Poderíamos analisar vários temas que são basilares para o Movimento
de Cidadãos #bejamerece+.
As acções que levamos a cabo centram-se, sobretudo, na temática da
necessidade urgente de investimento no Baixo Alentejo, e na sua capital de
distrito, Beja. Ao longo das últimas décadas, nomeadamente desde o 25 de Abril
de 74, que assistimos a um esvaziar dos centros de decisão e de investimento
nas infra-estruturas essenciais ao desenvolvimento do Baixo Alentejo.
Poderíamos falar do Aeroporto Internacional de Beja, por exemplo.
Está praticamente parado porque Governo e ANA não têm interesse que seja uma
aposta para o desenvolvimento da região, e do País. Custou 33 milhões, 85% dos
quais financiados por fundos europeus, o que equivale a dizer que o Estado
Português apenas pagou cerca de 8 milhões por uma infra-estrutura nova,
moderna, com uma das maiores pistas de aterragem da Europa, com excelente
visibilidade, sem obstáculos, numa zona sem nevoeiros, tudo isto ao invés dos
mais de 400 milhões – somando outros 130 para deslocalizar a Força Aérea do
local e exceptuando os custos com acessibilidades – que custará a
infra-estrutura do Montijo, localizada numa zona de nevoeiros, dentro de um
estuário, com o Cristo Rei, a torre da Igreja de Nossa Senhora da Atalaia, no
Montijo, e os pilares da Ponte Vasco da Gama como obstáculos, bem como com a
perigosa presença de milhares de aves de grande porte. Foi preciso o programa
da RTP Sexta às Nove fazer uma reportagem sobre o tema para que o Conselho de
Ministros aprovasse o estatuo de interesse público de operação industrial para
a infra-estrutura – o que prova o manifesto desinteresse do governo
relativamente à região –para aí, finalmente, uma importante multinacional
conseguir, finalmente autorização para um investimento de vários milhões.
Poderíamos falar da ligação
ferroviária que a CP coloca ao serviço das populações do Baixo Alentejo. Feita
através de uma velha, poluente e permanentemente avariada automotora com 50
anos. Em rigor existem atrasos diários e prolongados da automotora que faz o
percurso Casa Branca-Beja, nos dois sentidos. Esse apeadeiro não dispõe de uma
cobertura que proteja os passageiros do calor, frio ou chuva, e nem uma máquina
de bebidas disponibiliza. As condições a bordo são inteiramente desconfortáveis:
ruídos permanentes; luzes intermitentes; mau cheiro; falta de climatização, que
provoca temperaturas elevadíssimas ou insuportavelmente baixas, consoante se
esteja no Verão ou no Inverno. Para além da ausência completa das
características básicas a que se destina, a automotora apresenta um aspecto
profundamente degradado não podendo, sequer, os passageiros, olhar para fora
das janelas por estarem os vidros inteiramente grafitados.
Automotora Beja
Tenho um sério receio de que este seja o início de uma estratégia
por parte do ministro do planeamento e infra-estruturas, Pedro Marques, para
acabar com o comboio em Beja: forçar, através do cansaço, a desistência dos
passageiros neste meio de transporte. Mas mesmo assim, com estas condições
depauperadas, os passageiros de Beja insistem em não perder este que é um meio
de transporte não poluente, seguro, moderno e de futuro, e aumentaram em 18% as
suas viagens. Mesmo depois da antiga linha férrea Sul/Sueste ter passado a
ligação principal para Évora, e a linha de Beja ter sido despromovida a ramal,
tornando a estação de Beja um mero apeadeiro. De acordo com o caderno de
encargos do governo para o programa Portugal 2020, estão estimados 2.700
milhões para a modernização dos caminhos-de-ferro portugueses. Bastariam 23
milhões para haver uma ligação directa e electrificada de Beja a Lisboa. O que
potenciaria negócios e investimentos, deslocação da comunidade estudantil do
Politécnico de Beja, a melhoria das condições de vida das pessoas e a
sustentabilidade do Aeroporto de Beja.
Poderíamos falar na questão da Saúde, que preocupa toda uma região com uma população cada vez mais idosa e desprotegida, que ao SNS tem de recorrer com frequência, e do Hospital Distrital José Joaquim Fernandes, em Beja, que ano após ano se vê amputado de novas e importantíssimas valências para os cuidados de saúde da população de todo o Distrito de Beja, o maior em área geográfica, de todo o País. Isto, quando estão já estão destinados mais de 100 milhões para a construção de um hospital central em Évora, para servir todo o Alentejo. Sem estudos que provem essa necessidade e contra o parecer da Ordem dos Médicos.
Relembro que concelhos como o de Odemira, por exemplo, no Distrito de Beja, ficam a 170 km de distância de Évora.
Poderíamos falar na questão da Saúde, que preocupa toda uma região com uma população cada vez mais idosa e desprotegida, que ao SNS tem de recorrer com frequência, e do Hospital Distrital José Joaquim Fernandes, em Beja, que ano após ano se vê amputado de novas e importantíssimas valências para os cuidados de saúde da população de todo o Distrito de Beja, o maior em área geográfica, de todo o País. Isto, quando estão já estão destinados mais de 100 milhões para a construção de um hospital central em Évora, para servir todo o Alentejo. Sem estudos que provem essa necessidade e contra o parecer da Ordem dos Médicos.
Relembro que concelhos como o de Odemira, por exemplo, no Distrito de Beja, ficam a 170 km de distância de Évora.
Esse hospital central estaria comprometedoramente
demasiado longe. Mas demasiado perto de Lisboa para duplicar o investimento em
saúde, a uma hora de tantos hospitais. Essa verba descomunal deveria ser
distribuída pelos hospitais dos 4 distritos alentejanos (Alto, Baixo, Central e
Alentejo Litoral). Não podem concentrar-se recursos desta enormidade e com este
impacto, mesmo a nível nacional, apenas num único distrito, ou cidade, como é
Évora. Que já é servida por Auto-estrada, que goza de ferrovia decente, que
possui indústria pesada e de ponta, e obtém cada vez mais serviços centrais
alentejanos e até nacionais. Os recursos devem ser distribuídos de forma justa,
democrática, transparente e equitativa pelos vários distritos alentejanos de
forma ao Alentejo ganhar com isso, ao invés de fazer definhar tudo o que se
afasta de Évora, como cada vez mais se verifica.
Poderíamos falar das vias rodoviárias de Beja e do Baixo Alentejo.
Sobretudo de um IP8, que liga Beja à A2, e que depois leva a Lisboa e ao
Algarve. E sim, ironicamente IP quer dizer Itinerário Principal. Queria aqui
falar de dados concretos. Por isso fiz a viagem através desses pouco mais de 50
km, invariavelmente em muito mau estado, quer de piso, bermas, ou de saídas
para outros acessos, e contei perto de uma centena de sinais de perigo; obras;
limitação de velocidade; vias estreitas; passagem de animais selvagens ou sem
condutor; semáforos; rotundas; lombas deformadas; passagens de peões;
obstáculos na via; atravessamento de várias localidades, uma ponte de apenas
uma via, e centenas de pesados em ambos os sentidos. Feitas as contas a essas 5
dezenas de km e, na ligação mais rápida entre Beja, uma capital de distrito, e
Lisboa, existe um sinal de perigo, proibição ou informação de anomalias na
estrada a cada 500 metros.
O concelho de Beja, que há 10 anos exportava 875 mil euros e que
depois de apostar fortemente nos sectores agrícola, agro-industrial e
agro-alimentar, potenciando o investimento de Alqueva, exporta hoje mais de 113
milhões, concorrendo de sobremaneira para a competitividade do Alentejo e do
todo nacional. Mas… onde está a retribuição do Estado para com este concelho?
Estas condições rodoviárias conferem competitividade à economia regional? E à Nacional? São seguras? Quantas pessoas ali perderam a vida? Quantos ficaram
feridos? São cómodas e confortáveis? Que prejuízos provocam nos veículos?
Quanto tempo faz perder no transporte de mercadorias? E para as necessidades
das pessoas? Como podemos pensar no Aeroporto de Beja sem uma estrada, sequer,
digna desse nome?
Em 2013 a Estradas de Portugal anunciou que a A26, Sines-Beja, era
um “equívoco técnico”, e que os 35 milhões gastos até então, não eram
significativos, e que parando as obras ainda se conseguiam poupar 60 milhões.
Há que referir que o Porto de águas profundas de Sines é o maior de toda a
Europa, sendo a porta de entrada marítima do velho continente através do Atlântico.
E que existe um Aeroporto que permite levar e trazer, de e para todos os
destinos, as mercadorias que chegam por Sines. Tal como o escoamento das que
são produzidas na região com recurso a Alqueva. Pelas contas do governo ficamos
a saber que esta importante Auto-estrada A26 custaria 95 milhões de euros –
metade já gastos – entre outros, com expropriações (com validade de 15 anos,
faltando 5 para expirarem e regressem aos seus antigos proprietários sem estes
terem de indemnizar o Estado); com o abate de montado e de espécies protegidas;
com material que apodrece nas bermas do IP8.
Por todas estas razões, Beja Merece Mais. Merece que as suas
populações, que pagam os mesmos impostos (para não dizer mais, devido ao
desamparo que são sujeitas) do que o resto do País, tenham os mesmos direitos.
Merece que os seus habitantes sejam informados com argumentos e de forma
construtiva, optimista e sustentada. Essa é uma das nossas missões: informar as
populações do Baixo Alentejo dos seus direitos, de que podem, e devem, ter voz,
e apelar a que a façam ouvir. Porque a informação é poder. Até mesmo cantando,
como fizeram largas centenas de bejenses no mês de Julho nas escadarias do
Museu Regional de Beja, entoando o hino Beja Merece; ou enviando as suas
próprias fotos com cartazes Beja Merece+, como fizeram já muitas centenas, e
como solicitamos agora a que o façam os emigrantes de Beja e do Baixo Alentejo
espalhados pelo mundo. Porque temos de estar todos do mesmo lado, criando
envolvimento, sendo este um movimento suprapartidário que congrega todas as
cores, as áreas, credos, os sectores de actividade, o público e o privado, os
jovens e os mais velhos. Todos juntos. Porque Beja Merece Mais! E se Beja tiver
o mais que merece, todo o Alentejo será mais forte e o País ganhará com isso.
Bruno Ferreira, Movimento Beja Merece Mais
Bruno Ferreira nasceu em Beja a 15 de Maio de 1974. Mudou-se
para lisboa em 1993 para se licenciar em Relações Públicas e Publicidade. Em
2002 lançou o livro de contos Bocas de Mentol, pela Editorial Minerva. Foi
colaborador da Revista Vidas do Correio da Manhã, e da Mais Alentejo.
Actualmente colabora com o jornal Diário do Alentejo. Também é autor de guiões
de programas de televisão e rádio. Contudo a voz é a sua principal ferramenta
de trabalho. Com ela tem dado vida a diversas personagens em televisão, rádio,
cinema de animação (Frozen, Carros, Toy Story, entre muitos outros),
espectáculos ao vivo e na publicidade, onde é voz de companhia de diversas
marcas (Peugeot, Ponto Verde, Nintendo, Dodot ou AXN Black). Na televisão fez
parte de vários elencos: Contra-Informação (RTP), 5 Para a Meia Noite (RTP),
Edição Extra (SIC Radical), Memória de Elefante (RR) Treze (RTP) são alguns dos
exemplos do seu trabalho, que podem ser vistos em brunoferreiraonline.com.
Em 2013 foi distinguido com a Medalha de Mérito Artístico e Cultural da Câmara
Municipal de Beja. Em 2014 lançou o livro de crónicas “A Vida é um Cogumelo
Verde”. Em 2017 iniciou-se como professor de aulas de Colocação de Voz em Rádio
na Universidade Católica.