agosto 07, 2009

A Ana Andrade descobriu os primórdios do livro «Persuacção»!

Estarei a ser, provavelmente, presunçosa, mas creio poder encontrar a semente da obra que Paulo Proença de Moura publicou, em 2005, num remoto Março de 1998, numa sala de Epistemologia, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Passo a explicar.

Tive a sorte de ter como Professor de Epistemologia Geral, logo no primeiro ano do curso de Filosofia (e, mais tarde, no 3.º ano, de Filosofia Moderna, área em que é especialista), um Senhor chamado João Maria de Ascenso André. Mais tarde, viria a trabalhar, sob a sua batuta, na equipa de Produção do Teatro Académico de Gil Vicente, aquando do seu mandato como Director dessa instituição. Trata-se de um homem cujos interesses são vários, o que sempre me maravilhou: da agricultura ao teatro (dele, vi a mais mágica encenação d'O Principezinho, pela Bonifrates), das jantaradas com os alunos à poesia e à Filosofia de rigor. É autor de inúmeras obras, artigos e ensaios e, grande como só ele o soube ser sempre, abdicou de umas aulas para nos explicar como funcionava a Faculdade e o Instituto de Estudos Filosóficos, para nos ensinar técnicas de investigação (mal sabia eu que viria a utilizar os seus ensinamentos numa das cadeiras que leccionarei para o ano, na UCP) e os vários graus de um professor universitário, entre outras pérolas, que toda a gente parte do princípio que sabemos, mas nem por isso.

Um dia, lançou-nos um repto: fazer um trabalho de grupo sobre Ideologia, Ciência e Poder numa qualquer área do saber. Ainda sem grupo formado, soube o que queria: Economia! Houve surpresa na turma, porque todos esperavam que utilizasse a minha ligação ao Direito, mas na minha cabeça um nome pairava: Paulo Moura.

Paulo Moura era um licenciado pela FEUC em Economia, havia sido docente de Contabilidade Analítica ainda na Faculdade de Economia e no ISCAP e fora coordenador do "Centro Portugal Economia", suplemento do Diário de Coimbra. Mas, mais do que isso tudo, trabalhava como CEO, com a minha mãe e com o meu irmão, numa empresa que fez renascer das cinzas (e que às cinzas voltou, por mãos de incompetentes que should have known better, porque aprenderam com ele) nas Caldas da Raínha, bem como noutra, em Coimbra. Eu partilhara com ele a mesa a algumas refeições e sempre me cativara a causticidade das suas afirmações, a auto-imposição de ausência de quaisquer limites e, acima de tudo, o modo como levava avante, com pulso de ferro e muito humor, os seus projectos. Ouvia falar dele na sua ausência e habituei-me a admirar aquilo que eu considerava um homem anormal. Sim, anormal. Diferente, visionário, rigoroso, radical (no sentido de ir ao fundo das questões, à raiz de tudo). Um filósofo.

Vim a saber que o modo como o adjectivava não era disparatado (it takes one to recognise another): a sua ligação à Filosofia, mais do que por afinidade (que o era!), sentia-se epidérmica. O pensamento crítico, a atitude autónoma, o destemor no questionamento corriam-lhe nas veias, a toda a brida.

Por isso, Economia, era o que seria, tanto mais que o objectivo era trazer convidados à apresentação do trabalho e debater com eles o cruzamento entre a Filosofia e a sua área de trabalho. E foi brilhante, desde o início: trocámos faxes (sim, sou daquelas que fez o curso todo sem recurso à internet) quando ele estava nas Caldas e eu em Coimbra, encontrámo-nos para debater ideias e estruturar o que queríamos fazer dali. E fizemos.

Do dia, em concreto, lembro-me que ele já se encontrava no bar das Letras (que ele tão bem conhecia, de outras andanças) quando cheguei. Da aula, lembro-me de mim e dele. Do gozo que foi poder trocar ideias com quem sabia do que eu falava, tanto como daquilo de que estava ali para falar. Havia um grupo de trabalho, mas (desculpem-me!) não me recordo por quem era formado. Houve discussão, debate, interesse. O cruzamento entre a Economia e a Filosofia foi feito, chegando ele a afirmar que aprendeu mais de Economia por meio da Filosofia do que propriamente nos bancos da faculdade.

Houve Parabéns no fim, que partilhei com ele. E aconteceu, muitos anos mais tarde, um livro, resultado da sua tese de Mestrado em Ciências Empresariais:


Nela, da sua leitura, reconheço o cerne do que tratámos naquele aula, com aquele trabalho: trata-se de uma obra que, sob o mote de Persuadir para Agir (daí o persu-acção), se propõe a reflectir sobre o muito que a Filosofia tem a dizer no que concerne à Gestão de Empresas. E consegue-o. De forma brilhante. E arrojada, ou não fosse ele quem é.

Sobre o livro, proponho-me a fazer uma abordagem mais específica, num outro post (que este já vai longo, mas isto das paixões é como as cerejas, já se sabe...). Deixo-vos com um esboço (e não uma digitalização, que a modernice do scanner ainda não chegou cá a casa) da dedicatória que me escreveu, quando mo enviou. Porque há imagens que...



Ana Andrade
Filha da Maria Augusta
Blog Câimbras Mentais

7 comentários:

  1. Foi, não foi?
    Orgulho-me de também fazer parte deste (teu) percurso!!

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  2. Bem que podias ter encontrado melhor companhia ;O)

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  3. Professora Ana
    "É noite e roubaram-me os olhos"
    por: Ana Andrade

    Nota da autora: Este texto foi escrito na sequência de um relato da professora Elisabete Gonçalves sobre uma notícia da morte de várias pessoas numa mesma casa, devido à guerra em Gaza, tendo sido encontradas algumas crianças vivas no meio de todos aqueles mortos…

    Se é a mesma Ana seria possível facilitar-me o contacto da Elisabete Gonçalves.

    Cumprimentos
    farwest1960@msn.com

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  4. Professora Ana
    "É noite e roubaram-me os olhos"
    por: Ana Andrade

    Nota da autora: Este texto foi escrito na sequência de um relato da professora Elisabete Gonçalves sobre uma notícia da morte de várias pessoas numa mesma casa, devido à guerra em Gaza, tendo sido encontradas algumas crianças vivas no meio de todos aqueles mortos…

    Se é a mesma Ana seria possível facilitar-me o contacto da Elisabete Gonçalves.

    Cumprimentos
    farwest1960@msn.com

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    Respostas
    1. Olá. Encaminhei este teu comentário para a Ana Andrade. Não sei se o texto que referes (e que encontrei em http://clp-esb.blogspot.pt/2009/02/e-noite-e-roubaram-me-os-olhos-por-ana.html) é dela, mas uma coisa te posso garantir: está tão bom que pode ser mesmo dela.

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    2. Não, minha gente, lamento mas não sou eu!
      Boa sorte nas buscas, farwest1960!

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    3. Oh...
      (e eu que já tinha posto o meu fato de casamentos a arejar...

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