Enquanto eu estava de férias, li nos jornais que o presidente da República escreveu isto no Facebook no dia 19 de Agosto:
"Constitucionalizar uma variável endógena como o défice orçamental – isto é, uma variável não directamente controlada pelas autoridades – é teoricamente muito estranho. Reflecte uma enorme desconfiança dos decisores políticos em relação à sua própria capacidade de conduzir políticas orçamentais correctas."
Lá pifaram os meus poucos neurónios que tentavam recuperar de um ano de trabalho, pois não entendi o que com isto quis dizer Cavaco Silva, muito elogiado professor de Economia. Aliás, como os meus professores da licenciatura e, mais recentemente, do mestrado em Ciências Empresariais constataram, se eu tivesse ouvido esta frase numa aula, eu tê-la-ia interrompido para pôr uma dúvida e não descansaria enquanto não fosse clarificada.
Quando estudei Economia, aprendi que o conceito de variáveis endógenas surge no contexto dos modelos matemáticos usados pelos economistas para fazerem simulações e previsões. Dos muitos autores que analisam este tema, escolhi a abordagem de Braulio Adriano de Mello, no estudo «Modelagem e Simulação de Sistemas», de 2001, que explica os conceitos tal como os apreendi como aluno da FEUC:
"As variáveis são utilizadas nos modelos de simulação para relacionar um componente com outro. Tais variáveis podem ser classificadas como variáveis exógenas, variáveis de estado e variáveis endógenas.
As variáveis exógenas são as variáveis independentes ou de entrada do modelo. São consideradas como tendo sido previamente determinadas e fornecidas, independentemente do sistema do qual está sendo construído o modelo. Desta forma, estas variáveis podem ser vistas como actuantes sobre o modelo, mas não influenciadas por ele ( a direção causa-efeito ocorre somente no sentido variável exógena -> sistema). As variáveis exógenas podem ser classificadas como controláveis e não controláveis. As variáveis controláveis são as variáveis ou parâmetros que podem ser manipulados ou controlados pelos elementos encarregados da decisão ou de estabelecer o programa de acção em relação ao sistema. Variáveis não controláveis são geradas pelas circunstâncias nas quais o sistema modelado existe e não pelo próprio sistema ou pelos elementos encarregados das decisões a ele relativas.
As variáveis de estado descrevem o estado de um sistema ou de um de seus componentes, quer no início de um determinado período de tempo, quer no seu término, ouainda durante o decorrer de um certo período. Elas interagem com as variáveis exógenas e com as endógenas, de acordo com as relações funcionais previamente estabelecidas.
(...) Variáveis endógenas são as variáveis dependentes ou de saída do sistema. São geradas pela interacção das variáveis exógenas e de estado, de acordo com as características operacionais do sistema."
Assim sendo, no meu ponto de vista, não me parece que o presidente da República devesse usar o conceito de variável endógena. Além de estar a usar "palavras caras" para os cidadãos comuns, ao explicar esse conceito dá a subentender que o défice orçamental é controlado indirectamente pelas autoridades. E não o é, pois o défice orçamental depende de muitos outros factores - internos e, cada vez mais, externos, alheios à vontade, às decisões e às medidas implementadas pelas autoridades. Esses factores que escapam ao controlo das autoridades são as variáveis exógenas não controláveis de que trata a teoria económica. Mais ainda: as próprias "decisões das autoridades", que poderiam assumir-se como variáveis exógenas controláveis, dependem, também elas, de factores (variáveis) externos não controláveis. Basta pensarmos em quem "manda" actualmente na União Europeia (Comissão Europeia? Presidente da União? BCE? Angela Merkel? EUA? China? Os «mercados»?...) para constatarmos que, na prática, nada é o que parece.
Desde há alguns anos a esta parte, que venho formando a opinião de que todas as classificações e enquadramentos que se fazem apenas conduzem as pessoas perder-se entre as casas e não ver as aldeias. Toma-se por esse motivo, e tantas vezes, a árvore pela floresta, sendo a árvore as teorias e a floresta a imensidão de variáveis que - ou escapam das previsões, por serem inúmeras e imprevisíveis, ou por não darem jeito nenhum à teoria e por isso se consideram apenas infinitésimos e por isso desprezíveis.
ResponderEliminarA verdade e apenas a verdade é esta; quem pode é quem manda. E neste aspecto os que tudo sabem de economia não previram que as colossais quantidades de dinheiro posto ou longo de anos nas mãos dos chineses os haveriam de por na mó de cima de quem manda "de facto". Que margem nos resta? Quase nada, tendencialmente: zero. Ao fazermos parte desta Europa onde os interesses dos ainda poderosos Alemães se regem pelos mega-negócios com a super poderosa China, e por isso nenhuma medida que seja de nosso interesse não é observada, só me resta dizer ao Ilustríssimo professor que lhe brindo com a minha modesta apreciação que se pauta por afirmar ser ele um distinto emissor de palpites e varáveis mais ou menos parvógenas.
Longe de constituir uma variável, é antes pelo contrário um dado fixo e por isso lhe presto a homenagem devida: dali não vem surpresas e por isso alivia a equação. Não entra nos cálculos como elemento passível de distorcer os resultados como acontece com variáveis de grande intervalo (previsível) de valores....
Não irei cair na piada fácil do monstro alimentado a bolo rei, mas sem ofender as louras, há as esbeltas e espampanantes que tudo dizem excepto quando abrem a boca.
Poderia o nosso distinto seguir o conselho do silencio ser ouro, e assim contribuir silenciosamente para os cofres do estado....
Faz um post, ó faxavôre!
ResponderEliminarEm tempo oportuno, já se vê pois há que deixar brilhar as estrelas alheias e deixar iluminar alma com o seu brilho
ResponderEliminarOu seja, (c)alma...
ResponderEliminarEu tenho para mim que aquilo é coisa de maus encaminhamentos promovidos pelos conselheiros... As más companhias... Já a minha avózinha prevenia.
ResponderEliminarE falar com estranhos. E eles são tão estranhos...
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