No mesmo instante em que os homens inventaram a abstracção do dinheiro, criaram também a projecção do seu poder fálico consubstanciado através do mecanismo da sublimação que consiste na posse substantiva e real desse meio.
Não existe outra forma de poder efectivo que não seja expresso através da detenção quantitativa deste mecanismo que pretendia ser apenas, na sua génese, um instrumento facilitador das trocas de bens e serviços, e não que se tornasse ela própria uma mercadoria.
O dinheiro, a sua posse, transpõe para o possuidor duas sensações opostas. A primeira é a afrodisíaca sensação de plenipotência. No entanto, o seu poder esgota-se no mesmo instante em que ele cumpre a função para a qual foi criado, e o desconforto deixado pela sua escassez, qual ressaca, é a segunda e remanescente.
Temos aqui, neste binómio, bem expressa a própria função do Falo: potente enquanto erecto, esgotando o seu poder no instante da troca. O dinheiro é sem dúvida de sexo masculino.
Ser poderoso é ser de algum modo possuidor de um estado que psicologicamente situamos num patamar de erecção inesgotável, e essa capacidade representa-se pela detenção de muito dinheiro: podendo dispender largas quantias, o seu poder, aparentemente, não se esgota. A sensação transmitida a quem não o possui é sempre de impotência, pois aceitamos subconscientemente de forma individual e depois para toda a sociedade, a transposição entre valores. E, de facto, não possuir dinheiro num ambiente em que tudo é representado por ele, é sinónimo de impotência real.
E é por aqui que se desenvolvem as aberrações que desembocam em crises.
Sempre houve crises, é um facto. Mas as crises que conhecemos na História tiveram sempre a ver com escassez de recursos e a luta pela posse dos mesmos, no fundo, a luta pela sobrevivência, transposta embora depois para regulação administrativa como forma de controlar as produções e prever carências futuras.
Esta crise que vivemos é porém de uma matriz moderna e decalcada de outras semelhantes, relativamente recentes e que consistem na habilidade de conquistar poder inventando dinheiro. Sabemos que inventar dinheiro gera inflação, pois os bens produzidos (que é aquilo que o dinheiro representa) não tem correspondência real. O dinheiro assim criado perde valor e o aumento da sua posse não cria mais poder, pois os bens que representa em ambiente de troca são exactamente os mesmos. Habilmente, criam-se então bens fictícios e com a mesma habilidade fazem-se entrar no mercado de trocas essas virtualidades. O fim deste ciclo acaba como o azeite misturado na água: alguém um dia quer ver a saia preta e azul bordada com o ouro que forneceu.
A parte dramática destas crises, uma vez descobertas as fraudes, é a de que os grandes detentores de dinheiro obtido desta forma não querem perder o poder que a sua posse representa. Essa perda de poder seria automática, pois não havendo de facto bens representativos, o seu dinheiro perderia de imediato grande parte do valor através do disparo inflacionário. E é para evitar isso que a todo o custo se retira dinheiro da circulação. Provocando a sua escassez, com todos os dramas que isso arrasta para toda a sociedade, mantém o seu poder relativo. Os meios utilizados são os mesmos onde esses donos do mundo transaccionaram os fios invisíveis num fato não existente: as Bolsas.
Neste ambiente de crise, artificial como se vê, pois nunca houve tanta abundância de produção na História Humana, seria importante que alguém com poder, Fálico de facto e com eles no lugar, acabasse com essas instituições que passaram de sítios onde as sociedades apostavam na sua criatividade e produção, a antros de hienas depredadoras.
Charlie
Charlie, sublime texto pornográfico. Excepcionalmente, consegues que eu vá pôr um link para isto no blog porcalhoto, avesso à pornografia.
ResponderEliminarOra, muito bem! Conheci, em tempos, um tipo de longas barbas que falava muito disto, desmontando todo o mecanismo e que escreveu uma coisa chamada, salvo erro, Das Kapital, na versão original, e que muito pouca gente lê, porque a tv não lhes deixa tempo. Mas devia arranjar tempo, essa gente, pois o gajo até parece que era bruxo...
ResponderEliminarCerto é que, até hoje, ninguém lhe conseguiu cortar as barbas.
Boa malha, Charlie!
Pois... o Carlos Marques...
ResponderEliminarO tal senhor Marques, ainda hoje, - frio como deve de estar pese embora a carga etílica que levou para o outro mundo que dizem ser melhor -, ainda hoje me trasmite um gozo especial pela irritação que consegue imprimir ao senhor Luis Delgado.
ResponderEliminarOntem mesmo, no programa "Contraditório na Antena 1" que pode ser ouvido em podcast, era para quem quisesse deliciar-se a ouvir chama-lo de bêbado, arruaceiro, e que mais senhores, que mais, que quanto mais o pau batia mais o Marques levantava a garrafa e dizia a sorrir por entre as barbas, -"pois pois, mas daqui a cem anos todos ainda falam de mim e tu Delgado nem que mudes de nome para Gordo fazes mossa na História"
Da minha cabeça, nem com lixívia sai a fórmula do Marques:
ResponderEliminarV = c + v + m
(o valor é obtido pelo capital constante + capital variável + mais-valia obtida pelo capitalista pela diferença entre o valor da mão-de-obra e o salário que lhe paga)