julho 02, 2014

"Desculpe, esta é a fila para o Panteão?"

Há há uns meses atrás. escrevi algumas linhas sobre este assunto. Hoje, dia em que se trasladam os restos mortais de Sophia de Mello Bryner para o Panteão Nacional ficaram a saber-se muitas coisas que nos estranham. O Panteão já só dispõe de mais uma vaga e parece que já tem dono, pelo menos o parlamento já assim decidiu. E agora, o que fazer a tantos outros eméritos e egrégios seres que no passado, no presente ou no futuro "por obras valerosas se vão da lei da morte libertando"?
Em primeiro lugar, a ignorância política assusta e ninguém se lembra de que Panteão é onde o homem quiser. A Igreja de Santa Cruz de Coimbra, o Mosteiro da Batalha, o Mosteiro dos Jerónimos e outros monumentos acumulam funções e são também Panteões Nacionais. Por isso, não venham falar de falta de vagas, porque isto não é um concurso de professores!
Será diferente se pensarmos que talvez se esteja a vulgarizar esta homenagem e se tenha baixado a fasquia daquilo que se considera teito notável para o país e para a humanidade. Amália está porque foi o expoente máximo de uma forma musical de folclore urbano lisboeta chamado fado? Se calhar não merecia. Como diz Carlos do Carmo, 50% dos portugueses não gosta, não ouve fado, 30% tolera-o e 20% adora-o. É em nome desses que Amália repousa no templo memorável?
Eu sei que já não se deve devolver à sepultura simples quem já se encontra lá, mas não se pode decidir a quente atribuir tão distinta homenagem. Com Sophia o tempo foi bom conselheiro e sem dúvida que merece. Mas com ela, e acima dela, talvez esteja um Aristides de Sousa Mendes, cuja "obra valerosa" libertou milhares da lei da morte física, aniquilando-se a si próprio e tornando-se miserável aos olhos do poder salazarista. Parece, pois, curial pensarmos que a vaga seria sua; só que os políticos da pelota, os parlamentares do fora de jogo moral já reservaram o lugar para outro, figura importante, mas não enquadrada nos ditames de tal homenagem.
Por esta razão, o diálogo possível e imaginável é simples:
_ Desculpe, Aristides, esta é a fila para o Panteão Nacional?
_ É sim, Eusébio!
_ Então deixe passar à frente, que tenho lugar reservado.

7 comentários:

  1. GOOOOOOOOOOOOOOOOOOLOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!

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  2. Grande "Pantera Negra"!
    Deus sabe o que faz: levou Eusébio antes da Copa. Foi misericordioso.
    Eusébio não merecia assistir a seleção de PT, não por ser de PT, mas porque jogadores já não jogam por amor à camisa do país. Jogam por grana, por muita grana!
    CR7 está triste? Que nada! Está curtindo em ilhas gregas.
    Ele está errado?
    Não.
    Eu faria o mesmo, se tivesse a grana que eles têm.
    É muiiita graaanaaaaa. Até Gana!
    Haja gana por grana...

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  3. Bem.
    Agora que o Passos Coelho decretou o fim da História, penso que não haverá necessidade de se pensar em mais lugares no espaço à beira do esgotemento dos ditos.
    Agora que a livre iniciativa, tão variável e incerta, vai ficar tão previsível como os planos quinquenais da antiga URSS, não mais haverá crises, nunca(sic) mais haverá crises e por isso todas as obras valorosas ficaram feitas para sempre.
    Não mais haverá heróis a imortalizar nem outras memórias a eternizar do que aquelas que já estão imortalizadas no Panteão.
    E como não há mais heróis, como a História acabou, a coisa é capaz de começar a ficar chata, tipo telenovela que não ata nem desata, ou um filme estreia nas televisões que já vimos trezentas vezes.
    Por isso é de prever que se dê uma outra utilidade ao espaço.
    Proponho então que se mande o Aristides para uma embaixada qualquer onde ainda haja História a fazer-se e que pela calada vá enviando aos habitantes do Panteão, uns vistos para que eles se vão safando pela calada.
    Antes que se vejam a recibos verdes no espaço transformado num qualquer mas lucrativo Hiper.....

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  4. O meu problema, nesta matéria, é um pouco mais comesinho... assim a rasar a sola do sapato com um pouco de pastilha elástica, de um lado, e de merdinha de cão, do outro: por que não mudar o Panteão Nacional para o Cemitério da Ajuda?

    Já viram bem a quantidade de celebridades que lá caberiam? Mortas e, até, vivas, claro! Assim a modos que organizar-se ali um condomínio fechado, onde só entrassem amigos e convenientes...

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    1. E um dispensador de senhas, como nas churrasqueiras.

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