dezembro 31, 2011

A posta que vai chover


Terá existido com toda a certeza uma boa razão, um fundamento qualquer, para um dia alguém, um grupo, ter decidido que valia a pena chamar seu um pedaço de chão. Até aí a terra era de todos por igual, na teoria que a prática aparentemente trauliteira e sem dúvida territorial dos primeiros bandos nómadas em qualquer sítio onde parassem por algum tempo desmentiu.
Era de todos sim, mas espartilhada em função da respectiva ocupação por parte dos colectivos então dispersos para quem a partilha de recursos poderia equivaler à hipoteca de uma sobrevivência já de si precária.

Mas um dia lá apareceu quem gostou imenso da vista num sítio qualquer e achou que aquilo era bom demais para repartir à balda com os de fora, os estranhos em que passariam a tornar-se todos quantos não pertenciam ao grupo ali sediado. O conceito de estrangeiro nasceu aí, tal como teve embrião o de país ao qual nessa altura só faltavam fronteiras desenhadas à porrada, na versão igualmente trauliteira mas alegadamente mais civilizada da demarcação de territórios original.
No fundo a ideia era a mesma, definir com clareza quais os membros de um clã instalado em determinado espaço e distingui-los dos outros, os tais de fora, que se haviam instalado noutro sítio qualquer há tanto tempo que até já falavam entre si com linguagens incompreensíveis e exibiam costumes e objectivos diferentes de toda a vizinhança que entretanto decidira imitar o tal primeiro exemplo de um espaço de alguém, de um grupo, que pusera fim à liberdade de circulação tal como os nossos antepassados com maiores afinidades com os símios a experimentaram.

A coisa refinou com o tempo, sobretudo para se adaptar ao crescimento populacional que a vida mais pacata, sedentária, acarretou. Para evitarem escaramuças e confusões até tentaram firmar acordos que permitissem dividir os territórios com os respectivos limites bem definidos para ninguém reclamar como seu um pedaço fronteiriço qualquer, mas a História não esconde que essa solução nunca se revelou consensual.
As nações foram sendo moldadas pelas alianças de conveniência, pelos oportunismos de circunstância e acima de tudo pela força dos que mais a tinham para impor a vontade dos homens afirmando-a de Deus.
Mas a malta, os que não tinham alternativa, lá ia ficando e aos poucos se iam habituando a falar igual aos vizinhos e a cantar as mesmas músicas e a contar as mesmas histórias da vida que acontecia dentro de um espaço a que chamavam seu porque fazia parte de uma enorme propriedade colectiva chamada país.

Muito tempo depois da criação do primeiro aglomerado populacional com território reclamado como seu e pouco tempo decorrido sobre a perda de milhões de vidas à conta da cobiça expansionista, a galinha do vizinho, alguém percebeu que a melhor forma de acabar com essas cotoveladas, com esses chega para lá que o desenvolvimento da tecnologia militar ameaçava transformar num armagedão, seria unir os vários grupos distintos de um mesmo continente em torno de uma lucrativa e muito fraterna união das que se fazem à força dos milhões.

O problema é que esses visionários concentraram-se imenso na parte do lucrativa e ignoraram o risco de a coisa dar para o torto e tornar-se quase impossível de sustentar a parte do fraternal.
As mesmas populações reconhecidas pela paz e pela prosperidade que a ligação mais próxima com gente estrangeira parecia garantir viraram o bico ao prego quando começou a faltar o pilim e de um dia para o outro começaram a erguer-se os estandartes do salve-se quem puder e, como é tradição, os mais fortes e endinheirados olharam primeiro para os seus umbigos quando passou a estar em causa a salvação, assim o acreditam, de apenas alguns.

E se as fronteiras do passado começaram a redesenhar-se com enorme definição, pelo menos nas prioridades dos mais poderosos, as perspectivas para o futuro europeu ameaçam tornar-se num borrão, numa pasta disforme de incógnitas onde o cinzento predomina no céu cada vez mais escuro, mais carregado com a ameaça permanente de um tremendo temporal.

«Amor, política, segredos e 2012» - Bagaço Amarelo


Ontem estive, como deputado da bancada do Bloco de Esquerda, numa Assembleia Municipal que aprovou o Orçamento e as Grandes Opções do Plano para 2012 do município aveirense. Não vos vou chatear muito com isto, mas aconteceu "por acaso" que a maioria do PSD votou a favor de um orçamento em que não se conseguiu explicar de onde se espera receber mais de 27 milhões de euros (ver imagem). Na prática, isto quer dizer que o Executivo fica com uma margem de 27 milhões de euros para realizar vendas e privatizações do que quiser sem ter que passar cavaco a ninguém, mesmo que essas vendas e/ou privatizações descapitalizem ainda mais o Estado, ou seja, todos nós. Três dos quatro deputados do CDS faltaram à sessão mais importante do ano, para assim não terem que votar nem discutir um Orçamento que é no mínimo... esquisito.
Porque é que Vos estou a falar disto? Porque hoje mesmo, na viagem matinal de comboio que fiz para o meu emprego, fui ouvindo uma discussão em que uma mulher dizia que "os políticos são todos iguais". Eu, como político, apetece-me dizer que os eleitores é que são todos iguais, porque vão votando sempre naqueles que mais os prejudicam para depois se queixarem. Ou então, pior ainda, nem sequer votarem e passarem apenas a dizer que os políticos são todos iguais. Mas sei que não é assim, que os eleitores não são todos iguais, e é por isso que não desisto de ter o meu papel político assumido. Nunca gostei de indefinições...
Sou assim na política, que é racional, mas também sou assim no Amor. Não gosto de indefinições nem de pântanos. Como na política, no Amor voto a favor ou contra o que a minha namorada diz ou faz, sempre com declarações de voto. Ela também, e ainda bem. Esse é um dos motivos pelos quais eu gosto muito dela. Muito mesmo. Entre mim e ela não há milhões escondidos para depois cada um usar como muito bem lhe apetecer. Não há segredos. É por isso que não há amuos nem divórcios.
E eu que sempre disse que na política não pode haver lugar para emoções, admito que me enganei. Pode, pode. E nós, eleitores, devíamos ser todos iguais nesta relação que temos com quem elegemos. Devíamos exigir que tudo se esclarecesse para depois não nos divorciamos a propósito duma discussão que nem sequer percebemos mas que... sentimos. Por estes tempos andamos todos, aliás, a sentir com mais intensidade.
Em 2012, já todos percebemos, vamos sentir ainda mais. É por isso que hoje Vos peço, com alguma humildade política e com toda a emoção que me liga a quem aqui passa, que dêem a mesma importância à política que dão ao Amor. É a única forma de ambos correrem bem.

bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Compre o seu calendário para 2012!



Raymond Burki - PressEurop

dezembro 30, 2011

Esquizofrenias profissionais

A minha amiga A., lá do reino de Sua Majestade, enviou-me  uma coisa tão verdadeira que até dói, sobre esta coisa do ser professor.
Só faltou acrescentar que, mesmo com 20 horas de aulas semanais num semestre (no ensino superior, que é qualquer coisa como mais de três vezes o horário normal de um docente), ainda há quem ache que aqui a escrava poderia acumular umas horitas noutro lado qualquer.
Ou que os alunos, se o professor lança as notas cedo demais, estraga-lhes as férias; se usa os 15 dias a que tem direito por lei, nunca mais se despacha e não faz a ponta de um chifre.
Tirando isto (e isto), é a melhor profissão do mundo (à excepção da crítica gastonómica ou da reportagem de viagens, vá...).

dezembro 29, 2011

Do engano e da dúvida

Se há coisa que nos passa com a idade é a certeza das certezas, sobretudo das nossas. Se não passa, é porque não crescemos, porque não soubemos amadurecer nem, como dizem os outros, to put things in perspective ou, como dizemos nós, relativizar. E relativizar é o contrário de absolutizar, de rotular, de formar dogmas. E o dogma dá segurança, constrói chão.
Viver sem certezas absolutas e aberta ao engano é uma canseira, um peso nos ombros, um perfeito disparate. E, todavia, é o que nos espera a todos os que tenhamos a ousadia de pensar (que me seja permitida a paráfrase livre de I. Kant), o atrevimento de pôr em causa, a insanidade de supor como seriam outras realidades, que não as que escolhemos e, se necessário, fazer opções diversas.

Ou então desejar que o nosso PR oferecesse uns workshops à malta sobre como nunca se enganar e raramente ter dúvidas. Poderia ser que, sendo uns socos dogmáticos, uns autistas incomportáveis, uns idiotas de primeira apanha, dormíssemos melhor e sem apertos no estômago ou noutro lado qualquer.

dezembro 28, 2011

utilidade pública - migrantes célebres... ou nem tanto

Com a devida vénia ao ilustríssimo amigo EM, que me fez chegar informação sobre tão brilhante grupo de palestrantes tunantes migrantes, numa lamentável hora em que há quem considere que o melhor de SER PORTUGUÊS é... não o ser:

Ciclo de conferências sobre o tema “Emigração no sec XXI”
Serão oradores os melhores especialistas da actualidade.
Promoção: PM&Cia
Acesso gratuito.
(Ver programa em anexo)

dezembro 23, 2011

um Natal para quem quiser...

era uma vez…
um natal feito desgraça
tão sem graça
a meio gás
sem luz nem riso na praça
às ordens do capataz
sem se iluminar a noite
com tudo o que nos apraz
sem coragem que se afoite
por raiva
amor
ou objecto
de saber que se é capaz
de dar brado e colher eco
cada um sob o seu tecto
mas irmanados na paz

era uma vez…
um natal de tal vergonha
dessa coisa vil
medonha
de não erguermos a voz
contra mantos de negrume
ou solitário azedume
sem vontade que se arrume
por não sabermos de nós…

e tudo era o que só era
sem apurarmos porém
que o amanhã está à espera
do dia que já lá vem…
não fiques então à espera
pois quem espera desespera
seja cá
seja em Belém

talvez se unirmos a voz
um ao outro
sem temores
seja o Natal mais de nós
e não de um outro qualquer
mais nosso
com mais valores
e será de mais amores
sempre que um homem quiser.

- Jorge Castro... Sendo esta a mensagem de Natal que me apetece deixar a quem por aqui passar.

dezembro 20, 2011

Esqueletos no armário

Não sei exactamente de onde vem a expressão, sei apenas que é a tradução à letra do inglês skeletons in the closet que, segundo o Urban Dictionary, aponta para segredos ou memórias passadas que o sujeito gostaria que não viessem à tona; não tem necessariamente que ver com passados sombrios, pode estar relacionada com momentos embaraçosos, causadores de vergonha (ou sentimentos similares), de que não se quer falar.

Lembrei-me disto a propósito de uma conversa, havida há tempos e provinda de onde menos se esperaria, relativamente à exposição a que me auto-submeto com o este blogue: porque é muito pessoal, porque escarrapachas a tua vida, porque isso pode vir a ser usado contra ti no futuro, porque profissionalmente pode vir a ser um impedimento. E blábláblá, que conversas destas conheço eu de cor e salteado e são mais uma pedra de toque para saber com quem lido.
E lido, normalmente, com quem tem armários carregados de esqueletos (os meus são mais roupa, sapatos e acessórios, sorry) e não concebe que haja alguém que, por não os ter, nada teme. Lido com quem não percebe o que é viver sem máscaras de qualquer tipo e de peito aberto para o feedback de quem gosta, de quem não gosta e de quem odeia (sendo, provavelmente, estes últimos, os que mais avidamente querem saber de mim, o que por si só os caracteriza na perfeição). Lido com quem gostaria de ter a mesma sorte mas não percebeu que, antes de mais, tem de proceder a uma limpeza nos seus próprios armários. Lido com quem vive no medo de não agradar, no medo de não ser querido, uma vez descobertos os seus esqueletos.

E depois há os outros. Os que, iguais a mim (não sendo melhores ou piores do que os demais), escolheram viver de armários limpos de porcaria e que, por isso, podem ser quem querem e quem escolheram. E podem dizer e fazer o que lhes apetece, sem medos. Porque, como me dizia uma amiga ontem, "eu não jogo em duas equipas"; e jogar em duas (ou dez ou cem) equipas é a grande maçada que tem de gramar quem prefere viver de armário cheio de coisas que quer esquecer. Até ao dia em que, de tão assoberbado, o armário se abra. Ou seja aberto. E nesse dia, os medos que as pessoas têm pela minha exposição serão uma ninharia, ao pé da quantidade de lodo que terá de limpar quem escolheu viver como a avestruz: fazendo de conta que não tem podres, espera que os outros não lhos reconheçam.
Até ao dia...

A especialidade de dizer coisa nenhuma

De passagem por conversas antigas, deparou com uma, em que dizia a alguém, a quem não sabia sequer o que dizer, à época, tamanha era a dimensão da mensagem que tinha à frente, que era "muito especial".
Agora, imensas luas passadas (seriam assim tantas?!), concluiu, com um sorriso triste de conformado, que só se usa o epíteto em causa quando não se quer ferir o outro com o honesto "olha, agradeço-te muito todos os elogios, mas não tenho nada de equivalente que te diga". É ai que entra o "é especial", que quer significar o muito que é o nada que se tem para retribuir.
No caso, a pessoa ripostou com um "os que me rodeiam também me dizem que sou especial e eu não consigo acreditar nisso". Na altura, achou que a coisa ficaria por ali e nunca pensou que, quase meio ano volvido e muitas conversas travadas depois, ficasse com duas certezas, ambas de travo amargo: por um lado, que não lhe gostaria de estar na pele, se tudo quanto a rodeasse fosse gente a dizer-lhe que é "especial", que é o equivalente a dizer coisa nenhuma; por outro que, infelizmente, a pessoa tinha toda a razão e que a especialidade não seria, de todo, o seu forte.

dezembro 18, 2011

A posta numa dívida soberana


Embora não seja coisa engraçada acho sempre imensa piada aos desabafos daqueles que choram a perda da soberania por via do torniquete que a crise nos aplicou.
A anedota encontro-a no facto de os maiores chorões se apregoarem adeptos de uma Europa fraterna, unida, quase irmã à luz dos impulsos federalistas dos mais interessados numa integração total e muito para além da economia que acaba sempre por constituir o motor para estas uniões de fato e gravata só para a fotografia institucional ser composta.

É complicado para mim entender estes receios hipócritas emanados dos mais entusiastas por aproveitarem o pretexto da crise para aprofundarem os laços da união que prova só funcionar na perfeição quando o dinheiro não é problema. Soa-me paradoxal, o instinto protector da soberania ameaçada pela ingerência nas Constituições dos países – o limite ao défice quantificado nos desígnios alegadamente superiores das nações – e a coragem unionista necessária para aceitar a imposição de regras que descaracterizam os países e forçam a importação de um modelo de sociedade muito parecido mas de forma alguma tão igual como o desejariam os snobes do norte europeu mais endinheirado.

Se antes a retórica política ainda defendia a custo a paridade, os mecanismos de protecção dos países mais pequenos ou periféricos que garantiam a igualdade no peso decisor dos diversos Estados, agora temos alemães e franceses a ditarem os caminhos a seguir como se o poder do dinheiro se sobrepusesse aos restantes. E afinal prova-se que se sobrepõe, como o demonstra a anuência dos restantes e a falta de tomates generalizada para assumir um murro na mesa para perguntar: afinal quem manda aqui?

Todavia nem perguntam e já nem tentam esconder, desorientados pela falta de soluções para o sarilho nascido da sua incompetência e da dos seus antecessores, intimidados pela condição de reféns do medo de se verem arrastados para o vórtice do furacão que já varre a Grécia, a Irlanda e Portugal, enquanto Itália e Espanha tentam escapar ao vendaval para não desabar toda a estrutura pelo efeito dominó.
São as regras do jogo jogado sobre as brasas do colapso iminente da tal união monetária que todos adivinham ser a única que interessa verdadeiramente e sem a qual tudo o resto é folclore.
Um jogo em que parecemos mergulhados no grupo mais perdedor, com a tal soberania derrotada em qualquer dos cenários concebidos pelos especialistas na matéria. Precisamente os que mais contribuíram para esta inevitabilidade aparente de perdermos pelo caminho uma realidade chamada Portugal, hipotecada aos mais poderosos pelo peso do dinheiro depois de séculos a impedir que tal acontecesse pela força das armas.

É um facto que devemos temer pela soberania, sobretudo pelo impacto da apatia e da cobardia generalizadas perante um descalabro que até faz ministras chorar e que entrega aos poucos o futuro do país nas mãos ávidas de quem não o sente dessa forma, como uma Pátria antiga capaz de feitos de dimensão mundial mas convertido em presa fácil numa impiedosa coutada de piranhas multinacionais.
É outro facto que ninguém pode garantir coisa alguma como moeda de troca para o estrangulamento de cada vez mais famílias e empresas à mercê de um sistema implacável onde nos endividamos perante quem nos empresta e quando voltamos a precisar damos de trombas com a verdade da condição financeira das instituições que nos poderiam valer até chegar o momento de ver tudo deitado a perder na frieza que os números negativos traduzem e implicam.

E na verdade quando se chega a esse ponto, as perdas das soberanias já pouco ou nada nos preocupam.

dezembro 17, 2011

Vampiros

Durante a minha vida, tenho-me cruzado com umas tantas pessoas que gostam tão pouco de si, que se prezam em tão diminuta monta, que, para não darem o tilt nem trabalharem a sua personalidade (o que constuiria uma canseira e isso é mal a afastar desde logo), aproximam-se de outras que, de algum modo, acham que as podem tornar seres melhores por contágio e laboram no sentido de lhes sugarem o que querem para si.
À primeira vista e numa primeira (mas curta, porque o tempo urge) fase, são seres dedicados, que parecem dar tudo quanto têm pela felicidade daquele/a a quem querem sugar o sangue e o resto e não descansam enquanto não lhes conquistam a confiança, o que passa por exaltarem o muito que têm em comum com o alvo que têm na calha, por lhe proporcionarem momentos surpreendentes e por concordarem com todas as suas opiniões, elogiando ad nauseam estes e outros atributos.
Mais tarde ou mais cedo, com mais ou menos trabalho, atingem o seu primeiro objectivo: o alvo cede e decide-se a confiar. E como o dito alvo não foi escolhido ao acaso, a confiança é absoluta e a entrega total.
Depois da presa bem envolta numa rede de mentiras e máscaras criadas para o efeito, mantêm a patranha durante uns tempos, para a cisão não ser tão notória; todavia, esta é a meta menos bem conseguida: a persona criada, ávida do alcance do seu objectivo primeiro, crava o dente e começa a sacar tudo quanto pode, de bom e de assim-assim. Cria na presa sentimentos de culpa e de compaixão, manipula-a à exaustão e a teia começa a ficar mais densa, sendo difícil escapar-lhe.
O que este tipo de vampiro nunca perceberá é que é manifestamente impossível retirar tudo quanto tem de bom quem tem, de facto, bem dentro de si. E, um dia, a presa começa a espernear, a reivindicar, a querer voltar a ser inteira. E não há casulo que prenda quem sabe o que é ser livre de demónios e feliz à sua custa, pelo que se libertará seja lá como for.
Uma vez liberta, poderá ainda ser alvo do predador, porque demorará até que perceba a razão pela qual, logo ela, que nunca devolveu a amargura e até cedeu sangue do bom em consciência, para limpar o do outro, já putrefacto, tinha de passar por tanta provação.
Mas o ser humano é uma coisa extraordinária e tem uma capacidade de sobrevivência quase mágica: o sangue começa a limpar-se de impurezas, os ataques não são mais do que alfinetadas menores e a certeza de que de um erro (mesmo dos graves) se podem tirar ilacções (e não só) positivas prevalecem.
O vampiro... o vampiro continuará a atacar almas boas. E a magoá-las. Mas, se pensarmos bem, não passa de um pobre ser quase acéfalo (no sentido em que jamais perceberá que a quimera de se tornar melhor é uma batalha perdida, salvo se alterar a metodologia e partir de dentro para fora), que nunca conseguirá retirar de ninguém aquilo que o tornará melhor: integridade, honestidade, respeito, valores e princípios.
Provavelmente, se algum vampiro me lê, nem saberá em que consistem os conceitos. É que estes, meus amigos, nem por contágio se transmitem, a gente que não possui coluna vertebral.

dezembro 15, 2011

O hipocrisismo

Um dos aspectos que mais me suscita estranheza na catadupa de medidas avulsas que este elenco governamental (como tantos outros) tem vindo a assumir – é a aparentemente escandalosa evidência de que as medidas tomadas apontam, em termos de elementar senso comum, para um efeito diametralmente oposto àquele anunciado como pretendido.

Vejamos alguns exemplos:

1 - Aumentar a idade da reforma não é, obviamente, uma flagrante medida de agravamento do desemprego, que nem suscita a mínima análise comprovativa por ser tão óbvia?

2 - E se a insustentabilidade da Segurança Social advém de haver cada vez mais idosos do que jovens – outra enormidade social, diga-se, e que não contempla a verdade primordial de que cada um descontará para si e não para gerações passadas –, como permitir e promover, então, que as novas gerações tenham acesso impedido ao mercado do trabalho? Para onde irá a sua própria segurança na reforma de que o Estado deve ser garante?

3 - Foram diabolizadas as «golden shares» em empresas de serviços nacionais – que já por si deveriam, em minha opinião, ser estatais pela importância estratégica que detêm na nossa soberania – e vai de privatizar a parte residual que cabe ainda ao Estado. Antes de mais, a «golden share» e a posse de acções não são, como é evidente, sinónimos. Isto é, se o Estado Português foi «obrigado» por Bruxelas a abrir mão dessa prerrogativa, tal não implica que o mesmo Estado tenha de abrir mãos das acções que detém.

Mas não, porque está aí o défice e é preciso empenhar anéis e dedos, para parecer bem aos nossos mandadores internacionais! A curiosidade é que, em casos de maior relevância como é, por exemplo, o da EDP, três dos quatro maiores interessados na aquisição de tais acções são, nada mais, nada menos, do que empresas estatais… de outros países! E o quarto, não sendo estatal, é pelo menos promíscuo em relação ao Estado do país em que está sedeado.

Resumindo o óbvio: o Estado Português vende, por mau preço, a outro Estado soberano as suas armas de defesa estratégicas e da pouca soberania que nos vai restando.  

No caso em presença, a EDP, ainda por cima uma das mais importantes empresas mundiais na área das novas tecnologias energéticas, pode mesmo dizer-se que estamos a entregar o ouro ao bandido. Ouro que cada um de nós está a pagar na factura da electricidade e que o «nosso» Estado abandalha e esbulha como se fosse dono dele.

4 – Mais meia hora de prestação diária para trabalhadores de empresas privadas, é outra coisa bárbara. Para além de me parecer uma das mais descabeladas traições ao ideário social-democrata pelo que comporta de ingerência do Estado na área privada – pelos vistos, outra hipocrisia -, aqui temos uma muito excelente medida para aumentar desnecessariamente os níveis escandalosos de desemprego que já atingimos, em Portugal.

Para além dessa minudência irrelevante de, com tal medida, ainda se coarctar mais a disponibilidade de tempo dos pais para os filhos, já de si tão estrangulada na lufa-lufa diária e na desregulamentação do mercado do trabalho em que vivemos, e tão geradora das desestruturações do núcleo primordial da sociedade, que se apregoa ser a família.   

 5 – A recolha de alimentos para «bancos alimentares», ideia de clamoroso e publicitado apoio social nos tempos que vivemos, também ela tropeça num resultado prático aparentemente alheio à recolha de tanta solidariedade, em que somos, definitivamente, pródigos: a engorda dos grandes supermercados, como resultante colateral desta acção cívica, que despacham milhares de toneladas de alimentos, a preço de custo normal e ainda «botam figura» nos telejornais e, porventura, no fisco.

6 – As taxas moderadoras (?), ideia já aberrante na origem, destinada – como aliás sempre se faz cá por terra de lusitanos – a resolver administrativamente maus hábitos criados pela ineficiência e ineficácia das estruturas prestadoras de cuidados de saúde existentes, atingiram o seu cúmulo de bizarria quando foram estendidas também às intervenções cirúrgicas.

Na verdade, mal se entende que o comezinho cidadão se apreste a levar uma facada mais ou menos extensa na sua anatomia, apenas porque o dia amanheceu sem sol, ou porque não lhe ocorreu nada de mais expedito para fazer.

No fundo e como é evidente para todos, trata-se de fazer com que o «tendencialmente gratuito» direito à saúde, que a Constituição consagra seja mais uma letra morta neste pântano de falta de ideias e de transparência, onde o cidadão pagante não faz a mais leve ideia de qual o benefício que colhe por cumprir, a tempo e horas, as suas obrigações contributivas.

A saúde passou a ser paga e com língua de palmo, essa é que é essa, por força dos devaneios socráticos, a que se seguem os «imperativos» troikulentos e passistas. Mas mantém-se-lhes o nome de «taxas moderadoras», como modo imbecil de enganar papalvos.

Quando se discute a insustentabilidade do modelo de alta craveira civilizacional que seria o Serviços Nacional de Saúde, se o deixassem medrar, não se equaciona, por um simples momento, toda a mais-valia que representa para o interesse da nação uma população saudável e satisfeita, falta de abordagem essa que vai inquinar, à partida, qualquer avaliação objectiva.

Mil outros exemplos poderiam ser citados, nesta chusma de medidas cegas e avulsas, em perpétuo movimento de avanços e recuos, do Ensino à Saúde, da Cultura à Segurança Social, em que o actual elenco governamental se tornou perito.

Sabemos apenas que num país onde tudo é tão caro quanto na restante Europa, onde são pagos os mais baixos salários, a par da cobrança dos mais elevados impostos, taxas e quejandos, meia dúzia de bonzos insistem em gorgolejar que temos andado a viver acima das nossas possibilidades, que temos de fazer ainda mais sacrifícios, que temos, afinal, de aprender a desviver.

E se é tudo anunciado em prol do combate ao défice, todos apuramos que delas apenas resulta o cada vez maior embrutecimento de todo um povo, transformável em rebanho ordeiro e cabisbaixo, a caminho da matança e da esfola, agitando os chocalhos complacentes ao som de alguma tonicarreirice das mais foleiras.

Ai, ele andam aos tiros de caçadeira às portagens das SCUT e a sequestrar altos figurões de empresas públicas para lhes rapinar umas centenazitas de euros? Pois, já lá dizia a minha avozinha, aliás, uma santa senhora, que quem semeia ventos colhe tempestades… Ou, adaptando aos casos em presença, quem semeia hipocrisia, há-de colher a demasia.      

Dissertação sobre a Culpa.

Na sequência deste post anterior, cumpriram-se me as considerações que de seguida partilho.





O complexo de culpa é de facto inerente a este arquétipo cultural.
Inclusivamente, nascemos já com a culpa original, o pecado original pelo qual, mesmo sem ainda ter feito coisa alguma, estamos condenados às fogueiras dos infernos. Salva-mo nos pelo baptismo... mas apenas para começar, pois a culpa está sempre presente em todos os actos da vida...

Fui educado - como quase todos neste gomo, a grosso modo, do hemisfério Norte e Oeste em que se dividiu o mundo- dentro do espartilho estreito do Cristianismo; um sistema de condicionamento comportamental que trabalha subtilmente o campo da culpa, do castigo sempre presente, amenizado de forma superior pela redenção alcançável mas sempre preclitantemente dependente dum juízo à hora da morte. A redenção, a recompensa é assim, antes de mais, um território de conforto, de construção interior, formatado por um envolvimento pecaminoso, entenda-se: a Culpa.
Iniciada com a expulsão do Paraíso, de algum modo desde Moisés que a mensagem está bem presente: sofrer a travessia no deserto para expiar a culpa, pois lá no fim fica Canaan, a terra prometida. A redoma de conforto fica assim sempre mais além, no fim da vida, e melhor ainda, depois dela quando não é exigível pelo passivo o cumprimento do sonho quando- no mundo dos vivos- era um activo.

Há um Deus que recolhe as almas e as põe do seu lado; o direito, que fique registado. Mas repare-se: mesmo depois de mortos, este Deus, apenas recolhe as que foram por esta ordem: crentes, tementes e cumpridores. Os outros ficam a sofrer eternamente nos infernos. Contrariamente aos infernos de onde o judaísmo bebeu as influências onde este apenas era uma passagem para o renascimento, este inferno judaico-cristão-e-derivados, prolonga o sofrimento terreno "ad eternum". Haverá melhor sistema de domínio político do que este que nem na morte dá ao cidadão o direito à paz?


Charlie

dezembro 13, 2011

A culpa judaico-cristã e uma analogia

Tenho para mim que o "estado a que isto chegou" se deve, em larga medida, à forte raiz judaico-cristã em que somos enxertados, crentes e não crentes. E ao sentimento de culpa, que a ilustra tão bem.
Sempre que assisto ao penitente "sinto-me tão culpado/a...!" lembro-me do "álibi das fotocópias", aventado por Umberto Eco, no seu livro Como Se Faz Uma Tese Em Ciências Humanas, com que bombardeio os meus alunos de Técnicas de Estudo, Investigação e Expressão Jurídica: corresponde este conceito a um hábito comum que os alunos (principalmente os recém chegados ao ensino superior) apresentam, o de tirar todas as fotocópias, comprar todos os livros e imprimir todos os materiais que os professores indicam, para os pousarem algures no seu canto de estudo e sentirem que metade do trabalho está feito, quando o labor ainda nem sequer começou.

A analogia encontra-se justamente aqui: o sentimento de culpa não pode jamais, como as fotocópias, ser um ponto de chegada (do género: "pronto, sinto-me culpado/a, assumi a culpa e agora vou ali sofrer um bocadinho por ter sido tão mauzinho/a) mas apenas e só um ponto de partida, como quem diz: "fiz merda da grossa, sinto-me responsável [o conceito de responsabilidade agrada-me muitíssimo mais, soa-me menos a des-culpa esfarrapada] e agora vou mas é pôr pernas ao caminho e tratar de emendar o mal que fiz ou, se não houver nada a emendar, tratar de me assegurar de que não cometerei jamais o mesmo erro".
(Do mesmo modo, o aluno que é possuidor do material deve parar para pensar: "e agora, o que fazer com ele?" e fazê-lo, efectivamente!)

Causam-me comichões os que, sentindo-se culpados, não passam do estado lamentável da pena por si mesmos. Sem nada fazer. Sem mexer uma palha. Sem mudar o que quer que seja.

Em contrapartida, temos aqueles que nascem para FAZER, em vez de arengar argumentações circulares labirínticas pelas quais são tolhidos e colhidos e donde dificilmente virão a sair: hoje, o P. e a K. intuíram que eu precisava deles. E eu precisava, mesmo que não soubesse. Ligaram-me a dizer: "ah e tal, gostaríamos tanto de estar aí, mas a distância/o trabalho/o cágado/a crise/a vida não nos possibilitam"?! Não. Fizeram-se à estrada e palmilharam trezentos e tal quilómetros para cada lado, só para almoçar comigo. E só me avisaram quando estavam a chegar. Porque independentemente da distância/do trabalho/do cágado/da crise/da vida, há gente que faz muito e por isso, não precisa de dizer grande coisa; provavelmente para contrabalançar os (muitos) que, de tanto falar de mea culpa, se esquecem daquilo e daqueles por que deveriam sentir-se responsáveis. Nunca penitentemente culpados, porque isso só os leva a manterem-se onde estão: a cêpa torta, que não leva ninguém a lado algum, para além do seu mui sofrido umbigo.)

dezembro 12, 2011

E o preguiçoso sou eu?!

Vejam as estatísticas da OCDE sobre horas de trabalho na Europa em 2010:


Os Portugueses trabalharam, em 2010, uma média anual de 1.714 horas. Os Alemães trabalharam, em média, 1.419 horas. Os Franceses, 1.554 horas.
Ou seja, os Portugueses trabalharam mais 20% que os Alemães e mais 10% que os Franceses.
E o total de dias de férias anuais? Os Portugueses, com 22 a 25 dias, são os que têm menos férias dos países desta lista.
Vão enganar o raio que os parta!

dezembro 11, 2011

Com a devida vénia e o devido respeito, transcrevo o texto da autoria do Tenente-Coronel da Força Aérea, com a especialidade TODCI, José Lucas, que recebi na minha caixa de correio electrónico. Quando dizemos que há mais vida para além do défice, também deve ser a casos destes que nos referimos.

JC

«HERÓI POR 300 € 

A notícia já correu o Mundo inteiro. Seis tripulantes de um barco de pesca, o ‘Virgem do Sameiro’, de Caxinas, foram encontrados por um helicóptero EH-101 da Força Aérea e foram salvos pela tripulação do mesmo, nomeadamente por um Sargento-Ajudante (o recuperador - salvador), que pendurado num guincho, arriscou a sua vida em 6 subidas e descidas.

O panorama é inimaginável.

Um helicóptero no meio da imensidão do mar, com mar agitado, os pilotos tentando colocar o helicóptero na melhor posição (o que é dificílimo, tratando-se de um navio grande, quanto mais de uma simples balsa salva-vidas, a turbulência provocada pelas pás do aparelho, o recuperador - salvador a descer e a subir, a ter de recuperar um a um, estejam feridos ou não. Parece algo de outro mundo, mas não é,... aliás, afinal é!

É algo do outro mundo, pelo menos do meu mundo, pois não tinha condições para o fazer. É algo deste mundo, porque estes heróis da Força Aérea fazem-no diariamente, arriscando a sua vida para salvar outras vidas. Muitas vezes fazem-no mas muito mais longe, a cerca de 150 km da costa. Se houver uma falha humana, uma avaria e o helicóptero cair, provavelmente morrerão (pois é preciso que outro meio aéreo que está em alerta descole, voe, os encontre com vida e consiga recuperá-los). 

Mesmo assim, este militares cumprem o seu dever: têm família, filhos, que têm como dado adquirido que o pai volta mais logo e, nem imaginam que tal pode não acontecer. Poucas pessoas sabem o seguinte:

a) O Sargento-Ajudante recuperador-salvador está neste trabalho voluntariamente;

b) O Sargento-Ajudante recuperador-salvador está neste trabalho porque passou por testes e provas dificílimas, apenas acessíveis aos melhores física e psicologicamente; 

c) O Sargento-Ajudante recuperador-salvador ganha cerca de 1300 € limpos (um profissional com muitos anos de carreira, que arrisca a vida muito mais do que ninguém, voluntariamente, por amor ao serviço, ao próximo); 

d) O Sargento-Ajudante recuperador-salvador tem de estar disponível 24 horas por dia, deixando a família para trás a qualquer momento, sempre que for chamado ao serviço inopinado; 

e) O Sargento-Ajudante recuperador-salvador recebe cerca de 300 € líquidos de risco de voo (menos do que os pilotos, que também arriscam a vida, mas arriscam menos pois não estão pendurados num guincho); 

f) O Sargento-Ajudante recuperador-salvador, tal como os demais militares dos 3 Ramos das Forças Armadas, continua a salvar vidas, com ânimo, profissionalismo e competência, apesar de lhe terem cortado o vencimento desde o ano passado, apesar de lhe terem tirado o subsídio de férias e de Natal, apesar de não ter perspectiva de evolução na carreira nem aumento de ordenado; 

g) O Sargento-Ajudante recuperador-salvador não tem mordomias, carros de luxo, condutor, sala própria, secretária, telemóvel de serviço, despesas de representação chorudas, outros emolumentos mais ou menos disfarçados. 

h) Para mim, estes são os verdadeiros heróis, aqueles que apesar de fortemente penalizados, fortemente incompreendidos, apenas lembrados aquando de actos heróicos mediáticos como este, continuam dia após dia a cumprir além do dever.

O Sargento-Ajudante recuperador-salvador, como todos os militares merecem o respeito por parte de quem governa, para que entendam que não se trata de um funcionário público (aliás muitos respeitáveis), mas sim de um cidadão especial, que jurou publicamente dar a vida pela Pátria, dar a vida para que outros vivam.
À atenção de quem de direito !!!

José Lucas

PS - Num exercício de imaginação, tentei considerar a hipótese dos respeitados e digníssimos representantes do povo, na Assembleia da República (AR) receberem 1300 € de vencimento mais 300 € de risco. Provavelmente a AR ficaria vazia. Dir-me-ão: mas não é a mesma coisa, são responsabilidades diferentes. Pois são: o Sargento-Ajudante recuperador-salvador arrisca a vida 


diariamente para que outros vivam!»

Compreender a Dívida Pública

"(...) Diz-se que a dívida pública é causada por uma má gestão das despesas do Estado ou por uma baixa competitividade e que as únicas soluções são privatizar a economia e aplicar planos de austeridade. Mas isto são tretas! É matematicamente impossível resolver a questão das dívidas públicas e privadas sem abordar a questão da criação monetária pelo crédito com os juros associados, porque estas são as causas naturais destas dívidas. (...)"

dezembro 10, 2011

Dobragens de notas de 1 dólar


«Live free or die»
(«Vive livre ou morre»)



«We need a revolution»
(«precisamos de uma revolução»)


Um trabalho de Dan Tague

dezembro 07, 2011

«Golpes de Estado na Grécia e na Itália» - artigo do blog Octopus



Excertos:
"Golpe de Estado: tomada inesperada do poder governamental pela força e sem a participação do povo. (Dicionário Houaiss)


A banca no poder, ou o poder da banca


As substituições de Georges Papandreou por Lucas Papademos e de Berlusconi por Mario Monti foram na realidade dois golpes de estado de um um novo género, sem tiros, sem sangue, orquestrados pelos mercados financeiros.
O método é simples: criar uma enorme pressão sobre as taxas de juros das dívidas dos países visados, o que desencadeia uma enorme instabilidade política e por fim, apresentar um tecnocrata para tomar conta dos destinos do país.
Estes golpes de estado não são perpetrados por um grupo político ou pelas forças armadas. As mudanças de chefias políticas são apresentadas como uma necessidade em consequência da engrenagem da desconfiança dos mercados sobre a capacidade de certos países em pagar as dívidas.
Ultrapassando as instâncias democráticas dos respectivos países, são então instalados no poder pessoas ligadas aos grandes grupos financeiros mundiais. Mario Monti está ligado ao Goldman Sachs, assim como Mario Draghi, recentemente eleito presidente do Banco Central Europeu. Lucas Papademos foi governador do Banco da Grécia durante a falsificação da dívida grega pelo Goldman Sachs. Todos são membros da Comissão Trilateral ou do clube de Bilderberg.
Actualmente, os lugares-chave do poder na Europa estão nas mãos do Goldman Sachs. Como chegaram a esses cargos? Com que meios e com que fim? Salvar os Estados Unidos à custa dos europeus?


E Portugal?


Em Portugal, daqui por umas semanas ou meses, pode muito bem vir a acontecer o mesmo. Perante a fraca liderança de Passos Coelho e a fraca alternativa política de António José Seguro, e com o crescente agravamento da crise financeira portuguesa, pode vir a ser imposto a Portugal um homem de confiança da banca (...)"

Recomendo a leitura integral deste artigo aqui.

dezembro 06, 2011

Abolição de feriados - o cúmulo do SIMPLEX

A opinião do Charlie:

"Para que uma data emblemática nunca o deixe de ser, é necessário em primeiro lugar dar-se-lhe o ênfase merecido. Se o dia 1 de Dezembro nada diz à grande maioria dos Portugueses, este facto deve-se quase a cem por cento à atitude dos responsáveis pela transmissão dos valores nacionais e universais.
Disciplinas como História, Filosofia, Literatura, etc. têm sido sucessivamente relegadas para planos secundários e «esqueciários», como se a vocação do Homem não fosse mais a do seu crescimento espiritual em primeiro lugar, onde a componente material se situa apenas no suporte do primeiro dado.
Tenho conhecido, na área da minha actividade, jovens e brilhantes engenheiros completamente ignorantes em relação a quase tudo o que saia do seu âmbito profissional.
Como não sou o centro do mundo, esta situação deverá ser o perfil médio da classe que nos irá governar no futuro e que, em grande medida, já estão presentes nos quadros executivos, de um modo geral. Só assim se compreendem certas decisões em relação a disciplinas fundamentais como a Filosofia. É confrangedor assistir-se a programas como «O elo mais fraco» e outros, onde a ignorância à volta de factos fundamentais é a tónica.
Será quiçá importante para quem domina a economia transformar Homem Sapiens em Homem Carneirus, Consumidoris, Estupidiz, Pagantis e Não Bufantis.
Se este perfil é o que caracteriza a nova geração Portuguesa, que o actual presidente ajudou a formatar aquando das suas responsabilidades, então receio bem que o dia um de Dezembro, se referendado, continue a ser feriado. Não pelas razões Históricas, de brio nacional, dando assim um mote para que lutemos pelo que é nosso, mas antes pelo motivo que mais agrada aos homens da cartola: mais um dia para que a carneirada se enfie nos Hipers de focinhos enfiados nas prateleira a consumir sofregamente os fardos de palha embalados em caixinhas de telemóvel... e quejandos."

dezembro 02, 2011

«Euro Jima»



por Hejo de Reijger para o «NRC Handelsblad», Holanda
via PressEurop