Sabem o que mais me alegra num faustoso repasto, bem regado de amigos e bom vinho? A arte do dono da casa bem como dos seus empregados de bem acolher cada comensal, que vai, assim, para além do mero cliente, e pode atingir verdadeiros cumes da amizade.
Vem isto a propósito, claro está, de experiências várias de vida, ainda fresquinhas, ocorridas neste fugaz período de férias que gozei.
E, sem distinções que pecariam por maçadoras, aqui vos deixo três referências algarvias, que são outras tantas provas da minha consideração elevada por todos vós, improváveis leitores, já que pequei e repequei e voltaria a pecar, no que à gula concerne, em cada um desses notáveis lugares onde, à excelência dos manjares, se aliou de forma rara, a magnificência do acolhimento. E a ordem é arbitrária, ainda que alfabética:
- Âncora – restaurante na aldeia de Burgau;
- O Cantinho do Mar – restaurante na cidade de Lagos;
- Ribeira do Poço – restaurante em Vila do Bispo.
Mais informações, é favor pesquisarem na net.
Nenhum dos locais terá preços para refeições de funcionário em correrias entre tempos de trabalho. Mas nenhum deles, também, se revelou desorbitado. Quaisquer vinte euros talvez ainda trouxessem troco. Ou trinta, se acrescentarem duas ou três luxúrias algarvias, entre doces de amêndoa, de figo, de alfarroba, de gila, ou se se deixarem convencer por um belíssimo medronho – que já os há! –, para remate de digestão
E, antes, durante e depois, tudo muito bem acompanhado por gente afável, com um notável espírito de serviço sem qualquer servilismo, mas de irradiante simpatia e sempre tempo para um dedo de conversa, mesmo até quando apertava a premência da clientela em casa cheia. Mais, para um comentário bem-humorado a algum nosso dichote, ou informação oportuna quando algo corria menos de feição na urgência da saída de cada prato.
Talvez seja isso, afinal, o que nos redime e redima em tempos de mansidão bovina: um notável espírito de humor, se calhar com um pouco de fatalismo, a puxar ao fado, mas seguramente cheio de argúcia e acutilância.
Ah, e isso, meus amigos, nem troikas, nem sarkcozículas ou outras merklicas nos tiram, carais! Está-nos fundo, na massa do sangue, como diziam as nossas avozinhas. E voga contra ventos e marés! E salta, com espavento, quando o nosso ar mais acabrunhado parece entorpecer-nos os passos – os nossos, não os do outro…
E, agora, vou-me à cata dos ricos portugueses trabalhadores – estive a pensar pôr o termo entre aspas, mas para quê…? Verdadeiros irmãos, de sangue e de armas! Pelo menos, assim os devo considerar desde que, em termos do meu direito a auferir ou não abono de família, algum legislador mais arguto equiparou o meu parco rendimento ao do velho Champalimaud.
Deve ser daqui que veio aquela história do lema «todos diferentes, todos iguais», com que eu – desculpem-me a fraqueza – tanto engalinho.
Ai e que bela posta, amigo Orca.
ResponderEliminarDe facto o título encaixa que nem te conto!!!!
A publicidade só é despudorada se for enganosa, e neste particular, manda o preceito que se diga bem do que é bom e pelo que aqui deixaste...hmmmm..... ;)
Abraço e fica sabendo que já tomei nota para uma futura incursão passeio-gastronómica :DDDD
Anotado!
ResponderEliminarSe querem duas recomendações em Portimão, Holandês dos Caracóis e Taberna da Maré.
ResponderEliminarA nu tado taméim ;D
ResponderEliminarAh, que se Portugal fosse só o comer-lhe e o beber-lhe, que bem por cá se viveria...!
ResponderEliminarEntretanto, enquanto não, valha-nos um Berardo mai-la sua saga pelos «desprivilegiados». Conceito curioso, que já tinha tido honras históricas com os descamisados. Embora, por Lisboa, eu me aflija com o incremento dos desabrigados, a que se junta, do outro lado da barricada, a seita dos desobrigados. E que dizer das maleitas deste país, ainda com tanto desengenheirado e desdoutorado... Valha-nos ele, o Berardo do capitalismo a martelo, uma manifestação comesinha e bastante lusa de sermos sempre uns belíssimos originais, por esse mundo fora.
E o Restaurante Chico, em S. Manços? Que maravilha...
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