... vamos indo.
Em Dezembro de 2007, na minha «sétima carta de trás da serra» na revista «Perspectiva», relembrei de forma romanceada uma conversa entre mim e o Alexandre, em 1980, no intervalo entre duas aulas nos «galinheiros» (pavilhões pré-fabricados) da faculdade de economia da universidade de Coimbra. Na «carta», ficou assim:
"Quando na mesma conferência [da Ordem dos Economistas, em Lisboa] se falou dos problemas que se colocam à economia portuguesa, ficou claro que o Estado português está em falência técnica. Isto é uma conclusão minha, que aquela malta não pode dizê-lo, sob risco de terem problemas com a entidade patronal. Aliás, quando depois das primeiras chuvas de Outono fui aos míscaros com a Rosita e o Alex Narigudo, ele viu um «peido da avó», como chamamos por aqui àqueles cogumelos cujo chapéu parece um balão. Como sempre fizemos desde pequenos, pisou-o e aquilo soltou o ar lá de dentro como uma discreta bufa. E o Alex comparou: «Estes peidos da avó são como a economia. Transmitem uma imagem que nos ilude, mas são ocos por dentro».
Por isso, agora nada me admira. Aliás, estou bem preocupado com algo de que quase não ouço falar e que nos afecta praticamente a todos: a Segurança Social já estava com dificuldades de há anos a esta parte porque, diziam, os fundos e as contribuições recebidas não eram suficientes para garantir as pensões de reforma e invalidez da geração actual das pessoas que vêem uma fatia significativa do seu ordenado (11%) irem obrigatoriamente para essa entidade. Ou seja, de um salário de mil euros, por exemplo, 110 euros não recebemos porque a entidade patronal tem que entregar em nosso nome essa verba à Segurança Social. E, "ainda por cima" - aqui aplica-se muito bem esta frase - a entidade patronal ainda tem que pagar mais 237,50 euros. Para quê? Supostamente para termos garantido - diz o Estado - uma pensão quando nos reformarmos... ou em caso de invalidez... ou de desemprego...
Mas, como um desenho humorístico recente resumia sobre o «caso Madoff», dois matulões interrogavam o Bernard L. Madoff:
- Onde é que aprendeu a pagar a investidores antigos com dinheiro de novos investidores?
Encandeado com um foco de luz a apontar-lhe a cara, Madoff responde-lhes:
- Com a Segurança Social!
"Então, Paulo Moura, isto não é nada de novo!" - Pois não, mas já ouviram falar da pancada que os fundos da Segurança Social levaram com esta queda nas bolsas de valores? Sim, sim, o nosso dinheirinho, que a Segurança Social já não podia garantir que chegava para todos, agora ainda minguou mais. E nós, cantamos e rimos?
O Medina Carreira chama os bois pelos nomes. Na entrevista que deu ao «Nós por cá» relembrou que já Rafael Bordalo Pinheiro chamava no fim do século XIX a "porca da política" e a economia era uma "galinha choca". Medina Carreira comparou a política actual a uma "santola só com casca". Eu continuo a chamar a tudo isto "o peido da avó".
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