fevereiro 21, 2015

Uma outra Troika: A Dívida, a Alemanha e o Moto Perpétuo

“Os que buscam o moto-perpétuo estão tentando obter alguma coisa a partir de nada.” 

Sir Isaac Newton



Esta roda, com pesos
fixados a braços móveis giraria sozinha
pelo efeito da gravidade
Tem sido um festival da parte dos elementos do nosso Governo, leia-se " feitores do protectorado" e de toda a sorte de comentadores alinhados com o fundamentalismo ideológico que os caracteriza, a posição da Grécia. 

Uma única coisa move os seus pensamentos: a dívida. A imensa dívida da Grécia, e como cereja no topo do bolo, o castigo colectivo imposto por não terem feito o "trabalho de casa".

Pois lamento ter de dizer que a verdade não é essa, a Grécia foi o país sob assistência financeira que mais medidas tomou, que mais destruiu a economia, seguindo as receitas da Troika e que mais viu nada dar resultado. 
Tal como cá, por mais que martelem resultados, nem se pagou a dívida, a qual cresceu assustadoramente, nem a economia acelerou a partir do nada.


A verdade é esta e é assim que funciona esta economia assente no crédito: toda a gente deve  milhares de euros a outros, e
esses outros devem ainda a outros que por sua vez devem de novo qualquer coisa a alguém que deve dinheiro à Grécia que deve dinheiro à gente. 
Isto no fundo é uma roda gigante, empurrada pelo colectivo mas que a Alemanha quer que gire em moto perpétuo. 
Ou seja, o plano dos Bosches para a Europa, é aquela coisa que gira sozinha e que quanto menos se empurra, mais roda, até ao ponto de acelerar sozinha e criar assim energia a partir do nada, que por fim iria para as tomadas das casas dos Alemães... 



E depois os outros é que acreditam em contos de crianças...






fevereiro 20, 2015

Os portugueses são um povo em trânsito: da dignidade à indignidade.


Ouviu-se por cá, depois das declarações do 'homem dos esquentadores', que os portugueses nunca perderam a dignidade; que a troika nunca colocou em causa a dignidade dos portugueses, blá, blá.... Hoje, na sessão de debates do parlamento, isso voltou a ser reafirmado pelo chefe da coelheira. E o que é curioso, é que eu dou a razão ao homem roedor, vulgo, coelho. Mas eu explico.
Quando o cidadão que viu cortada a sua pensão vai à farmácia e só avia meia receita, dizendo que ainda tem em casa as mezinhas para as quais não tem dinheiro, não está a sentir-se ferido na sua dignidade por causa da Troika;
Quando o casal de cidadãos idosos tem de receber em sua casa de volta os filhos que casaram há 20 e tal anos, trazendo consigo cônjuges e netos, porque ficaram sem empregos e o subsídio acabou e, por causa disso, todos terão de se abrigar debaixo do mesmo teto sobrevivendo das parcas pensões, também não acham que a Troika está a ferir a sua dignidade;
Quando o casal com filhos pequenos tem de abandonar a casa que um dia em sonhos pensaram que seria sua, findo o prazo do empréstimo bancário, e agora têm de devolver ao banco ou a um oficial de execuções fiscais, isso também não faz com que a Troika tenha ferido a sua dignidade;
Quando os doentes
, por causa da redução de investimento na área da saúde, ficam desumanamente expostos nos corredores dos hospitais à espera de uma cama e de cuidados e, entretanto, aproveitam para morrer só para 'chatearem' o ministro da saúde, isso também não foi perda de dignidade devida à Troika;
Quando a criança com necessidades de ensino especial não tem esse apoio nem sequer aulas por falta de profissionais que foram despedidos ou reduzidos por falta de verbas no ministério da educação, essa criança também não consegue dizer que a Troika lhe tirou a dignidade;
Quando a mãe solteira ou separada se suicida com os filhos nos braços porque perdeu tudo e nada mais lhe resta, essa então nem tem tempo para dizer que a Troika lhe retirou a dignidade;
Enfim, poderia desfiar um novelo de cidadãos, uns mais como eu e outros mais como os meus amigos que nunca acharam que a Troika os tornou indignos. E digo isto, porque, em verdade, não foi a Troika que nos feriu na nossa dignidade; foi o nosso governo que se encarregou disso, sem precisar da troika para nada.
Já agora, com que dignidade é que nós ficaríamos se deixássemos que fossem os de fora a ferir a nossa dignidade se temos cá dentro prata da casa que tão bem o sabe fazer? Haja dignidade!

fevereiro 17, 2015

«O Syriza improvável» – José Gil

Foto DN
O que é «ser de esquerda»? O que distingue um pensamento e uma acção de esquerda dos de direita? A clivagem entre esquerda e direita, hoje tão desacreditada, readquiriu uma súbita pertinência, com acontecimentos recentes como a irrupção de um partido «radical» na cena política da Europa. A vitória do Syriza e as primeiras medidas do seu governo provocaram pequenas ondas de esperança e tempestades de fúria – curiosamente, não na opinião, mas nos partidos, grupos e indivíduos com intervenção no espaço público.
Como reagiram os que saudaram o Syriza? Com empatia imediata, não tanto pelo seu programa partidário como pelo que trazia de inovador no plano dos investimentos político-existenciais. Sabendo, como o povo grego que nele votou, que as probabilidades eram poucas de concretizar as promessas eleitorais, os que o apoiam encontram nele uma fonte de forças para agir e pensar diferentemente.
Já os que o criticam se exprimem noutro tom. No tom conhecido do «bom senso», amplificado agora por uma espécie de estridência de ódio e pavor que faz tremer os responsáveis políticos europeus. Curioso, este ódio, em pessoas que se pretendem moderadas, condenando toda a espécie de extremismo e «radicalismo» (o termo «radical» equivale ao negativo absoluto, ao «diabólico»).
De onde vem ele? Certamente daquelas raízes que Nietzsche tão bem caracterizou – do ressentimento dos que estão habituados a dominar e a serem reconhecidos como o valor supremo e que se vêem, de repente, ameaçados no seu conforto, material e moral. Por quem? Por gente que ousa aquilo que nunca ousaram o «excesso» e que sempre secretamente desejaram, gente «irresponsável», «irrealista», «sonhadora», «infantil», etc.
ALÉM DO ÓDIO, O MEDO. Como se este se tivesse globalmente transferido do povo grego para as instâncias dirigentes europeias. Como tentam elas expulsar o medo que as invade? Com ameaças de exclusão da zona euro ou de insolvência do Estado grego. Querem «pôr na ordem» os gregos, dominá-los, domá-los, forçá-los a obedecer. Que eles abandonem as suas «fantasias» e «cumpram as regras».
Temos aqui a ilustração do que é «ser de direita», segundo critérios não ideológicos: é preferir codificar, marcar, controlar os fluxos de energia e de desejo a deixá-los passar livremente. Ser de esquerda é dar uma atenção preferencial à libertação de fluxos e de linhas de fuga. Opções já inscritas no inconsciente. Há militantes «ideologicamente» de direita que são profundamente de esquerda: revelam-se anarquistas igualitários populares quando os investimentos atingem uma certa intensidade.
Outros, de esquerda, são intrínseca e inconscientemente de direita – tirânicos, prepotentes, paranóicos (na vida privada, por exemplo). Assim se explica como tantos militantes de grupúsculos de extrema esquerda, na Europa dos anos 60 e 70, venham ocupar postos dirigentes de partidos de direita: o que visavam inconscientemente, na juventude, era já o poder institucional a que acederam na idade adulta.
A DIREITA CONSERVA ou reforma e inova – para recodificar novamente numa grelha estrita. A esquerda prefere criar o novo libertando o acaso.
Como não saudar a irrupção do Syriza na cena político-existencial da Europa – da Europa adormecida, paralisada, auto anestesiada pela sua moral niilista do «bom senso», do «justo meio», da «via única»? Nunca vivemos um tónus de vida tão baixo, tão pobre, tão espiritualmente desgraçado, tão resignadamente desesperado.
É isto a Europa? A Europa dos anómalos, dos criadores, dos Shakespeare, dos Hölderlin, dos Rimbaud, dos Pessoa, dos Van Gogh e dos Artaud? Estes seres «improváveis», «impossíveis» abriram campos inauditos à criação e à cultura da Europa. Não deveríamos tê-los domado, tê-los «posto na ordem» antes de eles... «ousarem»?


José Gil

Ensaio publicado na revista «Visão» de 12 de Fevereiro de 2015

fevereiro 16, 2015

Cuidado com o que os Bancos vos debitam!

Queixa Eletrónica ao Provedor de Justiça

Data/Hora Entrada: 16-02-2015 11:05:40

1. Identificação
Nome completo: xxxxxxxx Moura
Endereço corr. eletr.: xxxxxx@gmail.com
Endereço: xxxxxx
Telef./Telemóvel/Fax: xxxxxx
Sigilo: Não

2. Queixa

Entidade(s) visada(s):
Banco de Portugal? Governo? Os bancos em geral (no meu caso, o Millennium BCP)

Razões:
Em Julho de 2014, vi a minha conta bancária no Millennium BCP debitada em € 50 por um "débito directo" de uma entidade "Saúde +". Questionei o banco e disseram-me que era uma autorização que eu teria dado (não dei!) e que esta "Saúde +" é "uma entidade registada no sistema financeiro, que envia para o banco um ficheiro com o NIB e o valor a debitar. O BCP assume a idoneidade da entidade".
Tentei contactar esta "Saúde +" e só encontrei uma página internet, que estranhamente só tem um formulário de contacto e um fax:
http://www.saudemais.pt/contactos.html
Enviei várias mensagens pelo formulário e as únicas respostas que tive foram "automáticas", a agradecer o contacto ("Confirmamos a recepção do seu e-mail, daremos seguimento ao mesmo o mais rapidamente possível").
Entretanto, o Millennium BCP reembolsou-me o valor e cancelaram a autorização de débito directo desta entidade.
Mesmo estando o meu caso resolvido, entendi - e entendo - que este abuso pode ser feito penalizando outras pessoas, pelo que pedi ao Millennium BCP que esclarecessem isto e tomassem medidas para que não voltasse a acontecer. Nada recebi de concreto até hoje.
Contactei também o Ministério da Saúde em 1/11/2014 e, até hoje, também só recebi um e-mail a dizer "O seu contacto foi recebido com sucesso no Portal do Governo de Portugal. Seremos tão breves quanto possível na resposta".
Entretanto, em Setembro de 2014, tive mais um débito na conta, agora de outra entidade: "Obvienredo". Não faço ideia de que entidade é esta! Neste caso, numa pesquisa na internet, descobri que é Obvienredo - Actividades de Ginásio Fitness Lda, com sede em Mem Martins. O Millennium BCP limitou-se a aplicar o mesmo da situação anterior: reembolsaram-me o valor, cancelaram a autorização de débito directo e disseram-me que "vamos comunicar este problema para ser averiguado, juntamente com o que reportou em Julho". Até agora, não soube de mais nada.
Cumprimentos,
Paulo Moura

fevereiro 15, 2015

«A segunda libertação» - Boaventura Sousa Santos

A ortodoxia sabe que o problema da Grécia é o problema da Europa e que a sua solução só poderá ser europeia.

A recente vitória do Partido Syriza na Grécia teve o sabor de uma segunda libertação da Europa. A primeira ocorreu há setenta anos, quando os aliados libertaram a Europa do jugo alemão nazi e puseram fim ao horror do holocausto. Um dos países que mais sofreu por mais tempo com a ocupação nazi e suas consequências foi a Grécia. A geoestratégia dos aliados fez com que à libertação se seguisse uma guerra civil para impedir que os patriotas comunistas e seus aliados chegassem ao poder. Num contexto democrático, e ante um poder alemão, agora económico e não militar e disfarçado de ortodoxia europeia, os gregos voltam a revelar a mesma coragem de enfrentar adversários muito mais poderosos e de mostrar aos povos europeus, que sofrem as consequências do jugo dessa ortodoxia, que é possível resistir, que há alternativas e que é preciso correr riscos para que algo mude sem tudo ficar na mesma.

Tenho escrito que o capitalismo só é inflexível até sentir a necessidade de se adaptar às novas condições. Digo capitalismo e não União Europeia porque neste momento os interesses do capitalismo global são os únicos que contam nas decisões dos órgãos decisórios europeus. Se esta hipótese se confirmar, o risco assumido pelos gregos foi calculado e é possível que os portugueses, os espanhóis, os italianos e, em geral, todas as formigas europeias da fábula de Esopo possam beneficiar do aperto a que serão sujeitas as cigarras do norte e do sul (o sistema financeiro, os bancos e as oligarquias). Para já, estamos num momento alto de política simbólica, comunicação indirecta, suspensão informal das regras de jogo, não provocação do "adversário" para além do necessário, fronteira ambígua entre o negociável e o inegociável. Mas a ortodoxia tremeu, e o tremor da sua bancada subalterna foi, como era de esperar, o mais patético. No caso português, indigno.

A Europa está num momento de bifurcação – ou se desmembra ou se refunda. Pode levar anos, mas não voltará a ser a mesma. É um momento de desequilíbrio pós-normal em que mínimas oscilações podem provocar grandes mudanças num ou noutro sentido. Eis os desafios. Primeiro, contra a ortodoxia, sempre afirmei que a dívida grega (ou portuguesa) era europeia e como tal devia ser tratada. A ortodoxia só agora se dá conta disso. Sabe que o problema da Grécia é o problema da Europa e que a sua solução só poderá ser europeia. Vai começar pela negação da realidade e "demonstrar" a especificidade do caso grego, mas a realidade vai gritar mais alto. Será fácil convencer os portugueses de que o cemitério em que se converteram as urgências hospitalares é o produto de um surto anormal de gripe que entretanto ninguém viu? Segundo, as políticas de austeridade provocam mais tarde ou mais cedo reacções e é bom que elas ocorram por via democrática. Foi assim na América Latina, onde a austeridade dos anos noventa do século passado levou ao poder governos progressistas, para quem a bandeira principal era a luta contra a austeridade e a promoção do bem-estar das maiorias empobrecidas. Na Europa, pese embora o triunfo do Syriza e o possível triunfo do Podemos em Espanha, há um elemento adicional de incerteza. Ao contrário da América Latina, há também partidos de direita e de extrema direita que se dizem contra a austeridade. O fracasso das soluções de esquerda não conduzirá necessariamente a soluções de centro-esquerda ou centro direita. É por isso que a Europa nunca mais será a mesma.

O terceiro desafio são os EUA. A União Europeia tem vindo a perder autonomia em relação aos desígnios geoestratégicos dos EUA, como mostram o maior envolvimento na NATO, a nova guerra fria contra a Rússia, a parceria transatlântica de livre comércio, que desequilibra a favor das multinacionais norte-americanas os processos decisórios nacionais e europeus. Os grandes media querem-nos fazer querer que a Grécia é uma ameaça maior que a Ucrânia, mas os europeus sabem que, pelo contrário, na Grécia, a Europa está a fortalecer-se, na Ucrânia, está a enfraquecer-se. A Grécia deu um primeiro sinal de que não quer ser parte de uma Europa refém da guerra fria. Será esta posição parte da negociação? Até quando pode a UE ser lobo em Atenas e cordeiro em Washington?

Boaventura Sousa Santos

Artigo de opinião na revista «Visão» disponível aqui.

fevereiro 11, 2015

Pornografia política

«De acordo com o primeiro-ministro, as ideias do Syriza são “um conto de crianças”. É possível, não digo que não. Mas as ideias de Passos Coelho são, como sabemos, um filme para adultos. E o traseiro que o protagoniza, infelizmente, é o nosso.»

Ricardo Araújo Pereira


pensamento do dia:
Tsipras e Varoufakis e o efeito Tina Turner

Pois é...  Tendo recriado alguma alegria de viver na coisa política mundial, Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis estão a ser os porta-vozes da esperança que ainda resta à Europa, por muito que isso desgoste os seus lamentáveis detractores.

Já agora, nesta senda da alegria de viver, ocorre-me que eles incorporam, de facto, aquilo que poderá chamar-se o verdadeiro efeito TINA TURNER. E porquê, perguntam-me vocês. 

Ora, como se sabe, há uns idiotas que defendem cegamente o TINA (There is no Alternative). Mas os protagonistas gregos estão a dar a volta (TURN, para os anglo-saxónicos) quer ao argumento quer aos seus defensores. 

Como quem dá a volta a alguma coisa é um TURNER (turner - one that turns), cá temos a conclusão, o efeito Tina Turner - acabadinho de inventar, aqui e agora, e ainda sem patente registada.   

Façam o favor de ser felizes. Pelo menos, vão tentando... 

fevereiro 06, 2015

O Humanismo, os Bezerros de Ouro e o "Custe o que custar"

....iremos cumprir tudo, custe o que custar... indo mesmo além da Troika, ..
....o Estado deve fazer tudo para salvar as vidas, mas não custe o que custar....


Um dos episódios Bíblicos, o Êxodo, relata a saída polémica dos Hebreus do Antigo Egipto.
Teria o povo sido escravizado durante séculos até que um menino salvo dos rios, Moisés, ao tornar-se homem lideraria os Judeus na missão divina da libertação colectiva.
Pondo de lado a mistificação dos factos históricos e das derivas que estes factos sofreram até chegarem à imortalização sob forma de escrita, ressalto aqui o particular momento em que o povo judeu, já longe do Egipto e após ter passado o mar vermelho, subitamente se vê caído na adoração de uma divindade pagã.
Um bezerro em ouro tomara o lugar de Jeová. O povo, após longa temporada nas deambulações pelo deserto e em desespero por recursos de sobrevivência, reunira todos as jóias que possuíam e às ordens de traidores,  fundiram-nas num dos ídolos chamados pagãos que nas terras de onde tinham saído, representava a abundância.
Mas onde estava o líder nessa altura? Teria ele também abandonado a fé em Jeová?
As escrituras indicam que Moisés estaria à altura nos montes Sinai a receber os Dez Mandamentos directamente da mão de Deus.
O seu regresso, e a ira que ao assomou ao ver o povo caído na adoração de falsas divindades, teria feito regredir a deriva metafísica e de novo sob o mando de Moisés, e protegido pelo deus verdadeiro, lá seguiram a saga rumo à Terra Prometida....

A metáfora desta passagem Bíblica, resumida nas linhas superiores, é perfeitamente aplicável ao nosso viver colectivo nos tempos correntes e nos valores aos quais nos submetemos.
https://www.youtube.com/watch?v=mGk2rvjEGC8
Também aqui estamos a atravessar um deserto, à mingua de recursos, em sofrimento e a caminho de alguma coisa melhor que se promete algures no futuro.
Também aqui e às ordens de líderes fomos despojados das melhores coisas que tínhamos para alimentar um bezerro dourado.
Também aqui esse esforço, custasse o que custasse, teria de ser porfiado e levado por diante, mesmo em holocausto se necessário fosse, indo mais além do que a divindade exigia.
Também aqui, o deus que vive em cada um de nós, foi deposto, em favor da adoração da divindade dourada. O Homem, numa regressão do relativismo, não como a medida de todas as coisas, mas sim o bezerro em ouro, o dinheiro.
Também aqui, é preciso mantê-lo no seu pedestal divino, custe o que custar, mesmo se isso custar a vida dos que  são obrigados a adora-lo.
Também aqui alguém virá algum dia munido quiçá mais de ira do que de razão, partirá as tábuas dos mandamentos em cima do bezerro e libertará de novo, contra os bezerros, contra os homens, contra todos,  os eternos cavaleiros do apocalípse...
A História está cheia de relatos nesse sentido.



fevereiro 03, 2015

O lucro e o bem estar

Li recentemente isto:

"As empresas de hoje devem focar-se nas pessoas e no propósito do seu negócio e não apenas nos produtos e no lucro, segundo a quarta edição do estudo «Millennial Survey» publicado anualmente pela Deloitte. Estas e outras evidências sugerem que as empresas, especialmente as dos mercados desenvolvidos, terão que realizar profundas mudanças para atrair e reter os talentos do futuro."

Espero que se dissemine o que defendo há mais de 30 anos e que escrevi no meu livro «Persuacção - o que não se aprende nos cursos de gestão», publicado pela Sílabo em 2005:

O objectivo último das pessoas e das organizações deve ser o bem estar. O lucro deve ser uma forma de obter esse bem estar, não um fim em si. E não são, de forma alguma, antagónicos. Aliás, da obtenção do lucro depende o bem estar de todos os que dependem de uma organização, investidores obviamente incluídos.

fevereiro 02, 2015

Querer é poder, mas é preciso saber.


Por diversas vezes que o poder instalado em Portugal vociferou à boca cheia que Portugal não é a Grécia. Todos sabemos isso, mesmo aqueles que não sofrem de geografite aguda. Aliás, não conheço nenhum português que tenha conseguido ir de férias à Grécia sem sair das nossas fronteiras. Portugal, realmente não é a Grécia, para o bem e para o mal. Neste caso sobre o qual agora discorro, não somos a Grécia, infelizmente.
Com uma semana de governo a Grécia já fez mexer mais na Europa do que todas as eleições que ocorreram entre 2009 e 2014. Reparem que, além das medidas para consumo interno, o governo helénico (essencialmente o primeiro ministro e o ministro das finanças) definiram uma operação de conquista conjunta que os vai levar longe.
Três dias depois de terem colocado o líder do Eurogrupo no seu devido lugar, avançaram com uma ronda de contactos que apanhou a maior parte dos governantes da Europa ainda na cama: a agenda previa começar por Chipre (razões de cordialidade e não só), a Itália e a França. Logo a seguir avançariam em bloco para o Reino Unido. Meus caros, isto chama-se agenda inteligente. Mas mais inteligente ainda foi a antecipação da ronda com Michel Sapin, o ministro das finanças francês, pelas repercussões que já teve nas notícias da manhã. Ora, Chipre, Itália, França e o Reino Unido são os chamados 'friendly fields', territórios não hostis às propostas da Grécia.De lado ficaram Portugal e Espanha, também países periféricos da Zona Euro, porque todos sabem que são mais papistas do que o Papa no que à austeridade diz respeito. Quando Tzipras escolheu este roteiro sabia o que fazia e no momento em que for defrontar o grande round com a Buldozer Merkel tem atrás de si um conjunto forte de países que não desgostam das suas propostas. A Grécia já não será só a Grécia; será mais do que ela própria porque a Alemanha e a UE não podem fazer orelhas moucas a razões de vários povos e economias de peso, como a italiana, a francesa e a inglesa.
Por outro lado, ouviu-se hoje Sapin admitir o, até há pouco tempo, inadmissível: a Troika é um aleijão que está mal configurado e que, sim, deve acabar por isso mesmo. Querem melhor eficácia política do que isto? O que Sapin fez foi reconhecer créditos e mérito a Varoufakis e às suas propostas de renovação dos paradigmas económico-financeiros recentes. E para nós fica a pergunta: então esse esterco chamado Troika, que tão mal fez nos lares portugueses, é um aborto que nunca deveria ter posto os pês nos países em crise? Cabeças devem rolar.
Dito de outros modos mais chãos, a Grécia está a querer para poder e tem a sorte de ter no leme homens que sabem.
Cá em Portugal, infelizmente, tudo isto é avaliado como uma" coisa de crianças" e o governo não pode, porque não quer e não quer, porque não sabe. Não sabe ser, não sabe querer e não sabe que existe o poder de mudança. Em menos de uma semana comecei a sentir vergonha do governo que tenho; até há dias ele merecia a minha discordância, mas a partir de agora merece o meu asco por causa da tacanhez e visão de cabresto que revela.
Adivinha-se mudança de governo em 2015. Mas também parece que não iremos longe, pois Costa já afirmou que o PS não quer ser o Syriza. Que pena, pois se quisesse, poderia e só restaria a dúvida se saberia. Mas como não quer, então não pode. Mas não pode porque não quer ou porque não sabe? Essa é a resposta que ele nunca dará e assim ficaremos no limite da Europa, de quatro, a baixar as calças para uma geraldina da Troika e de todas as instituições financeiras que de nós  queiram servir-se.