Hélio, o colosso de Rodes |
Uma das épocas mais fascinantes é a que se chama do Cobre.
Apresentada como um momento marcante de transição, dá testemunho a um grande
salto evolutivo das sociedades humanas no que às capacidades industriais e
organizativas diz respeito. De um modo geral tem-se como dado adquirido um
determinado escalonamento em Épocas com que a evolução da humanidade é
classificada. Infere-se que a fusão de, primeiro, e a liga de metais, depois,
seria a marca do avanço progressivo no campo do conhecimento e a sua aplicação
em termos industriais. Assim, a Idade do Bronze é apresentada como uma evolução
do Calcolítico: do cobre puro apurado nos afloramentos naturais de então,
ter-se ia passado a diversas ligas com outras características, nomeadamente a
da rigidez e resistência à corrosão que dariam vantagem no confronto com armas
construídas apenas de cobre puro.
Deve dizer-se que o cobre é, juntamente com o ferro, um dos
metais mais abundantes no planeta. No entanto, ele encontra-se tanto em óxidos
como em ligas naturais que exigem tratamentos sucessivos de forma a ser apurado
até a um determinado grau de pureza.
Afloramentos de cobre puro eram extremamente raros e de expressão
reduzida. Nesses mesmos afloramentos, embora os núcleos fossem de um
determinado grau de pureza, podia assistir-se a transições entre o cobre e
outros metais. Junto aos veios dos metais, uma quantidade de outros veios dão
testemunho do drama geológico da história do planeta. Assim é natural que se
tenha descoberto por acaso a capacidade de conferir outras características ao
cobre aquando do aquecimento das pedras para a fusão do metal nelas contido.
A cronologia das Eras segue por isso esta lógica: primeiro o
cobre puro, e depois o cobre ligado. No entanto, com o advento das novas
tecnologias, o campo da investigação deparou-se com novos factos. Um dos povos que mais marcadamente
caracteriza a Idade do Cobre é o Minóico. Comerciantes, artífices e
navegadores, espalharam a sua influência muito para além dos limites da ilha de
Creta onde a sua civilização se desenvolveu. O seu cobre comercializado por todo o
mundo antigo e agora analisado segundo os mais avançados processos científicos
revela algo que surpreendeu os investigadores e arqueólogos. O grau de pureza é
extraordinário, praticamente cem por cento, e mais ainda: não revela as
sequelas resultantes das contaminações da fundição obtida pela queima de
madeira que eram utilizadas nos fornos de então pelos outros povos
contemporâneos. Este grau de elevada pureza, apenas passível de ser conseguido
nos tempos actuais por reduções e processos electrolíticos, intrigou todo o
mundo científico. Teriam os Minoicos conhecimentos da corrente eléctrica? As
especulações tinham alguma base racional, mas algo mais adensava o mistério. As
enormes quantidades de cobre puro que repentinamente os Minoicos trabalharam e
comerciaram sob todas as formas punham uma questão ainda mais pertinente. Onde
mineravam eles? A Ilha de Creta é pobre em recursos minerais, o seu cobre
apresenta-se sob formas que exigem tratamentos trabalhosos e que deixam contaminações
características que permitem rastrear a
sua origem. Além disso, deveria de haver uma abundante marca no terreno deixado
por centenas de minas e fundições. Nada disso é evidente. E como e onde
purificavam o cobre?
A descoberta de um navio Minóico em Uluburun datado de 1310
AC, carregado com barras de cobre adensou ainda mais o mistério. Devemos ter em
conta o enorme uso que repentinamente se deu ao cobre nessas épocas. Se até
determinada altura as peças de cobre eram raras e certamente preciosas, algo
extraordinário aconteceu para que de forma muito rápida o seu uso se generalizasse.
Obras como o Colosso de Rodes, cujos restos - após o terramoto que o destruiu -
tiveram de ser transportados por uma caravana de quase mil camelos, dão
testemunho da enorme quantidade de metal transaccionado.
Os estudos laboratoriais minuciosos e efectuados sob todos
os prismas permitem apurar as origens, tratamentos, utilizações, fundições e
reaproveitamentos. Mas as barras de cobre em tal grau de pureza, sabe-se agora
não pertencem ao continente Europeu! O seu rasto segue um percurso que aponta
ao litoral Norte do território Francês, sul das Ilhas Britânicas e culmina em
Michigan, já do outro lado do Atlântico. Nessa região, existem jazidas de cobre
de enorme concentração e pureza. Afloramentos e “pepitas” de cobre puro de
tamanho consideráveis são ali ainda comuns nos tempos actuais.
Esta descoberta foi uma bomba que mexeu todos os canhenhos
Históricos e foi, tal como na naturalidade de Cristóvão Colombo, recebida com
todo o cepticismo.
No entanto, as marcas estão lá no terreno. Tanto em Keweenaw
com em Isle Royal, Michigan, o ambiente anaeróbico preservou da corrosão as
estruturas de madeira que suportam as galerias das minas de cobre inicialmente atribuída
aos Índios mas cuja datação demonstra ter vários milénios e os sistemas de
construção desconhecidos pelos povos que habitavam as terras da América do
Norte. O grau de pureza do minério é idêntico ao das barras de Urubulun.
petróglifo de navio, Michigan |
Coincidência? O estudo isotópico demonstra que não. A juntar
a isto, há que referir uma muito pequena percentagem de contaminação com prata
que não faz liga com o cobre e que por vezes surge em grãos maiores.
Exactamente como se encontram em algumas peças descobertas no Velho Continente.
As lendas dos Índios referem-se a homens louros que arrancariam
das entranhas das terras enormes quantidades de pedras. Sabe-se hoje que foram
centenas de milhares de toneladas que não encontram expressão no uso que os índios deram!
A juntar a isto, há outras referências como petróglifos e
inscrições a atestar a mais do que provável estada dos Minoicos por terras de além-mar.
A desarmar os que argumentam de que podem ser falsificações, adianta-se desde
já que as tábuas de barro com inscrições foram descobertas por acaso e enleadas numas raízes de
uma árvore antes de ser conhecida a civilização Minóica e apenas o desleixo de
terem sido postas a um canto e esquecidas as preservou da destruição.
Se é verdade que a mineração de cobre em estado de tal grau
de concentração e pureza davam uma enorme vantagem competitiva, por outro lado,
a concorrência dos outros povos certamente teria feito com que eles
preservassem a todo o custo o segredo da sua origem. Mares povoados de monstros
e lendas terríficas que faziam escola na nossa Idade Média, seriam os melhores
desincentivadores para os menos aventureiros. Mas teriam sido apenas os
Minoicos a visitar e explorar os recursos do Novo Continente?
As coisas que tu nos ensinas...
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