Podem dizer-me o que quiserem.
Podem, até, chamar-me, em voz alta ou em surdina, paranóico,
conspirativomaníaco, criptoparvo, etc., etc., etc.. Mas, como saberão, depois
de ter estado presente no Congresso da Cidadania – Rutura e Utopia
para a Próxima Revolução Democrática, promovido pela Associação 25 de Abril, nos passados
dias 13 e 14 de Março, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, perante os
factos, ocorre-me esta gritante reflexão, com considerandos à ilharga:
- Salas sempre bem preenchidas,
quando não repletas; personalidades de reconhecida craveira sócio-política, se
quiserem; miríade de temas da maior actualidade, tratados, de um modo geral,
com excelência e elevação; organização impecável, nomeadamente com um
cumprimento muito rigoroso de horários; presença de vários potenciais
candidatos à Presidência da República; e…
Nada nas televisões, nada (ou
quase) nos jornais, muitíssimo pouco nas rádios… e, uma vez mais, um País
inteiro vê passar-lhe ao lado, em alegre pasmaceira, o seu próprio futuro e,
afinal, a sua própria vida. Jornalistas? Nã! Para quê? Parece que já só existem
dois ou três e estavam ocupados com a bola. E querem convencer-me de que este
silêncio não é orquestrado? Oh-oh, uma verdadeira orquestra silenciosa,
promovida pelos do costume… que não se sabe muito bem quem sejam, ainda que possamos
ter uma vaga ideia.
Para mais, tudo esquerdalhos,
aqueles gajos! Então e o 25 de Abril de 1974, pá? Pois, já lá vão quase 41 anos...! Estamos a ficar velhos, pá. Então, e os novos...? Também estão a ficar velhos, pá...
Desinteressados, abúlicos,
obnóxios, lá vamos, (outra vez) cantando e rindo… Invejosos dos gregos,
temerosos dos espanhóis. Pois se ele há a praia, com este sol todo e o Portugal
no coração ou no fígado ou, até, na bexiga, de tanta cevejola, tanta menina com
a perninha a dar-a-dar e a transcendência das casas sem segredos, ralar-se um
homem com estas coisas sérias e chatas, balhamadeus…!
O Passos esquece-se,
lamentavelmente, embora, o Portas desirrevoga e o presidente nem pio, lá se diz. O próprio António nunca mais dá à costa. A justiça injustiça. A saúde adoece. A educação desaprende. A habitação não
mora lá, tal como a antiga Alice. O estado não está, pelo menos connosco,
ocupado que anda com os amigos da «alta» finança. E por aí fora.
O IMI sobe 40%?!? Ó, caraças…!
Ah, não, afinal são «só» 6,3%. Chiça, estou muito mais descansado…
Da carteira, dir-se-á, ou talvez não e não só. E assistimos,
mudos, quedos, impávidos e serenos à destruição do futuro em agonias do
presente, mas com jeitinho, a par e passos. A par da alienação e a passos
perdidos.
E o presidente nem pio!
Estamos mesmo abananados...
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ResponderEliminarAcho que estamos a viver o fenómeno da habituação.
ResponderEliminarVivi esta sensação em Angola, Luanda, quando ao ínicio acordava de noite a ouvir tiros mesmo ao pé da porta e ao sair de manhã à rua numa cidade onde a vida voltava a acontecer de cadáveres - crianças também- jazendo sobre os passeios.
Depois tornou-se hábito ver os camiões carregarem os corpos, fotografei valas comuns como se fotografa uma flor e o terror só se aflorava quando o som dos tiros parecia estar próximo.
Estamos assim, anestesiados por um lado, e por outro com uma máquina laranja de microfones na mão e câmaras a acompanhar a festa pois a guerra não existe
Mas... tu também já estiveste em Angola?
ResponderEliminarNunca te disse?
EliminarHummmmm....
Estive lá em serviço militar em 1975, o ano da transição, onde o Acordo de Alvor entre os diversos movimentos não interromperam o inicio da guerra civil.
Acho que já falámos sobre isso.... penso eu de que...
Mas posso estar enganado, obviamente.
Quase de certeza que já me tinhas dito, mas a tua vida é tão rica e a minha memória tão pobre...
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