julho 11, 2013

Cavaquismos pirotécnicos em época de incêndios

Eis de novo Portugal no seu melhor: Aníbal Cavaco Silva, presidente de todos os mercados, abdica dos portugueses e institui, pelo seu inefável pensamento, uma troika interna para o que não está mandatado por ninguém, a começar pela própria Constituição da República. 

Pelo caminho, deslastra os incómodos Bloco de Esquerda, PCP e mais algumas «minudências», contrariando, desde logo, a letra e o espírito da tal Constituição que jurou defender… 

Se pensarmos na sugestão desastrada de Manuela Ferreira Leite, vai para uns tempinhos, aqui temos uma versão alargada e surreal de Cavaco no País das Maravilhas, com coelhos e homens com lata e tudo. Pelo caminho, este perplexo cidadão e eminente pagador de impostos que sou eu, pergunto-me: 

E esta proposta será exequível? Tal esquema pode ser imposto aos três partidos que ele nomeia? E como? E o PS alinha? Então o senhor Seguro anda a dizer que só entra num esquema governamental mediante eleições e vem, agora, o senhor Cavaco dizer que antes pelo contrário…? 

Estaremos, afinal, numa «democracia tutelada», ao contrário da respeitável opinião de Manuel Alegre, e o seu tutor é o senhor presidente? Então já temos duas tutelas: uma externa, que já se conhece, e uma outra interna, que o senhor presidente conhece e nós não? 

E, afinal, o actual governo sempre cai? Já caiu? Os novos proto-ministros tomam posse ou nem por isso? E a «salvação nacional», que o senhor presidente deseja impor, vai constituir governo em cima do governo actual, ao lado do governo actual ou por baixo do governo actual? 

E tudo se dissolve em Junho de 2014, porquê? Porque não em Setembro? Ou em Dezembro, tipo Natal com todos e dissolvidos…? Chega tão longe a capacidade premonitória do senhor presidente quanto à oportunidade política circunstancial? 

E a chantagem canhestra que o senhor presidente está a ensaiar sobre o PS é legítima? Vejamos, os «outros» dois já são governo. O senhor presidente fala, chega o PS e diz: «- Não, a mim ninguém conta nada, não me passam cartuxo e, agora, querem que me alie com aqueles dois marados? Nem pensar!». E continua amuado. 

Vai o PSD e retorque (para o povo, claro): «- Vêem, vêem, estes meninos é que não querem brincar connosco! Assim, por causa deles, quem se trama é o país. Mas a culpa é deles, que assinam tudo e não alinham em nada… Nós cá estamos, esforçados, a tratar-vos da saúde e da carteira». E a birra continua.

Aqui, o CDS do PP, com muita tranquilidade, depois de abrir várias lojas para venda dos tapetes que tirou dos pés de adversários e de companheiros de jornada, sorri e remete-se a um prudente e expectante silêncio. Guardado está o bocado para quem o há-de comer, lá diz o povo. 

Mas o senhor presidente estará, ainda, lúcido? Sabe-se (ou presume saber-se) que ele não vai à bola com o Paulo Portas mas, que diabo, tudo tem limites e uma separação, mesmo litigiosa, não justifica tanta violência doméstica. 

E, depois, a invocação delirante de uma personalidade de mistério que é capaz de ser consensual relativamente aos três partidos da assinatura da troika… Quem será? O D. Sebastião? O Embuçado? O Tino de Rans? O Tony Carreira? Não nos esclarece nem por um decreto, este senhor presidente. Mas o seu suspense esmaga! Pelo menos, até que algum inevitável arroto nos indicie que a digestão está feita e a vida segue o seu curso. 

Esta croniqueta é escrita a quente, sem eu saber, ainda, qual o desenvolvimento assumido pelos partidos. Todos. 

Portanto, é o que é: tão-só uma imensa perplexidade perante esta inesgotável capacidade do senhor presidente ser mais um dos que contribui de tantos e tão desvairados modos para a viscosidade do pântano.

Mas, outra vez que isto preocupa-me, o governo cai ou não cai? Cuidado, que os mercados andem aí…! Ou não.

4 comentários:

  1. Se nem o Cavaco sabe o que disse, quem somos nós para saber?

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  2. Pois, o Cavaco dá todas as mostras de nem saber ser capaz de ser ao menos engraçado, como um inveterado fumador referiu há tempos e que mereceu o desaguisado reparo com foros judiciais, entretanto arquivado por falta de ...consistência, ou seja, de suporte substantivo.
    Pois... se alguém diz piadas que ninguém entende, devemos talvez inferir que se trata de uma incursão pelo campo do piadismo inglês, aquele das proximidades de Wales, hermético e profundo e que apenas pela persistência dos não iniciados e a longo prazo, começa a fazer sentido.
    Recomendaria assim, que o nosso primeiro representante (???) utilizasse as ferramentas postas ao serviço da humanidade através do universo virtual, como por exemplo o "face-book", para a pouco e pouco instruir a população no sentido da descompactação da linguagem cifrada que ele tão bem utiliza. Decerto que se trata de matéria de carácter lúdico-cultural de primeira água e que em muito faria subir o nível intelectual do povo luso se a sua substância fosse por todos absorvida através do conhecimento dos mecanísmos cavaquísticos, digo, cabalísticos de que dá mostras ser perito.
    Outra coisa não se pode inferir das suas intervenções públicas....

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    1. Mas até parece que tu entendes alguma coisa do que ele diz...

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  3. seria uma risota pegada se ao menos tivesse jeito para contar anedotas...

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