Colhendo, porventura, o
exemplo conspícuo e péssimo de alguns que me governaram (e governam) sem que eu
lhes tenha para isso dado aval, mas porque assim funciona a nossa abençoada e,
acima de tudo, querida Democracia.
E o caso é que vi e
ouvi com estes meus apêndices sensoriais que me consta que a terra há-de comer,
coadjuvada por uma miríade de pequenos seres subterrâneos – e, ainda assim,
mais preclaros que os tais que me governaram e governam, diga-se... – enfim, vi
e ouvi, ontem, em programa televisivo dedicado à actividade prolífica a que se
dedicam os estudantes do Erasmus por essa Europa afora, coisa de espantar!
Eis a coisa:
Uma jovem portuguesa,
em pleno recurso ao Erasmus e em diáspora por terras alemãs, tomou-se de amores
por aquele que se lhe revelou o amor da sua vida – a quem apresento as minhas
incomensuráveis desculpas por não ter retido a respectiva nacionalidade – e,
como acontece muitas vezes nestas conjugações astrais, a coisa precipitou-se na
confecção bilateralmente arquitectada de um pimpolho.
Até aqui, nada de
especial, para além de este pimpolho integrar cerca de um milhão de outros
pimpolhos gerados com o favorecimento do Erasmus – que se revela, assim, um
poderoso estimulante erótico e procriador, propiciador do enriquecimento e
refrescamento genético da velha Europa, que anda tão necessitada disso como de
muitas outras coisas, aliás.
Ainda nada de
espectacular, convenhamos.
Mas eis senão quando a
jovem, disfrutando de umas férias em Portugal, nos revela, em entrevista, o
seguinte – e parece-me que não deixei escapar migalha:
- Após ter encontrado
um emprego na Alemanha, eventualmente lançando mão da formação superior obtida
no país dos atrasados que somos nós, e antes do aparecimento do pimpolho, mas
depois de ter encontrado o amor da sua vida, segundo percebi, já, portanto, contando
o casal com uma estabilidade razoável (o que, em Portugal, é circunstância
proscrita e só atingível por treinadores de clubes de futebol de primeira água)
com casinha montada, estabilidade emocional e tal, lá chegou a vez do projecto
parental, em conformidade com a ordem natural das coisas.
Mãos e outras anatomias
lançadas à obra e filho feito, a jovem trabalhadora alemã, ainda que de
nacionalidade portuguesa, vê cairem-lhe ao colo e só porque as regras assim
mandam lá por essas terras longínquas, 3 (três) anos de licença de parto, com remuneração
por inteiro, a que o nobre e avisado estado alemão acrescenta, em termos de
abono de família e pela existência do acima referido filhote, 400 – digo
bem – , quatrocentos euros por mês.
Ou seja, se percebi bem, o estado alemão remunera por um filho o que, em Portugal, o nosso estado considera justa remuneração por um mês de trabalho, a quarenta horas por semana.
Se presumirmos – e só
mesmo por presunção, claro – que a jovem não estava a enfiar-nos um barrete por bem
intencionado que fosse e que, pelo contrário, nos relatava a pura das verdades
com quantos dentes tinha na boca, eu quedei em estado semicomatoso do qual
ainda não recuperei completamente...
Quantas Europas há por
esse mundo fora sem me avisarem? A quantos anos-luz estamos para aqui destas
realidades europeias?
E, cuidado, que se
algum palerma me vier dizer que a questão reside na produção desigual de
riqueza entre os dois países e porque é dado consabido e adquirido que os
trabalhadores portugueses são universalmente tidos como dos melhores desse
mesmo universo e arredores, eu fico capaz de assassinar o primeiro gestor da coisa
privada como da pública, governantes incluídos, que me apareça pela proa!