dezembro 25, 2010

Diálogo sobre o ateísmo...

... a propósito do excelente texto de Rick Gervais «Why I'm an atheist», trazido e traduzido pela Ana Andrade:

Antonino:
"Fascinante... Talvez por isso, no 'In Memoriam' do meu pai eu escrevi mais ou menos isto: «Era um homem bom por amor da bondade e justo por amor da justiça». Realmente, se assim não fosse, andávamos todos a agir num modelo de PEC (Pagamento Especial por Conta) que seria algo assim: Tu vais pagando já agora, que Eu depois acerto contigo e vejo se tens a dar ou a receber.
Gostei."

Charlie:
"Excelente aperitivo para um brainstorming. A Fé é aquele elemento imponderável que está sempre um passo à frente da razão. Por mais absurda que possa parecer esta afirmação, o suprassumo da racionalidade, consubstanciado na figura do cientista, persegue a decifração dos enigmas do conhecimento movido pela intuição, a fé, e apoia-se na racionalidade para a sustentar e, logo de seguida, a questionar. Se há Deus? Claro que há! Deus é a entidade impessoal que existe em cada homem. Cria os mundos e o Homem em espaços determinados de tempo que possam caber nos contextos que este lhe destinou.
Toda a gente acredita em Deus e, quando diz que não acredita, expressa a forma mais assertiva de acreditação e que consiste no acto da negação. Toda a negação tem como contraponto o universo afirmativo contra o qual se debate. Provar que Deus não existe passa pela criação de novos universos de sinal contrário, subordinados a Deus e potencialmente berços de novos deuses!
Do outro lado, a aceitação em Fé da divindade tradicional não existe esforço - Deus não precisa de ser provado, pois Deus é sempre mito e os mitos não precisam de provas. A Fé sim. Ela é a fronteira entre os estímulos da intuição - vindos directamente da vida instintiva - e da razão. Dessa relação instável nasce a necessidade obsessiva da afirmação constante da Fé. Para o crente, Deus não se questiona. A Fé sim, essa exige do crente a paga constante do tributo."

Antonino:
"Brainstorming... bem pensado. Após a leitura do texto e do comentário, as ideias surgem, debatem-se e vão. As que ficam deixam que pensar. Na essência do texto, os deuses são criações humanas e são os homens que se servem da sua criação para justificarem coisas boas e coisas más. Ser ateu e acreditar nos outros é a forma mais divina de expressarmos a nossa fé. Digo: «acredito em ti» e logo tu existes. Repito uma ideia, os nossos actos devem ser ditados pelos limites do humano e não pela transcendência da fé. Quando a própria Igreja deixou/deixa de obedecer à lei dos homens e não se lembra de que poderá 'arder no Inferno' gera partos aberrantes como a Inquisição e as purgas."

Sem comentários:

Enviar um comentário