Mesmo não tendo sido a minha infância passada em Miranda e sim por trás da serra da Estrela, revi-me na maioria das aventuras do puto Jorge Castro e dos seus amigos, desde as actividades a que nos dedicávamos, os episódios engraçados, a companhia silenciosa mas firme dos rochedos de granito, os paus e câmaras de ar de que se faziam fisgas, o arco, as esferas, a primeira bicicleta (que também foi da marca Vilar, roda 20), os passaritos que se caçavam com pressão de ar ou com as aúdeas nos costis ("só quem nunca depenou os cinco gramas de um passarito é que não pode avaliar o frete em presença!" como bem resume o Jorge Castro), os peixes da ribeira que eram enormes quando tinham mais de sete centímetros, as batidas à fruta e às galinhas (no nosso caso tínhamos o Ernesto, batedor de hortas, pomares e galinheiros, que era o informador para as saídas nocturnas), o pavor do cemitério à noite, a piscina do ti'Vasco, os primeiros namoricos,...
Não resisto a transcrever aqui «Sabedorias - poema bilingue» (em português e mirandês) com que o Jorge Castro termina o livro. Soberbo, como são sempre os seus poemas:
é uivo
quedar en rastro de lhiêbre
é caça
sentir filo de nabalha
é sangue
mercar las cuntas de bida
é fome
frenar la risa de l tiêmpo
é morte
preziar l aire desnudo
é vida
peinar l plaino camino
é obra
dourar l berde planalto
é sonho
bondar ser Fraga de l Puio
é sorte
sonar la gaita de fuôlhes
é festa
beilar al son de l pingacho
é grito
pintar la boç pelingrina
é vento
sonhar ser fuôlha de l'arble
é jogo
tamién ser águila en bolo
errante
al fin quisera ser tudo
não pude
al fin bolber a ser home
inteiro
sei mais mas bou cansadico de l die
sei mais
que num te-lo you digo"
O melhor elogio que posso fazer a este livro - que foi a minha leitura de férias - é que me desafia a, um dia, ter a mesma iniciativa do Jorge Castro e escrever as minhas memórias de infância de trás da Serra.
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E o OrCa mima-me tanto que eu sei lá...
nem um gesto
ou um olhar
Mede-se o tempo que temos
mede-se o céu
e o mar
Mas não se mede a amizade
nem quem tem tanta p'ra dar!"
OrCa
Não se mede a amizade
ResponderEliminarnem um gesto
ou um olhar
Mede-se o tempo que temos
mede-se o céu
e o mar
Mas não se mede a amizade
nem quem tem tanta p'ra dar!
É o que me ocorre, em entremeio de abraço.
Jorge Castro
Se me permite, vocência, o incómodo de um ligeiro reparo, direi que no poema existe um termo - «sw» - que não me parece mirandês. Talvez suaíli ou quiçá viking... ;-)
ResponderEliminarUm abraço.
Jorge Castro
Ops! Foi só para ver se estavas com atenção :O)
ResponderEliminarE bem que podias dizer-me como é a palavra correcta. Assim, só quando chegar a casa posso ver no teu livro. Abre aço!