No seu afã autocrático e autista,
ao assumir a postura que, aliás, nem é, para ninguém, novidade nenhuma, de
indigitar Passos Coelho para formar governo, o que não pôde deixar de
condimentar com a discurseta odienta que já lhe é característica, o nosso
incrível presidente da República em funções, Cavaco de sua graça, criou um
interessante efeito colateral: pregou uma bordoada rasteira no seu parceiro
ideológico Marcelo Rebelo de Sousa, nóvel mas sempre anunciado futuro candidato
a Belém, que assim estando, coladinho à direita, se vê em desesperos argumentativos com tais
amizades.
Rebelo de Sousa fica-se por um
comentário de «subtilezas», referindo apenas que o senhor presidente «não tem sido feliz várias vezes» porque «tenta
mostrar independência, mas dá opinião», o que – como Rebelo de Sousa opina – «só aumenta a confusão».
O
grande problema do comentário do ilustre jurisconsulto comentador-analista proto-presidente é que não
há, no universo político português actual, confusão nenhuma. Há, tão-só, aquela
ficção de confusão que Passos e Portas, empanicados com a inesperada perda do
poder, pretendem gerar e para a qual, verdade seja dita, Cavaco tem dado passos
marcantes.
Por
outro lado, de «infelicidades» presidenciais temos tido sobejas provas nos
últimos anos. Mas não creio que o desidério da Democracia seja a promoção preocupada
da felicidade do seu presidente, enquanto vários milhões de seus concidadãos o
aturam, infelizes e mendicantes.
Sugere-se-lhe,
então, humanitariamente, uma terapia ocupacional para a sua reforma que (essa sim, felizmente, de
pronto se avizinha)… E estou até a imaginar a assessoria, para o efeito e por
exemplo, de um Carlos Malato, homem que já foi feliz em tantos lugares e
situações…
Isto, claro, não desejando qualquer mal ao amigo Malato, se ele estiver para aí virado, que Boliqueime ou a
praia da Coelha são, até, destinos de amenas temperaturas e de alfarrobas que,
de servirem, antigamente e na ruralidade em que o senhor presidente se fez
gente, para dar de comer aos burros – quando havia a agricultura que Cavaco
tanto ajudou a fazer desaparecer, lembram-se? – já
servem, agora, para os mais desvairados pratos gourmet, iniludível sinal de modernidade nessa clarividência de
virmos todos a ser os criados de mesa dos europeus abastados, como o senhor presidente e os seus fans tanto parecem desejar e cultivar.
Grande vénia, Mestre OrCa!
ResponderEliminarE vão duas. Muito cá de dentro!
ResponderEliminarSó não o acho infeliz.
ResponderEliminarÉ coerente com a sua matriz que vem dum regime fascista convicto.
Condecorou Pides, ignorou e ignora nomes maiores de valor universal, apenas por não alinharem com o a sua estreiteza de horizontes.
Ele não é infeliz, eu é que fico infeliz na posição de cidadão órfão de presidente., Quanto ao resto, são três vénias a somar às duas anteriores.
Pois, meus amigos, quase não existem palavras que descrevam a atitude da cavacal figura no presente contexto. Mas estou muito com o Charlie e sempre estive em relação à personagem boliqueimeana: ele é alguém limitadíssimo de humanidade; mas denota ser, em igual proporção, um obstinado defensor do grande capital - sim, sim, ainda se pode dizer isto... -, tendo artes, entretanto, de não negar as escassas migalhas que lhe metem no bolso, para recomposição de uma reforma tão pequena... Nunca terá sido mais do que isso: um pau mandado pelos interesses, com a imensa cáfila de gurus a incensarem-lhe os maiores lugares comuns como se fossem as novas tábuas de um novo mandamento. Querem ver onde se colheu o modelo: vejam ou revejam a personagem interpretada por Peter Sellers, o jardineiro Chance, no filme de 1979, cujo título, em inglês É «Being there». Com uma pequena diferença: o jardineiro Chance é simpático.
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