janeiro 14, 2011

Conversa de Café sobre a Crise II

...Se eu te der uma caixa de papéis a dizer que és dono da Lua, 'tás podre de rico...

Olá, gente. Espero que continuem o saudável hábito de misturar aromas e lugares comuns por entre as sinfonias de chávenas e chapinhar de colheres.
Ora, não é pela hora do café que o pessoal resolve todos os problemas... dos outros?
Eu, rapaziada, ninas e ninos, não sou excepção (que me perdoem os modernaços, que "exceção" soa-me a qualquer coisa que o corpo deita fora).

Mas foi entre uns cafés, zitos ou zinhos, enquanto os companheiros se digladiavam sobre tácticas e apitos, foras de jogo e arbitragens, que os interrompi com uma tirada, ela mesmo, toda off-side:
- Malta. Quanto vale uma coisa que não tem valor?
Depois de me olharem uns instantes e de olharem uns para os outros, saiu:
- Tu tás parvo... se não tem valor, é porque não vale nada, ou melhor, vale zero.
- Então, quer dizer, que se eu te der uma caixa cheia de papéis a dizer que és dono da Lua, tás tão podre de rico como se não te der coisa alguma, não é?
- Exacto.
- Pois é aí que eu estou a matutar e não consigo perceber.
- Não percebes o quê?
- Não percebo como é que alguém pode falar em prejuízos se perder algo que não tem qualquer valor.
- Mas que coisa é que tás praí a asneirar, pá?
- Ouve lá. O BPN não estava cravadinho em acções sem valor?
- Pois tava. O BPN e muitos outros.
- Então se essa coisa, a vigarice, digo, a que chamam activos tóxicos não valem uma ponta dum corno, porque é que temos todos que estar a pagá-las?
- Como dizes?
- Vá! Então expliquem-me se souberem.: se não valem nada, tanto faz que as guardem ou deitem fora. Uma coisa é que eu quero entender: Se dizem que elas não valem e temos que estar a tirar o pão da boca, para aquilo, é porque afinal valem! Mas sabem? Continuam a dizer que não valem, que são tóxicos... hehehe eufemismos do caraças, este nome que lhe arranjaram - tóxicos - para nos chamar de estúpidos.
- É ... tens razão, pá. Agora temos que ser, queiramos ou não, tóxicodependentes e pagar para a veia. Olha, mas isso que dizes de não valer mas ter de ser pago faz lembrar as conversas do Marcelo quando opinava sobre o aborto: É crime? É! Deve ser castigado? Não! Aqui é o contrário: Tem valor? Não! Tem que ser pago? Sim!
- Heheheheehe. Deste-lhe em cheio, pá! Sabes? Estava a pensar, os gajos - que tinham como parceiros a apregoar o produto, as tais Agências de Rating - põem um papel qualquer na praça que vale zero mas dizem que vale X, os outros que o têm acrescentam-lhe ao X um Y que vendem a outros e estes dizem que valem X+Y+Z e aquilo vai sempre crescendo, e cada um que compra o comboio de papelada, X+Y+Z+T+D+B elevado a "n", pensa que tem o bilhete premiado da lotaria entre os dedos, até ao dia em que descobrem estar o papel cheio de caruncho.
- A desfazer-se entre os dedos, queres tu dizer...
- É isso. Ora esta é que é a porra que não entendo de maneira alguma. Porque será que não atiram esses activos (?) simplesmente para o caixote do lixo como eu faço com os papéis do euromilhões todas as semanas em vez de ir reclamar à Santa Casa que me pague os milhões que não me saíram?... Pode ser que com mais um cafezinho entenda.
- Então não entendes, pá?
- Não entendo não.
- Então vá, explico-te. Levantaste a conversa mas depois resvalaste tanto que às vezes pareces mesmo totó: até à véspera as tais Agências não conseguiam ver nenhum buraquinho naquela treta, e agora esburacam-nos para tapar os buracos daquilo. É só isso, pá, um negócio de tapa-buracos...
- E a gente deixa?...
- Deixamos porque eles vão roendo devagarinho e, quando damos por ela, estamos que nem nos podemos mexer, a cair aos bocados e sem defesa...

Charlie

7 comentários:

  1. Eu estou rico de não ter papéis nenhuns desses!

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  2. nem eu, papeis.....
    By the way, não era calinada costumeira mas queria mesmo dizer resvalas-te, presente do indicativo + partícula reflexa "te" e não resvalaste.
    ~(por acaso é uma coisa que a malta lê na Net recorrentemente e que também me engalinha) Croc-croc-cororocróoooque....

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  3. Charlie, "levantaste e resvalas-te"?! Mas tu é que sabes. Repõe.

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  4. ehehhe
    sim amigo
    começa com pretérito perfeito, pois a acção de começar a conversa é ja passado e o o resvalar é feito segundo o amigalhaço, naquele mesmo instante, e de forma continuada quando perco o fio à meada nas conversas.
    Mas nºao foi coisa em que não tivesse pensado mal pus as linhas. Se ha coisa que me chateia mesmo de verdade é isso (hades vere melhér que neim u Nelo iscreve eçe herro).
    Mas pronto, se tu reparaste (não reparas-te heeeh) todos repararão e assim deixa estar que está bem. :)

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  5. Tu disses-te. Eu já estava de teclado em ris-te.

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  6. E nem limpamos (ou limpámos) o acento a eles, aos papeizinhos tóxicos... Mas os toxicómanos dos papéis, esses limpam-se que é uma beleza.

    Anda tudo mal distribuído, essa é que é essa. Como diz uma opinativa que referirei lá mais para cima, deve ser a «balbúrdia da democracia». Mas tamém há quem lhe chame o venha-a-nós.

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  7. No caso, um venha-a-nós-a-vossa-república.

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