Joseph Stiglitz
Prémio Nobel da Economia 2001
Excertos de uma entrevista para «Le Nouvel Observateur» publicada na «Visão» de 11 de Março de 2010, em que Joseph Stiglitz, depois de ter alertado para os perigos da "financialização» da economia, denuncia a avidez dos bancos e a sua recusa de qualquer reforma financeira:
Qual é a sua reacção face à especulação contra os elos fracos da Zona Euro?
É incrível: as dívidas externas e os défices públicos da Grécia, Portugal, Espanha e Itália são resultado da salvação dos bancos, cujas malfeitorias causaram a crise. E, agora, estas mesmas instituições fazem fortunas mordendo a mão dos seus salvadores! Mas não deveríamos admirar-nos. Não mudaram nem as regras nem as motivações destas instituições. Foi-lhes dado dinheiro barato para fazerem o que queriam, sem limitações, e eles utilizam-no para maximizar os seus lucros, sem se preocuparem com os custos sociais induzidos.
(...) A avidez de Wall Street é a única causa da crise? Os reguladores não falharam?
(...) a responsabilidade primordial [é] dos banqueiros. Não só não fizeram o seu trabalho e destruíram a nossa economia, como fizeram a campanha para atribuir a culpa a outros. Os banqueiros falharam por incompetência e por avidez: puseram em prática um sistema de remunerações que incentiva a assumpção de riscos excessivos e as estratégias a curto prazo. É verdade que os reguladores não impediram os bancos de se portarem mal. Mas quando alguém rouba uma loja, acusamos o ladrão... não a polícia, por não estar no local. E os economistas também tiveram um papel importante, ao legitimarem a ideologia da desregulamentação.
É muito crítico sobre a forma como o presidente dos EUA, Barack Obama, geriu a crise. Mas não terá ele herdado os remédios da equipa de Bush? Poderia fazer reformas enquanto a casa ardia?
Barack Obama podia ter feito mais. Fez campanha com «a mudança em que podemos acreditar» mas escolheu uma equipa económica associada aos políticos de ontem. Deu centenas de milhares de milhões de dólares aos bancos, sem impor condições. E, em lugar de recapitalizarem os seus bancos, os financeiros utilizaram o dinheiro para irem de férias, pagar a si próprios superbónus e distribuir dividendos. Por não ter actuado com vigor suficiente, perdeu parte da sua credibilidade.
(...)
As reformas definidas no G20 são à medida da crise?
Se as novas normas sobre os fundos próprios dos bancos forem efectivamente aplicadas, as coisas vão mudar. (...) Se tivéssemos reconduzido as «alavancas financeiras» autorizadas, de 30 para 1 (rácio dívida/capital) para... 10 ou 12 para 1, nunca teríamos tido um problema desta amplitude. A reforma dos bónus também deverá limitar a excessiva tomada de riscos (...).
Mas como asseguramos que a redução da dimensão dos bancos não afecta a sua capacidade para financiar a economia?
Reduzir a importância do sector financeiro é uma coisa boa. O facto de este sector pesar 40% no total dos lucros das empresas demonstra a que ponto a nossa economia está distorcida. Uma reforma pertinente encorajaria, pelo contrário, actividades mais úteis: o capital de risco, o crédito às empresas, a investigação...
Podemos levar a cabo essas reformas simultaneamente em todos os países ocidentais?
Isso seria o ideal, mas não é realista. Se esperarmos por uma acção concertada, não faremos nada. Os banqueiros apostam, de resto, nesta paralisia. Cada governo deve fazer o que lhe parecer adequado à sua situação. O argumento da concorrência desleal é uma falsa questão. O core business da banca continuará a ser local. Quanto às actividades especulativas, pouco importa que emigrem para as Caraíbas. De qualquer forma, não têm grande utilidade social. Interessam essencialmente aos apostadores e aos seus accionistas.
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Noutro artigo («as tragédias da austeridade») da mesma revista, a respeito da crise e revolta social na Grécia, podia ler-se:
"Manhattan (...) há três meses, decorreu um jantar num hotel de luxo onde alguns dos maiores gestores de fundos especulativos do mundo, caso do SAC Capital Advisers e do Soros Fund Management, terão discutido a melhor estratégia para fazer descer a cotação do euro, arrastando-a para uma quase paridade com o dólar. Objectivo: o lucro, claro. Afinal, estes fundos conseguem endividar-se 20 ou 30 vezes mais que o valor do seu capital e uma simples variação de 5% da taxa de câmbio pode render-lhes o dobro ou o triplo do investimento feito (...)"
Leitura genial... aliás de um prémio Nobel!
ResponderEliminarAlguém que chama os bois pelos nomes.
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