refiro-me à troca de «pontes» por dias de férias, aos processos disciplinares por danos causados em equipamentos, em transferências compulsivas ou «diplomáticas» por desadequação ao posto de trabalho, etc., etc., etc.
As leis laborais sempre contemplaram isso, bem como os Acordos Colectivos ou Acordos de Empresa. Que raio de «novidade» nos estão a impingir?
Sedimentar o que já é prática comunmente aceite e unilateralmente desde sempre aplicada, terá apenas o efeito de reforçar e sublinhar que uma qualquer entidade patronal – principalmente das manhosas – pode fazer o que quer, agora com mais «legitimidade».
Também quanto à sacrossanta flexibilização de horários, também já cá canta há muitos anos. Eu, como exemplo vivo, tenho acordado, por conveniência da empresa, um regime de horário flexível que pode liminarmente traduzir-se do seguinte modo: se, em determinado dia e por exigência funcional, tenho de ficar «até mais tarde», o que vale dizer até às 19h30, posso (e devo!) compensar o tempo de serviço excedentário logo a partir do dia seguinte. Sem qualquer contrapartida remuneratória.
E não é uma benesse da empresa que me emprega. Não. Como disse, é por conveniência da mesma e por mim contratualmente aceite, sem contrapartidas. Porque assumi este esquema funcional e, com facilidade, ajustei a minha vida pessoal a ele. E já estava tudo consagrado na lei geral do trabalho, vai para trinta anos!
Apenas com uma ligeiríssima ressalva: no final de cada mês, o tempo excedentário não pode ultrapassar as 10 horas, a partir das quais a empresa terá de praticar o regime de hora extraordinária. Mas haja bom senso de parte a parte e tudo se conjuga. 
Uma vez mais, portanto, nada de novo por aqui.
Agora, na minha modesta posição de observador, o que nos traz, afinal, de novo esta extraordinária «concertação»? Ora, tão só a diminuição das indemnizações por despedimento, o cancelamento de três ou quatro feriados a custo zero para o patronato, mas penalizando as famílias, a diminuição do tempo de férias antes atribuído como prémio de assiduidade e bom desempenho, diminuição essa também a custo zero para o patronato… e mais uma série de pequenas-grandes manobras sempre a favor de uma das partes e em detrimento da outra.
Tudo o mais é treta, aldrabice despudorada, a roçar a canalhice. E estas não são  grandes e grossas palavras, porquanto nem sequer alguma destas medidas se aplica à imensa e esmagadora maioria de jovens em prestação de serviço a recibo verde ou com contratos a termo certo ou ainda com estágios não remunerados, para os quais a única lei que vigora é a da selva, qualquer que seja a empresa em que se encontrem, a começar pelas empresas de capital público ou pelo próprio estado.
Pelo meio disto tudo ficou o engodo para papalvo ver do aumento da meia-hora que – ó cúmulo do espanto! – nem ao patronato interessava, como tantos empresários afirmaram, por adivinharem o aumento de conflitualidade e artes de «deixa-andar» que tal aumento acarretaria.
Desde logo, porque é também consabido e universalmente aceite que nos custos de produtividade das empresas privadas que as tornam não competitivas não têm nada que ver com a massa salarial, mas sim com outros custos de produção e por má ou deficiente gestão.
E isto transporta-nos ao meu último desabafo: uma vez mais e sempre saíram incólumes de toda esta sacanagem os principais responsáveis por má gestão: os próprios gestores e os quadros superiores das empresas, com cargos definidos por nomeação e práticas de actuação medievais quando não peleolíticas, para os quais, em Portugal mais do que noutras refinadas catedrais do capitalismo porventura mais sofisticadas e modernas, as reiteradas más práticas não trazem qualquer responsabilização, penalização ou qualquer espécie de sanção, ão-ão…
Quem acreditar que é assim que vamos melhorar a competitividade e aumentar a produtividade ou ainda acredita no Pai Natal – e de imbecil a idiota pode percorrer vários estádios - ou não é pessoa a quem eu confie dez cêntimos.
E nem aqui se pode dizer que os cães ladram e a caravana passa, porque a pobre está encalhadinha de todo, ladrem-lhe ou não os canídeos.

janeiro 18, 2012

O dinheiro no mundo: quem deve a quem?

Já aqui falámos várias vezes sobre a falácia globalizada em que se está a tornar a questão das dívidas entre Estados.
O «Bank for International Settlements» (Suiça) publicou em Outubro de 2011 o estudo «Detailed tables on preliminary locational and consolidated banking statistics at end-June 2011».
Com base nos dados desse estudo, a BBC fez uma análise gráfica que nos faz, no mínimo pensar:


Clicando na imagem, acede-se à página da BBC onde se apresenta os valores de dívida de cada país, ao clicar-se no nome respectivo.
Todos devem a todos! Como já dissemos, se fosse feito um "encontro de contas global", provavelmente concluiríamos que há aqui um enorme "peido da avó".
A dívida dos EUA à China, o seu maior credor, não está aí contemplada (nem caberia no gráfico, na proporção usada).
Fiquemos com dois exemplos. A dívida de Portugal...


... e a dívida dos EUA (sem a China, principal credor e que rebentaria com esta escala):

Cidades fantasmas - a farsa do crescimento chinês

A "bolha" chinesa, quando rebentar, poderá ser ainda mais devastadora que a americana em 2008…

"Documentário onde se mostra como a China está a criar um crescimento fictício para enganar o mundo sobre a sua economia, construindo gigantescas cidades fantasmas.
Construindo sem procura alguma apenas para criar números que não existem."

janeiro 17, 2012

«O caminho das pedras...» - por José Couto

foto «Diário as Beiras»
Desafios enormes vão apresentar-se às empresas, nos próximos 15 anos, o mundo passará por alterações políticas, económicas, sociais, tecnológicas e ambientais. É esperado um aumento de aproximadamente mais 1 bilhão de pessoas na classe média, a maioria nos países emergentes como China e Índia e mais da metade da população mundial deverá ser urbana, introduzindo alterações substanciais na gestão do território e consolidando o processo de concentração nas áreas urbanas. Nos países desenvolvidos a população envelhecerá e o número de filhos por casal continuará a baixar, o que acrescentará problemas à sustentabilidade do sistema de segurança e apoio social. Estes desafios condicionarão a evolução das empresas, constituem oportunidades e ameaças. Para as empresas, a escolha do caminho, ou a adoção e implementação de uma estratégia consistente, para agora e para o futuro, representa um dos seus principais desafios.
A capacidade de «construir», e mais importante, vender, um produto ou conceito, a inteligência para constituir, desenvolver e manter talentos, equipas motivadas e empenhadas e a resiliência para responder com sucesso às mutações constantes que as empresas dos nossos dias enfrentam constituem uma marca distintiva das empresas que buscam e alcançam o sucesso. Estas são, por definição, as empresas que se empenham em manter, e melhorar, uma situação económico-financeira equilibrada, que são capazes de captar recursos para os investimentos necessários, que apostam no reforço das suas posições nos diferentes mercados e encaram a internacionalização como algo, mais do que natural, necessário à sua consolidação. Estas empresas são as que procuram e alcançam a excelência. Por norma, à imagem dos seus líderes, que imprimem às organizações a sua cultura de iniciativa e empreendedorismo, de exigência e orientação para os resultados.
Em Portugal existe também uma primeira divisão das empresas, cuja performance é anualmente reconhecida e destacada, as PME Excelência. As empresas galardoadas beneficiam não só de notoriedade e prestígio, o que por si só já seria útil, como garantem o acesso a financiamento e a serviços bancários em condições preferenciais, quer em termos de preço, quer muitas vezes no que aos colaterais se refere. No entanto, só uma minoria aproveita esta possibilidade. Se no nosso País são bem mais de trezentas mil as empresas existentes, o facto do grupo de PME Excelência ser de 1.100 diz tudo sobre o trabalho que há a fazer.
Ainda assim, importa ressalvar que, em termos genéricos, a nossa região registou uma evolução positiva. O Centro, que em termos de empresas representa 22% do todo nacional, tem um peso de um terço nas PME Excelência, 476 empresas, tendo aumentado no último ano mais de cem empresas. Mais de 43%, quase metade das PME Excelência da Indústria estão na região Centro. O facto de a nossa indústria apresentar tão bons indicadores de desempenho é sinal da nossa pujança e, mais importante, da nossa capacidade de criar riqueza internamente.
Estas organizações são o benchmark, são o exemplo que deve ser exaltado, disseminado e repetido, devem dar a conhecer a forma como evoluíram, como criaram o ambiente necessário para atingiram um patamar de reconhecida qualificação.
Se a nossa região e as nossas empresas conseguem ter um peso tão superior à sua proporção nos grupos das melhores, teremos de apostar no exemplo destas práticas, contagiando outras empresas para a melhoria do seu desempenho. Estas empresas já demonstraram que perante tanta incerteza, existe um caminho que vale a pena. É difícil, é um caminho de pedras, mas compensa!

José Couto
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Texto publicado no jornal «as Beiras»
José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

Aprendendo com os pés-descalços

Em Rajasthan, na Índia, uma escola extraordinária ensina mulheres e homens do meio rural - muitos deles analfabetos - a tornarem-se engenheiros solares, artesãos, dentistas e médicos nas suas próprias aldeias. Chama-se Universidade dos Pés-Descalços, e o seu fundador, Bunker Roy, explica como funciona.

janeiro 16, 2012

GNS - A Felicidade Interna Bruta

- Que queres ser quando fores grande?
- Quero ser feliz.

(Não me lembro de alguma vez ter respondido outra coisa à pergunta de sempre.
Felizmente, há mais quem pense assim, nem que seja do outro lado do mundo, no Butão.)

janeiro 10, 2012

«A lição de Hamilton para europeus distraídos»

Excertos do texto de Viriato Soromenho Marques na revista «Visão» de 5 de Janeiro de 2012:

"No passado 9 de Novembro, quando a dívida pública italiana ultrapassou o Rubicão (7% nos títulos a 10 anos), a chanceler Merkel recebeu o importante relatório anual do seu Conselho dos Cinco Sábios. Este órgão, em funções desde 1963, reúne reputados economistas alemães. Uma parte da paz laboral germânica deve-se ao crédito que este órgão goza junto do patronato e dos sindicatos. No final da reunião, Merkel disfarçava o mal-estar que lhe causara o facto de, também os seus sábios, terem adiantado que os eurobonds seriam indispensáveis para a resolução da crise das dívidas soberanas na Europa.
O que passou despercebido, mesmo da imprensa económica, foi uma breve nota de rodapé do extenso relatório, onde se dizia terem os peritos alemães retirado inspiração do plano apresentado por A. Hamilton, ao congresso dos EUA, em 1790 (…) 
Em 1790, os EUA estavam à beira da rutura. A principal razão residia nos conflitos entre Estados relacionados com grandes «dívidas soberanas» acumuladas durante a Guerra da Independência. Quem conheça a época ficará espantado com a semelhança das situações e argumentos, na Zona Euro. O Massachusetts queixava-se do Connecticut ou de Maryland, por estes terem sido poupados ao esforço de guerra (e de dívida). A Virgínia, embora tivesse sido um terrível campo de batalha, já tinha saldado metade da sua dívida, enquanto Nova Iorque se mantinha numa situação de deliberado incumprimento. Também em 1790 era difícil saber até onde ia a dívida pública. Existiam credores na Europa (bancos holandeses e até britânicos, das dívidas anteriores à guerra), mas sobretudo cidadãos americanos que, apoiando o esforço de guerra, se viam à beira da falência, com títulos de dívida (em valor monetário ou fundiário) sucessivamente desvalorizados. Hamilton (…) lançou, entre 1780 e 1791, o plano económico que iria salvar a América como união federal. No meio de enorme controvérsia, ele continha três medidas fundamentais:
a) a mutualização de toda a dívida estadual, transformada em dívida federal (trocando os títulos antigos por novos), restaurando a confiança dos mercados com o pagamento de juros e a promessa futura de vencimento;
b) criação do Banco Nacional, com a função de ser o credor de última instância para o frágil e desorganizado sistema bancário da época, e fonte de recurso para o financiamento público;
c) criação de um plano de fomento industrial para o emprego e revitalização económica.
Calcula-se que a dívida pública dos EUA fosse de 197 milhões de dólares (ajustados a valores de 1980). Em 1811, havia sido reduzida para 49 milhões. A confiança dos mercados permitiu que Jefferson juntasse, em 1803, mais de 2 milhões de km2 aos EUA, comprando a Louisiana francesa por 15 milhões de dólares, obtidos por empréstimos a juros favoráveis. Mas a lição de Hamilton – que a liderança europeia desconhece por egoísmo incompetente – é a de que uma dívida pública tem que ser enfrentada com uma resposta sistémica, que vá à raíz dos problemas, e ofereça um horizonte estratégico de futuro. Inversamente, a austeridade perpétua, prometida no acordo de 9 de Dezembro, é uma receita segura para a catástrofe europeia."

Viriato Soromenho-MarquesVisão, 05/01/12

O texto completo está disponível aqui: blog jas-mim.

Inde... quê?!

Na minha opinião, 
Portugal é um 
Estado indepedinte.

Na opinião do Charlie
Portugal é um 
País indepedante.

Na opinião do ejamart
Portugal é um 
País in despesante.


Já o OrCa duvida que
Portugal seja um 
País independente...

Portugal seja um 
País ainda pensante...
e acha que
Portugal é uma 
Nação quase pendente.

janeiro 07, 2012

Herman José - A familia Maçon e a familia Opus

Do programa «Hora H», já com uns anitos... mas não parece.

«Os jovens hoje parecem adultos em férias» - palestra de Mário Sérgio Cortella

Mário Sérgio Cortella é filósofo, mestre e doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil).

janeiro 05, 2012

Notícias de última hora - do arco da velha!

- Algures na Covilhã, nasceu uma criança sem um pé, situação perfeitamente detectável numa ecografia. Dizem as más línguas, por essa net fora, que a médica que acompanhou a gravidez terá decidido omitir o pormenor, para que os pais não se decidissem por uma interrupção da gravidez. E eu pergunto quem é essa mulher que, à guisa de senhora do universo, decide armar-se em deusa, pondo e dispondo da vida dos que se entregam nas suas mãos com a confiança que um profissional de saúde deveria merecer a todos. Espero que a justiça seja dura, muito dura, tão dura quanto vai ser a vida daquela criança e daqueles pais. E que nunca mais volte a exercer medicina quem usou o privilegiado lugar que ainda é reservado aos médicos, nesta sociedade adoradora de vassalagem, para impôr a sua ideologia, contra uma lei aprovada por maioria. A democracia é tramada, não é, xotôra?

- Parece que o Otelo Saraiva de Carvalho vai ser responsabilizado (ok, ok, estou a pressupor que a justiça funciona efectivamente, mas ainda assim...) pelo  crime de diarreia verbal (se não é crime, devia ser!) que vem cometendo de há pelo menos 35 anos a esta parte. O senhor diz que está tranquilo e eu acredito. De resto, o meu amigo D. do Blog do Katano já advertiu (numa rede social perto de nós) para o facto de este caso dever ser analisado não em sede de Ministério Público mas de Ministério da Saúde. Mental, claro.

- Ninguém aproveita a boleia do senhor do ponto anterior e leva este pelo mesmo caminho? Na verdade, "uma opinião não poder ser considerada um crime", tão só. Mas depende sempre de quem vem e em que circunstâncias.  Acho que isto só com panos encharcados no focinho não vai lá.

- Pois diz que os partidos (no caso, PS e CDS-PP) estão a cobrar ao Estado (nós!) cada despesa eleitoral duas vezes, na medida em que pagam o que têm a pagar com uma subvenção estatal e, a posteriori, pedem a devolução do IVA sobre essas despesas ao mesmo Estado. Se me choca a pedinchice? Nadinha, até tenho inveja, não sou grande espingarda na arte do regateio. O que me choca é que o Estado pague efectivamente em duplicado porque, ao que parece, a legislação dá abertura a este tipo de situações, desde que a despesa seja superior ao financiamento somado ao valor do IVA. Extraordinário, não é? Tudo a apertar o cinto, minha gente, e a ouvir e calar, que isto não são coisas para o zé-povinho, essa massa de gente acrítica e conformada... (oh porra, espera lá, a verdade é que são mesmo!!)


Boa noite, eu sou a AnAndrade, este foi o vosso Blogjornal e agora vou ali vomitar um bocadinho que o meu estômago sempre foi muito sensível à anormalidade dos idiotas.

(tenho a dizer que, no Câimbras, só o primeiro ponto deu direito a discussão madrugada adentro, e eu nem estive lá para acicatar espíritos!)

janeiro 02, 2012

uma carta aberta ao senhor primeiro ministro
- eu emigro? tu emigras... ele emigra!

Para que o ano de 2012 seja bem vivido, há que manter os olhos bem abertos... até para não tropeçarmos com os dejectos que nos lançam na calçada.

Aqui fica uma carta deveras interessante, recém-chegada à minha caixa de correio. Ainda vai havendo quem os tenha desassombradamente no sítio, felizmente.

Date: Mercredi 21 décembre 2011, 21h38

Exmo Senhor Primeiro Ministro

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.

Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.

Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.

 Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.

Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei.

Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...

Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.

 Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.

Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...

 Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.

 Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.

Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro,  e como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus

Myriam Zaluar, 19/12/2011