março 21, 2013

A posta no cultivo das petições imbecis


Admito que estou a prestar mais atenção à balbúrdia cipriota em que a (des)União Europeia se meteu, mas quando percebo nas redes sociais e no impulso neo-peticionista uma reacção histérica, uma “proibição” generalizada a um comentador televisivo, seja qual for, começo a temer o pior em termos de apreço pela Liberdade de Expressão (entre outras) numa população cada vez mais óbvia nos sintomas de uma espécie de demência mansa mas nem por isso menos ameaçadora.

Talvez seja um dano colateral da crise, mas os impulsos primários de milhares de cidadãos portugueses são assustadores e denunciam um de dois problemas: ou a malta está mesmo toda a passar-se ou para além de valores cruciais como a dignidade, a honra e similares perdeu-se também o sentido do ridículo.
A reacção desproporcionada de milhares ao anúncio da entrada de Sócrates na RTP na qualidade de comentador foi tão hostil que mais parecia que se tratava de uma ocupação bélica dos emissores para abrir caminho à (re)tomada violenta do poder.

José Sócrates é nesta altura um comentador político tão habilitado (sim, eu topei esse sorriso manhoso) como qualquer dos vários – na maioria conotados com o espectro político oposto – já em funções.
Qualquer que seja a opinião dos outros a seu respeito tem todo o direito a expressar a sua. Se tinha pecados políticos expurgou-os nas urnas, derrotado como foi, substituído pelo que se vê. Se tinha pecados criminais expurgou-os na barra dos tribunais e nem uma condenação, uma pena ligeira para mitigar a fúria do povo, se aproveitou.
Nesse caso, quem tem o direito de exigir à RTP que desista dessa escolha? E a que pretexto?

Só me ocorre um e é dos mais repugnantes, pois indicia uma mesquinhez quase fascista.
E todos conhecemos a qualidade das colheitas obtidas a partir dessas sementeiras de pura estupidez.

6 comentários:

  1. Nem de propósito, anteontem fiz esta quadra:

    Com Coelho isto está mal?
    Com Seguro bem não fica.
    Qual é o original?
    Qual a cópia? Quem me explica?

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    1. Agora, sobre o assunto em apreço: anda tudo doido! E não é coisa recente.

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    1. Nem é preciso estar com uma atenção desmesurada.

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  3. Caro Shark, também sou daqueles que consideram que o direito à liberdade de expressão deve ser universal - ainda que, as mais das vezes, não o seja.

    Felizmente, no que toca ao caso em apreço, eu tenho sempre o direito a não querer ouvi-lo. Independentemente da quantidade de resíduos que a politicagem portuga tem vindo a produzir, o lixo da História não é, em geral, reciclável.

    Mas se o homem quer falar, é deixá-lo. Esperemos só que o conceito abranja todos quantos o queiram fazer, nas mesmas circunstâncias ou outras: tu, eu, etc., etc.

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  4. De acordo, também não vou em petições para calar quem quer que seja. Antes disso, tinha de assinar em prol do despedimento do Fernando Mendes, da Catarina Furtado e do Jorge Gabriel.
    Mas, como o OrCa, não oiço Sócrates (pelo menos enquanto ele não sou souber mais de Filosofia do que o conceito de "narrativa", que deve ter ouvido por alto numa qualquer aula de Hermenêutica ou de Contemporânea) como não vejo o Preço Certo. Porque de barbaridades e megalomanias já me chegam aquelas a que sou obrigada.

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