A propósito da notícia «Aluna insulta docentes na net» do Correio da Manhã e do video que a acompanha, recebi esta mensagem do Jorge Castro:
"Pois... nem sei bem que diga. Não consigo ver-me, hoje em dia, na pele de um professor - e já o fui, durante cerca de quatro anos, de Português e com turmas de adultos... mas foi há muito tempo.
Esta gajada, com pais e mães e mais as patas que as vão pondo, com Marias de Lourdes por trás ou pela frente, numa aula minha não tinham mais entrada. Saíam e não voltavam a entrar, nunca mais. Ou elas ou eu. E o Conselho Directivo que se desemerdasse!
Não há lei nem regulamento que possa obrigar um mortal a aturar isto, tenham lá santa paciência.
Em último recurso e quando o cerco apertasse demasiado, baixa do foro psiquiátrico... Quando chegassem aos 100.000 até um Sócrates teria de parar e, porventura, arrepiar caminho.
De facto, o que por vezes me enoja é esta cobardia «institucional». Numa escola média, com cento e tal professores, não conseguem, entre eles, criar um «corpo de ordem» constituído por uma vintena de elementos que, em questão de minutos, acorresse a uma situação destas, interrompendo as demais aulas, claro, mas invocando o superior interesse dos demais alunos, da escola e do próprio pessoal docente, para restabelecer a ordem na sala e promover a imediata expulsão das garinas?
E o que valiam, depois, estas duas putéfias (ou outros quaisquer), em termos argumentativos?
Será demasiado crua esta abordagem, mas no estado a que tudo chegou, parece-me um caminho viável. E não carece de sindicatos, nem de ministérios, nem, sequer, de conselhos directivos.
Trata-se da salvaguarda da dignidade da escola e do ensino, a que a maioria dos pais também não estará avessa. E se, aqui, se fala de tomadas de posição de força, esta parece-me supinamente legítima. No meu local de trabalho, se algum estranho ou mesmo colega me falta ao respeito, no que à matéria profissional se refira, está sempre o caldo entornado.
Invoco, a cada passo, o conceito da dignidade profissional para sustentar algum argumento. Perguntava-me, há dias, um director se eu presumia que só eu a tinha... Respondi-lhe, liminar e institucionalmente, que sim, eu tinha-a e defendia-a. Esperava sempre que os demais também a invocassem, na defesa de argumentos ou de atitudes, com a mesma legitimidade que eu, claro. E estranhava que tal quase nunca ocorresse. Como foi, aliás, o caso.
E não se trata desse dignidade não existir, sendo inerente à função cabalmente desempenhada. Só que não é invocada, não é colocada na mesa, como elemento primordial da relação entre as partes envolvidas.
Tenho, pois, alguma dificuldade em perceber esta falta de solidariedade activa do corpo docente... Caramba, nunca ouviram dizer que a união faz a força?
E, note-se, isto vale também para aqueles «corpos estranhos» que aparecem entre o corpo docente e mancham, pelas suas práticas, a reputação dos demais.
Há conceitos de democracia, de tal modo distorcidos pela sociedade do «meu umbigo», que transformam o regime numa caricatura ou, na perspectiva individual, na mais cruel das ditaduras. Com que cara é que aquela professora encara o resto da turma e a própria vida, após um episódio daqueles?
E mais não digo, ficando quase tudo por dizer...
Grande abraço.
Jorge Castro"
Eu repito isso sempre a quem me quer ouvir (poucos): a Educação só está como está porque os professores estão dispersos e não se unem.
Abre aço,
Paulo
Subscrevo. Assino de cruz.
ResponderEliminarCostumo dizer que os professores têm o que merecem. E quando o digo, excluo, naturalmente, os que não merecem nada disto. Mas esses, curiosamente, raras vezes enfrentam situações dessas, porque sabem preveni-las.
Como é que se chega ao ponto de se assistir a uma situação em que temos uma classe profissional desacreditada, desrespeitada e que nada faz para mudar o status quo?!
Meninas daquelas, estou com o Jorge, na minha sala não entram. Nem que tenha de sair eu. Oops, e já saí. Sem saudades algumas, o que é lamentável.
Também me parece claro que a maioria dos professores saberia evitar que aquilo chegasse àquele ponto.
ResponderEliminarInteressa saber que este «fenómeno» de indisciplina raiando a ordinarice não é recente. Porventura, sempre terá existido.
ResponderEliminarRecordo aulas - já no meu 6º ano liceal e falando, portanto, de malta com 16 ou 17 anos de idade - em que se promoviam corridas de carteiras, com o professor presente...
Diversas serão, isso sim, as adaptações a cada tempo e a cada lugar.
A reacção, institucional ou não, requer adaptação circunstancial, claro. Mas a situação que avanço, e conhecendo razoavelmente bem aquilo de que falo parece-me absolutamente exequíve, bastando para tanto que os professores QUEIRAM ser solidários.
Antigamente, haveria uma reacção da instituição em defesa do docente que talvez até pecasse por exagerada. Mas hoje, nos antípodas, perante o deserto de apoios com que cada professor conta, justificar-se-á, aqui sim, uma tomada de posição corporativa, chamando a si, também, os pais interessados - que ainda andam por aí dois ou três desses...
«exequível», claro. O «l» foi para a praia, no comentário acima.
ResponderEliminarÉ pior do que ter um "deserto de apoios": é o professor ter medo do que lhe possa acontecer se tiver que usar um método mais radical. "Coitadinhos dos meninos...", é o lema destes anos mais recentes.
ResponderEliminarMas, quando tu e eu estudávamos, já havia professores que "davam o flanco" e permitiam abusos.
Quando eu fiz o secundário, ali no Padrão da Légua, havia o Palinhas, que se dedicava a arrancar encostos de cadeiras, enquanto fitava, com um sorriso, a professora de Matemática. Ela, nem um pio. O mesmo jeitoso havia de perseguir colegas (justamente) histéricas com um x-acto, nas ailas de Educação Visual. A prof também era muito distraída.
ResponderEliminarAo pé deste, os que saiam pelas janelas quando não lhes apetecia permanecer nas aulas de História, eram meninos tenrinhos.
Por isso, não me venham falar de indisciplina nem de bullying como se fossem fenómenos recentes que fico pior que peste.
O que me parece é que há cada vez menos mão nestes inssurectos profissionais...
Exactamente, Ana. Isto que agora é "chique" chamar bullying sempre houve. Putos (e meninas) mal comportados também. A diferença é que neste momento dá a impressão que ficam impunes.
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