junho 08, 2016

«Caixa... é Caixa» - António Pimpão

De há uns tempos a esta parte que a comunicação social, alinhada com o governo, vem plantando notícias sobre a necessidade de capitalizar a CGD, sendo a EU apresentada como o mau da fita, por não consentir que o estado intervenha para capitalizar empresas públicas, por isso constituir uma forma de as subsidiar.
Finalmente – e como seria de esperar, pois já estamos suficientemente anestesiados com essas sucessivas notícias – a mesma comunicação social adianta que “Bruxelas dá luz verde a linhas gerais da recapitalização da CGD”.
Ora, iniciar a discussão deste assunto a partir da constatação da necessidade de a CGD ter que ser capitalizada é mistificador, pois se está, dessa forma, a passar uma borracha sobre as causas que conduziram a esta situação.
Não questiono que a CGD esteja descapitalizada e que, face à necessidade de cumprir determinados rácios e, até, por razões prudenciais, precise urgentemente de ver reforçados os seus capitais próprios, via aumento do capital social, que só o estado pode fazer por ser o seu único acionista.
Mas o que me causa indignação e mal estar é pensar nas causas que sistemática e convergentemente têm conduzido ao empobrecimento do banco, sem que qualquer dos gestores ou algum dos membros do governo acionista seja responsabilizado pelo estado a que isto chegou.
A CGD é o banco mais estatista, mais rígido, menos amistoso e mais caro do sistema bancário nacional. É o que, por um lado, cobra comissões mais elevadas e, por outro, o que mais colabora e facilita a vida aos grandes empresários, a quem sempre vem servindo de bengala, sendo, por isso, forte com os fracos e fraco com os fortes.
A CGD tem 19 administradores, todos eles muito bem remunerados. Para quê tanta gente a mandar? Mas o mais grave é que, quando abandonam a administração, independentemente do tempo em que exerceram funções, passam a auferir uma pensão de reforma igual ao seu vencimento, que é suportada pelo fundo de pensões, ou seja, pela própria Caixa (lembro a polémica a respeito da pensão de reforma de Mira Amaral, cujo direito foi adquirido ao fim de um ano de administrador).
As administrações da CGD não chegam a aquecer o lugar, não me lembrando de que algum dos seus membros tenha sido reconduzido. Em consequência, nestes 40 anos de democracia já devem ter por ali passado cerca de 300 administradores, todos eles a receber ainda opíparas pensões de reforma.
Os trabalhadores da CGD (e também os do Banco de Portugal) reformam-se aos 60 anos, contra 65 nos restantes bancos e atividades.
Apesar das elevadas comissões e taxas de juro que cobra, a CGD há 5 anos que tem vindo a apresentar elevados prejuízos. Esses prejuízos refletem más decisões tomadas pela administração e pelos diretores, pelo que são inexplicáveis e inaceitáveis as remunerações e demais regalias de que beneficiam, sem que seja feita qualquer avaliação do seu desempenho. E, depois, cá estamos nós, os contribuintes e acionistas, para cobrir as falhas, sem poder fazer perguntas sobre o assunto, pois outros decidem por nós.
Desta vez, serão cerca de 4 mil milhões de euros, que é uma pipa de massa, que o estado vai aplicar na CGD, às nossas custas. Esta quantia não é determinada nem vai servir para expandir o negócio; serve, sim, para tapar o buraco aberto pelos descomunais prejuízos dos últimos anos.
A parte substancial dessas perdas resulta de imparidades, ou seja, de não conseguir recuperar empréstimos que realizou no passado ou aplicações que fez em empresas de duvidosa rentabilidade, uma vez que tem estado sempre disponível para apoiar uma classe empresarial descapitalizada quando se trata de comprar, como parceiro financiador, algumas dessas empresas, que, depois, acaba por vender na altura em que começam a ser rentáveis, assim abdicando, a favor dos parceiros, das correspondentes mais-valias (vide Cimpor, Brisa, Compal e PT, além dos empresários Berardo, Fino e outros de cariz mais especulativo)
Como diriam os ingleses: “Who cares?!!!”

António Pimpão

2 comentários:

  1. Ninguém se importa porque não se quer ter o povo focado nesse propósito.
    Quando se canalizam as paixões descobrimos quanto é quente o sangue que nos corre pelas veias. Campeões de futebol, de hóquei, de atletismo, tudo mexeu connosco.
    Agora, essas coisas só mexem as que o Média quer que sejam mexidas, e quando começam a abrandar, lá vem mais uma treta qualquer a propósito para manter a coisa quente.

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