julho 15, 2014

O BES e a táctica de Deu-la-Deu Martins


Recentemente encetaram os Bancos o processo de reembolso ao Estado relativo ao empréstimo de emergência que  para esse efeito tinha sido colocado à sua disposição.
No essencial o processo consistiu no adiantar de umas volumosas quantias para que estes não ultrapassassem - como se disse - uma determinada margem de segurança. Note-se, no entanto, que durante vários anos e sucessivamente, os Bancos tinham sido sujeitos aos chamados "testes de stresse", os quais tiveram como resultado o revelar de situações na região do confortável, capazes que estariam, ao que transparecia, de aguentar os embates resultantes da crise, facto que não obstou a que a Banca aproveitasse o balão de oxigénio subitamente disponibilizado.
Podemos especular se os testes são dignos de algum crédito e os Bancos apenas aproveitaram para uma melhoria dos seus rácios, ou se os testes são uma treta e anda tudo com o credo na boca e  a varrer o lixo para debaixo do tapete, enquanto os fatos impecavelmente engomados escondem  camisas cheias de buracos, vazias portanto de tecido, com a excepção convenientemente visível dos punhos e colarinhos.
Da tragédia do sistema Bancário sacudido para cima dos contribuintes no caso BPN e afins, e aflições de Banifs, a servir de aviso aos outros que recorreram ao empréstimo, sobressaiu como referência de estabilidade o BES. O BES não precisou do dinheiro. O BES estava acima da crise.
Sobe agora ao cimo a verdade do azeite.  A máquina financeira da qual o BES faz de fachada  limpa enquanto nas traseiras o negócio anda a trabalhar com a lama (eufemismo) pelo pescoço, está falida.
Não há outro nome, está FALIDA.

A táctica do BES, a da simulação da fartura, faz lembrar a de Deu-la-Deu Martins, a heroína de Monção, que sitiada pelos Espanhóis e, já quase sem farinha, decidiu fazer com ela uma última fornada de pão que atirou aos sitiantes, estes também a braços com a mesma crise de escassez de alimentos. Este acto fez com que os Espanhóis julgassem que Monção tinha vastas provisões, não valendo a pena arrastar penosamente o cerco e assim levantaram os acampamentos e retiraram-se, pondo fim ao longo estado de sítio...
Se História, se súmula de metáforas,  o BES ter-se-á certamente inspirado nela. Andando com  a mesma, ou se calhar ainda maior falta de provisões, recusou a ajuda, transmitindo assim provisoriamente uma imagem de liquidez e vantagem competitiva para o mercado financeiro, enquanto esperava que a inversão da crise o pusesse de novo os negócios no bom caminho. No entanto, e diferentemente do cerco a Monção, os sitiantes não arredaram, a crise não se foi embora, e a fome fez os ratos a pouco e pouco abandonar os armazéns até à debandada que subitamente emergiu com o caso de Angola.
Percebe-se agora muito melhor a razão principal pela qual o BES teria recusado a ajuda: as ajudas  aos outros Bancos foram precedidas de auditorias e acompanhamentos que relativamente ao grupo BES de imediato teriam fazer soar os alarmes dos técnicos
Podemos argumentar que o BES não tem nada a ver com as outras empresas do grupo, mas o argumento tão fraquinho tem o  mesmo teor de ingenuidade do devedor tranquilo que tendo um fato com quatro bolsos, não paga as contas A, B. e C,  porque os bolsos A, B, e C dessas contas estão vazios enquanto o bolso D, onde guarda as receitas está bem muito obrigado!
O sistema é o dos vasos comunicantes, os bolsos são do mesmo fato, e o fato do mesmo dono. O bolso dos trocos não dá para pagar as contas dos outros bolsos, e por mais voltas que se dê ao assunto, uma urgente injecção de capital está  provavelmente a ser equacionada para muito breve. Para evitar outro BPN, ou se calhar já o temos para a gente pagar. Mas a farinha, meu Deus! Deu-la-Deu, e agora só se fizermos pãezinhos de bosta, senhores, Pãezinhos de bosta, uma questão de Prudência, que a pouca farinha que resta, é como diz o outro, para mim...

7 comentários:

  1. Passavam-se por BEStiais e revelaram-se umas BEStas.

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  2. "Sobe agora ao cimo a verdade do azeite", bem o disseste, Charlie. Mas até lá, ainda tentarão manipular a verdade dos fatos em massa (não no sentido de vestuário). E esta é a perniciosidade da mentira do nosso século: uma mentira que se faz e que se pratica em público pela manipulação e pela propaganda. Vejamos exemplo de Guernica: nunca se aceitou seu bombardeio, até que os fatos falaram por si, e a história verdadeira foi, finalmente, revelada.
    Enfim, BEStas ao CUbo!

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    1. E como se de um oráculo se tratasse, eis que - e para já - um buraco a caminho dos 4.000.000.000 emergiu da parte do grupo que se dizia liberto das "confusões" financeiras.
      Como dizia, BES. BESA, GES e sei lá que mais, e é tudo bolsos do mesmo fato....

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    2. Ou como dizem por Terras de Vera Cruz, bolsos do mesmo terno, (pese embora a pouca ternura da coisa...)

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  3. E lá acabou por tudo falir, ou melhor, ficar visível toda a falência do grupo, porque falido já ele estava. Enganei-me ao prever uma injecção de capital, no resto, estava tudo quase adivinhado...

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