… não precisamos de gente que saiba muito do que faz, mas sim de quem acredita profundamente , sem questionar o que seja, estar do lado certo da acção…”
Quem, em determinadas ocasiões, tem tido oportunidade de
observar o nosso Primeiro Ministro no pleno exercício das suas funções mediáticas,
não pode deixar de sentir o desconforto que assoma qualquer pessoa, por mais
descrente que seja, ao passar de noite pelo meio de um cemitério, por um bairro
mal afamado ou uma casa assombrada.
Sente-se que existe ali algo que mexe com o nosso córtex cerebral,
com as antigas e primitivas referências que na transição das instruções
instintivas a caminho da racionalidade, povoaram o imaginário de seres e deuses
fantásticos e que são uma herança colectiva da humanidade.
Para lá das considerações transcendentes, recupera-se na
postura de Passos Coelho um preceito básico da motivação religiosa que
trespassa para outros campos: “ … não precisamos de gente que saiba muito do
que faz, mas sim de quem acredita profundamente , sem questionar o que seja, estar
do lado certo da acção…”
Apoiado por um leque estreito de ideólogos cuja ideologia
fundamentalista é tão perigosa quanto todos os fundamentalismos o são, o
sentido messiânico da triste figura é palpável a quem o analise alheando-se do
envolvimento emocional que a proximidade da situação politica provoca em todos.
Começando pelo mini-governo a tender para os doze
apostolo-ministérios, passando pelos inúmeros”
não há planos B “ do São Pedro
Relvas, até o “
não podemos falhar”, uma expressão é o corolário deste
messianismo em código aberto: “
nunca mais precisaremos de pedir ajuda a ninguém”.
Como se a História se escrevesse definitivamente após a sua
passagem pelos destinos deste povo, qual Moisés e o mito Bíblico da
salvação/fuga/expulsão do Egipto.
Ele acredita sem questionar, timoneiro do Titanic, que o seu
navio vai no rumo da luz que vê a partir da refracção do sol nascente a incidir no topo do maciço
gelado. O iceberg não é a desgraça do despedaçamento que a racionalidade torna
mais do que previsível, mas sim o portal divino que ele vai atravessar;
milagrosamente, ele, o messias condutor e salvador do seu povo…
A História está cheia de figuras que conduziram os seus à
desgraça a partir do preceito que atrás citei: a partir do acreditar, todo o
disparate faz sentido. Mais! É disparate não acreditar no disparate, pois a
partir de determinado envolvimento colectivo a dinâmica é perigosa para a expressão
individual discordante. A inefabilidade apoiada pelo medo passa a ser a
ferramenta de coesão social e política.
Não chegamos ainda a este patamar, mas o projecto de Relvas
relativo à comunicação social tinha lá o embrião do pensamento único. O “
minino, não fala política” seria a linha mestra de uma televisão e rádio acéfalas.
Assistiu-se assim a um conjunto de episódios pouco edificantes de despedimentos
e conflitos com uma quantidade de profissionais na área da comunicação.
Poderíamos pensar que saida a figura intragável tinha posto fim à purga mas os recentes e inesperados pontos finais em determinadas rubricas da rádio pública são preocupantes.
Ultrapassado o Relvas, caiu o Gaspar, e Judas jogou o seu golpe pelos trinta
dinheiros. Tinha aliás a Porta aberta, e, oportunista como todos os Judas, não
poderia deixar de aproveitar. Se acredita ou não no Messias, pouco importa,
aliás, ele racional e frio, não acredita e ponto! Mas o mel meu Deus… o mel…..
Pelo mel até acredito no Deus em que não acredito...
E assim seguimos nós, todos no navio que não pode ir ao
fundo, pois tem fundo duplo e Deus não dá cavaco aos hereges que dizem haver
água até aos tornozelos na casa das máquinas.
-A todo vapor e em frente!- Brilha a voz nos olhos dos
Passos firmes com que avançamos. Pelo sim pelo não, já deitou fora os
salva-vidas. Não vão alguns ter a ideia perversiva de escapar-se e fazer
vacilar o ânimo desta viagem de salvação que não pode falhar….
- Depois de tudo o que conseguimos.-
Que melhor frase poderia ser equivalente ao Amem?