março 05, 2013

tu aqui não tens nada p'ra dizer, pá...

  - a propósito do movimento de cidadania que tem boicotado as intervenções de governantes, mormente de
  um tal Relvas, este e outros quejandos os verdadeiros fautores actuais do desgoverno e da desobediência civil, os agentes do «mercado» que eles bajulam e alimentam ao arrepio de toda a Humanidade.

     tu aqui não tens nada p’ra dizer

nem de ti tenho nada para ouvir

a palavra
esse dom de humanidade
e de livre pensamento
não se colhe no entulho da aldrabice
nem a queremos ver medrando entre a miséria e o lamento
com que tu e os teus pares nos vão cercando
sempre ao mando e ao desmando
e da pulhice

e não venhas com plangências democráticas
porque em ti tudo teu é fraco e falso
e nem mesmo de algumas almas erráticas
vais a tempo de fugir ao cadafalso

a palavra é um direito
é um dever
é o abraço que nos une e nos irmana
mas trânsfugas que o povo tomam de assalto
uma só me ocorre agora
e é «sacana»

e sacana é aquele que eu não quero nem ouvir
lobrigar sequer por perto
e assim sendo se falar queres
podes ir
p’ràs profundas mais remotas do deserto

aqui não
que não és tu cidadão
mas ladrão que me assalta a descoberto
e em ti cada palavra é a facada
que se paga sempre em sangue e agonia
nesse dia que constróis com injustiças
atropelos
violência
e vilania
e assim medras
tu e toda essa canalha
que na sede deste sangue te igualha
e se amanhã no seu sinistro porvir

tu aqui não tens nada p’ra dizer

nem de ti tenho nada para ouvir

nada tens afinal mais p’ra dizer
de ti já se ouviu toda a missa farta
e se vieres que seja só p’ra acontecer
a providência de um raio que te parta!

- Jorge Castro

16 comentários:

  1. Vamos arranjar uma música para isto, para lhe cantar num próximo evento público?

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  2. Cá por mim, afoita-te que o teu afoitar tem graça! Não foi construído cantabile, mas pode sempre dar-se-lhe um jeito...

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  3. Olhem, fui militar de Abril, dos dias cheios de sorrisos e do sol da esperança.
    Primavera de 74, como estás longe.
    Acreditei, ponto.
    Mas agora?
    Isto já não vai lá com cantigas.
    Ainda hoje constou que uma das "medidas" no prelo para 2014, - dado o enorme desfasamento da folha Excel perfeitinha do Gaspar versus a realidade da vida-, é o confisco de meio, ou até um dos ordenadosn por inteiro da função pública.
    Ou seja, já não chega o roubo dos subsídios, cujos cortes já assumiram ser uma medida permanente e não excepcional, como agora se propõem a institucionalizar, passo a passo, a escravidão.
    Depois disto, a cantiga é uma arma, sim. Mas na boca do cano de uma espingarda.
    Escutem: se não se derruba esta gente, eles acabam connosco.
    Mais vale tudo, até sair do Euro, do que aturar mais tempo esta cambada de incompetentes, corruptos, estúpidos seja lá o que forem, uma coisa de cada vez ou todas em simultâneo

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  4. Ok. Ela que argumente.
    Se no tempo, em que ainda não tinha nascido e que escrever e dizer coisas dava grelha eu nunca me calei, estou a ver se seria agora, fosse por que razão fosse, diferente da urbanidade.
    Se dei o corpinho para a liberdade em abstracto de toda a gente, não me coibo de dizer o que penso, e o meu pensar é de raiva profunda contra estra choldra que está a apodrecer a esperança na mesma medida em que afundam o país.

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    1. "Ela" argumenta, argumenta. Mas quando vale a pena, porque não há argumentos contra espingardas.
      Felizmente, Charlie, não tens o tempo de antena que têm os membros desta choldra que nos governa (nesse ponto estamos de acordo): serias tão perigoso como eles. E teres sido militar de Abril (conheço tantos, e tão mais sensatos) não é argumento, é só um facto. Tenho pena que essa experiência te tenha dado tão pouco, nomeadamente a consciência de que qualquer ditadura é má, venha de onde vier.
      Todo0s temos a liberdade de dizer o que pensamos, até a choldra com que te manifestas - é essa a graça e a desgraça da democracia por que dizes ter lutado e com a qual, afinal, já não te apetece lidar, tal qual fazem os meninos, quando as coisas não correm conforme querem. Tu, como eles, como todos nós dizes muita asneirada. Alguma da qual também me enche de raiva. Não me mexe no bolso, mas enche-me de raiva. E nem por isso acho que seja com espingardas que se resolve o (meu) problema. Mas isso é só "ela" a dizer coisas. Porque a liberdade de expressão é importantíssima, sobretudo se resultado de um raciocínio coeso e não de demagogia populista.

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    2. *a choldra contra a qual te manifestas

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    3. Ou seja: o que te distingue das bestas que nos governam, se é pela força bruta que os queres derrubar? E depois quê? Que acontece depois? São os como tu, que defendem as espingardas (mas se indignam contrea o seu uso livre nos EUA) que ME vão governar? Não, obrigada. Dispenso.
      Podes falar à vontade, todos falam muito, hoje em dia. Ainda bem que temos esse direito, ainda mal que nem todos o saibamos usar - é por estas e por outras que agora sou visita, por aqui. É-me tão aprazível "viver debaixo do mesmo tecto" com alguém de espingarda em punho como seria habitar com o Relvas (com a diferença de que este só me provoca vómitos e de vómito eu não morreria; contigo, teria medo de defender algo que não coubesse dentro da tua concepção iluminada do que é a sociedade, para não levar com chumbo no bucho).

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  5. Bem, bem... A chatice disto tudo é que «isto» já não vai lá com flores, nem de estilo, nem de estufa.

    A violência é um conceito perigoso por ser sempre arma de vários gumes. Tanto que foi superiormente olhado por Brecht, quando nos dizia que «do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o oprimem».

    Agora, tudo há-de ter um limite. E a última gota que faz transbordar o copo não é mais nem menos culpada do que todas as demais que foram pingando no contexto. Nem mais violenta. É, tão-só, aquela que caiu na sorte de ser a transbordante.

    E, bem vistas as coisas, de quem é que os Passos Coelhos deste nosso descontentamento têm medo? De nada, se virmos bem. Estão bem agasalhados e protegidos de todas as intempéries. Receiam apenas que o céu lhes caia em cima da cabeça - o que, à falta de milagres, pode metemorfosear-se em varapau, de porrada bem assente. Lamentável? Claro. Mas são eles que estão a trilhar esses caminhos da História.

    A nossa posição académica, por melhor intencionada que seja, pode não ter voz quando se estiver em vias de facto.

    O que faz um velho ancilosado no meio da bordoada da polícia na noite da Assembleia? Nada. Mas o que lhe apeteceria fazer? - Tudo! Fosse ele uns anitos mais novo...

    E eu também faria, se pudesse (se puder...), que um Gandhi me perdoe!

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  6. Força. Eu lutarei sempre contra a imposição do que quer que seja pela força. Por isso acreditei neste blogue, onde se privilegia a argumentação. Mas lá está, quando me senti mal, mudei-me.

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  7. Eu acho que tenho que vos pedir para reverem o subtítulo do blog: "a força dos argumentos"...

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    1. Também eu. E é para mim. A ver se recentro o blog na argumentação.

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    2. Muito bem.
      A força do argumento, o qual faz força pela razão que lhe assiste.
      Bem diferente da razão que se impõe pela força -leia-se-: violência.
      E neste pormenor em particular temos muita matéria para tecer pensamentos e trocar argumentos, e o pensamento, sendo ele livre é pela liberdade da sua expressão que faz sentido partilhar. Nunca com peias ou medos, ou ainda auto-censuras, e quando um espaço como este for confrontado com limitações ao livre argumento, então deixa de fazer sentido, principalmente para mim, que sou como cada um de vós, o centro do Universo.
      Muitas vezes, expressamos antíteses das nossa convicções e formas de estar na vida apenas, ou melhor, principalmente como exercícios de catarse, rituais de expulsão de demónios.
      Neste pormenor- nisto que toca ao uso da violência, das armas etc-, há ter em conta que elas, as armas, trazem em si esta dicotomia de serem em primeiro lugar elementos disuasores,- como o ladrar dos cães- transformando-se no seu oposto no exacto momento em que passam da disuasão à acção.
      Estive como muitos, em cenários de guerra, dos horrores, do caos. Não possuo qualquer arma, não quis ficar com nenhuma nem como souvenir, e fiquei com um reflexo condicionado traumático, cada vez que oiço algo parecido com um tiro.
      O facto de se invocar o cano de uma espingarda não implica outra coisa do que isto mesmo: a hipótese das manifestações passarem do que tem sido até agora para algo diferente se as condições ficarem socialmente mais complicadas.
      Há no verso de uma "rapper" do Norte, Capicua, um conceito que condensa bem o caminho que os acontecimentos vão tomando e que conduzem o sentido da História na senda da confrontação violenta. Diz ela " entre a espada e o precipício, colho a espada e mudo o destino".
      Este singelo verso sintetiza tudo de forma simples: quem está à beira de um precipício empurrado pela pressão da folha da arma, chega a um momento crítico em que não tem escolha: ou morre na queda ou à ponta da espada. E morrer por morrer ( o ponto crítico em que não há nada a perder) toda a gente nessa circunstância tenta pegar na arma que o empurra.
      Como dizem os criminalogistas, só há um crime que ninguém pode dizer que nunca cometerá. Podemos nunca roubar, nunca caluniar, nunca vigarizar etc, mas nunca por nunca ninguém pode dizer que jamais matará.
      E isto pela confrontação simples de dois universos interligados, a Lei e o direito. Embora a lei sancione o crime de morte, qualquer um de nós, pelo seu direito à vida pode cometer o crime capital. Pela direito é-se contra a lei e se há um direito fundamental de onde todos os outros emanam, esse é o direito á vida.
      Cabe por isso nas sociedades humanas, dotá-las de mecanismos legais que suportem os direitos.
      Quando um Governo pela lei atropela progressivamente os direitos, incluso o principal, canaliza os acontecimentos de forma dramática em direcção ao precipício.
      Não se admirem depois que os oportunistas, à boleia dos famintos, peguem nas espadas...

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