A propósito da minha petição para se acabar com a mudança de hora, recebi este e-mail, que originou uma troca de mensagens e que suscitou um comentário do Jorge Castro:
Mário Feliciano - "Problemas à saúde, ao bem estar e à segurança das pessoas? Porquê? Porque amanhece mais cedo e os miúdos podem ir para a escola sem ser de noite no inverno? Os argumentos usados, como o da mudança da hora da ordenha, são perfeitamente patéticos! Se os animais continuam a seguir o ritmo do nascer e pôr-do-sol, que diferença faz o acerto do relógio? Ainda por cima contrdizem-se a si próprios ao invocar que o sono devia seguir o ritmo do anoitecer e amanhecer. Pois é precisamente isso que esta mudança de hora faz.
É como as deputadas que na ânsia de protagonismo resolveram propor a abolição dos feriados a meio da semana. Muita gente há neste país entretida a fazer coisa nenhuma! Hoje em dia tudo serve de pretexto para invocar problemas psicológicos e de saúde. Até o fim das férias provoca depressões. Haja paciência! Não haverá nada de mais interessante com que se preocupem?
Não só não assino a petição como, se for preciso, faço campanha contra ela. Tenham juízo."
Paulo Moura - "Está no seu direito a ter a sua opinião e a defendê-la. Agora... com esse “tom” e a fazer ataques pessoais, fica a falar sozinho!"
Mário Feliciano - "Peço desculpa se considerou alguma expressão como um ataque pessoal. Não era essa a intenção. O "ataque", se assim lhe quer chamar, é à petição e às razões da mesma."
Paulo Moura - "Se não era intenção, a expressão "tenham juízo" foi muito infeliz. Quanto aos argumentos que «ataca», como já disse, está no seu direito e respeito. Os seus contra-argumentos também são «atacáveis». Mas não quero fazer disto uma discussão entre duas pessoas. A petição certamente será divulgada por alguns órgãos de comunicação social. Nessa altura será debatida. Se atingir as 4.000 assinaturas, será obrigatória a discussão em plenário da Assembleia da República. Serão muitas oportunidades para «atacar» esta petição e defender os seus argumentos."
Mário Feliciano - "Também não quero entrar pela discussão pessoal, mas já agora, e uma vez que a menciona, a expressão "tenham juízo" é porque acho uma total perda de tempo com um assunto que não o justifica, quando há coisas bem mais úteis, graves e importantes do que discutir se há ou não hora de inverno e hora de verão. Por exemplo, acabar com as acumulações de reformas dos políticos mereceria não uma, mas 10 petições. E bem pior foi quando tivemos a hora igual ao resto da Europa por razões meramente economicistas, só porque os senhores empresários acham que a diferença horária prejudica os negócios... Por causa disso no verão anoitecia quase à meia-noite. Isso sim, é que causava distúrbios no ritmo biológico das pessoas, era um completo absurdo, de tal forma que quando o governo de Durão Barroso tentou voltar a esse horário houve um parecer negativo do Observatório Astronómico de Lisboa, pois ficaríamos com 3 horas de diferença em relação à hora solar. Isso é que mereceria uma petição se voltasse a acontecer. Felizmente houve o bom-sendo de repor a hora no fuso horário de Greenwich.
Agora, de facto, este tema, com todo o respeito pelo direito que lhe assiste de promovê-lo... para mim não faz sentido.
E por aqui me fico. Pela minha parte termino aqui a discussão."
Paulo Moura - "Está a ver como não estamos de acordo? Pela sua "lógica", enquanto houver assuntos mais importantes para tratar, não se trata de mais nada?! Como para mim o mais relevante é a minha saúde e a mudança de hora afecta-me, durante vários dias, duas vezes por ano, todos os anos, permito-me fazer o que posso para me manifestar e para auscultar outros concidadãos.
Agradeço-lhe o trabalho que teve de me escrever (salvo a parte mais ofensiva). Pela minha parte, também termino a discussão."
Jorge Castro - "Caro Mário Feliciano:
Eu creio piamente no direito à opinião. Aplaudo-o. Reverencio-o, até. Por formação, por educação, por ideologia. Posto isto, permita-me que lhe refira coisas elementares que o seu comentário me suscita:
- Porque considerará o meu caro concidadão que está no direito de me considerar pateta porque não comunga, nesta especiosa matéria, da mesma opinião do que eu?
- Por outro lado, a questão que coloca quanto à «nossa» eventual ausência de coisas mais interessantes que «nos» preocupem, deve ser considerada mera questão retórica e, como tal, irrelevante. Já o mesmo não se poderá considerar quanto à admoestação no sentido de termos juízo, que mais não seja porque essa é matéria que sempre carece, no mínimo, de que se peçam meças ao interlocutor, sendo o juízo essa coisa tão volátil quanto se sabe… E, por favor, nunca por nunca ser presuma que o seu interlocutor é mestre na arte de estar entretido em fazer coisa nenhuma, pois aí, sim, a asserção pode ser ofensiva. Sabe, ele há gente capaz de se entreter com as mais desvairadas ocorrências! E em acumulação - o que chega a ser tremendo.
Veja bem que eu, por exemplo, estou para aqui entretido a remeter-lhe esta resposta porquanto considero, liminarmente, ser o meu interlocutor merecedor e digno dela.
- Quanto à matéria de facto que nos trouxe a este amável convívio, interessa considerar que não há, no mundo, coisas de maior ou menor importância se não atendermos previamente ao subjectivismo ou ao circunstancialismo das mesmas. Ora, a verdade é que, a mim, a mudança da hora me causa transtorno, até ao nível biológico… e contra isso, caro amigo, não posso fazer nada que o console. Mas também não o devo calar apenas pela razão de que, para si, o meu transtorno não é matéria de incómodo.
E já reparou que os seus estimáveis argumentos contra a «nossa» tomada de posição contra a mudança da hora podem servir exactamente para alguém se questionar sobre esta elementar evidência: então, se não há problema nenhum, se a questão é tão pacífica, porque é que, afinal, se hão-de desperdiçar tantos recursos a mudar o raio da hora, chateando meia-dúzia de concidadãos, ainda que a mim não me cause mossa nenhuma? Enfim, é deixá-la estar como está…
Convenhamos que é um belo exercício de democracia.
- E, não, o que as senhoras deputadas à cata de protagonismo, como alega, pretendem não é uma feliz comparação. Desde logo, porque eu nem quero protagonismo nenhum para além daquele que já tenho. Depois, porque as senhoras deputadas falam do suposto interesse da nação, do colectivo, e «nós» falamos do interesse do indivíduo – que também existe, benzam-no todas as divindades.
E deixe-me confessar-lhe uma coisa: a mudança da hora nem me causa problemas psicológicos nem de saúde. Simplesmente me chateia. Muito. Até por aquilo que considero ser a sua incomensurável inutilidade. E as coisas inúteis não servem para nada. E isso é-me bastante.
Mas considero muito louvável que promova uma petição a favor da mudança da hora, claro. Não por reacção, mas por convicção. Até para ver se a sua argumentação me convence a mudar de opinião. Uma coisa lhe asseguro: não me ouvirá recomendar-lhe a que tenha juízo…
Com consideração,
Jorge Castro"
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