junho 16, 2013

A falácia sobre a transcendência dos exames, a mentira como arma desconsolada do actual governo e o reiterado combate contra a nossa identidade nacional

No momento em que tantos papões se agitam contra a justíssima greve dos professores que vai abranger a realização de exames nacionais, algumas questões devem ser colocadas e respondidas, a bem da nossa sanidade mental e no sentido de recolocar as coisas nos seus eixos:

- São os exames importantes? Muito relativamente. Na verdade e restringindo-nos ao seu peso técnico, a nota do exame representa apenas 25% do «aproveitamento» de cada aluno durante todo o ano lectivo.

- Qual é a missão nobre da Escola? Isso mesmo, com maiúscula. Ensinar, transmitir conhecimentos, desenvolver em cada aluno a capacidade criativa e crítica, em suma, habilitar o cidadão com uma panóplia de conhecimentos e atitudes mentais que lhe permitam desenvolver cada vez mais qualificadamente a sua cidadania, integrado, pois, numa comunidade. Os exames são, neste contexto, sempre um elemento acessório muito longe desta missão nobre da Escola.

Desta sucinta instrospecção facilmente concluo que a guerra inominável que os actuais governantes – até tu, Crato?! – andam a mover aos professores com o argumento apalhaçado do «superior interesse dos alunos» é tão hipócrita que até as Associações de Pais já o entenderam e, rapidamente, dele se distanciaram.

Para cúmulo, os dirigentes da FENPROF anunciaram que vão divulgar, a bem da verdade dos factos, as gravações das reuniões com o Ministério… Eu, por cá, aplaudo. Mas fico-me constrangido pelo nível tão baixo a que vamos tendo de chegar por força desta maneira pulha e chunga de se governar um país.

Não será, entretanto, de estranhar se quisermos assumir que tudo isto se integra numa perspectiva mais vasta, pois já lá diz o outro que isto anda tudo ligado…

Na verdade, se se aniquila a agricultura, as pescas, a indústria, mananciais profícuos e constantes também do enriquecimento e inovação de uma língua, para além das outras características que tais actividades incorporam; se a isto se adiciona o primado absoluto da gramática, nas bases programáticas do ensino do Português que, vai para duas dezenas de anos, emanam dos sucessivos Ministérios da Educação – orientadas para a tal falácia dos exames versus saber e conhecimento – em detrimento quase total do ensino da nossa tão rica Literatura e da capacidade de cada aluno entender criticamente um texto, o que se está, afinal, a fazer que não seja a destruição completa e assumida da identidade de um povo ou de uma nação?

É que, hoje, a parcela de conhecimento que é transmitida oralmente de pais para filhos, de oficiais para aprendizes, está muito longe de ter os paradigmas que existiam, digamos, há cem anos atrás. Ninguém (ou quase) acompanha o seu progenitor na jorna, apreendendo os saberes da vida pelo modo mais directo e difícil. Ninguém (ou quase) calcorreia, hoje, o penoso labor da oficina ou da traineira, aprendendo com o oficial ou o mestre como se entalha o lenho, como se dobra o aço ou como se lança um aparelho de pesca.       

Hoje é a escola o sítio por excelência onde o conhecimento deve e tem de ser transmitido. Consta, até, que é para isso que uma nação se organiza e os seus concidadãos pagam impostos. E saber construir uma boa rede, como o é a gramática, está muito longe de ser sinónimo de se dominar as artes da pesca, como o é a Literatura.

Acrescentem ao que fica dito, a criação de condições para o desrespeito, por parte de encarregados de educação e de alunos, sobre os professores; de seguida, fragilizem, pelo medo e por incontáveis e sucessivas desregulamentações do trabalho, os mesmos professores; achincalhem-nos em termos de pagamentos e condições de trabalho cada vez mais indignos; violem as regras do jogo a que, durante dezenas de anos, os mesmos professores estiveram sujeitos e a tal foram constrangidos… e teremos um caldo de cultura que, pessoalmente, só não compreendo como não resultou, ainda, em explosão, mas que me deixa deveras preocupado quanto à qualidade humana de que esse futuro venha a revestir-se.    

Dir-me-ão que exagero. Talvez. Ainda que esta seja uma matéria que sempre acompanhei de muito perto e na pele e que continuo a acompanhar, já em segunda geração. E, repito, uma coisa só eu não compreendo: de que é que se estava à espera para interromper sine die tudo quanto é avaliações e exames, até que todo o País acorde para essa insanidade «oficial» que recai, a cada governo, sobre os professores, mormente os do Ensino Público.

E uma vez mais quer o governo lançar encarregados de educação e alunos contra uma classe que é o garante da continuação de Portugal em direcção ao futuro, fazendo caso omisso e tábua rasa de toda a sua profunda e incontornável responsabilidade no processo e ignorando criminosa e ignominiosamente todo o sacerdócio, todo o labor altruísta, todo o espírito de missão que, afinal, contra tudo e contra todos, anima tanto e tanto professor nas escolas deste País…

Não! Cá para mim, esta aparente incomensurável estupidez teimosa (o que já de si é redundância) por parte do actual governo, configura já – e não tenhamos medo das grandes palavras! – uma atitude reiterada, consciente e deliberada de traição à nação e ao povo que somos. E, pela parte que me toca, anseio pela hora em que tenhamos artes de nos libertarmos de tal praga. 

12 comentários:

  1. Pois... mas... quem vai para lá?...

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  2. Nem me interessa! Um de cada vez e talvez cada um pior do que o outro. Ainda assim, depois de provas dadas de que estamos em presença de mais uns canalhas... pelo menos vamos-lhes conhecendo as caras.

    Democrático é tanto votar neles como correr com eles, se se justificar.

    Uma cambada que diz o que lhe vem à cabeça para catar votos e, no minuto seguinte, aldraba completamente o seu programa eleitoral isso é, quanto a mim, razão bastante para ser imediatamente corrida. E não me venham falar de «instabilidade política», pois instável é a vida que estamos a levar há dois anos (mais os outros para trás...).

    Vamos todos dando de barato que aldrabar faz parte do «jogo político». Ora, não creio que tenha de ser assim. E, se não existem, têm de ser inventados os mecanismos democráticos que permitam sancionar, atempadamente, as más práticas dos governantes.

    Pelo contrário, a continuarmos como estamos, a «democracia» que temos nem virtual é. É o diktat de uma «maioria» cozinhada às pressas e por conveniências desvairadas, sem rei nem roque.

    Um governo, uma maioria, um presidente: eis o que temos e o desidério de tanto político de pacotilha que nos vai saindo nas rifas. Eis, também, o «intervalo na democracia» de que falava, em tempos, a Manuela Ferreira Leite - ela que agora até parece estar na oposição... Só que não é o intervalo de seis meses de que ela falava, pois já vamos em dois anos e falta o resto.

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  3. Ah! Mas tu achas que estamos numa democracia!

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    1. Ó, pá, se não achasse era obrigado a ir ali ao quiosque da esquina comprar umas bombas de Carnaval para meter ali onde o sol não brilha de uns gajos que eu cá sei...

      Assim, o melhor é achar-me democraticamente instalado... :-(»

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    2. nider du ai
      ou seja, eu taméim nã axo.

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    3. Vá lá, então eu confesso: eu também não. Mas queria crer que sim e vocês não me deixam... A culpa é vossa. Vou fazer queixa ao Gaspacho, à troika, ao BPN, às PPP, ao BANIF e o povo que se lixe!

      E o Crato tão impoluto mas vai a ver-se... e puto!

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    4. A boa notícia de isto não ser uma democracia a sério é podermos dar início a uma revolução a brincar.

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  4. A necessidade da revolução surge da mesma necessidade que há no baralhar das cartas: quando o jogo fica viciado.

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