outubro 14, 2016

Bob Dylan, Prémio Nobel da Literatura... II

Vão desculpar-me (ou não) que eu considere de alguma tendência para desfiladeiros mentais sem saída o presumirem-se, de perto ou de longe, no meu texto anterior, comparações abstrusas entre Bob Dylan e Quim Barreiros…

Gosto de cultivar uma coisa a que, salvo erro e omissão, se dava, ainda há pouco tempo, o nome de ironia a qual, se avinagrada, pode ir até ao sarcasmo. E tenciono morrer com este gosto.

Para o caso concreto, eu explico: se não houvesse uma tendência perturbada para as pressas, contra tudo e contra todos, que aparentemente limitam o discernimento mais avisado, talvez se pudesse descortinar que, pelo menos no meu texto sobre o assunto, se alude não às personagens nomeadas, mas à motivação anunciada pela Academia sueca para a atribuição do Prémio. 

Explico ainda mais um pouco: o justificativo consistia em eu achar estranho que o Prémio Nobel tivesse sido atribuído a Bob Dylan apenas por ter criado novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana, conforme alegação da Academia sueca.

Jean-Paul Sartre recusou o Prémio, nos idos de 1964, alegando que a sua aceitação implicaria perder a sua identidade de filósofo. Ele lá sabia… E as razões invocadas pela Academia até eram bem mais objectivas do que no caso agora em apreço.

Se todos os bons pensadores que se perturbam com as tais alusões irónicas consideram que a dimensão da música do Dylan se consubstancia na mera criação de novos modos de expressão poética, lamento mas, em minha modestíssima opinião, Dylan foi subvalorizado e a atribuição do Prémio Nobel cheira-me àquilo que sói chamar-se uma recuperação do sistema.

Se assim não entenderam o que ficou escrito, tenho pena…

E continuando, se quiserem, a ironizar, eu já lia o Saramago – e ora gostava, ora não gostava… – antes de o autor ter sido nobelizado. E, tem graça, que mantenho a mesma opinião: ora gosto, ora não gosto. Vale o mesmo para o Bob Dylan: mantenho a opinião construída há algumas décadas – e não apenas por ter criado novos modos de expressão, mas sim por dizer coisas de um tal modo que suscitava, estranhamente, nos seus ouvintes, perigosos e subversivos anseios de liberdade.

Já do Quim Barreiros, ele que me perdoe, também, mas não aprecio muito, ainda que, perante as aparentes evidências, eu não ponha a mão no fogo pela Academia sueca ou pelas suas alegações para oportunidades futuras

5 comentários:

  1. Nunca fiando. Ainda para mais numa Sueca...

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  2. Eu entendi, OrCa. Entendi o que ficou escrito, E todas as posições que abordaste. Não vi, pelo menos aqui, alguém discordar.
    (ou estou a (não) ver peculiares? Aqueles...do Orfanato da Srta. Peregrine?
    Bjs...destas plagas, sem Prêmios.

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    1. Eu sei que tu entendeste. Mas houve, em terceiros, uma ou outra perturbação de raciocínios que me levaram a dar mais corda ao brinquedo...

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    2. Terceiros? Habitantes da Ilha Terceira?

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  3. "The answer is blowing in the wind" que, como todos sabem, traduz-se por "a resposta é fazer bobós ao vento. Daí resultou o nome artístico Bobó Dylan.

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