junho 09, 2014

A distância hierárquica* em Portugal sempre foi uma enormidade

Excerto de um artigo do jornal «Negócios online»:

"Líderes do PSI-20 ganham 33,5 vezes mais do que os trabalhadores

A diferença entre os salários dos CEO e dos trabalhadores das empresas que integram o PSI-20 diminuiu em 2013. Jerónimo Martins e Sonae são as cotadas onde o fosso é maior. Queiroz Pereira é o que ganha mais.
Para ganharem o salário anual de um funcionário, os presidentes executivos de 18 empresas que compõem o PSI-20 só precisam de trabalhar pouco mais de 10 dias
A diferença salarial, contudo, diminuiu no ano passado, face a 2010, quando era de 37 vezes mais, e a 2011, quando representou 44 vezes mais.
Entre os 18 gestores, oito tiveram aumentos de ordenado, composto por uma parcela fixa e outra variável.
As duas empresas onde a diferença entre os salários dos presidentes é maior face aos trabalhadores são a Jerónimo Martins e a Sonae. Em terceiro lugar, figura a Portugal Telecom.
Pedro Queiroz Pereira, líder da Semapa, foi o líder mais bem pago, tendo auferido 1,7 milhões de euros no ano passado. Já Ferreira de Oliveira, CEO da Galp, recebeu 1.375.200 euros. Entre os presidentes executivos com salários mais baixos estão Paulo Fernandes – que acumula a gestão da Cofina (dona do Jornal de Negócios) com a Altri – e Jorge Tomé, do Banif."

* A distância hierárquica pode ser definida como a medida do grau de aceitação de uma repartição desigual do poder por parte daqueles que têm menos poder nas instituições e organizações de um país. Ler aqui sobre a Teoria das Dimensões Culturais, de Geert Hofstede.

Relembro o que escrevi sobre hierarquias no meu livro «Persuacção - o que não se aprende nos cursos de gestão»:

"O gestor não está «no topo da pirâmide» (visão deformada dada pelo tradicional organograma, visto na vertical) e sim «na ponta da seta» (imagem dada pelo organograma visto na horizontal): assegurando a direcção a seguir, a coerência da estratégia e a coesão da estrutura da organização. Se esta imagem fosse alterada, muitos preconceitos, complexos de superioridade (ou de inferioridade, para quem se sente «por baixo»), distanciamentos remuneratórios e «sociais» desapareceriam ou seriam, no mínimo, atenuados." (pág. 46)

4 comentários:

  1. Magnífico !!!------ no mau sentido.
    Não é que não se deva premiar o mérito, e que haja uma diferenciação baseada nisso mesmo.
    Mas o que temos é de facto uma pirâmide tão deformada que o topo nem consegue ver a base.
    Tipo o boneco cabeçudo dos Entrudos ou melhor, o gajo supergordo que há anos não vê o Carlinhos quando o mostra à porcelana....

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    1. Nisto, garanto-te que o mérito é dos critérios com menos peso.
      Eu diria que o relevante seria a compensação pela responsabilidade. Mas em muitos casos a responsabilidade dos gestores de topo é mínima. Por serem empresas "seguras" ou porque, em caso de erro grave, facilmente se safarem entre os pingos da chuva.

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    2. O mérito, meu caro, é uma manta que tem tamanhos e medidas variáveis.
      Há méritos que se inventam, enquanto outros que de facto "merecem" por darem bem conta da sua responsabilidade são tratados como desmerecedores.
      Gostei da imagem do escape de fininho, sem se molhar, por entre os pingos da chuva. Uma coisa difícil para alguém de abdómen inchado pela basta fartura...

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