junho 04, 2014

... mas a ganância dos especuladores continua!

[Na década de 1990] "(...) os economistas faziam inveja aos físicos: os investigadores ganhavam prémios pela construção de modelos multi-dimensionais de movimentos cambiais ou de transacções de activos complexos. Esse modelos foram úteis até certo ponto, mas como não contemplavam os comportamentos gananciosos dos banqueiros, causaram desastres como a derrocada do fundo de alto risco [hedge-fund], Long-Term Capital Management ou a crise do subprime [empréstimos imobiliários subavaliados]."
Excerto de um artigo da «Visão» de 22/5/2014 sobre o livro «Capital no Século XXI» de Thomas Piketty, que muitos apelidam de «novo Marx»


Comentários meus:

1) Nos inícios dos anos 1980, quando eu estudava Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, já me causavam muita confusão os modelos económicos que assumiam como pressupostos uma economia pura e perfeita, a transparência da informação e a racionalidade de todos os agentes económicos. Que eu saiba, pouco ou nada mudou no ensino da Economia, a este nível;

2) Pelo que me apercebo, os Estados (e a Europa) não fizeram nada para estancar as perdas derivadas da ganância dos especuladores. Antes pelo contrário, até alimentaram ainda mais essa espiral especulativa, ao assumirem como perdas dos cidadãos o que foram perdas de quem especulou e que estão a ser cobertas com recurso a mais impostos e menos serviços do Estado. Aliás, gostaria de ter acesso a informação concreta sobre as entidades que têm recebido os juros elevadíssimos dos créditos prestados ao Estado português. Abençoada Islândia, que fez o que deveria ter sido feito!

3) A especulação continua... os bancos não têm os seus balanços "limpos"... os paraísos fiscais continuam a deturpar tudo como buracos negros da economia mundial... e esta enorme bolha ainda não rebentou (até agora, só foi um pé a pisar um cogumelo «peido da avó»)...

Para quem quiser uma análise económica mais aprofundada e científica, tem aqui uma selecção e tradução feita pelo meu professor Júlio Mota a uma análise de Thomas Palley ao livro «Capital no Século XXI» de Thomas Piketty: parte I e parte II. Boa digestão, que eu também tive que estudar estes assuntos quando o professor Júlio Mota me deu aulas na FEUC!
Para funcionar como Rennie, têm aqui e aqui artigos que resumem o livro de Thomas Piketti. E aqui, uma leitura feita pelo Bloco de Esquerda.

2 comentários:

  1. É verdade, apreciei bastante alguns excertos do trabalho do Piketti que está agora na moda.
    Em reacção já apareceram uns quantos cabeçanas a desmontar aquilo que Piketti diz, ou seja, tentar deitar areia para os olhos.
    "O erro de Piketti" sob forma deste título ou parecido, surge em diversas publicações escritas, o Expresso incluído, onde se pretende que o autor é um quase mentecapto por extrapolar a partir de dados pertencentes a universos estritos.
    Nada mais lisonjeador, digo eu. Se extrapolar é um erro, então está-se no mesmo campo de batalha, e as armas iguais. E ainda: o facto de o terem posto sob o ponto de mira mostra quanto se sentem incomodados.
    No fundo o que ele diz é uma coisa que toda a gente já sabe.
    Por mais voltas que se dêem às coisas, numa caixa com dez bolas brancas e vinte pretas, haverá sempre trinta bolas; dez brancas e vinte pretas....
    Pode apregoar-se, argumentar-se, vender-se a caixa dizendo tudo: que tem cem bolas, duzentas, mil. Que são todas brancas, que são todas pretas, que aumentam sozinhas o seu número ou que mudam de cor.
    Quando finalmente alguém no circuito de compra-argumenta-venda-revenda-revenda-revenda abre a caixa descobre que são apenas trinta bolas que lá estão dentro.
    E é assim que estamos.
    s vendedores das caixas, desmontado truque, passaram agora para o estágio seguinte; de vigaristas a ladrões. Querem que lhes devolvamos as bolas que as caixas não tinham.
    E é nesse ponto que eles precisam não de uma cortina de fumo, que já não consegue tapar o ilusionismo-fraude, mas sim de umas mãos que os ajudem a roubar as bolas e ai entram pessoas como Passos Coelho e outros de igual jaez...

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