Tanto mediatismo tem o Barack Obama que a frase
«Yes, we can» se tornou um ícone.
E nós, portugueses, sempre com o nosso ancestral complexo de inferioridade, nem sequer nos apercebemos que temos uma frase tipicamente nossa, no mínimo igualmente interessante e com uma sonoridade muito idêntica a «Yes, we can», que usamos no dia a dia. Mas a banalidade não lhe tira a força. Antes pelo contrário. Senão vejamos um exemplo de aplicação:
E é se... queres!
Sonhas ser professor?
Fazes muito bem. Portugal agradece. Mas...
Passas uma carrada de anos a fazer vida de cigano, de terra em terra, do cu de Judas até à parte de trás do sol posto...
E é se... queres!
As tuas ferramentas de trabalho e os consumíveis, tu é que os tens que comprar que as escolas não tos disponibilizam nem te reembolsam...
E é se... queres!
Durante o tempo que passas na escola não tens um espaço em condições nem recursos disponíveis para preparares as aulas e tens que te desenrascar... normalmente trabalhando em casa, à noite e nos fins de semana...
E é se... queres!
Aceitas que o Governo do teu país destrua a imagem da tua profissão...
E é se... queres!
...
E é se... queres!...
(a propósito, o Governo tem vários méritos na área da educação: conseguiu unir uma classe que nunca foi coesa... e até os alunos concordam com os professores, como mostraram na manifestação em Coimbra, no passado dia 29 de Janeiro, exigindo "a desburocratização do ensino para que os docentes se possam dedicar às suas tarefas fundamentais: a preparação e concretização das aulas e a avaliação"; entretanto, também tenho que agradecer ao Ministério da Educação a oportunidade que me deu para criar este post e este poster... num dos muitos fins de semana em que não pude sair de casa porque a minha mulher esteve a preparar aulas, materiais para os alunos e testes... e é se quero!) _____________________
Comentário do
OrCa:
"Não consegui chegar cá mais cedo para produzir um clap-clap bem sonoro acerca desta tua entrada... que não se sabe se conduzirá a uma saída feliz.
O dito está bem apanhado, até pela sonoridade, mas dá-nos um ponto de situação abissal entre as duas atitudes: yes, we can é um apelo à mobilização geral; e é se queres tem, por trás, aquele tom semi-ameaçador, semi-arrogante, semi-condescendente em que só faremos quando alguém nos der licença.
Pelo que conheço cá do burgo, se nos aparecer algum Obama para eleições, grande parte do eleitorado é capaz de pensar com os seus botões: o caraças do preto não querem lá ver para o que lhe havia de dar?! E zarparia, acto contínuo, para o Alasca em busca da silly miss que lhes fornecesse bilhetes para o próximo concerto do Tony Carreira, que a malta precisa é de se distrair..."