outubro 31, 2015

Para memória futura

Devo dizer que estou completamente farto.
Farto de uma telenovela sem fim que dura há anos, onde pior do que uma acusação e condenação em sede própria ou o arquivamento relativamente a alguém com particulares responsabilidades na História recente do Pais, a suspeita se eternizou como substituta da Justiça.

Que os tablóides representam o lado mau da imprensa, já todos sabíamos.
O que não precisávamos de ter era uma Imprensa acima da lei, ou pior, de braço dado com um lado escuro qualquer que lhe dá uma força que não sabemos onde -num Estado Democrático- a vai buscar.

O artigo que tomo a liberdade de repetir neste espaço é apenas um parágrafo deste folhetim, e  a entrevista recente concedida por Joaquim Paulo Conceição do Grupo Lena a um José Gomes Ferreira na Sic Notícias, mais apostado em fazer as vasas de acusador do que de jornalista interessado na verdade,  é outro.
Apenas dois apontamentos discordantes num mar de condenações prévias em praça pública a coberto de "notícias" paridas de um "segredo de justiça" que é mais uma anedota trágica do tempo do Santo Ofício do que instrumento de apoio a uma  máquina jurídica ao serviço da Democracia num Estado aberto.

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A leitura do texto abaixo dispensa comentários, salvo um: começo a ter medo...

 ***

  O DIREITO DE DIFAMAR
por Fernanda Câncio

Na semana passada, uma manchete do Correio da Manhã asseverava que numa conversa telefónica comigo após a detenção de Carlos Santos Silva a respectiva mulher me tinha dito, "sem margem para dúvidas", que o dinheiro nas contas do marido era na verdade de Sócrates. 

Sabendo que nunca tal conversa tinha ocorrido, fiz uma declaração pública acusando o Correio da Manhã (e a CMTV, que repetiu, em peça televisiva, as mesmas imputações) de difundir uma falsidade e anunciando ir exigir ao MP (o que já fiz) acesso directo às escutas em que sou interveniente - convém lembrar que o processo ainda está em segredo para quem, como eu, não é arguido nem assistente.

Em resposta, a direção do CM exarou um revelador comunicado. 
Em vez de sustentar o que publicou e prová-lo, faz uma declaração genérica: 
"As escutas e os factos que o CM tem noticiado foram validados pelo juiz de instrução por serem determinantes na produção de prova no processo." 

Vale a pena olhar bem para esta frase: o que nela se lê, textualmente, é que o que o CM publica é validado por um juiz - no caso, Carlos Alexandre. 
Uma espécie, então, de censura prévia, e da qual ainda por cima a direcção do CM se gabaria ao público?
A ideia é risível, mas é aquela que o CM quer fazer passar. 
A de que se confunde em tudo com a justiça e está por ela "autorizado" - para tal se fez "assistente" no processo,  pervertendo quer a figura do assistente quer a deontologia jornalística - funcionando como seu braço armado. 

Ora sucede que o CM engana os seus leitores, como a CMTV engana os seus espectadores, ao dar a entender que tem acesso directo e autorizado às "escutas" e "factos". 
Nesta fase, o que está de escutas no processo são resumos interpretativos, não as conversas ipsis verbis, e os "factos" são igualmente interpretações, ou seja, opiniões e perspectivas, da acusação
Que por sua vez o CM "interpreta" e falseia a seu bel-prazer, como no caso da conversa aludida. 

Falseamento tão óbvio que não existe em toda a peça publicada uma frase entre aspas com o conteúdo que o CM coloca em manchete, e por um motivo muito simples: tal frase não existe. 
De resto, a ausência de rigor é tal que o CM não diz sequer quem estava sob escuta: as duas interlocutoras? 
Uma só delas? Qual? Não interessa; para o CM é igual: vai tudo corrido a suspeito.
Perante isto, que pode alguém fazer? 
Como se defende? 

Num Estado de direito democrático, recorre aos tribunais. 
Além de acções criminais e cíveis, interpus uma acção para tutela dos direitos de personalidade com vista a proibir que estes  e outros meios continuem a invocar gratuitamente o meu nome e a minha qualidade de jornalista do DN em peças sobre o processo Marquês, transformando meras relações pessoais numa espécie de "suspeição por contaminação". 
Previsivelmente, serei acusada de "censura" e de "constrangimento ao exercício do direito de informar." 
É que, parece, há quem considere que é mais grave tentar impedir crimes do que cometê-los.

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outubro 28, 2015

A matemática não é uma batata.


A declaração da OMS sobre os riscos do consumo de carnes vermelhas e processadas veio levantar um certo alarmismo sobre o assunto e a iliteracia alfanumérica veio à tona com diversas análises, todas erradas. A questão é simples: segundo a OMS, tal consumo pode aumentar em 18% a incidência de cancro do cólon. Surgiu então a ideia de que 18% dos consumidores frequentes destes produtos poderiam contrair tal doença, o que era quase 1 em cada 5, algo assustador. Mas não tem nada a ver com isso.
Na realidade, mesmo aceitando esse número, o que se diz é que a taxa de incidência pode ser aumentada em 18%. Ora, em Portugal, a incidência de cancro do cólon está à volta dos 5%, o que, aumentado de 18%, não chegaria bem a 6%, como máximo. Mais ainda, essa taxa não vai aumentar de 5% porque nós já consumimos esses produtos, isto é, 18% dos 5% de portugueses que desenvolvem cancro do cólon não seriam doentes se não consumissem estes produtos. Não me parece, pois, que, depois da notícia, os portugueses comecem agora a consumir carne vermelha e carne processada a toda a mecha, só para aumentar os tais 18% a ver se validam os dados da OMS. Se hoje se parassem todos os consumos, a taxa baixaria nem 1 ponto percentual, para os 4 e picos.
E esta hein?

outubro 24, 2015

Paf.. paf.. pof.. pof..


343 euros em compras de material escolar (com lista da escola). Fatura à parte, para meter no IRS, com NIF da cachopa. No site das Finanças a coisa não entra e não pode ser considerada despesa com educação. Se não foi para tomar com copo de água ou injetável; se não foi para consertar o carro, se não foi para ajeitar o cabelo ou as unhas, só pode ser mesmo para educação, pois despesas gerais não o são. Mas afinal de lá responderam que são mesmo despesas gerais de consumo e toda a gente as faz. Realmente, é frequente consumir em cada agregado, por ano, dois frascos de tinta da china, um compasso, um caderno de papel milimétrico, duas réguas de gradução diferenciada, esquadros diversos, um transferidor, marcadores tipo pincel, outros marcadores, papel cavalinho, etc, etc, uma calculadora Texas , e mais, e mais. Que se levante quem nunca come disto pelo menos duas vezes por mês, seja ao almoço, seja ao jantar.
Torno à carga e respondem-me que estava claro no Orçamento de Estado para 2015. Eu disse que não tinha assinado nenhum documento a aceitar tal OE, mas não me responderam, numa atitude de cala e come. Enfim, eles paf..paf e eu, pof...pof, mandei-os apanhar no cu.

quando o amor à camisola...

fala mais alto
Raim on Facebook

Reflexão do dia – da «infelicidade» presidencial segundo São Marcelo

No seu afã autocrático e autista, ao assumir a postura que, aliás, nem é, para ninguém, novidade nenhuma, de indigitar Passos Coelho para formar governo, o que não pôde deixar de condimentar com a discurseta odienta que já lhe é característica, o nosso incrível presidente da República em funções, Cavaco de sua graça, criou um interessante efeito colateral: pregou uma bordoada rasteira no seu parceiro ideológico Marcelo Rebelo de Sousa, nóvel mas sempre anunciado futuro candidato a Belém, que assim estando, coladinho à direita, se vê em desesperos argumentativos com tais amizades.

Rebelo de Sousa fica-se por um comentário de «subtilezas», referindo apenas que o senhor presidente «não tem sido feliz várias vezes» porque «tenta mostrar independência, mas dá opinião», o que – como Rebelo de Sousa opina «só aumenta a confusão».

O grande problema do comentário do ilustre jurisconsulto comentador-analista proto-presidente é que não há, no universo político português actual, confusão nenhuma. Há, tão-só, aquela ficção de confusão que Passos e Portas, empanicados com a inesperada perda do poder, pretendem gerar e para a qual, verdade seja dita, Cavaco tem dado passos marcantes.

Por outro lado, de «infelicidades» presidenciais temos tido sobejas provas nos últimos anos. Mas não creio que o desidério da Democracia seja a promoção preocupada da felicidade do seu presidente, enquanto vários milhões de seus concidadãos o aturam, infelizes e mendicantes.


Sugere-se-lhe, então, humanitariamente, uma terapia ocupacional para a sua reforma que (essa sim, felizmente, de pronto se avizinha)… E estou até a imaginar a assessoria, para o efeito e por exemplo, de um Carlos Malato, homem que já foi feliz em tantos lugares e situações… 

Isto, claro, não desejando qualquer mal ao amigo Malato, se ele estiver para aí virado, que Boliqueime ou a praia da Coelha são, até, destinos de amenas temperaturas e de alfarrobas que, de servirem, antigamente e na ruralidade em que o senhor presidente se fez gente, para dar de comer aos burros – quando havia a agricultura que Cavaco tanto ajudou a fazer desaparecer, lembram-se?  já servem, agora, para os mais desvairados pratos gourmet, iniludível sinal de modernidade nessa clarividência de virmos todos a ser os criados de mesa dos europeus abastados, como o senhor presidente e os seus fans tanto parecem desejar e cultivar.

outubro 22, 2015

pequeno apontamento...

Para além do que o futuro nos traga, para além da encruzilhada complexa do presente e porque nem só do «bota-abaixo» vive um homem, aqui se declara, com aplauso, o reconhecimento pela acção dos intervenientes políticos que estão a tentar dar um novo rumo à política portuguesa. 

Em partes iguais a distribuir pelas três forças políticas envolvidas, este meu reconhecimento pela coragem da iniciativa, ainda antes mesmo de saber em que vai resultar.

A verdade é que se gostamos de dizer que o mundo é feito de mudança e que só assim ele pula e avança, será bom  pensarmos no como, no quando e no porquê. 

outubro 18, 2015

da dita direita que, aparentemente, foi quem nunca saiu do PREC

A explosiva mistura de perplexidade raivosa, reaccionarite anquilosada aguda e fúria demencial que avassalou a direita partidária portuguesa desde as mais recentes eleições para o Parlamento é algo que só poderá considerar-se extraordinário para quem acredite ter duendes no jardim, nos milagres de Fátima, na isenção e equidistância de Aníbal Cavaco Silva, no recorrente Pai Natal ou na objectividade dos mercados. 

A argumentação incessantemente ouvida, de há duas semanas a esta parte, contra as conversações entre PS, BE e CDU para a eventualidade de formação de governo, é um acervo destemperado de pesporrências, de um primarismo que não lembraria ao Diabo e uma prova razoavelmente clara de que, ideologicamente, a direita portuguesa não evoluiu nadinha desde os tempos salazarentos, tendo ficado ancorada aos «traumas» que o processo revolucionário em curso, de 1974/75, lhe terá provocado.

Ouvir referências ao estalinismo, à «fúria» anti-Nato ou, até, à evocação da Fonte Luminosa é algo que nos faz recuar cerca de quarenta anos, a um tempo sem telemóveis, nem tablets, nem facebooks, e onde as idosas da província - pobres vítimas dos 48 anos antecedentes e mais alguns para trás... - mal se distinguiam, no trajar, das mulheres muçulmanas que, hoje, tanto nos perturbam.    

A PàF ganhou as eleições apenas porque somou mais votos? Óptimo. Como não há taças para distribuir nestes campeonatos, formem lá governo, pás, e deixem-se de tretas. O senhor presidente em exercício (ainda que pouco) até vos dará guarida.

Depois, no curso normal das coisas, logo se verá... 

outubro 15, 2015

Bem... afinal em que ficamos?


Helena Freitas diz na sua página do FB que os portugueses não votaram numa maioria de esquerda para governar e que isso seria uma traição ao eleitorado do PS. Deduzo então que os que votaram PS o fizeram com o objetivo de a PàF ser governo. Muito bem!
Por outro lado, e se a memória não me falha, quem votou PS sabia, porque foi dito publicamente por Costa, que o PS não viabilizaria um governo da coligação e muito menos o seu orçamento. Este era o Estado da Arte no dia das eleições. Será que alguém andou a votar com os olhos fechados e a cruz calhou no quadrado errado?
A tendência autofágica deste partido, que podia ser enorme, é assustadora e isso vem já desde as presidenciais que ofereceram Belém de mão beijada a Cavaco em 2006. Agora Assis se levanta e se não fosse tão mau para ser verdade quase dava para assistir de camarote à implosão de uma força política. Uma espécie de Pasokização do PS está para surgir. E isso é muito mau para a democracia....ou melhor; se calhar é o que é preciso para a democracia: acabar de vez com uma faixa de terra cor-de-rosa que não é de ninguém e cujo comportamento está na raia do imprevisível. Desse bloco de tendência emergiriam dois partidos ou movimentos, sendo que um deles seria a dama de alterne e o outro seria uma força consistente de uma esquerda moderada e que lideraria a oposição ao neoliberalismo e impediria as emergências das esquerdas radicais. Será que vem aí o PODEMOS português?

outubro 09, 2015

ainda não conhece Sampaio da Nóvoa?

Para aqueles que se queixam por não conhecerem Sampaio da Nóvoa ou de que este é «pouco conhecido», aqui fica um pequeno contributo para ajudar a colmatar essa alegada insuficiência.

Declaração de 08 de Outubro - fresquinha, pois:


outubro 08, 2015

jornal i, SIC e TVI, o mesmo combate
- asquerosidades da desinformação que temos...

O jornal i colocou, ontem, em parangonas de primeira página, a notícia falsa de que Sampaio da Nóvoa ponderava desistir das eleições. 

Isto logo depois de o PS ter decidido a «liberdade de voto» (a expressão é dos jornais) aos militantes para as presidenciais, como se essa directiva fizesse algum sentido. Liberdade de votar num candidato à presidência da República? Mas isto anda mesmo tudo embriagado, não anda...? Pode haver algum partido que condicione oficialmente o voto dos seus militantes?

Porém, o que interessava era aproveitar o ensejo para promover a mistificação perversa, de golpe baixo, e fazer «depender», na opinião pública e a martelo, Sampaio da Nóvoa ao apoio do PS que o próprio, enquanto apoio institucional, repudia desde o primeiro momento em que se propôs à presidência. Apoio institucional do PS ou de qualquer outra formação partidária, diga-se.

Sou disso testemunha pessoal e presencial.  

Logo a seguir, de manhã muito cedo e como ouvi na Antena Um, a candidatura de Sampaio da Nóvoa negou categoricamente aquela aldrabice soez do i.

Sampaio da Nóvoa, em entrevista de ontem mesmo, à TSF desmentiu, pessoal e peremptoriamente, aquela mesma aldrabice.

Então, porque carga de alhos é que a SIC e a TVI repetiram a aldrabice em voz alta e em prolongado rodapé, durante os noticiários da noite? Porque o candidato deles é, em exclusivo, o professor Marcelo malabarista?

Enfim, por pulhice. Por banditismo. Por desinformação deliberada. Por falta de qualquer ética jornalística. Porque a canalhice se guindou ao poder e por vivermos num Portugal feito de impunidades.

Por vezes, até percebo por que tanta malta nova queira emigrar...   

outubro 05, 2015

5 de Outubro


Raim on Facebook

A verdade é que hoje estamos (politicamente) muito melhor do que ontem…

Sim, sim, deixemo-nos de tretas marteladas até à exaustão pelos confrades da «comunicação social». Vejamos, muito objectiva e telegraficamente:

1. O PS perdeu as eleições que, porventura por razões de oportunidade conjuntural, não queria ganhar. Logo, teve uma clara vitória eleitoral.

2. A coligação – que dizem ter ganho as eleições - funcionou bem como um seguro de vida para o CDS tendo, entretanto e pelo caminho, perdido tudo o que legitimava a sua arrogância governativa.

3. O BE provou que a esperança é a última a morrer e que há, na verdade, mulheres que podem, devem e merecem governar um país como o nosso… mas de outra maneira.

4. O PCP manteve-se, como é seu apanágio, firme e hirto, até com mais um deputado, para não se acabrunharem demais as hostes.

Cavaco, no seu retiro transcendental anti-republicano, irá dar o governo a quem tem de ser, contando, como até aqui, com a Alemanha e com Bruxelas, mas com uma certeza funesta: tratar-se-á de um governo parlamentarmente hipotecado e a prazo.

A partir de hoje e até às próximas, os políticos que temos carecem de outros cuidados sempre que abrirem a boca.

Viva a República! 

Notinha de rapa-pé: Com que então a abstenção desceu, hein? Mal encerrou a última urna e lá vieram os gurus de serviço elogiar o bom povo português pelo «decréscimo» da abstenção em relação a 2011… e, vai a ver-se, ela até aumentou e bem!

Em boa verdade vos digo, irmãos, que se eu mandasse o voto seria obrigatório e os faltosos sem justificação haviam de ser contemplados com uma qualquer coima, a bem da nação. Coisa a estudar cuidadosamente, claro, mas assertivamente. 

Isto de se colher (sempre que possível) o melhor de cada mundo e assumir a pose enfastiada de não votar por qualquer motivo sempre manhoso é, em minha modestíssima opinião, uma falta de vergonha sem nome e apenas digno de apátridas. Aqui fica, à consideração…

outubro 01, 2015

sondagens?
pode ser que muito me engane...

... mas sempre estou aqui a magicar numa habilidade que me leva a propor-vos um exercício do tipo contemplativo:

- na sexta-feira, próximo dia 2 de Outubro, alinhem as sondagens últimas lançadas aos ventos pela «mancomunação sucial» e guardem-nas num qualquer papelinho à vossa guarda.

Na próxima segunda-feira, dia 05 de Outubro - dia de feriado indecentemente roubado, ainda para mais... -, comparem a realidade com as tais sondagens arrecadadas no bolso.

A ver o que dá.

Enfim, se for caso disso, virei aqui penitenciar-me da má-língua... Até lá!

Entretanto, com a devida vénia e certo da vossa condescendência, permitam-me que aqui divulgue o apelo feito pela Associação 25 de Abril para o próximo acto eleitoral: