outubro 24, 2015

Reflexão do dia – da «infelicidade» presidencial segundo São Marcelo

No seu afã autocrático e autista, ao assumir a postura que, aliás, nem é, para ninguém, novidade nenhuma, de indigitar Passos Coelho para formar governo, o que não pôde deixar de condimentar com a discurseta odienta que já lhe é característica, o nosso incrível presidente da República em funções, Cavaco de sua graça, criou um interessante efeito colateral: pregou uma bordoada rasteira no seu parceiro ideológico Marcelo Rebelo de Sousa, nóvel mas sempre anunciado futuro candidato a Belém, que assim estando, coladinho à direita, se vê em desesperos argumentativos com tais amizades.

Rebelo de Sousa fica-se por um comentário de «subtilezas», referindo apenas que o senhor presidente «não tem sido feliz várias vezes» porque «tenta mostrar independência, mas dá opinião», o que – como Rebelo de Sousa opina «só aumenta a confusão».

O grande problema do comentário do ilustre jurisconsulto comentador-analista proto-presidente é que não há, no universo político português actual, confusão nenhuma. Há, tão-só, aquela ficção de confusão que Passos e Portas, empanicados com a inesperada perda do poder, pretendem gerar e para a qual, verdade seja dita, Cavaco tem dado passos marcantes.

Por outro lado, de «infelicidades» presidenciais temos tido sobejas provas nos últimos anos. Mas não creio que o desidério da Democracia seja a promoção preocupada da felicidade do seu presidente, enquanto vários milhões de seus concidadãos o aturam, infelizes e mendicantes.


Sugere-se-lhe, então, humanitariamente, uma terapia ocupacional para a sua reforma que (essa sim, felizmente, de pronto se avizinha)… E estou até a imaginar a assessoria, para o efeito e por exemplo, de um Carlos Malato, homem que já foi feliz em tantos lugares e situações… 

Isto, claro, não desejando qualquer mal ao amigo Malato, se ele estiver para aí virado, que Boliqueime ou a praia da Coelha são, até, destinos de amenas temperaturas e de alfarrobas que, de servirem, antigamente e na ruralidade em que o senhor presidente se fez gente, para dar de comer aos burros – quando havia a agricultura que Cavaco tanto ajudou a fazer desaparecer, lembram-se?  já servem, agora, para os mais desvairados pratos gourmet, iniludível sinal de modernidade nessa clarividência de virmos todos a ser os criados de mesa dos europeus abastados, como o senhor presidente e os seus fans tanto parecem desejar e cultivar.

4 comentários:

  1. E vão duas. Muito cá de dentro!

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  2. Só não o acho infeliz.
    É coerente com a sua matriz que vem dum regime fascista convicto.
    Condecorou Pides, ignorou e ignora nomes maiores de valor universal, apenas por não alinharem com o a sua estreiteza de horizontes.
    Ele não é infeliz, eu é que fico infeliz na posição de cidadão órfão de presidente., Quanto ao resto, são três vénias a somar às duas anteriores.

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  3. Pois, meus amigos, quase não existem palavras que descrevam a atitude da cavacal figura no presente contexto. Mas estou muito com o Charlie e sempre estive em relação à personagem boliqueimeana: ele é alguém limitadíssimo de humanidade; mas denota ser, em igual proporção, um obstinado defensor do grande capital - sim, sim, ainda se pode dizer isto... -, tendo artes, entretanto, de não negar as escassas migalhas que lhe metem no bolso, para recomposição de uma reforma tão pequena... Nunca terá sido mais do que isso: um pau mandado pelos interesses, com a imensa cáfila de gurus a incensarem-lhe os maiores lugares comuns como se fossem as novas tábuas de um novo mandamento. Querem ver onde se colheu o modelo: vejam ou revejam a personagem interpretada por Peter Sellers, o jardineiro Chance, no filme de 1979, cujo título, em inglês É «Being there». Com uma pequena diferença: o jardineiro Chance é simpático.

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