Conhecem aquela anedota, que aqui
deixo com um agradecimento especial ao capê:
Hoje fui a um restaurante gourmet!
- Ah sim e então?
- O meu almoço foi camarão envolvido em molho béchamel, com
pequenos apontamentos de salsa frisada em cama de massa fina, banhada com partículas
de pão crocante e confitada em óleo vegetal.
- O quê? Mas afinal o que é que tu comeste, pá?
- Olha, comi um rissol...
Ora aí está mais uma coisa que
se me vem revelando como altamente indigesta, ainda que colha ninho em tudo que
é meio de comunicação com grande alarde e intenções apologéticas: a alimentação
gourmet. Coisa interessante, hão-de
convir, para este momento festivo (?...!) que estamos a atravessar.
Para já, deixem-me dizer-vos
que me chateia aquela mania de andarem a mexer com as mãos em tudo quanto eu
vou comer, dali a pouco (já depois de cozinhado). Eu sei lá por onde andaram
aquelas mãos…
E é curioso que a ASAE, zelosa cuidadosa do interesse público encerre
uma fabriqueta de queijos tradicionais porque o pequeno casebre onde são
confeccionados tem ervas daninhas encostadas às paredes exteriores – o que,
como se sabe, é susceptível de provocar as mais hediondas e fatais epidemias –
mas nem sequer se pronuncie quando uma imensidão de chefs – que é outro termo que me enerva um pouco, pois ele havia os
cozinheiros, que mereciam toda a respeitabilidade mas, enfim… - mexa e remexa,
conspurcando-os, em alimentos já confeccionados e que eu vou ingerir, sem se
apurar previamente e no mínimo, se o chef
está constipado, se tem indícios de alguma pneumonia, se fez testes recentes de
hepatite, se tem o hábito de tirar macacos do nariz, ou de cuspir nas mãos
quando mete mãos à obra, etc., etc.
Depois, mesmo sabendo que os
olhos também comem ou talvez por isso mesmo, chega-nos um prato originalíssimo,
cheio de desenhos mas parco de conteúdo, ainda que requintadíssimo e de
nomenclaturas indecifráveis, pelo qual se paga um balúrdio e o que
torna este tipo de alimentos porventura no mais caro do mundo, ainda que cheio
de graça.
Esta alimentação, muito do
agrado e assim destinada a moradores altamente de condomínios fechados, tem por isso um
lado segregacionista que também não me deixa indiferente e desenvolve alergias
tremendas. De facto, se a escassez alimentar de que tantos enfermam fosse
suprida com estes pequenos arremedos de comida artística, mas ao alcance de todas
as bolsas, mesmo as totalmente depenadas, vá que não vá.
Agora, cobrar-se por uma
refeição gourmet o que Picasso ou
Dali cobrariam por um esboço original – o que, aliás, já de si sofre da
irracionalidade instalada pela sociedade de consumo – é coisa que não cessa de
me espantar.
Enfim, se calhar estou a ficar
assim a meio caminho entre o Zé Povinho pacóvio e o Velho do Restelo razinza.
Mas que hei-de fazer…?
Olhem, façam o favor de ser
felizes em 2014 e, logo mais, por aí fora, que a malta há-de ver-se um destes
dias. E, se possível, com um belo cozido à portuguesa de permeio.
... e mais um rissol e um copo de tinto..... ;)
ResponderEliminar... e o nosso mau feitio :O)
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