outubro 31, 2011

A mudança de hora e eu sem paciência

Aproveitei a notícia do Expresso «Hora de inverno (gráfico animado)», de 28 de Outubro, para deixar o seguinte comentário:
"Há vários anos que estudo este tema da mudança de hora. Tenho uma página internet sobre este assunto:
Persuacção - Hora de Verão - Dados
Depois de analisar muitos estudos internacionais pró e contra a mudança de hora, concluí que as alegadas vantagens, de cariz económico, são refutáveis. Já os dissabores que provoca às pessoas, duas vezes por anos e nos dias seguintes a cada mudança, são mais que evidentes e indiscutíveis.
Criei por isso uma petição para apresentar à Assembleia da República, já com 226 assinaturas, disponível em
Petição «Não à mudança de hora»
Agradeço a divulgação e fico à disposição para qualquer esclarecimento.
Paulo Moura
jpcpmoura@gmail.com"

Como podem lá constatar nos comentários, tive um diálogo argumentativo interessantíssimo com um tal de...
ofiusa - "Atenção, inteligentes bem informados. A hora de inverno é a hora solar aproximada. Portanto, se é para proteger a saúde deve acabar-se é com a hora de Verão, que foi inventada para poupar energia. Quando é que alguém se informa antes de dar notícias erradas, eternamente repetidas para se tornarem verdades para os papalvos? Vão ao Observatório Astronomico de Lisboa, aprendam e depois escrevam e digam."
ofiusa - "A hora que mudou foi a de Verão, aliás, nunca aceite por todos os países. E quanto ao fuso, obviamente que devemos estar onde estamos. Somos a ponta Ocidental, não temos de ter a mesma hora do que Paris, por exemplo. E diz-se você especialista!"
mouradia - "Com abordagens como a sua, não adianta argumentar. Fique a falar sozinho."
ofiusa - "Realmente não adiante perder tempo com ignorantes relapsos. Estude e deixe de enganar as pessoas. E já agora cale-se, só ou acompanhado, que o seu falar faz mal ao mundo. Pode ser que o governo invente uma multa para quem anda a enganar papalvos. Ai sim, que se acabava uma boa porção da dívida."

outubro 30, 2011

«O desenvolvimento do subdesenvolvimento» - Boaventura Sousa Santos

Crónica do meu muito admirado professor de Ciências Sociais na FEUC, publicada na revista «Visão» de 20 de Outubro de 2011:

"Que democracia é esta que transforma um ato de rendição numa afirmação dramática de coragem em nome do bem comum?

Está em curso o processo de subdesenvolvimento do País. As medidas que o anunciam, longe de serem transitórias, são estruturantes e os seus efeitos vão sentir-se por décadas. As crises criam oportunidades para redistribuir riqueza. Consoante as forças políticas que as controlam, a redistribuição irá num sentido ou noutro. Imaginemos que a redução de 15% do rendimento aplicada aos funcionários públicos, por via do corte dos subsídios de Natal e de férias, era aplicada às grandes fortunas, a Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos, Belmiro de Azevedo, famílias Mello, etc. Recolher-se-ia muito mais dinheiro e afetar-se-ia imensamente menos o bem-estar dos portugueses. À partida, a invocação de uma emergência nacional aponta para sacrifícios extraordinários que devem ser impostos aos que estão em melhores condições de os suportar. Por isso se convocam os jovens para a guerra, e não os velhos. Não estariam os superricos em melhores condições de responder à emergência nacional?
Esta é uma das perplexidades que leva os indignados a manifestarem-se nas ruas. Mas há muito mais. Perguntam-se muitos cidadãos: as medidas de austeridade vão dar resultado e permitir ver luz ao fundo do túnel daqui a dois anos? Suspeitam que não porque, para além de irem conhecendo a tragédia grega, vão sabendo que as receitas do FMI, agora adotadas pela UE, não deram resultado em nenhum país em que foram aplicadas - do México à Tanzânia, da Indonésia à Argentina, do Brasil ao Equador - e terminaram sempre em desobediência e desastre social e económico. Quanto mais cedo a desobediência, menor o desastre.
Em todos esses países foi sempre usado o argumento do desvio das contas superior ao previsto para justificar cortes mais drásticos. Como é possível que as forças políticas não saibam isto e não se perguntem por que é que o FMI, apesar de ter sido criado para regular as contas dos países subdesenvolvidos, tenha sido expulso de quase todos eles e os seus créditos se confinem hoje à Europa. Porquê a cegueira do FMI e por que é que a UE a segue cegamente? O FMI é um clube de credores dominado por meia dúzia de instituições financeiras, à frente das quais a Goldman Sachs, que pretendem manter os países endividados a fim de poderem extorquir deles as suas riquezas e de fazê-lo nas melhores condições, sob a forma de pagamento de juros extorsionários e das privatizações das empresas públicas vendidas sob pressão a preços de saldo, empresas que acabam por cair nas mãos das multinacionais que atuam à sua sombra.
Assim, a privatização da água pode cair nas mãos de uma subsidiária da Bechtel (tal como aconteceu em Cochabamba, após a intervenção do FMI na Bolívia), e destinos semelhantes terão a privatização da TAP, dos Correios ou da RTP. O back-office do FMI são os representantes de multinacionais que, quais abutres, esperam que as presas lhes caiam nas mãos. Como há que tirar lições mesmo do mais lúgubre evento, os europeus do Sul suspeitam hoje, por dura experiência, quanta pilhagem não terão sofrido os países ditos do Terceiro Mundo sob a cruel fachada da ajuda ao desenvolvimento.
Mas a maior perplexidade dos cidadãos indignados reside na pergunta: que democracia é esta que transforma um ato de rendição numa afirmação dramática de coragem em nome do bem comum? É uma democracia pós-institucional, quer porque quem controla as instituições as subverte (instituições criadas para obedecer aos cidadãos passam a obedecer a banqueiros e mercados) quer porque os cidadãos vão reconhecendo, à medida que passam da resignação e do choque à indignação e à revolta, que esta forma de democracia partidocrática está esgotada e deve ser substituída por uma outra mais deliberativa e participativa, com partidos mas pós-partidária, que blinde o Estado contra os mercados, e os cidadãos contra o autoritarismo estatal e não estatal. Está aberto um novo processo constituinte. A reivindicação de uma nova Assembleia Constituinte, com forte participação popular, não deverá tardar."
Boaventura Sousa Santos

outubro 28, 2011

O confisco dos salários

Com a devida vénia e como elemento de reflexão, aqui fica isto:

A Constituição proíbe o confisco. Apesar disso, o governo anterior confiscou até 10% dos salários dos funcionários públicos, tendo o Tribunal Constitucional dado o seu beneplácito a essa medida, argumentando que o fazia devido à situação excepcional que o país atravessa. Dizia, porém, que a medida era temporária, mas explicava logo a' seguir que o governo a podia renovar no Orçamento seguinte.

O governo agradeceu a autorização e não só renovou o corte como o aumentou 15%, tirando assim aos funcionários públicos até 1/4 dos seus rendimentos. Claro que o corte continuará a ser temporário até ao fim do presente resgate, mas poderá naturalmente ser renovado se houver um segundo e um terceiro resgates. É curiosa esta noção de temporário, pois os salários confiscados nunca serão devolvidos e aqueles que entretanto ficarem insolventes verão que a sua insolvência nada tem de temporária. Mas se calhar irão argumentar que tudo é temporário, até a vida.

A Constituição proíbe os órgãos de soberania de suspender os direitos, a menos que seja declarado o estado de sítio ou o estado de emergência. Como os direitos dos funcionários foram suspensos sem que
essa declaração tenha ocorrido, temos de concluir que a Constituição já não existe. E então cabe perguntar para que continuamos a ter um Tribunal Constitucional.

Luís Menezes Leitão, Professor da Faculdade de Direito de Lisboa | ionline | 18-10-2011

NOTA: Talvez faça todo o sentido complementar esta opinião com a visualização destas imagens...

«Era para ser sobre castanhas…» - José Couto

foto «Diário as Beiras»
Estava decidido a falar de castanhas, de castanhas assadas que se vendem nas “baixas” das nossas cidades. Porque estamos, todos estamos, fartos de conversas sobre o orçamento de estado para 2012 – e ainda a procissão vai no adro. Mas não posso deixar de chamar à atenção um comentário do Primeiro Ministro que assumiu que o caminho proposto é de empobrecimento significativo, que apela à nossa capacidade de ter “fé” e ao facto de o esforço de consolidação que nos é pedido para o próximo ano ser hercúleo – 6 mil milhões de euros – o que, para muitos, pode levar como diz o ditado: em que em vez morrer da doença, poderemos mesmo vir a padecer da cura.
As empresas têm de se preparar para várias implicações negativas: os efeitos recessivos da redução do rendimento disponível e da contração da procura interna, a que se junta o impacto negativo provocado pela redução dos consumos intermédios e do investimento. Acrescem o efeitos do aumento da tributação indireta e direta sobre as empresas, sem esquecer as dificuldades que resultam da falta de financiamento da economia. Só as reduções anunciadas nos consumos intermédios e em despesas de capital representam quase 1800 milhões de euros. Das mudanças no IVA espera-se uma receita adicional superior a 2.000 milhões.
Para a nossa região e para as nossas cidades, atendendo a que o comércio representa a maioria das empresas, os impactos da redução de rendimento disponível podem ser dramáticos.
Os nossos centros urbanos já apresentavam debilidades que apontavam para a necessidade de investimento na sua dinamização. Com este orçamento, as famílias, mas também as nossas cidades, comércio e serviços que dependem do consumo interno vão bem sofrer com as medidas anunciadas. A quantidade de rendimento retirado é enorme: os cortes de subsídios de Natal e Férias retiram 2.000 milhões de circulação. Some-se-lhe os 628 milhões da suspensão da indexação das pensões, 340 milhões do congelamento de salários da administração pública, 115 milhões da redução da dedução específica das pensões e 19 milhões da taxa adicional de solidariedade e do aumento da taxa especial sobre as mais valias.
Junte-se a toda esta capacidade de consumo que desaparece o clima depressivo que por todos se espalha, pondere-se com o aumento aguardado do desemprego e da diminuição do estado e das suas funções e, se nada for feito para contrariar a tendência, bem poderemos imaginar os centros das nossas cidades no próximo outono: os vendedores de castanha estarão sozinhos nas praças...

José Couto
_____________________________________
Texto publicado no jornal «as Beiras»
José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

Outros textos de José Couto publicados no blog dos Galinheiros da FEUC:
«O documento inevitável…. ou talvez não tanto»
«Precisamos de ideias e de tempo!»
«Está na hora final»
«Insolvência é um problema grave»

Um gajo acorda, lê isto...

... e apanha um susto que até o coração parece saltar:


Passado meio segundo, chega o alívio com o título completo desta notícia:

outubro 27, 2011

olha para o que eu digo,
não olhes para o que eu faço

Aqui planto, tal e qual como recebi, uma extraordinária tirada (ou duas...) do excelso observador nacional Ângelo Correia, que nos ajuda a perceber porque é que, em Portugal, os círculos são, geralmente, quadrados, mas invariavelmente bem informados. Atentai:

 BURLA DOS DIREITOS ADQUIRIDOS", por Ângelo Correia

Em Novembro de 2010, no 'Plano Inclinado' da SIC Notícias, Ângelo Correia afirmou que adquiridos são apenas os direitos como o direito à vida, o direito à liberdade, etc.. Defendeu que todos os outros direitos, ou seja, aqueles que custam dinheiro ao Estado, são direitos que "não existem", que estão dependentes da solidez da economia. Garantiu mesmo que a ideia de direitos adquiridos se trata de uma "burla".

No entanto, menos de um ano depois, a 23 de Outubro de 2011, quando questionado por uma jornalista da Antena 1 sobre a possibilidade de, em função do momento difícil que o país atravessa, abdicar da sua subvenção vitalícia de ex-titular de cargo público (quando, ainda por cima, trabalha no sector privado), Angelo Correia afirmou não estar disponível, por se tratar de um "direito adquirido" legalmente.

Aqui ficam os endereços para as respectivas páginas. Vale a pena ver e ouvir...

"Nós não tivemos a ousadia e a necessidade de explicar a diferença entre direitos adquiridos [...] - direito à vida, direito à liberdade - e os outros, que são os direitos decorrentes da economia, que não são adquiridos. Só o são, enquanto a economia for sólida." - (Novembro de 2010, no 'Plano Inclinado' da SIC Notícias: http://videos.sapo.pt/m4f98nFL3iuMKcfSAagz - minuto 33:05)



"Os direitos que nós temos são direitos adquiridos legalmente." - (Outubro de 2011, à Antena 1, recusando renunciar à sua subvenção vitalícia: http://www.rtp.pt/noticias/?headline=46&visual=9&tm=9&t=Angelo-Correia-aceita-corte-de-subvencao-mas-nao-abdica-por-se-tratar-de-um-direito-adquirido.rtp&article=491873).


Viram bem as respectivas datas? Pois é... nem o saudoso Sheltox chegará para tanta barata. 

outubro 26, 2011

A dívida oculta da Alemanha

Já é uma notícia de Setembro mas na altura passou-me despercebida (agora inscrevi-me na newsletter em português da PressEurop.eu):

"«A verdade» – é o título do Handelsblatt, que baseando-se em números espantosos, põe termo ao mito da alegada parcimónia do Estado alemão. Oficialmente, a dívida alemã, em 2011, é de 2 biliões de euros. Mas isso é apenas uma meia verdade, porque a maior parte das despesas previstas com reformados, doentes e pessoas dependentes não foram incluídas nesse cálculo. De acordo com os novos números, a dívida real ascende a mais 5 biliões de euros. Por conseguinte, a dívida da Alemanha atingiria 185% do seu produto interno bruto e não os 83% oficialmente anunciados. Como termo de comparação, a dívida grega em 2012 deverá ascender a 186% do PIB da Grécia e a dívida italiana é atualmente de 120%. O limiar crítico a partir do qual a dívida esmaga o crescimento é de 90%. Desde que chegou ao poder, em 2005, Angela Merkel «criou tantas novas dívidas como todos os Chanceleres das quatro últimas décadas juntos», refere o economista principal deste diário económico. «Estes 7 biliões de euros são um cheque sem provisão que nós assinámos e que os nossos filhos e netos terão que pagar.»"

(Ma)Cedo Pouco a Portugal

O Ministro Macedo, aparentemente muito indignado, decidiu abdicar de um subsídio qualquer para não ter que perder mais tempo com esse assunto.

A contrariedade manifestou-a pelo desabafo de que iria abrir mão de algo que poderia receber de forma legítima, pelo menos do ponto de vista da legalidade.

E é aqui que uma pessoa percebe a massa de que são feitos estes fulanos a quem confiamos responsabilidades públicas de índole quase determinante para o presente e o futuro do país.

O Ministro Macedo foi eleito de forma democrática, ninguém lhe contesta o poder que detém. Da mesma forma recebia uma mensalidade do Estado que para todos os efeitos a legislação em vigor caucionava.

O politicamente correcto da questão acaba aqui.

Qualquer cidadão a quem é concedida uma oportunidade rara de registar o seu nome na História do seu país, eleito para uma função governativa, deveria entregar-se a essa missão com um empenho e uma generosidade proporcional à gratidão que cada um dos seus eleitores lhe mereceria.

Se do empenho é cedo para aquilatar, a generosidade fica fora da equação com este episódio deplorável da maçada como o Ministro Macedo a exibiu de ter que abdicar de uma remuneração que a Lei até lhe permitia auferir.

O problema dos macedos da nossa classe política paupérrima, grosso modo e salvo raras excepções, é precisamente o de não terem alcance para verem as coisas como as vêem de fora os que se percebem abusados por esta elite cada vez mais indistinta no egoísmo da actuação.

A legalidade invocada pelo Ministro Macedo é rasteira porque em causa está a moralidade que o deveria ter impedido de reclamar ou mesmo de aceitar a verba em causa, porquanto legitimada pela legislação que os macedos deste país constroem em benefício próprio, mesmo quando não podem renegar a sua responsabilidade directa no incumprimento de funções que também passam pelo evitar dos desmandos que quase levaram a Pátria à ruína.

Quando deveriam ser os primeiros a arregaçarem as mangas e tentarem lavar a má imagem provocada pelo seu mau desempenho e/ou dos seus pares acabam por surgir nas parangonas expostos como chupistas, precisamente aqueles cuja proliferação transformou a Nação num poço sem fundo de corrupção, de negligência, numa sociedade feudal onde os falsos heróis jamais empunhariam uma espada pelo país que (es)partilharam entre si.

O Ministro Macedo tem casa própria em Lisboa, onde trabalha, mas sentia-se no direito a uma retribuição por possuir morada em Braga, ou na Pampilhosa, tanto faz.

Outros membros do Governo recebem idêntica compensação devida aos que comprovadamente dela necessitassem, sobretudo em tempo de crise, mas imoral em tempo difíceis quando se sabe que salários e mordomias destes traidores à Pátria os compensam bem do sacrifício de serem os escolhidos para um papel só para eleitos, só para mulheres e homens capazes de distinguirem o valor intrínseco de uma manta rota de uma legislação sem rigor e o do manto precioso da reputação íntegra que só uma postura ética e moral irrepreensíveis podem garantir.


outubro 25, 2011

Ao Jorge Castro, a cada ano que passa lhe custa mais a mudança da hora

"Para além de todo o balanço tecnocrático que se possa fazer quanto à mudança da hora, o que eu, humildemente, posso testemunhar - e tenho-o reiteradamente feito - é que a cada ano que passa me é mais desconfortável a adaptação fisiológica provocada pelo despertar mais cedo... ou mais tarde.
E isso não carece de explicações de alto gabarito. É assim, pronto! E não estou aqui para enganar ninguém.
A partir daí podemos estudar a coisa na perspectiva do impacto social, económico, etc. e tal. Mas aquele não deixa de ser um ponto de partida, pela incomodidade sentida.
E instabilidade, muito obrigado, já temos que avonde!"
Jorge Castro
é um dos até agora 226 peticionários de «Não à mudança de hora»

Pensamentos em cascata do meu colega de curso Carlos Carvalho...

... a respeito da ideia que existe da «preguiça dos trabalhadores portugueses»:

"Há cerca de 2 anos fui consultor de uma empresa gráfica dos arredores de Lisboa. Tinha 5 vendedores. Os rapazes tinham, cada um deles, um ford fiesta (2 lugares) para todo o serviço, um telemóvel com um plafond mensal de 20 € e tinham um salário de 500€/mês.
Após o diagnóstico, cheguei à conclusão que:
1- Não havia remuneração variável
2- Não havia relatórios dos vendedores
3- Não havia descrição de rota de vendas
4- Não eram transmitidos objectivos de vendas
5- Não havia contabildade analítica que informasse a margem bruta de venda de cada um dos produtos
6- Não havia "cross-selling"
7- Não havia reunião de vendas, nem liderança de vendas.
...
Não havia nada em termos de Gestão de Vendas.
Em menos de 15 dias, apresentei um plano de Acção.
Não vou explanar todos os passos propostos mas com alguns deles todos vocês certamente concordarão:
1- Criação de objectivos
2- Reuniões de vendas para controlo de objectivos
3- Remuneração variável em função do atingimento de objectivos
4- Controlo da actividade dos vendedores
etc.
Pois bem!
O Sr Empresário achava que não.
Os vendedores tinham um carro e um telemóvel que ele disponibilizava. E já era bem bom, pois muita gente não tinha estas regalias. O ordenado de 500 € era acima daquilo que a lei obrigava a pagar. Portanto, os vendedores tinham que ir à sua vida, fazer o melhor que podiam (pois as regalias já eram muitas) e tinham que trazer facturas ao final do dia. Mais nada!
Como podem imaginar, 2 anos passados, o Senhor achou o meu trabalho inócuo. As dificuldades já eram grandes. Entretanto faliu, foram mais alguns para o desemprego e eu... não recebi "um chavo" da minha prestação de serviços. Mais um onde "lerpei".
A empresários destes, não há Estado que ajude ao Crescimento.
O futuro do crescimento está nas empresas. O Estado, quando muito, poderá ser um facilitador do crescimento. Remodelando o sistema de licenças, os prazos das mesmas, remodelando a Justiça e respectivos prazos ... enfim, pôr algum óleo na engrenagem. O cerne do Crescimento está na mentalidade dos nossos Empresários. Um dos desígnios do Estado, deveria ser a criação, não das Novas Oportunidades, para indivíduos com a 4 ª classe obterem o 12º ano através de um texto escrito sobre a sua experiência de vida, mas sim de Cursos Efectivos de Transmissão de Conhecimentos e Apoio aos Empresários deste País. Sim! Eles são, efectivamente, o motor do Crescimento deste País!
E é aqui que reside o busílis da questão. Não existem Planos de Ajuda aos Empresários ... até porque Empresário que é Empresário, assume a atitude que não precisa da ajuda de ninguém. Ele é que sabe! Ele cresceu sozinho sem a ajuda de ninguém!
Pois!
E esta, hein?"
Carlos Carvalho


"Já agora, uma anedota que tem o seu quê. E muitos Empresários portugueses ainda não decifraram este enigma.
Um indivíduo de 99 kgs aprestava-se para atravessar uma ponte, sinalizada com a informação de que o limite máximo de peso era de 100 Kg. Ora, ele levava 2 melões, cada um com cerca de 1 Kg. Ele pensou que, por 1 Kg, certamente a ponte não iria ruir. Mas, à cautela, decidiu, como os malabaristas, atravessar a ponte, jogando ao ar um melão de cada vez. Desta forma, nunca ultrapassaria o limite dos 100 Kg. Pois é! Chegado ao meio da ponte , esta ruiu!
Porquê?
Porque um homem prevenido vale por 2!
Esta singela piada de salão pode ser ampliada.
O país da UE com maior índice de produtividade é o Luxemburgo. Onde, perto de 40 % da População Activa é portuguesa. Portugal é dos países com mais baixo índice de produtividade.
Das duas uma:
Ou os portugueses que emigraram para o Luxemburgo são os mais produtivos e escolhidos a dedo ( acham?);
Ou os Gestores Portugueses não sabem extrair o melhor do que o português tem.
E mais esta, hein?"
Carlos Carvalho


"Em 2004, por causa do Campeonato Europeu de 2004, o meu colega da Rotatejo, empresa da Unicer que vendia e distribuía os produtos da Unicer na Grande Lisboa, solicitou um reforço do orçamento de 70.000 para contratar pessoal temporário para esse período de acréscimo significativo de consumo. Eu, como responsável de similar unidade no Grande Porto, solicitei o equivalente para a minha dimensão. Só que não recrutei ninguém de fora. Mobilizei e fiz a festa com o meu pessoal, que trabalhou redobradamente. Todo o dinheiro das comissões das empresas de trabalho temporário também foi embolsado pelos meus colaboradores. Todos os Estádios a Norte do Mondego eram da minha responsabilidade (o Patrocinador Oficial do Euro 2004 era a Carlsberg). Como sempre, nas empresas privadas, havia a competição de quem prestaria o melhor serviço. Pois a minha equipa foi a vencedora. E só com a prata da casa. E eu não só ganhei esta competição do mês, como ganhei a competição do ano. Porque tinha o meu pessoal motivado. Trabalhou... mas ganhou. E nisto, o Português é imbatível.
Se conseguirmos fazer do português, emigrante no seu próprio País, teremos trabalhadores imbatíveis. Melhores até, que os do Luxemburgo.
E mais esta, hein?"
Carlos Carvalho

Já se conheciam algumas patifarias da canalha...

... mas assim com tanta clareza...

outubro 24, 2011

Tributo

Dois clichés:
1. Os tributos fazem-se em tempo próprio, não a posteriori;
2. Quem faz as aulas são os alunos.

Tenho tido a sorte, ao longo de já sete semestres, de ter tido alunos de excelência. Tão bons que passo sempre pelo medo, quando já lhes disse um "até breve" que sei que as mais das vezes significa um "até nunca", de não vir a ter outros do mesmo calibre.
Felizmente, estou sempre enganada.
Que nunca me tirem a satisfação de chegar a casa a explodir de realização quando o meu trabalho consiste em moderar (e participar, não consigo ser passiva e meramente observadora, não vale a pena), feita advogada do diabo, debates de ideias bem construídas, entre gente bem formada, respeitadora, que sabe pensar e quer aprender a pensar ainda melhor com os outros.
clichés que são muito mais do que frases feitas. Daí a minha homenagem, aos meus alunos, que todos os dias me tiram do sério (que maçada seria se não o conseguissem!), me desafiam, me interpelam, falam por cima de mim e apercebem-se do erro, lançam argumentos novos, se entusiasmam comigo e fazem da minha vida uma vida com (de entre muito poucas certezas) um factor inegável: se não fosse professora de Pensamento Crítico na Escola de Direito da Universidade Católica do Porto, seria certamente muito menos gente.
Obrigada.

pequeníssimo apontamento, sem qualquer importância implícita ou explícita

Afirma o Sr Ministro das Finanças que o aumento da taxa do IVA para 23% nas facturas do gás e da electricidade é o que se pratica na maioria dos países europeus.

Então, já agora, comparemos também os SALÁRIOS MÍNIMOS por essa Europa fora:

Suíça -               2.916,00€
Luxemburgo -   1.757,56€
Irlanda -           1.653,00€
Bélgica -           1.415,24€
Holanda -         1.400,00€
França -           1.377,70€
Reino Unido -  1.035,00€
Espanha -           748,30€
Portugal -           485,00€

Mas que grandes brincalhões que nos saem (na rifa), estes governantes...

outubro 23, 2011

Vira o disco e muda a hora... - texto do Charlie

A resposta do Charlie à mensagem do João:

Conheci há uns anos um cavalheiro que entendeu comprar um fato por ocasião de uma visita a uma feira, dessas que a tradição trouxe até aos nossos dias.
Queria a circunstância ser o feirante um indivíduo de etnia cigana.
"Quanto custa o fato, por favor?" - indagou o putativo cliente.
"Ai, este? Custa-lhe vinte notas"
"Vinte contos?! Isso é muito caro"
"Ai caro? Então mas só custa vinte notas.... repare senhor, são sete a calça e treze o casaco..."
"Não! Isso é muito caro"
" Ai espere! Nã abali, Faço uma atenção, freguês! Pode ficar por seis contos a calça e catorze o casaco!"
"Não, isso ainda é caro" - respondeu o visitante.
"Ai, então faço-lhe cinco notas a calça e quinze o casaco e temos o nigoiço feito!"
O freguês lá pensou e acabou por levar a coisa pelo preço que no fim de tanta conversa era exactamente o mesmo que incialmente tinha sido proposto.
Esta anedota é perfeita para ilustrar o que eu pessoalmente acho desta coisa da mudança do horário.
Se tiramos uma hora ao dia de manhã, o dia não mingua nem cresce mas nós é que nos temos de levantar uma hora mais cedo, comer uma hora mais cedo sem ter ainda fome e ir para a cama quando apetecia estar a ler, a escrever ou ver um pouco de televisão, ou beber um copito com amigos, ou fazer o que bem nos apetecesse. Regressando ao início, lá teremos que nos levantar uma hora antes outra vez...
A contracapa deste disco de mau gosto é o inverso, no entanto as horas de sol não aumentam nem diminuem por efeito da mudança de horário, o que diminui, no meu caso e no caso de muitos como eu, é a disposição durante o tempo em que o corpo se obriga a regular todo um ritmo biológico, a criar referências memoriais que têm a ver com a inclinação do sol, o nível de iluminação e a direcção das sombras.
Não é de todo verdade, como se pode ser levado a pensar, que as mudanças de horários não nos provocam danos. Provocam de facto e a diversos níveis, tanto físicos como psicológicos.
Por isso eu, fraquinho, já se vê, assino e assinarei todos os pedidos e abaixo assinados.
Charlie

Consulta e assina a petição

outubro 22, 2011

A mudança de hora será "aborrecida mas útil"?

O João é um excelente companheiro das lides virtuais.
Há poucos dias a São Rosas perguntou no blog «a funda São»: "Também achas, como eu, que mudar a hora duas vezes por ano não é nada erótico?"
O João comentou: "Não gosto do horário de Inverno, mas entendo as razões que conduzem à mudança da hora, e é por isso que não assino a petição. Por aborrecido que seja, é útil."
A São Rosas pediu-lhe que ele detalhasse essas razões. Aí estão... e a minha resposta:

"Olá Paulo,
Não há grande ciência nisto... se a DST tiver de ser abolida, provavelmente é a de Verão que interessa abolir e não tanto esta. I.e., se deixássemos de observar a mudança de hora, seria na hora de Inverno que teríamos de ficar.
A mudança de Inverno para Verão tem por objectivo retirar "dia" ao começo da manhã e dar mais uma hora de sol ao final do dia (levando a que no pico, às 21h ainda seja dia, o que é, convenhamos, estranho. As 9 da noite são sempre 9 da noite). O objectivo de dar mais essa hora - artificialmente - seria o de permitir às pessoas ter mais tempo para socializar com horas de sol. A nossa saúde (física e mental) gosta de sol. Estive uma semana na Suécia em Dezembro, com dias minúsculos, e foi mau.
Quando voltamos ao horário de Inverno, fazemos o oposto, estamos a dar mais uma hora de luz solar à manhã, e a retirá-la à noite. A vantagem disso é que as pessoas vão trabalhar de dia e evita-se a sensação algo desagradável de acordar durante a noite, e sair para trabalhar também de noite.
Existem argumentários diferentes. Mas tanto quanto sei, a adaptação dos ritmos pessoais à presença de luz solar tem sido sempre o principal motor para manter a DST. Mas mesmo isso é motivo de aceso debate.
Entre quem discute o assunto, parece estar demonstrado que o nosso relógio interno se regula não tanto pelo relógio mas sim pela efectiva altura do Sol, acabando desse modo por andar muito mais em GMT/UTC do que em qualquer outro fuso.
A melhor solução, a meu ver, seria sempre a de adoptar horários móveis. Não vejo por que razão uma coisa que começa às 8h00 tem de começar às 8h00 todos os dias do ano, e não pode mudar conforme o ritmo dos dias.
João"

Consulta e assina a petiçãoOlá, João
É como dizes: não há grande ciência e é precisamente isso que me lixa.
Na petição, não se sugere a hora a fixar. Mas por que motivo teria que ser a actual hora de Inverno? Nada obstaria a que se fixasse a actual hora de Verão. Fosse como fosse, a ideia da petição é que se termine com alterações artificiais, duas vezes por ano, com os incómodos que isso traz às pessoas.
Tu próprio referes que a hora de Verão dar mais uma hora de sol ao final do dia “é, convenhamos, estranho”. E que “parece estar demonstrado que o nosso relógio interno se regula não tanto pelo relógio mas sim pela efectiva altura do Sol”. Claro que sim! E por isso mesmo o que está a ser feito é artificial, antinatural, confuso…
A tua sugestão dos horários móveis seria, em meu entender, um remendo para um buraco… que pode, pura e simplesmente, ser tapado.
Bem hajas pelas tuas indicações. Pensava que terias argumentos que eu desconhecia mas tens as mesmas informações que eu tenho. Diferimos apenas na opinião sobre o que deve ser feito.
Abre aço!
Paulo Moura

Nota adicional - tudo (e é muito) o que já li a favor da DST aponta como vantagens alegadas poupanças em iluminação. Os (também muitos) estudos e artigos que li e questionam estas alegadas vantagens da DST, refutam essas poupanças em iluminação ou mostram que são compensadas por aumentos de outros custos (nomeadamente  electricidade ou outras fontes de energia para aquecimento e arrefecimento).

outubro 20, 2011

«Fevereiro, o pobre» - por Diogo Oliveira

Mensagem recebida do Diogo Oliveira, a propósito da nossa petição «Não à mudança de hora»:

"Exm.º Senhor Presidente da Comissão da Petição «Por favor não me mexam na hora»


Em primeiro lugar gostaria de fazer a minha declaração de interesses. Acho muito louvável esta iniciativa e, como tal, não sou a favor nem contra. Posto isto vamos ao que interessa.
O verdadeiro problema dos portugueses não é terem problemas. Todos têm problemas. É conhecerem a solução mas nunca a atacarem directamente, atacam sempre pelo lado mais fácil, pelo lado mais fraco.
Peço desculpa aos signatários desta petição, mas aqui também se ataca o lado mais fraco. Ataca-se a hora porque não se tem coragem de atacar a verdadeira raiz do problema, o calendário gregoriano e os seus filhos maiores, os anos e os meses.
Já alguém reparou na maldade que há séculos se faz ao mês de Fevereiro? Já alguém reparou que Dezembro, Janeiro e Março têm 31 dias e que o infeliz do Fevereiro tem apenas 28 dias?
Claro que toda a gente reparou, mas ninguém teve a respectiva coragem. É que todos têm medo de mexer nos direitos adquiridos dos poderosos. Imaginem que tiram um dia a um destes meses para dar ao pobre do Fevereiro.
Então se estes meses já brincam com o Fevereiro de quatro em quatro anos... Sim, porque aquele dia a mais não tem nada com acertar as estações, são é os outros meses a brincar com o pequenito. Estou a imaginar o Janeiro em anos bissextos a convocar o grande plenário dos meses e declarar:
- Caros irmãos, para compensar esta injustiça com o nosso irmão mais pobre vamos promovê-lo, mas como ele não está habituado e poderia esbanjar os dias sem qualquer aproveitamento vamos fazê-lo gradualmente e, por isso, este ano vamos atribuir-lhe mais um dia.
E no ano seguinte o mesmo Janeiro:
- Irmãos, estamos em crise, a troyka dos anos diz que não aguenta mais um dia este ano, vamos ter de poupar nos próximos três anos. Vai ser publicado um decreto que tira um dia aos meses que ultimamente receberam mais um dia do que os outros.
Caros peticionários, é claro que isto só pode ser os meses fortes a gozar.
E porque é que ninguém tem coragem de mexer com o calendário gregoriano?
1- Se a proposta fosse apresentada ao concílio dos meses ela era de imediato aceite só que, como os meses têm raízes latinas, estava a confusão instalada. Cada um dos meses pensaria que, como há sete meses com 31 dias, iriam mexer em todos, menos no próprio, é claro.
2- A usual coragem portuguesa. «Deixa-me é estar quietinho porque se eu chateio algum destes meses mais poderosos ainda fico sem o Natal, o Ano Novo ou a Primavera».


Senhor presidente, chegou a altura de ter coragem e resolver os problemas que nos assistem. Venho por esta forma solicitar a sua Exº. que nos dê a honra de nos liderar na petição:
«Mais dois dias para o mês de Fevereiro já».
Quanto a quem tiramos estes dias depois vê-se, que eu também não quero ficar sem Natal.
Diogo Oliveira"
___________________________________
Agora que já brincámos... a sério, assina a petição «Não à mudança de hora»:

Consulta e assina a petição

outubro 19, 2011

Mas aos funcionários, Senhor, porque lhes dais tanta dor?

Então, sugerida pela entrada de Ana Andrade do passado dia 14 de Outubro e a solicitação do Paulo Moura, cá segue a minha pobre achega sobre o «funcionalismo»:

A expressão «funcionário público» é, no Portugal que temos, um mero joguete argumentativo esgrimido ao bel-prazer da demagogia instituída, que conta com a ignorância histórica em que fazem por manter as massas, apelando às invejas mais mesquinhas e aos instintos mais primários da turba.  

Neste contexto, tudo aquilo a que assistimos da parte dos poderes instituídos quando se referem ao «fenómeno» do funcionalismo público é, receio-o bem, uma falácia. Aliás - e deixemo-nos de lindas palavras - é um chorrilho de aldrabices.

Porventura, motivadas pela inevitabilidade evolutiva das «coisas». Mas tanta coisa se poderia dizer das baixas retribuições «compensadas» com o pagamento em géneros…

Entretanto, o «funcionário público» não é uma realidade factual, passe a tautologia ou a redundância. Não. Um funcionário público é um ser humano que detém um emprego num organismo qualquer cuja entidade patronal é o Estado. E ponto final.

Não é mais, nem é menos. Nem velho, nem novo. Nem gordo, nem magro. Tem sobrancelhas hirsutas ou não. Por vezes é careca. Pode ter um dos diversos circunstancialismos sexuais. Utiliza diariamente a retrete, como eu e você... etc., etc.

Vive e morre como os outros e também pode ser, muito bem, precário - a minha-senhora-de-mim foi-o durante dezassete anos, como professora, sempre com vínculo ao Estado sem interrupções e com as habilitações máximas requeridas para a função! E, ainda, assim, com contrato a renovar anualmente e calcorreando as sete partidas do território nacional!

Mas o Passos e seus acólitos falam de que coelhos? Do homem da recolha do lixo? Do amanuense? Do médico? Do professor?

Isso de se ser «funcionário público» com carreira retributiva congelada durante dez anos (!!!) e apenas interrompida por demagogia eleitoral de Sócrates e seus próprios acólitos – o que, aliás, o próprio fez regredir em 2010, já invocando o flagelo da «crise», abatendo 5% aos fartos proventos dos tais «funcionários» -  será o que leva o Passos a falar dessa média remuneratória de 15% superior à dos demais seres viventes? E está a compará-los com que realidade sociologicamente análoga? E baseado em que estudos?

Não. Sejamos claros: o que ele precisa é de uns cacaus, à pressa e à fartazana, para aguentar o barco esburacado em que vogamos, porque o Estado foi levado à falência e, se os ordenados do funcionalismo não forem pagos, ele tem uma guerra civil às costas na semana seguinte.

Poder-se-ia até questionar, como mero exercício retórico, de que lado é que estarão as polícias e as forças armadas... que também são funcionalismo e auferem remunerações miseráveis. Ou Passos pagará a uns e não a outros? Este é o único «tug-of-war» que o(s) perturba, aos Passos e aos Sócrates... e aos outros da seitinha dos interesses.

Falemos, pois, seriamente: qualquer indivíduo que faça destrinça entre um «funcionário público» ou outro ser vivente qualquer que trabalhe por conta de outrem, se virmos bem, não está mais do que a falar sem saber muito bem o que diz, ou deliberadamente a impingir-nos uma aldrabice.

Podemos também imaginar a «raivinha de dentes» que assalta os teóricos do neoliberalismo e outros, perante estes últimos redutos da concentração de pessoal assalariado, concentração que facilita as movimentações reivindicativas, pois por ela é mais fácil constatar, ainda, que a união faz a força.

A táctica de dividir para reinar é velha e relha. Ele, este Passos, exerce todas estas arbitrariedades que anunciou na presunção de que, como mera entidade patronal, é o que lhe está mais à mão, a ele e ao  Estado que, por votação, representa. E é mais fácil. Mais nada!
 
Será, entretanto, também incompetência, desespero e desvario. Ausência de capacidade para criar uma nova esperança para uma nação dela tão carenciada.  

Estamos, de facto e uma vez mais, muito mal entregues!

outubro 17, 2011

Falácia de falsa precisão

15 de Outubro de 2011
O primeiro-ministro justificou a eliminação dos subsídios de Natal e de férias apenas na função pública, até 2013, pelo facto da média salarial ser superior à que se regista no sector privado.
"A verdade é que em média os salários na função pública são 10 a 15% superior à média nacional", disse Pedro Passos Coelho.

Esta é uma falácia de falsa precisão - números apresentados com suposto grande «rigor» mas que escondem «cascas de banana».

Quem analisa estatísticas a fundo sabe que as médias são quase sempre uma grande... «mérdia».
Neste caso, basta verificarmos que estamos a comparar dois universos bem distintos: do lado dos funcionários públicos, têm um peso significativo professores, médicos, magistrados, enfermeiros... e tantos outros com formação superior. No universo dos trabalhadores do sector privado há um peso enorme de pessoas sem qualificações ou simplesmente com formação básica. Um outro factor que enviesa os dados é o número de chefias que há em muitas entidades públicas. Comparem as remunerações estrato a estrato, profissão a profissão... e deixem-se desta «grande mérdia»!
Ah! E para já não falar num facto que é «esquecido» com muita - demasiada - facilidade: os funcionários públicos não conseguem evitar que as suas remunerações, ou pelo menos parte delas, não estejam sujeitas a pagamento de impostos.

outubro 14, 2011

Quem quer ser funcionário público?

Eu compreendo.
Quando há demasiada gente num grupo e se torna incomportável mantê-los a todos, primeiro tenta-se que saiam voluntariamente. Se isto não resulta (não importa agora porquê, nem me convence a idiotice generalista do ser-funcionário-público-é-que-é-bom-é-só-calões-que-não-fazem-nenhum), o passo seguinte é tornar as vivências grupais tão absolutamente negativas que quem já lá está daria tudo para sair e quem não entrou deixa de ter aquele grupo como um dos que gostaria de fazer parte.
Touché, Dr. Passos Coelho & Companhia!
Se a intenção era pôr todo e qualquer funcionário público (ou melhor, os abonados, que ganham mais de mil euros, essa quantia disparatada!) a perguntar-se pela vida, a sentir-se lodo a ser pisado e a interrogar-se sobre como é que, do emprego "seguro" e pago a dias e horas certas se passou a esta insanidade, durma descansado, porque certamente conseguiu-o.
Não sei é se essa cantilena de que todos temos de fazer sacrifícios em prol do bem comum vai continuar a colher, quando os que pagam são sempre os mesmos e os que diziam estar na disposição de se sacrificar continuam a fazer a vidinha de sempre.

À paulada, minha gente, à paulada!

Esta cambada de sonolentas mentes auto-anunciadas brilhantes, iluminadas e refulgentes, muito (a)mestradas e invariavelmente pós-graduadas até à inclemência, que frequentaram os mais altos e internacionais recessos da arte de bem aliviar toda a carteira alheia, em recônditos de economia e gestão, não nos apresentam, afinal, como panaceia para o descalabro a que a parentela que os antecedeu levou Portugal, senão o estafado e piroso número de ilusionismo fatela do coelho dos impostos – em peluche e da loja do chinês – a sair da cartola de papelão do défice.

Ora, para isso, também eu, sem qualquer domínio na Economia ou na Gestão e, de certezinha, por um preço muito mais baixo do que aquele que cada uma dessas mentes nos custa. E, também, sem precisar de estar reunido onze horas para concluir a habilidade.

Seria capaz de o fazer, mas creio bem que não o faria, porque os meus educadores me incutiram – porventura estupidamente – a noção de que roubar é um acto muito, muito feio. Há quem diga, até, pecaminoso.

Mas eles, não. Eles, os frequentadores dos sancta sanctorum das mais apuradas Salamanticae mundiais, mais não aprenderam, afinal, que a elementar arte do carteirista, ainda para mais com a agravante de que nem sequer dominam a técnica!

Bestas brutas, frias, cruéis e desordenadas, habituadas ao uso da calculadora desde a tenra infância, em que apenas balbuciavam grunhidos a pedir mama, saem dos seus covis fedendo à putrefacção das suas vítimas, em noites como a de ontem, de Lua Cheia, para descarregarem ondas atrás de ondas de impostos, taxas, coimas e demais malfeitorias com que hoje substituem o sangue das vítimas de ontem, sem lançarem uma única elementar medida de retoma, de ânimo ao desidério nacional, à esperança.

Mas a mãe que ao balcão de uma qualquer transportadora urbana abre mão de cerca de 250 euros para adquirir três passes «sociais», para si e para dois filhos que estudam, e que, cheia de estupor e espanto, reclama ingenuamente ao cobrador por lhe estar a entregar mais de metade do seu magro salário, é o produto mais acabado do que todos estes malfeitores do «centrão» andaram a perpetrar com as suas gestões iluminadas.

E pouco os apoquenta a contradição de quem tanto apregoa que há que manter no Estado o que ao Estado pertença, mas libertar a iniciativa privada para os mais altos voos, e vir, logo depois e afanosamente, imiscuir-se no dia-a-dia das empresas, subvertendo as leis e as regras que sedimentam as relações produtivas, das quais, aliás, o Estado deveria ser o primeiro garante.   

Para esta corja, não há leis, nem regulamentos, nem regras, no seu afã de prestar vassalagem aos seus mandantes. São, assim, os principais mentores da desobediência civil que, supostamente, tanto receiam.

E invocam, desgraçada e demagogicamente, que os novos paradigmas da economia mundial não se compadecem com a «rigidez» de tais leis, regulamentos e regras, quando todas as partes interessadas estão fartas, fartinhas,  de saber que não são os custos do trabalho que impedem a progressão das empresas ou do país, mas sim todos os demais custos de produção, aliados a estratégias passadistas ou inexistentes de gestão dessas mesmas empresas.

Nos intervalos do delírio, propõe-se a criação de hortinhas nos grandes centros urbanos, talvez como frustre e ridícula panaceia contra a fome que se adivinha, a breve trecho, nesses mesmos centros urbanos. E ainda havemos de ver uns tanquezitos ou algumas piscinas transformadas, nas traseiras dos prédios, para a criação de enguias ou de perninhas de rã, porventura preferencialmente para exportação, que é, pelos vistos, o único remédio para a crise.

Mas até isso, ó deuses das coisas pequenas, acaba por incrementar a «economia paralela», não trazendo, portanto, qualquer equilíbrio saudável para as contas públicas.

Eu cá, creio que vou dar livre curso ao meu espírito empreendedorista e abrir uma escola de jogo do pau. É tradicional, pelo que será subsidiada, decerto, e prevê-se negócio com futuro, pois a paciência do cidadão há-de ter algum limite. E quando ele for chegado, pelo menos um varapau há-de dar jeito.

E que, a mim, não venha nenhum dos palhaços-ricos dizer que a crise é culpa de todos nós, que eu cuspo-lhe na cara e mudo de passeio. Depois da paulada que lhe darei, claro…

Negativa esta crónica? Ora, adeus! Toda a gente está marreca de saber quais as soluções para inverter este estado de coisas!

outubro 12, 2011

Nostalgia e pessimismo (só desta vez…)
- morreu um jovem mineiro numa mina em Portugal

Há qualquer coisa de profundamente anacrónico ou até de esquizofrénico numa sociedade onde se propagandeia a nossa adesão incondicional e imediata aos mais vanguardistas avanços da tecnologia, que nos transforma numa espécie de árvore de natal com pernas, onde os enfeites são iPhones e iPads e iPods, num ai-jesus-que-não-me-chega-o-que-ganho mas, logo ali ao lado, uma mina de volfrâmio, velha como as coisas velhas, desaba sobre um jovem de vinte anos, ceifando uma vida, inútil e desperdiçadamente, por pouca ou nenhuma aplicação dos avanços tecnológicos de que a Humanidade dispõe e que tão bem poderiam e deveriam prever e impedir desgraças destas.

Que me perdoem os puristas da arte de bem escrever pela extensão do parágrafo anterior, mas ela é seguramente menor do que a extensão da sensação de indignação que me percorreu ao saber de mais esta morte inútil. Deste desperdício de uma vida ainda tão pouco vivida.

Por uma daquelas coincidências em que a vida é fértil, perto da mesma hora em que decorreu tão funesto evento, estava eu, no teatro A Barraca, em Lisboa a ouvir uma actuação de um grupo coral constituído por velhos mineiros reformados das minas de São Domingos, no Alentejo, actuação que foi encerrada por um Hino aos Mineiros, em homenagem a todos os camaradas mortos no exercício da sua esforçada labuta. Podem ser colhidos mais detalhes aqui: Grupo Coral da Liga dos Amigos da Mina de São Domingos - http://ligasaodomingos.com.

Cântico colhido no acervo musical asturiano, cuja fertilidade se empolgou durante a Guerra Civil espanhola, e que os irmãos alentejanos tiveram artes de adoptar como bandeira cantada.

Cântico a que o acaso aliado à necessidade – neste caso, a necessidade imperiosa do sustento diário – conferiu foros que ninguém, de quantos presentes juntaram a sua voz àquele hino, imaginaria.  

E fico-me por este apontamento-reflexão ou seja lá o que for isto, constrangido pelo desperdício tão inglório de uma vida, a somar a tantas outras que enxameiam a planura alentejana, e a que a bateria interminável e inexorável de i-qualquer-coisa dos cumes da tecnologia, não descobre artes de pôr cobro.

Nostalgia e pessimismo? Se calhar estavam à espera que eu comentasse o facto de a entidade patronal envolvida ter, muito prontamente, sugerido que o rapaz morreu por culpa dele próprio…

outubro 09, 2011

Preparem-se que vem aí mais uma mudança de hora (uau!)

No próximo dia 30 de Outubro vira o disco e toca o mesmo!
Mas pelos vistos só 164 portugueses acham que a mudança de hora não deveria existir. É que são só 164 os signatários, até agora, da petição «Não à mudança de hora».
Já poderia enviar a petição à Assembleia da República. Mas teria muito mais força se o número de peticionários fosse superior: qualquer petição subscrita por um mínimo de 1.000 cidadãos é, obrigatoriamente, publicada no Diário da Assembleia e, se for subscrita por mais de 4000 cidadãos, é apreciada em Plenário da Assembleia.
Da apreciação das petições pela A.R. podem resultar diversas consequências de que se destacam:
- a comunicação ao Ministro competente para eventual medida legislativa ou administrativa;
(...)
- a apresentação, por qualquer Deputado ou Grupo Parlamentar, de um projecto de lei sobre a matéria em causa.


Para quem quiser divulgar esta petição na sua página, há «banners» disponíveis aqui.

outubro 05, 2011

«Occupy Wall Street» - mais informações


Como o Jorge Castro já aqui alertou, está a decorrer desde 17 de Setembro um imenso protesto em Wall Street, Nova Iorque, contra a actual situação política e económica que afecta a grande maioria da população (este movimento assume como número chave 99%, por oposição a 1% - os ricos e poderosos).
A página não oficial do movimento «Occupy Wall Street» é esta: OccupyWallSt.org.
Entretanto, o movimento alastrou a outras cidades dos E.U.A. e o «Occupy Together» está activo actualmente em 266 cidades - OccupyTogether.org/
Há algumas páginas com reportagens em tempo real, como esta.
Aqui podemos ler a Declaração da Ocupação da cidade de New York.
Este protesto tem apoios cada vez maiores, por mais que esteja a ser "esquecido" pela comunicação social.
Embora até agora se mantenha pacífico, pode ser o início de uma revolução.



Michael Moore fala sobre o movimento e apoia-o:



Aqui, quando o protesto passava pelo distrito financeiro de New York, Wall Street, reparem na maltinha que está nas varandas:

outubro 04, 2011

A posta que a estes não convencem a votar

Foi-me ensinado em pequeno que o Estado era uma espécie de manto protector que se estendia sobre a Pátria lado a lado com a mão de Deus que acabava, no entusiasmo doutrinário dos professores da altura, por ser quase a mesma coisa.

Provavelmente não existia uma realidade mais pura do que esse Estado que acumulava miséria em bairros de lata mas não se poupava a esforços para fortalecer a evangelização que já era uma tradição secular nas colónias, espalhar a fé à bruta por Deus e, por inerência, pela Pátria que era um Estado e por isso acabava, na cegueira imperialista dos seguidores do apóstolo de Santa Comba, por ser quase a mesma coisa, como acima referi.

Era divinal, esse Estado que me foi ensinado desde o embrião glorioso nas gentes de Viriato, passando pelo anjo milagreiro que ofereceu a D. Nuno uma quadratura perfeita para nos explicarem essa ligação tão próxima entre a santíssima trindade e os gloriosos líderes do passado da Nação que, curiosamente, nunca fazia alusão nos manuais de História ao seu pedaço amputado que os espanhóis hoje chamam Olivenza, aterrando essa viagem pelo conhecimento da visão sagrada do que constituía afinal a herança desse Estado na viagem aérea de dois bravos que pareciam ter esgotado no início do Séc. XX os exemplos de heroicidade dos portugueses que nos explicavam porque valia a pena respondermos à chamada na idade certa para empunharmos uma G3 em sua defesa.

O Estado não mentia nem ocultava e certamente também não pecava porque de outra forma perderia a bênção do Cardeal Cerejeira ou a conivência do respectivo sucessor na ligação inequívoca da fé na Igreja com a esperança nos dias melhores que o Regime adiava sem qualquer medo da contestação minoritária desses filisteus que até os americanos combatiam na terra dos outros, perfeitos para serem pintados ao povo como os maus de uma fita censurada que só a Revolução de Abril permitiu exibir em tela panorâmica com cravos vermelhos desenhados nas cortinas que faziam parte da solenidade dos grandes cinemas de então.

O Estado perdeu nessa altura a ligação ao céu e o povo seria quem mais ordenaria e até deixou de ser pecado assistirmos aos onze ou doze anos a sessões de esclarecimento acerca de planeamento familiar, a par com tantas outras maravilhas que esse outro Estado que era sagrado por um falso motivo e agora oferecia coisas impensáveis como reformas na velhice, um sistema de saúde gratuito e, nessa altura era muito importante para este cidadão, um sistema de ensino misto e livre de reguadas que simbolizavam a disciplina até ao dia em que se revelaram uma forma de repressão.

A Liberdade embebedava e o Estado que agora era de todos menos de Deus parecia um manto protector que se estendia sobre o Povo mãos dadas com o Movimento das Forças Armadas que nos garantiria a paz, o pão e os direitos dos trabalhadores contra os lacaios do capitalismo, esses fachos repugnantes e parasitas que os padres ajudavam na exploração da classe operária e tudo isso agora terminara porque o Estado era o Povo e esse, claro está, não estava no país (que Pátria soava fascista) para enganar ninguém.

Passaram uns anos sobre essa conversão do Estado à sua versão laica que quiseram ensinar-nos a respeitar não por temor a Deus ou à PIDE mas apenas porque só podia ser assim.

O Estado de Direito garantia-nos uma gestão imaculada, uma governação quase tão sagrada como a que nos pintaram em miúdos e na qual o Estado seria sempre e sem qualquer hipótese de engano o equivalente a uma pessoa de bem. E este último conceito toda a gente teve o cuidado de nos ensinar muito bem, a honra e a palavra, a seriedade que fazia distinguir os bons cidadãos daqueles que nos ensinavam a olhar como bandidos, como marginais que nos roubavam e nos enganavam e mereciam estar todos encarcerados por serem uma ameaça para a população séria e trabalhadora que já nem precisava ser devota para merecer o seu lugar no paraíso que desceu do céu sob a forma da perpetuação do sistema de cunhas que tão bem funcionara no esquema anterior e agora poderia funcionar ainda melhor sem essa carga pejorativa teórica da moral cristã.

Novos (e antigos) representantes do povo, gente como nós e assim, instalaram as vidas nessa estrutura tão bem pensada, o Estado, e nas imensas regalias juradas eternas para os servidores públicos de tantos interesses privados que acabaram por desviar o dinheiro e a atenção de quem o deveria controlar até descobrirmos todos que a Pátria, a Nação, o País, aquilo que prefiram chamar-lhe, estava num estado deplorável que o tal Estado que era sagrado não soube evitar.

Eu, que fui ensinado em pequeno e depois em mais crescido a acreditar que o beneplácito de Deus ou a fiscalização das autoridades competentes que dantes não lhes escapava um rebelde comuna mas nisso das contas nunca foram exemplares, tenho razões para me sentir defraudado com essa organização chamada Estado que me prometeu Mercedes em suaves prestações a perder de vista no mesmo horizonte da minha velhice agora cada vez mais desamparada em matéria de segurança social. Sinto-me enganado, sem dúvida, pelo povo que desordenou nesse Estado e criou as condições para agora me ver arrastado pelo turbilhão da crise à mostra quando o tal manto protector de repente encolheu e nos destapou os pés de barro no país das maravilhas onde os milagres deixaram mesmo de acontecer, excepto a impunidade adivinhada para os que nos tramaram e agora dizem que não há dinheiro para nada apenas porque sim.

Mas nunca conseguirei sentir-me tão revoltado como se tivesse estado na pele de um dos alunos a quem a tal pessoa de bem que é o Estado entendeu negar a miúdos, à última da hora, um prémio pecuniário prometido pelo mérito escolar superior sem nenhuma outra razão plausível que não apenas porque não.

outubro 03, 2011

Ocupantes de Wall Street - vocês sabem que isto está a acontecer?

Quantos de nós sabemos que está em curso, há cerca já de três semanas (!!!), um imenso protesto em Wall Street, Nova Iorque, contra o que poderíamos denominar o «domínio dos mercados»?

A nossa pífia «informação», manietada ou cúmplice com os interesses instalados que não conhecem fronteiras  - como fica, para quem não o saiba, bem patente através de exemplos como este - ilude ou sonega, liminarmente, a divulgação deste imenso protesto.

Os gritos dos manifestantes perante a repressão da polícia: «- Shame on you!», podem muito bem ser extensivos aos nossos meios de comunicação «social».

Informem-se e divulguem:


- isto são mensagens mais ou menos em tempo real dos eventos:
https://twitter.com/#!/search?q=%23OccupyWallStreet



Occupy Wall Street Protesters Take Brooklyn Bridge - 700+ Arrested HD
http://www.youtube.com/watch?v=a1tCYAEDl6g

outubro 01, 2011

Rap da batalha Keynes - Hayek

Video da autoria de Jeffrey A. Tucker, editor do site www.Mises.org.
Quem me dera ter tido esta "aula" quando estudei na faculdade de Economia...
Socorro-me desta notícia sobre o video para o enquadrar na análise económica e, em particular, no momento de instabilidade que estamos a atravessar:
"A letra da música não só é fenomenal, como também apresenta uma descrição extremamente apurada da visão antagónica que ambos tinham da mecânica dos ciclos económicos.
(...) O debate entre J.M. Keynes e F.A. Hayek, ambos vivendo e leccionando na Grã-Bretanha nos anos 1930, foi um dos grandes debates do século. Desafortunadamente, o charme keynesiano acabou por  prevalecer e Keynes, um homem que estava em frequentes viagens pelo mundo, acabou por conquistar o pódio da audiência — a ponto de influenciar a política de todo o mundo até aos dias de hoje.
Enquanto isso, o sereno e estudioso Hayek nunca de facto teve uma grande plateia. Assim como o seu colega e mentor Mises, Hayek escrevia para jornais académicos e era ouvido apenas por aqueles que tinham uma mente mais céptica, pessoas que duvidavam das políticas e teorias convencionais e tinham a vontade intelectual de pesquisar os assuntos mais a fundo.
(...) Esse debate nunca ocorreu na realidade, uma vez que o ponto de vista hayekiano foi e tem sido sistematicamente marginalizado e escondido pelo establishment político e académico desde que Keynes foi prematuramente declarado o vencedor no final da década de 30.
(...) Além de ser uma bela e elaborada produção, o que realmente impressiona [no vídeo] é a sua transparência e acuidade teórica.
É verdade que em 1974 Hayek recebeu o Prémio Nobel, o que trouxe atenção para a sua obra que havia há muito sido esquecida. O comité do Nobel citou especificamente o trabalho de Hayek sobre a teoria dos ciclos económicos. Mas o renascimento desfrutado por Hayek nos anos seguintes não se centrou nesse aspecto da sua obra. Ao invés disso, toda a atenção foi voltada para elaborações sobre a sua evolucionária teoria social, as suas concepções sobre a ordem do processo de mercado e os seus estudos sobre a lei.
(...) Voltando ao vídeo, (...) Keynes é popular e amado por todos, sempre promovendo um estilo de vida boémio, com festas e farras intensas — o futuro que se dane. Já a personalidade de Hayek é mais intelectual, sóbria e até mesmo um pouco puritana, com um foco na realidade e no longo prazo.
(...) Os termos da argumentação são expostos bem claramente. Hayek diz que os ciclos económicos são causados por "juros baixos" resultantes de intervenções do governo, ao passo que Keynes culpa o "espírito animal" que opera livremente num mercado que necessita urgentemente de ser controlado.
Keynes então começa a explicar a sua teoria para a depressão. Ela é causada pela rigidez de salários e só pode ser curada se houver um estímulo à procura, por meio do aumento dos gastos governamentais e emissão de moeda. Ele defende obras públicas, guerras e janelas quebradas — pois tudo isso estimularia a procura —, alerta contra a armadilha da liquidez, defende déficits, vangloria-se de ter mudado o modo de se estudar economia, e conclui "Diga bem alto, com orgulho, somos todos keynesianos agora!".
(...) Sobra então para Hayek a missão de trazer realismo à discussão. Ele rejeita o argumento de Keynes pelo facto de este esconder muita agregação nas suas equações, as quais ignoram toda a motivação e acção humana. Hayek compara estímulos governamentais ao acto de beber mais para tentar curar uma ressaca. Ele chama a atenção para o facto de que não é possível haver prosperidade sem poupança e investimento.
(...) Ele começa a sua exposição alterando o foco da análise: não é a recessão, mas sim a expansão que deve ser analisada. Pois é durante a expansão que são plantadas as sementes do desastre. A expansão económica começa com uma expansão do crédito. Esse dinheiro recém-criado passa a ser erroneamente visto como sendo poupança real, que pode ser emprestada e investida em novos projectos, como imóveis e construção.
Porém, há uma escassez de recursos necessários para se finalizar esses projectos. Fazer moeda não faz com que os recursos surjam do nada. Esses projectos, portanto, transformam-se em investimentos erróneos. O "anseio por mais recursos revela que não há o bastante". É aí que a expansão se transforma em recessão. Quanto à armadilha da liquidez, ela é apenas uma evidência de um sistema bancário insolvente (...)
Jeffrey A. Tucker
editor do Mises.org
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque"

Apreciem o video:


Rap. Hayek Vs keynes from Fênix Felipe on Vimeo.