março 28, 2013

Rosário Breve n.º 302 - in O RIBATEJO de 28 de Março de 2013

Olá, persuactivos Amigos.






Visões com feijão

1. Feijão

Aqui há uns anos, fiz a viagem Pombal-Leiria. Atravessando uma chuva tão diagonal que por pouco me não tirava a vontade de viver, seguia o meu caminho. Por volta das Meirinhas, junto a um camião parado, um homem fez-me sinal de paragem. A urgência era acentuada pelo recurso aos dois braços. “Como asas encharcadas”, senti. Parei na berma. O homem veio. Pediu-me boleia para Leiria. Eu disse que sim.
Disse-lhe que pusesse o cinto de segurança. Ele puxou-o e fingiu colocá-lo. Passou o resto da viagem a fingir que o tinha bem colocado. Ia mexendo a cabeça para a frente e para trás. Fui-me pondo a pau. Perguntou-me se eu era da cidade do Porto. Eu disse que não. Então donde. De Pombal, menti. Entre a primeira e a segunda perguntas, fizemos quilómetros e silêncio. Pediu-me que o deixasse ao pé do cinema. Quilómetros depois, que o deixasse ao pé do quartel. Eu disse: “Cinema”. E ele: “Está bem.”
À chegada a Leiria, ele disse: “No quartel, eles costumam dar feijão.” Aí, eu liguei a chuva ao homem, a procura de alimento às poucas palavras. Finalmente, pediu-me “uma nota para um pão”. Dei-lhe moedas. Eram 70 escudos. Ele disse: “Quatrocentos dão para um ano”. Não sei se se referia a escudos ou a pães. Saiu.
A vida é um pouco maior do que a viagem entre Pombal e Leiria. Mas se, como às vezes parece, ela me falhar, pelo menos já sei onde arranjar feijão.

2. Visões

Segunda-feira de manhã, dei uma volta pelo mercado da cidade. Não fui às compras. Fui ver o que tinha o mundo para me dar aos olhos.
Vi um par de gémeas que, apertadas sob o guarda-chuva, davam corpo à ilusão de a vida se repetir. Vi uma mulher a cair de bêbeda sobre o passado dela. Vi um polícia bocejar contra o regulamento. Vi a chuva procurando-nos, e encontrando-nos, a todos. Vi um vendedor de lotaria sem sorte. Vi uma mulher de olhos claros a falar pelo telefone público numa língua obscura e particular. Vi um funeral com mulheres grávidas no préstito. Vi um poema sobre a companhia que Cristo faz a cada um, como se Cristo fosse a chuva. Vi pouco do mercado propriamente dito.
Resumo: segunda-feira de manhã, dei uma volta pelo mercado e vi o que vi. Muitas outras pessoas fizeram o mesmo: deram uma volta pelo mercado e viram o que viram. Cada pessoa fabrica, pois, a sua visão. E, dela, a sua verdade. Não há, portanto, uma verdade, mas tantas quantas as cabeças. Isto sossega-me. Vi as gémeas, a mulher, o polícia, a chuva, o cauteleiro, a estrangeira, as grávidas. Outros terão visto o que para mim se tornou invisível.
As vidas parecem plurais. A visão é, de certeza, singular. O que cada um descobrir sozinho, conte aos outros. Pode ser que uma solitária manhã de chuva se torne um mercado cuja principal mercadoria seja a solidariedade. Não sei se resulta. Vou tentando.

Sócrates, o regresso de D.Sebastião (mas ao contrário)

Não assisti à entrevista que na noite passada mobilizou as atenções do país. Não o fiz simplesmente porque nada do que o ex-Primeiro-Ministro pudesse ter dito ou deixado de dizer me interessava. Ouvi tudo o que tinha de ouvir do cidadão José Sócrates durante o tempo em que governou Portugal, período para o qual até contribuí ao votar nele. Agora dêem-me licença que vou fazer uma pausa na escrita para ir ali fustigar-me a mim próprio com esta vareta. (...)

De Sócrates ouvi a declaração "oficial" de início da recessão ser feita quando já todos tinham percebido que o país estava em crise, tal como depois disso ouvi várias declarações anunciando o fim oficial da crise, quando todos percebiam que ela ainda estava apenas no início. Pelo meio ouvi Sócrates dizer que era anti-patriótico falar-se sequer da crise, tentando ao mesmo tempo influenciar a comunicação social para pintar um quadro de ilusória estabilidade.


Quando a economia esteve para ser revitalizada pelo Computador Magalhães, produzido pela JP Sá Couto por contrato por ajuste directo, numa altura em que a empresa teria elevadas dívidas ao fisco. A NATO tomou então parte na conspiração para fragilizar José Sócrates ao apoiar os insurgentes líbios na deposição de Kadafi.


Assisti ao anúncio de Parcerias Público-Privadas, como as que gerem agora as ex-SCUT, estabelecidas em condições que agora se afiguram como actos de gestão danosa, embora não tão danosa como o foram para a imagem do primeiro-ministro (a imagem possível de um cidadão formado ao Domingo) as sucessivas associações do seu nome a negócios menos claros. Finalmente assisti à crescente obstinação do primeiro-ministro em não abrir a porta à ajuda externa até que, de PEC em PEC, cada um deles mais austero que o anterior, e na iminência de falência, o país foi obrigado a aceitar incondicionalmente os termos impostos pelo FMI.

Enfim...! Poderia aqui passar o resto do dia a descrever tudo aquilo que ouvi da parte do nosso ex-primeiro-ministro. Basta dizer que foi suficiente, não me apetece ouvir mais nada. Confesso que quando soube que Sócrates fora contratado pela Octapharma, por bons serviços prestados, pensei que isso significasse o direito à extensão da sua ausência da vida pública portuguesa, ausência essa que fora iniciada com a fuga estratégica para o exílio dourado de Paris. Engano meu. Aí o temos novamente para se endeusar e declarar vítima de conspirações.

Fui um dos signatários da petição contra a sua entrada como comentador na RTP e achei piada aos que brandiram o estandarte mal pintado do direito à liberdade de expressão. Violação desse direito teria sido se Sócrates tivesse pedido para falar e o tivessem silenciado, como se de uma Manuela Moura Guedes se tratasse. Não foi o caso. Sócrates não pediu para falar mas foi pelo contrário convidado a colaborar com a RTP. Ora, enquanto contribuinte que sustenta a RTP com os seus impostos e taxa audiovisual, é meu o direito de contestar as escolhas e a oferta que a televisão pública faz. Não aceito, ponto final. O Socretinismo é digno de canais privados exóticos como a TVI e não de canais cuja missão seja a de serviço público.


E os "outros"? São melhores que Sócrates?

O que eu disse atrás não significa que ache Sócrates o pior da nossa classe política. É difícil atribuir esse título num campeonato no qual jogam figuras do calibre de Sócrates, Augusto Santos Silva, Miguel Relvas, Pedro Passos Coelho, Jorge Coelho, entre outros. Neste campeonato o único derrotado é invariavelmente o cidadão comum, relegado ao estatuto de mero dado estatístico, que se deixa iludir com promessas irrealistas de políticos que se vão revezando em altos cargos e se integram em teias de clientelismos e amiguismos cujas ramificações são difíceis de perceber mas que nascem de organizações cuja sigla começa por J. 

Em Portugal a classe política segue grosso modo a mesma cartilha. Promete em campanha eleitoral os antípodas daquilo que pratica mal chega ao poder e todos os políticos se assumem como donos de uma admirável infalibilidade. Quando as medidas resultam depressa enaltecem o seu mérito mas se pelo contrário algo falha, a culpa será sempre dos que os antecederam. Por esta lógica, a culpa do cenário em que hoje nos encontrámos será portanto em última análise daquele hominídeo, indeciso entre o bipedismo e o quadrupedismo que, por meio de grunhidos e demonstrações expressivas de pujança física, conseguiu o cargo não oficial de líder do seu grupo.


* traduzido do Australopitequês


Um simultâneo Persuacção / Blog do Katano

amêndoas...

da troika
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março 27, 2013

boa Páscoa

Reflexão pascal: - Nem sempre as coisas agradáveis colhem unanimidade...



março 26, 2013

A posta nos mal a(r)mados


É tudo muito bonito quando pensamos a Democracia e a queremos acreditar indestrutível por ser o mais perfeito dos regimes que conhecemos ou experimentámos na pele até à data. Contudo, seja democrático ou ditatorial, qualquer regime só perdura não enquanto tiver o controlo da respectiva população mas sim durante o tempo que durar o seu estado de graça junto das estruturas militares ou militarizadas que o possam assegurar.

Quando Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço e outras figuras de menor destaque mediático ligadas à s hierarquias militares engrossam o discurso e agitam o papão do golpe militar, da tomada do poder à bruta, a maioria das reacções são de escárnio perante as pessoas e suas aptidões e não de análise acerca das respectivas motivações.
Os militares fizeram o 25 de Abril de 1974 ou ainda estaríamos hoje, povo de indecisos, a ponderar essa opção para derrubar um regime caduco qualquer.
Sim, havia uma resistência, uma minoria de antifascistas que se submetia à clandestinidade, ao exílio, à tortura ou apenas à indiferença dos seus pares num poder nada democrático que lhes dava voz apenas por comiseração ou por dar jeito um grupelho dissonante para transmitir uma fragrância de liberdade ideológica e de expressão.
Contudo, a maioria silenciosa, o rebanho, aturava como uma lei fundamental todos os abusos que o formato do Estado Novo fomentava com a imposição de uma estrutura assente em hierarquias sociais bem definidas, a um esquema quase feudal de gestão de um colectivo feito de indivíduos dependentes da sorte ou do azar no berço e, acima de tudo, da sua habilidade para se tornarem úteis à implementação de um qualquer modelo de autoridade que pudesse beneficiá-los e/ou aos seus.

Agora passo à parte da definição de prioridades de um novo rebanho, mais instruído mas nem por isso necessariamente mais esperto ou mais capaz de distinguir o certo e o errado, aquele que passa ao lado de episódios como o que motiva esta posta.
Um tenente do Exército Português foi detido por ter levado ao Laboratório Militar, para análise, uma amostra de comida estragada que alguns soldados se recusaram comer. Podem ler os detalhes aqui.
A decisão do Tribunal Administrativo que confirmou o acerto de tal punição assenta na pretensa deslealdade do tenente Gonçalo Corceiro perante os seus superiores.
Tomou a atitude certa mas não respeitou os códigos internos, a hierarquia, as regras que no entender daquele tribunal prevalecem sobre a constatação pura e simples dos factos: o tenente fez aquilo que tinha que ser feito, algo que a lógica diz dever prevalecer sobre quaisquer imposições de feudos mais ou menos institucionais e quem aplica as leis entendeu sobrepor a isso a violação dos tais preceituados militares.
O rebanho, tão lesto a peticionar contra a liberdade de expressão ou o abate de animais assassinos, nem reparou.

Se no parágrafo inicial fiz alusão ao mal-estar de que alguns militares vão sendo porta-voz e no segundo referencio o efectivo poder de que aquela estrutura usufrui para intervir, bem ou mal, sobre os nossos destinos, no terceiro chamo a vossa atenção para o facto de o absurdo poder gerar as condições para uma revolta que, acontecida no seio de quem detém as armas, nunca se sabe as proporções que pode assumir. Esse absurdo tanto pode provir de uma decisão judicial, porquanto acertada do ponto de vista formal, como do somatório de decisões absurdas por parte de um poder político legítimo do ponto de vista dos procedimentos democráticos mas tão errado como a História, portuguesa e mundial, já provou ser passível de acontecer.
O medo de uma intervenção militar, quiçá oportuna no entender de alguns mais desesperados mas sempre de último recurso para quem abraça a democracia e teme a imposição seja do que for pela força das armas, acaba por ser secundário perante as consequências da falta de razoabilidade nas decisões tomadas, a nível político ou judicial, a dissonância entre estas e a lógica que preside ao modelo de sociedade que (quase) todos defendemos e, acima de tudo, à indiferença generalizada para com todos estes sinais de uma insanidade colectiva que está a contribuir sobremaneira para um verdadeiro livre arbítrio por parte da elite com acesso a qualquer poder.

E agora esse desgoverno está a atingir patamares tão baixos que já destruiu a consciência crítica dos cidadãos, incapazes na sua maioria de prestarem sequer atenção aos sinais da demência que nos corrói a Nação pelos seus alicerces que incluem, na minha opinião, coisas tão elementares como um conceito de justiça universal que se sobreponha sem hesitar às regras de qualquer instituição que dela faça parte quando estas contrariem, em questões tão elementares como a saúde pública dos cidadãos, a ética e decência de que tantos suspiram a ausência e a apontam como um mal mas muitos mais (e tantas vezes os mesmos) tornam irrelevantes por não lhes prestarem a devida atenção.

Rendo aqui homenagem ao tenente Corceiro, ao cidadão Gonçalo, na proporção inversa ao que me apeteceria aqui dizer acerca dos que viram a cara para outro lado neste tipo de injustiças quando esse outro lado não passa de um conjunto de miragens e de fugas superficiais vocacionadas para entreter os cobardes e os acéfalos que preferem fazer de conta que nada há a fazer de concreto para combater a decadência moral que está a matar pela raiz a própria civilização ocidental e, sem dúvida, o seu próprio país.

está a chegar...

o "berdadeiro" coelho da páscoa...
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março 21, 2013

A posta no cultivo das petições imbecis


Admito que estou a prestar mais atenção à balbúrdia cipriota em que a (des)União Europeia se meteu, mas quando percebo nas redes sociais e no impulso neo-peticionista uma reacção histérica, uma “proibição” generalizada a um comentador televisivo, seja qual for, começo a temer o pior em termos de apreço pela Liberdade de Expressão (entre outras) numa população cada vez mais óbvia nos sintomas de uma espécie de demência mansa mas nem por isso menos ameaçadora.

Talvez seja um dano colateral da crise, mas os impulsos primários de milhares de cidadãos portugueses são assustadores e denunciam um de dois problemas: ou a malta está mesmo toda a passar-se ou para além de valores cruciais como a dignidade, a honra e similares perdeu-se também o sentido do ridículo.
A reacção desproporcionada de milhares ao anúncio da entrada de Sócrates na RTP na qualidade de comentador foi tão hostil que mais parecia que se tratava de uma ocupação bélica dos emissores para abrir caminho à (re)tomada violenta do poder.

José Sócrates é nesta altura um comentador político tão habilitado (sim, eu topei esse sorriso manhoso) como qualquer dos vários – na maioria conotados com o espectro político oposto – já em funções.
Qualquer que seja a opinião dos outros a seu respeito tem todo o direito a expressar a sua. Se tinha pecados políticos expurgou-os nas urnas, derrotado como foi, substituído pelo que se vê. Se tinha pecados criminais expurgou-os na barra dos tribunais e nem uma condenação, uma pena ligeira para mitigar a fúria do povo, se aproveitou.
Nesse caso, quem tem o direito de exigir à RTP que desista dessa escolha? E a que pretexto?

Só me ocorre um e é dos mais repugnantes, pois indicia uma mesquinhez quase fascista.
E todos conhecemos a qualidade das colheitas obtidas a partir dessas sementeiras de pura estupidez.

diz o Belmiro...

só com mão-de-obra barata é que eu consigo encher (ainda mais) o saco...
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Jorge Castro - "Porque estamos no dia mundial da poesia, eu diria:

o Belmiro espertalhaço
diz o que quer, pois então
quanto mais estardalhaço
mais lhe vão comer à mão

fala-barato e patrão
engenheiro de outras lérias
fez-se grande o charlatão
empregador de misérias

se um dia nesta terrinha
nos fizermos mais atentos
veremos nesta gentinha
ladrões contados aos centos..."

março 20, 2013

Desabafo


Foto: Patrik Stefaniek
 
 
Ora bem, vamos lá atualizar isto. A vida continua. E nenhum dia é igual ao outro. As pessoas continuam a surpreender-me. E hoje estive particularmente bem disposta. Sinto-me cada vez mais paciente. Com as pessoas. Com o mundo. Até com o estado do tempo. Não tenho é paciência para a política, para a falta de verticalidade e princípios (principalmente dos nossos políticos) e para a inércia. As pessoas estão desmotivadas, e o pouco que se manifestam não tem efeito absolutamente nenhum e ainda temos de gramar com o sorriso cínico e jocoso da classe política.
Tenho pena que se sinta que não há nada a fazer, que não se vislumbre uma luz ao fundo do túnel, que são todos iguais, que a justiça não chame os responsáveis do estado em que nos encontramos, que haja pessoas sem possibilidades financeiras até para enterrar um familiar, que a comunicação social ainda dê tempo de antena àqueles que nunca tiveram dificuldades na vida e ainda dão palpites sobre como sobreviver neste país, que muitos dos funcionários da segurança social estejam a desempenhar aquelas funções quando deveriam estar longe do contato com pessoas com dificuldades, carentes e a precisar de auxilio, que não se mude de vez com o sistema de atribuição dos subsídios sociais e seja possível o estado estar a pagar milhões de euros a pessoas que pagam carros a pronto pagamento, que não se procure bons exemplos noutros países para implementar cá colocando à frente de tudo os interesses das pessoas.
Estou cansada destes gajos todos e ouvi-los na televisão já me dá náuseas. Ver como se atacam e depois são todos amiguinhos uns dos outros participando em grande almoçaradas ou jantaradas não tendo a mínima noção do quanto podiam poupar em dinheiro e do quanto podiam ganhar em integridade.
Enfim…foi o desabafo da noite…
A escolha da foto, é porque está (estava) de chuva e para desanuviar o ambiente

março 19, 2013

O roubo, a mentira, o despudor, a chulice… e o regime contributivo para a Segurança Social, a propósito de recente programa da TVi, «Olhos nos Olhos», e a desinformação perpetrada pelo profeta da desgraça Medina com bela Carreira.

Não venho fazer análises económicas, nem financeiras, nem vos proponho previsões, antecipações, nem opiniões sustentadas em estudos vários.

Quero lavrar tão só, aqui e agora, o meu testemunho, parco, subjectivo, liminar mas inquestionável sobre uma realidade que faz ruir, pela base, todos os dislates, as aldrabices, as tretas, as bacoradas e outras cavalidades que presuntivos analistas proferem quando referem esta matéria.

Um testemunho apenas sustentado por uma carreira de cerca de 35 (trinta e cinco anos) de descontos para a Segurança Social. Os MEUS descontos ACRESCIDOS dos descontos da entidade empresarial que liquidou os meus vencimentos ao longo de todo este tempo.

Esses pagamentos, efectuados ao Estado, sem apelo nem agravo nem margem de fuga, com base em regras estabelecidas pelo mesmo Estado a que só conseguiam furtar-se alguns poucos «amigos» das estatais personalidades e as próprias personalidades, destinavam-se a assegurar a MINHA reforma e nenhuma outra!

Não descontei para a reforma dos meus filhos nem para a dos meus avós. Descontei para a MINHA reforma. Que não haja nem subsista qualquer dúvida sobre isto, relativamente ao contrato social a que me encontrava obrigado com o Estado.

Tudo quanto se possa dizer fora disto é uma aldrabice, uma venda de banha-da-cobra, uma vigarice.

Se o Estado desbaratou essas MINHAS contribuições, o Estado tem de responder por isso. E informar, com carácter de urgência, o que fez com esse meu dinheiro e como irá repô-lo.

Assim, quando vejo propalarem que a Segurança Social está em rotura porque daqui a 20 anos não há gente suficiente para pagar todas as reformas de uma população envelhecida, estamos no domínio da despudorada falta de vergonha, da vigarice mais soez, da criação criminosa de condições para uma conflitualidade social sem nome nem barreiras.

Essa gentinha – e chamar-lhes gentinha é uma condescendência piedosa não merecida – que promoveu a desregulamentação do trabalho, o execrando «recibo verde» e outras manigâncias quejandas, como os sacos azuis e tantos outros pagamentos «por baixo da mesa» aos seus gestores e demais apaniguados -  o que veio a subverter todas as lógicas contributivas ao longo de mais de uma vintena de anos -, esta gentinha, digo eu, é que deveria agora ficar remetida (e, ainda assim, demasiado bem) ao seu chorudo pé-de-meia, se o amealhou, sem vir, para cúmulo do insulto, deitar a mão ao que resta do bolo, gritando, ao mesmo tempo, que este já não chega para todos...

Lixam-nos a vida, o presente e o futuro, retiram a esperança a velhos e novos, hipotecam uma geração inteira… e vêm gritar que a culpa é de haver mais velhos do que novos.

Ali ao lado, o self made (?) Belmiro, também acha que devia pagar menos nos ordenados, que já são de miséria; mais acima, uma besta governamental afirma que podemos passar bem sem a História e, no cúmulo do desvario, a «Europa» quer retirar dinheiro aos depositantes cipriotas, para endireitar as contas do país.
E não vemos nenhum destes energúmenos sequer abrir mão de migalha, continuando a mamar da teta da porca de Bordalo que não cessa de jorrar fecundo leite que os sustenta.

Mesmo os milionários «indignados» mais não são do que uma manobra de diversão que não visa mais do que exercer uma pressão indecorosa sobre o Tribunal Constitucional ao pretenderem equiparar-se ao que não é equiparável - um frete a Passos Coelho, digo eu, que há muito perdi ilusões quanto à boa-fé de certos actos.

Que pretendem? A subversão da ordem social? O fim do Estado de direito? A desobediência civil que irá, na ordem natural das coisas, vitimá-los também? Se a loucura lhes é tão evidente, hospício com eles, já!

Paleio radical? Ora, meus amigos, deixemo-nos de merdas!

Quando um puto desgraçado, em cima dos trinta anos e depois de uma dúzia de empregos da treta sequenciados por um semestre inteiro desempregado, no seguimento de humilhações várias – a que um filho ao colo não é factor despiciendo – consegue uma nova ocupação, auferindo 300 (trezentos) euros num emprego (?) a tempo inteiro e por turnos, para acesso ao qual necessita de obter um passe «social» que lhe custa para cima de 100 euros… e continua a ter o filho ao colo, mais a água, a electricidade, a renda da casa, o fisco, qual é o comentário que isto nos merece?

A mim, apenas um: fodam-se todos estes fautores da desgraça! Sem remissão nem pecado. Fodam-se! Depressa e dolorosamente, que amanhã já é tarde!         

março 18, 2013

finalistas...

em viagem para o sul de Espanha, raptam mascote de reconhecido "clube" político
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março 14, 2013

Francisco... primeiro

dia no escritório
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Rosário Breve n.º 300 - in O RIBATEJO - www.oribatejo.pt

Boa noite, gente persuactiva.

Tresloucada doença prolongada

Os jornais de antigamente chamavam “tresloucado acto” ao suicídio. Quando no activo da profissão, nunca fui muito amigo de noticiar suicídios. Talvez a minha repugnância pelo tema derivasse do respeito (e do temor) por essa máxima privacidade que é a terminação auto-infligida.
Segunda-feira passada, os jornais parangonavam mais uma tragédia portuguesa desse teor. Um canalizador desempregado de 43 anos atirou-se para um poço aberto. A diferença está em que arrastou com ele o filho, menino de tão-só dois anos de idade. Foi numa aldeia de Viana do Castelo.
Parece moda moderna, esta de precipitar os próprios filhos no reverso do futuro. Acto e facto pungem e consternam em acerbidade aspérrima a todo quem não estiver embrutecido de vez. E fazem pensar toda a pessoa a quem não apenas o pente concorra à cabeça.
Não me resulta difícil, franca e infelizmente, ver naquele poço sem cobertura o pélago da selvajaria hipercapitalista do nosso tempo. A voracidade do Deus-Dinheiro revela-se cada vez mais mortífera. A vida pessoal, esse tesouro portátil que só se gasta uma vez, deixou de pesar na balança de um prato só dos mandadores. Daí que eu considere, o mais sinceramente, o mais acusadoramente, que quem matou aquele pai e aquele filho tenha sido o Governo da Nação.
É peregrina, esta minha ideia?
É tola, esta minha raiva?
É desajustada, tal minha arrelia?
Seja. Seja. Seja.
Mas.
Mas algo tem de ser feito para que o desassossego contagie, também, os criminosos da Alta-Finança. Para que a intranquilidade se aposse, também, dos corruptores da Banca. Para que o medo erice, também, o espinhaço dos bastardos adoradores do ouro.
Aquela aldeia de Viana do Castelo é Portugal todo: sinédoque tão triste quão real. O café em que fiavam a bica àquele canalizador sem esperança é o café a que todos vamos. E aquele poço a céu-aberto é deveras o que vos disse que é.
Os jornais de antigamente chamavam “doença prolongada” ao cancro. Eu não. Eu chamo “doença prolongada” à matilha governamental. E doença tão prolongada, que me não parece seja curável enquanto o solo pátrio não estiver juncado de pequeninos cadáveres de crianças que cometeram, sem no saber, o “tresloucado acto” de nascer em Viana do Castelo, isto é, em Portugal.


Rosário Breve n.º 300 - in O RIBATEJO - www.oribatejo.pt

março 09, 2013

dia da Mulher...

ontem, hoje, amanhã...
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Ouçam todos o que diz esta grande Mulher

Declarações de Joana Manuel, “uma jovem actriz de 36 anos”, durante a Conferência Nacional - Em Defesa de um Portugal Soberano e Desenvolvido, dia 23 de Fevereiro de 2013 no auditório da Faculdade de Ciências de Lisboa.

março 08, 2013

o grande problema do nosso governo
-pequena lição de política de bolso

o grande problema do nosso governo
é ter este povo que não foi eleito
é ter por defeito o não ser eterno
é viver no inferno de jamais ter jeito

ninguém lhe parece que lhe valha a pena
para além da corja que traz à ilharga
gentalha contada e à boca pequena
que come e que medra e que vive à larga

o grande problema do nosso governo
é ser da matriz dos biltres sem terra
que nunca beberam no leite materno
esse amor ao chão a que a raiz se aferra

à seiva do povo que a corja traiu
no meio do lodo tal qual sanguessuga
que mal se empanturra – ávida e febril -
abandona o barco - mísera trânsfuga

o grande problema do nossos governo
é não ser do povo nem dele ser guarida
mas se em cada dia lhe atiça o inferno
o dia virá da paga merecida

assassinam velhos – desprezam os novos
matam o presente – hipotecam futuros
e nós só cantando e atirando ovos
esperamos que caiam todos de maduros

Conclusão:

o grande problema que nós temos com este governo
é que enquanto aguardamos tranquilos que ele passe
o que acontece - como outrora se diria -
é que ele assumiu uma clara opção estratégica de classe…

- Jorge Castro

Se fosse só um problema com os casamentos...

Até quando teremos que aguentar com o artificialismo das mudanças de hora?


março 05, 2013

tu aqui não tens nada p'ra dizer, pá...

  - a propósito do movimento de cidadania que tem boicotado as intervenções de governantes, mormente de
  um tal Relvas, este e outros quejandos os verdadeiros fautores actuais do desgoverno e da desobediência civil, os agentes do «mercado» que eles bajulam e alimentam ao arrepio de toda a Humanidade.

     tu aqui não tens nada p’ra dizer

nem de ti tenho nada para ouvir

a palavra
esse dom de humanidade
e de livre pensamento
não se colhe no entulho da aldrabice
nem a queremos ver medrando entre a miséria e o lamento
com que tu e os teus pares nos vão cercando
sempre ao mando e ao desmando
e da pulhice

e não venhas com plangências democráticas
porque em ti tudo teu é fraco e falso
e nem mesmo de algumas almas erráticas
vais a tempo de fugir ao cadafalso

a palavra é um direito
é um dever
é o abraço que nos une e nos irmana
mas trânsfugas que o povo tomam de assalto
uma só me ocorre agora
e é «sacana»

e sacana é aquele que eu não quero nem ouvir
lobrigar sequer por perto
e assim sendo se falar queres
podes ir
p’ràs profundas mais remotas do deserto

aqui não
que não és tu cidadão
mas ladrão que me assalta a descoberto
e em ti cada palavra é a facada
que se paga sempre em sangue e agonia
nesse dia que constróis com injustiças
atropelos
violência
e vilania
e assim medras
tu e toda essa canalha
que na sede deste sangue te igualha
e se amanhã no seu sinistro porvir

tu aqui não tens nada p’ra dizer

nem de ti tenho nada para ouvir

nada tens afinal mais p’ra dizer
de ti já se ouviu toda a missa farta
e se vieres que seja só p’ra acontecer
a providência de um raio que te parta!

- Jorge Castro

«não desisto» - bagaço amarelo

São dez da manhã e estou à espera de ser atendido no Centro de Emprego. Não faço a mínima ideia que só vou sair dali às quatro e vinte da tarde, depois de uma longa e inesperada espera. Hoje foi este o meu dia.
Tenho na mão uma capa com toda a papelada que acumulei desde que caí nas malhas do desemprego, incluindo todo o processo que vou levar a tribunal, mais o primeiro volume de 1Q84, do Haruki Murakami, que a minha namorada me ofereceu. Nunca agradeci tanto um presente, acho eu.
Já li, aliás, cerca de cem páginas do livro quando o meu estômago começa a dar os primeiros sinais de apetite. Tenho a senha B091 e vai na B034. É uma da tarde. Passo em revista quase todas as caras das pessoas que se amontoam naquele espaço exíguo, algumas em pé, outras sentadas. Há alguns sorrisos que me parecem esforçados, há ausência na maior parte dos rostos e, para piorar, sinais de evidente derrota em alguns deles.
O homem ao meu lado, por exemplo, que deve ter uma idade a rondar os sessenta anos, está ferido num olho e sua tristeza por todo o corpo. Tira um bocado de pão do bolso esquerdo e come-o em pequenos pedaços, sem mais nada, escondendo-o dos demais. Não é por medo que lho roubem. É, parece-me, para preservar alguma eventual réstia de dignidade que ainda tenha.
Algumas vozes, ainda que contidas, protestam com as funcionárias que vão chamando lentamente os utentes. Chamam-lhes preguiçosas das mais diversas maneiras mas, em abono da verdade, acho injusto. Não vi nenhuma parada. Sei por experiência própria que alguns processos são bastante demorados. Não deixa é de ser curioso que, onde há tantos desempregados à espera de vez, não empreguem mais ninguém para atender. Rio-me, para dentro, do meu próprio país. Tenho pena de o fazer.
Sinto um toque no joelho. É uma criança que olha, babada, para o chocolate que entretanto abri. Parto uma porção generosa para lhe dar, mas primeiro procuro a autorização no olhar da mãe, que está algumas cadeiras ao meu lado. Ela abana ombros, consentindo com vergonha. A criança agradece, sem saber que eu é que lhe agradeço ainda mais. A mãe tem uns olhos tão bonitos que parecem um oásis naquele deserto de emoções. São negros, e fico com a sensação de que é impossível adivinhar o que está por trás deles. Apaixono-me por dois minutos. Valeu a pena o chocolate. A criança afasta-se.
Fixo os pés no chão, como que para fugir dali por uns momentos, apesar da noção de que é impossível esconder-me. Fixo uns sapatos cujas solas estão quase todas descoladas. Parecem bocas abertas e, como tal, gritam em silêncio. É o que eu estou a fazer, a gritar em silêncio. A pobreza é pornográfica e está ali, à vista de todos sem chocar ninguém. É chocante.
Não desisto, penso. Chegou a minha vez de ser atendido. Chegará a nossa vez de viver.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
e
Blog «a funda São»

onde pára...

o presidente... pago por todos aqueles que se manifestaram no sábado passado...
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março 03, 2013

A posta que o futuro imediato é uma desconcertante incógnita


Sempre que se coloca a questão de como dar a volta à situação que o país atravessa esbarro numa parede que o raciocínio impõe e dou comigo num beco sem saída.
Em causa está a relação entre a dimensão do problema, nomeadamente do ponto de vista financeiro, e o leque de alternativas disponíveis num cenário eleitoral.
Quando vejo cidadãos mobilizados para as diferentes formas de luta que uma democracia digna desse nome nos faculta entendo perfeitamente as suas razões e, em mais do que um momento, sinto-me compelido a também fazer qualquer coisa.
O problema, e é aqui que de repente me vejo no tal dilema, está na nítida sensação de que derrubar o actual governo (e é esse o mote de todas as manifestações populares acontecidas ou por acontecer) pode confrontar-nos apenas com cenários ainda mais complicados no contexto da aflição generalizada, como o exemplo italiano cuidará de comprovar.

Cruzar os braços é sempre uma opção impossível perante a progressiva degradação do tecido empresarial e respectivo impacto no número de gente desempregada que pode apenas recorrer aos mais próximos para se valer e também a maioria desses sente na pele o efeito da austeridade. O consequente efeito bola de neve arrasta até a geração dos avós para o turbilhão e a em termos sociais o país começa a acumular tensões indisfarçáveis que só não eclodiram ainda como o caos nas ruas porque olhamos para os gregos e percebemos que nem essa hipótese resolve seja o que for.
Porém, todos sentimos que urge fazer algo e com a máxima urgência.

As opções que nos restam limitam-se a males maiores. A desordem não serve. Eleições antecipadas não resolvem. Não há dinheiro e devemos milhares de milhões, pelo que a dependência externa é total e não é realista equacionar a saída do Euro ou a desresponsabilização relativamente aos compromissos assumidos.
Perante isto, o que fazer?
É aqui que ninguém apresenta sugestões minimamente consensuais. Toda a gente consegue apontar culpados e exigir a respectiva responsabilização. Contudo, nesse lote incluem-se os maiores partidos e só uma minoria leva a sério as opções que restam.

Um novo partido, alheio aos já existentes e livre das várias cargas pejorativas, surge no horizonte como a única hipótese no âmbito do sistema democrático que o bom senso recomenda e a racionalidade impõe. Uma alternativa distinta das já existentes, capaz de congregar vontades em torno de um projecto simultaneamente realista e milagreiro, seria nas conjecturas de muitos de nós a aposta ganhadora.
Mas no meio do furor demagogo que a desorientação facilita, quem nos garante que não estaremos a investir numa solução sem pernas para andar ou que, como no exemplo italiano que acima referi, não consiga mais do que tornar-se num estorvo à possibilidade de constituição de uma maioria parlamentar capaz de sustentar uma solução governativa estável?

Como baratas tontas, acabamos quase todos paralisados perante tantas dúvidas (legítimas) e o tempo esgota-se ao sabor dos caprichos de cada um dos países de uma União Europeia refém de si própria e do efeito dominó de uma crise em roda livre, sem o amparo federalista.
Ainda assim, e caso queiramos insistir na democracia como opção (não existe outra), só mesmo através da criação de novos partidos, movimentos de cidadãos e quaisquer formas de mobilização organizada de cidadãos poderemos alimentar a esperança no surgimento de uma nova ideologia com propostas exequíveis ou, no mínimo, de alternativas credíveis de liderança.

Que Se Lixe a Troika...

...na ultima reunião juntou não sei quantos milhões...
mas se alguém ficou com dúvidas
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março 01, 2013

terapia...

 
em grupo ajuda na superação de problemas pessoais através 
do contato com o outro...
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